domingo, 30 de julho de 2023

Igreja nova, pecados velhos

Foto Hernâni Von Doellinger
Fafe. Na Igreja Matriz, a igreja velha, os homens ficavam à frente junto ao altar e as mulheres ficavam atrás, separadas dos homens por umas grades. Na Igreja Nova os homens ficavam do lado direito para quem olha para o altar e as mulheres ficavam do lado esquerdo para quem olha para o altar. É. A Igreja Nova representou um indiscutível avanço civilizacional. Um avanço para o lado, amém.

sexta-feira, 28 de julho de 2023

O que eu sei de Alberto Feijóo

Sobre o líder do PP espanhol, o galego Alberto Núñez Feijóo, vencedor derrotado das eleições do passado domingo no país vizinho, eu sei o seguinte: ele gosta muito da costelinha assada e do bacalhau na brasa da Casa Álvaro, em Valença, e come os dois pratos à mesma refeição. Bebe verde tinto, que traça eventualmente com uma seven up, e creio que assim fica tudo explicado. Não são de confiança os indivíduos que misturam vinho bom com seven up...

O estado da nação 7

Foto Hernâni Von Doellinger

quarta-feira, 26 de julho de 2023

Troca-se neto por cão!

Três rapazes nos arrabaldes dos sessenta anos bem servidos, certamente amigos de longa data, gente bem, meninos da Foz no seu tempo, fazem o costumeiro passeio higiénico matinal na avenida à beira-mar. O da esquerda empurra um carrinho de bebé com uma vaidade que só vista, e é bonita de se ver. Os outros dois vão à rasca até às orelhas, envergonhadíssimos com "a situação", evitam ser reconhecidos por quem passa, como por exemplo eu, que não os conheço de lado nenhum, mais desconforto era impossível. O da direita puxa o do meio pela manga e diz-lhe, tapando a boca com a mão, como fazem agora os treinadores e jogadores de futebol quando querem falar da mãe de alguém e sabem que há câmara de televisão por perto: - Se inda ao menos fosse um cão, um canito! Agora o caralho do neto...
Não é metáfora política. É a vida. No Porto ou em Fafe. Em Cima da Arcada ou no Jardim do Calvário.

P.S. - Hoje é Dia Mundial dos Avós.

O estado da nação 5

Foto Hernâni Von Doellinger

O esperanto em português suave

O turista estrangeiro aproximou-se do vendedor de óculos de sol de beira de praia. Era obviamente um turista estrangeiro, só eu e os turistas estrangeiros é que sabemos malvestir tão bem, nunca me engano a esse respeito. O vendedor de óculos de sol de beira de praia é português dos quatro costados, conheço-o de ginjeira, Verão atrás de Verão, monta banca todos os dias ali em baixo e quando chove é vendedor de guarda-chuvas de beira de praia. É, além disso, ambulante, mas apenas para fugir à polícia municipal. Ele também percebeu logo que o freguês que tinha pela frente era estrangeiro. Mas pensam que se atrapalhou?, era o que faltava! Nós os portugueses temos connosco esta habilidade extraordinária de nos desenrascarmos sempre, seja em que situação for, cá em casa ou lá fora, mesmo debaixo de água ou na estratosfera, aprendemos línguas, copiamos hábitos, camaleonizamo-nos, universalizamo-nos, se calhar nós é que inventámos o esperanto, não foi nada o Zamenhof, possuímos este poder de desembaraço, improvisação e adaptação, que tomaram muitos, até os americanos, e que fez dos portugueses assim ditos um povo das sete partidas do mundo por excelência. E nem é preciso ir mais longe: olhemos por nós abaixo, os fafenses, nesta acalorada época do ano, as esplanadas cheias e a língua oficial é o francês, toda a gente fala francês, mesmo quem não sabe, e até parece que estamos na Póvoa. E... bem, com estas tretas todas, esqueci-me do que queria contar...

Ah!, já sei: o turista estrangeiro. Portanto, o turista estrangeiro abeirou-se do vendedor de óculos português e perguntou: - The glasses, how much?... (Estão a ver como eu tinha razão? Era ou não era um turista estrangeiro?).

Foi um clique, um cagagésimo de segundo bastou para que o rapidíssimo cérebro do nosso vendedor português formatasse "é inglês, pois então vamos a isso" e mudasse imediatamente de registo, fazendo um entre parênteses na língua do Camões e virando-se para Shakespeare. Cheio de segurança e enorme poliglotismo, respondeu ao camone, marcando ostensivamente as sílabas no mais escorreito acento cockney: - Quali? Quali qui tu quieres?...

P.S. - Hoje é Dia do Esperanto.

terça-feira, 25 de julho de 2023

Mais dois fafenses para o mundo


David Teixeira e Eduardo Costa, jovens jogadores do Andebol Clube de Fafe, vão representar Portugal no Mundial de Andebol de Sub-19, que decorrerá na Croácia de 2 a 13 de Agosto. Na selecção nacional, entre os melhores dos melhores do mundo, mais dois fafenses excelentíssimos.

Um pirolito pra mim, um pirulito pra ti

O Brasil ainda agora festejou o seu Dia do Pirulito. E é justo. O Brasil é uma país tropical, abençoado por Deus e muito dado a carnavais de todas as espécies. No lado de lá, pirulito com "u" é uma guloseima feita de rebuçado ou chocolate enfiada num palito e que se come chupando ou lambendo. Isto é, corresponde, no lado de cá, ao nosso chupa ou chupa-chupa. No brasileirês corrente, a palavra pirulito serve também para identificar uma pessoa muito magra, o chamado pau de virar tripas, ou o órgão sexual masculino, especialmente de criança, igualmente dito bilola, bilunga, bimba, bimbinha, pimba e pimbinha. Já pirolito com "o" era um refrigerante gasoso muito popular antigamente, e de que os da minha idade decerto ainda se lembram, embora eu nunca tenha provado, por défice orçamental, significando, além disso, nome de um estribilho, pessoa muito pequena ou gole de água bebido sem querer, quando se está, por exemplo, a nadar.

O estado da nação 4

Foto Hernâni Von Doellinger

segunda-feira, 24 de julho de 2023

Por causa de uma ateima...

E aquela tradição tão fafense da ateima? Era. Em Fafe ateimava-se por tudo e por nada, sabia-se de tudo, discutia-se tudo, afirmava-se tudo, contrariava-se tudo, apostava-se em tudo e no seu oposto. Por nada, e por uma questão de princípio, mas às vezes também por dinheiro. Era mais um jogo, numa terra viciada nisso mesmo, no jogo. Um jogo como o Totobola e a Lotaria da Santa Casa da Misericórdia, o nosso jogo da ateima, como o bilhar e os flippers do Peludo ou o pilas do Serafim Lamelas ou a batota no Club e no Fernando da Sede, isto para não falar nos sorteios da itinerante associação de invisuais, ainda os invisuais não tinham vergonha de serem cegos, e nas rifas da Comissão de Auxílio. Futebol e política, Deus e o Diabo, vinhos e petiscos, carros, gajas e motorizadas, pré-congelados e piratas, caça e pesca, pistolas, espingardas e canhões de Navarone, gramática e escafandrismo, meteorologia e teoria da relatividade, grandes escritores e livros nunca lidos, países e bandeiras do mundo, chá de cidreira e actores de Hollywood, rácios bolsistas e festival da canção, bandas de música e ranchos folclóricos, a cor dos olhos de Brigitte Bardot e a cor de burro quando foge - era só escolher. Fosse qual fosse o tema, éramos teimosos, tínhamos opiniões, pontos de vista, prismas, ópticas, enfoques, perspectivas e até ângulos, cismas, birras e finca-pés, exageros de verde tinto e cerveja a copo que encorajavam certezas absolutas e desencontradas. E faltava dizer isto: a coisa passava-se realmente em tascos e cafés. Sobretudo.

Havia um extraordinário grupo de veteranos músicos da Banda de Revelhe que era particularmente dado à arte da ateimação. A cultura fafense deve-lhes muito, a essa meia dúzia de exímios ateimadores, mestres e guias de sucessivas gerações de jovens músicos da nossa terra, mas não é isso que aqui interessa. Estavam sempre naquilo, os velhos, nas ateimas. E uma vez que, também preguiçosos, não tinham vagar nem feitio para chegarem a vias de facto por forma a resolverem-se entre eles como adultos, precisavam amiúde de um juiz de fora, imparcial e sábio, que desempatasse as suas inumeráveis disputas, tolas e desnecessárias a maioria das vezes.
O Google ainda não tinha sido inventado, e portanto ligavam-me a mim, primeiro para o jornal e depois para o telemóvel, quando o telemóvel finalmente apareceu. Após a invenção do Google, ligavam-me na mesma, porque há coisas que eu sei e o Google não sabe. Ligavam-me, "Nane, por causa de uma ateima"...
Ligavam-me e o meu primeiro problema era perceber o que é que eles queriam. Do lado de lá havia facções, claques, vozes várias, interrupções, indisfarçáveis caralhadas. Eu já disse que aquilo passava-se principalmente em tascos e cafés, e acrescento que acontecia a certas e determinadas horas, horas cheias e bem bebidas. As palavras telefónicas dos meus estimados consulentes entaramelavam-se por norma e eu não raro também, porque quem sai aos seus a mais não é obrigado. Mas lá chegávamos. E então eu sentenciava, armado em parvo, resolvia a ateima, mas, que me lembre, por mais explicações que apresentasse, nunca consegui convencer a parte vencida, e tenho esse grande desgosto no meu currículo...

Fafe é uma terra de enormes tradições. E a ateima era uma bela tradição fafense. Não sei, porém, se ainda se pratica. Os velhos músicos deixaram de tocar na Banda de Revelhe e já não me ligam, estimo-lhes que ao menos continuem a beber. O Bertinho, meu rico menino, também já não me liga a perguntar, mas está desculpado. E eu para aqui, fafense exilado e imprestável, cheio de certezas para dar e vender, já que para mim há largos anos que não tenho nenhuma. E entretanto, em Fafe, as tradições multiplicam-se e medram, algumas tradições que não interessam a ninguém e até espantosas tradições inventadas ainda agora por uma autarquia que ostenta o gosto do croquete e a mania do novo-riquismo cultural. Sinceramente, espero e peço que a Câmara, e já nem falo em subsídio, pelo menos deite os olhos às nossas ateimas e não as deixe falecer...

O estado da nação 3

Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 22 de julho de 2023

O borra-botas e o cagão

O borra-botas e o cagão. Cuidado, estamos de momento em terreno deveras escorregadio. Muito cuidado! Elaboramos aqui a respeito de dois conceitos aparentemente correlativos - quero dizer, o borra-botas, antes de o ser, é cagão, e o cagão, após sê-lo, é borra-botas, há quem pense -, mas não é necessariamente assim. Vejamos:
Borra-botas, o substantivo, posto que começou por significar, inocentemente, engraxador, ou, sejamos compreensivos, engraxador desastrado, espécie de expressionista abstracto do rez-de-chaussée, é nome que hoje em dia define indivíduo sem valor, pessoa insignificante, reles, desprezível, safardana, bisbórria, biltre, patife, salafrário, bigorrilha, pulha, bandalho, pobre diabo, trapalhão, troca-tintas, zé-ninguém, zé-dos-anzóis, zero-à-esquerda.
Debrucemo-nos agora sobre o cagão. O cagão é, para início de conversa, o indivíduo que defeca com entusiástica frequência e notoriedade, ou, se for em Fafe, a criatura que se peida regularmente e por uma questão de princípio, mas o termo passou também a servir para identificar o homem medroso, caguinchas, medricas, cagarola, ou, por outro lado, o vaidoso, o presunçoso, o arrogante, o snobe, o pedante, o gabarola, o armante, o enfatuado, o figurão, o tem-a-mania. E este é que é o ponto...

O estado na nação

Foto Hernâni Von Doellinger

sexta-feira, 21 de julho de 2023

Entre o "gourmet" e a estrumeira

Do outro lado da minha rua havia uma daquelas pequenas lojas tipo "regional gourmet". Azeitonas em frasco, cogumelos em frasco, meles em frasco, geleias em frasco, licores em frasco, frascos em frasco, dois presuntos em fraco, azeites e vinhos em caro, prateleiras um fiasco. Num benévolo gesto de boas-vindas, mal abriu o estabelecimento fui lá cheirar e avisar que o conceito é uma treta e que gourmet a sério é em minha casa, mesmo em frente, porque aqui a comida é muito boa, e gourmet deveria ser isso, mas não estamos abertos ao público. O gourmet - a ver se eu me sei explicar - quer-se da boca para dentro e não da boca para fora.
Estas lojinhas abrem mas não vendem nada. Abrem por abrir. E sobretudo fecham. Fecham muito bem. São "regionais" porém franchising, very tipical e very vazias, de produtos e clientes. O toque de "qualidade" é dado em palavras "estrangeiras", o que só abona a favor do produto made in Portugal. A loja da minha rua tinha primeiro uma menina, que passava a vida na ombreira da porta a fumar, a fumar, a fumar. E de repente hibernou. A loja. Mês e meio depois reabriu, já sem a menina mas com um rapaz. Que passava a vida na ombreira da porta a fumar, a fumar, a fumar. Nas costas, os dois presuntos pendurados no cabide tisicavam e agradeciam - e assim se produz o genuíno fumeiro nacional.
Passou-se uma semana e a lojinha encerrou de vez: veio uma carrinha limpar as escanzeladas prateleiras, três sacos de plástico bastaram e lá se foi mais um posto de trabalho, por assim dizer, que é o que a mim me importa. Fico infeliz por ter razão: o conceito era realmente uma treta. Esta gente não sabe o que é massa com bacalhau e o prato a esbordar...

Entretanto. Antes e depois da sua lastimável fase "regional gourmet", a lojinha do outro lado da minha rua foi quase tudo, por breves temporadas e com fracasso garantido. Butique de média costura, sapataria fina, loja de animais, bijuteria e outras inutilidades, escritório, despensa, garrafeira e outros souvenirs, recepção de alojamento local e até agência de viagens que nunca abriu, mas a mim cheirou-me sempre ao mesmo: lavandaria de dinheiro.

Nem de propósito, a lojinha é agora um posto de lavagem self-service para cães. E na porta ao lado abriu um estabelecimento para venda de "cannabis legal" e outros "produtos derivados de cânhamo", como, por exemplo, "creme de avelãs para barrar". Reconheço a mudança de paradigma: são dois negócios com irreprimíveis potencialidades. Vejo-lhes futuro. Principalmente ao dos cães, porque nasceu no tempo e no país certos. Um tempo e um país em que os animais são de estimação, mas as pessoas não. Já quanto à canábis, vamos lá ver: não sei se o pessoal aqui da zona não andará de momento mais interessado em algo, como é que se diz, mais pesado e ilegal, vá lá...

E sabem que mais? Sou de Fafe e sou da terra. Mas moro em Matosinhos, na famosa zona dos restaurantes e marisqueiras, que se acotovelam porta a porta. Pensava portanto que não lembraria ao diabo o próprio diabo estabelecer-se aqui no meu território com uma dessas autoproclamadas hamburguerias gourmet, mas a alguém lembrou. Quando, ainda de vidros tapados, vi cá fora os letreiros, pensei: isto nem sequer vai abrir. Mas abriu, e tornei a pensar: daqui a quantos dias é que isto vai fechar? Porque a verdade é esta: não sei o que tenho, mas o gourmet não se dá à minha beira, e juro que a culpa não é minha. Evidentemente não o frequento, mas, tirando isso, mais nada...
Fui espreitando o estabelecimento. As única vezes que vi "clientela" lá dentro, os "clientes" eram o pessoal da casa, à mesa, comendo a sopinha. Até que um dia, talvez nem um mês decorrido, fatal como o destino e com ponto de exclamação e tudo, lá estava afixado o aviso na porta fechada: "Trespasse!"...
E foi o fim.

Moral da história. Contava-se que havia um padre, famoso pregador, que fazia sempre o mesmo sermão. As mesmas inflamadas palavras, da primeira à última, fosse em que circunstância fosse, só mudava o nome do santo. E eu estou como ele, só mudo o título. Quer-se dizer: hoje é Dia da Junk Food. E Fafe, que já aderiu ao workshopping, ao showcasing, ao showcooking, à street fooding e certamente também ao brunching e ao gourmeting, prepara-se para receber o seu primeiro McDonald's.

quinta-feira, 20 de julho de 2023

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Eram pobres e tinham dono

Virtudes teologais
Fé, esperança e caridade.
A fé move montanhas.
A esperança é a última a morrer.
E a caridade tem dias.

Antigamente a caridade tinha dia certo e era um descanso. Pelo menos em Fafe. Às sextas-feiras, vamos supor, os pobres manquelitavam de porta em porta pedindo "uma esmolinha por alma de quem lá tem". Os pobres da parte de fora da porta eram uns desgraçados muito rotos e muito sujos e eram assim para se distinguirem dos pobres da parte de dentro da porta, que já tinham em cima da "cristaleira" umas moedinhas negras separadas e preparadas para a função. Éramos todos pobres, dum e doutro lado da porta, uns mais, outros menos, e, à falta de quem governasse por nós, em Lisboa ou na Câmara, porque ainda não havia Europa, nada mais nos restava senão sermos uns para os outros. Às sextas-feiras, vamos supor. O resto da semana, não.
(A "cristaleira" tinha sido comprada em terceira mão e paga em honradas prestações mensais.)
Naquele tempo os ricos tinham os seus próprios pobres, privativos, pessoais porém transmissíveis. Os pobres eram deixados em herança. Ter pobres por conta era, pelo menos em Fafe, inequívoco sinal exterior de riqueza. Os pobres eram exibidos, bastas vezes à porta da igreja, como gado preso à argola do tasco em dia de moscas e feira semanal. Para o senso comum, quantos mais pobres alguém tivesse, mais rico era. Os pobres eram, portanto, uma medida de riqueza e uma necessidade da Nação para que os ricos prosperassem. Quantos mais pobres Portugal tivesse e quanto mais pobres fossem os pobres portugueses, mais ricos seriam os nossos ricos, e isso certamente era bom para o Produto Interno Bruto.
Isto é: a pobreza convinha-nos, aos pobres. A pobreza era o progresso da Nação. O regime ensinava-nos desde os bancos da escola que felicidade era sermos pobres mas honrados e termos as unhas das mãos sempre limpas. E isso deixava-me cheio de pena dos ricos, infelizes, principalmente dos ricos muito ricos que ainda por cima tinham as mãos sujas.
(Os ricos, pelo menos os de Fafe, não davam a roupa nem o calçado que já não lhes serviam. Vendiam a roupa e o calçado, a pronto, aos pobres da parte de dentro da porta. Vendiam. Os pobres da parte de dentro da porta, passados alguns meses de uso, davam aos pobres da parte de fora da porta a roupa e o calçado que tinham comprado a pronto aos ricos. Davam. Às sextas-feiras, vamos supor. O resto da semana, não.)
Graças a Deus, isto era só antigamente.

P.S. - Hoje é Dia da Caridade. No Brasil.

Como se também fosse paisagem

Foto Hernâni Von Doellinger

terça-feira, 18 de julho de 2023

O fafense João Ubaldo Ribeiro

João Ubaldo Ribeiro morreu no dia 18 de Julho de 2014, aos 73 anos. Nasceu na Baía, mas optou-se carioca. Autor de "Sargento Getúlio", "Viva o Povo Brasileiro", "O Sorriso do Lagarto" e "A Casa dos Budas Ditosos", entre outros tantos títulos igualmente notáveis, venceu o Prémio Camões 2008. O seu avô paterno era natural de Fafe, e Ubaldo considerava-se dos nossos. É, para todos os efeitos, um fafense excelentíssimo. "[Fafe] é efectivamente minha terra, pois terra dos meus ancestrais paternos, [uma terra] da qual, de certa forma, nunca saí", afirmou um dia o famoso escritor brasileiro. E eu, à pala, enchi-me de orgulho, esbordei de vaidade.
A esse respeito. Em 2008, no foguetório pós-Prémio Camões, a Câmara de Fafe, então presidida por José Ribeiro, prometeu "futuramente" uma rua ao nome de João Ubaldo Ribeiro e ao próprio, que teve a amabilidade de agradecer antecipadamente o rapapé a haver. Sinceramente, não sei se a autarquia fafense já cumpriu a promessa, passados apenas estes quinze anos, e nove anos após a morte de Ubaldo, hoje cumpridos. Isto é, eu procurei a rua e não a encontrei. Procurei rua, avenida, praça, praceta, alameda, travessa, viela, bairro, urbanização, rotunda, campo, jardim e até sala e auditório, mas nada! Melhor dizendo, encontrei realmente a Rua João Ubaldo Ribeiro, mas em Aracaju, no Brasil, que não me dá jeito nenhum. Estarei a procurar mal? Alguém me pode ajudar?
E entretanto aqui deixo este mimo do nosso João Ubaldo Ribeiro, tirado com todo o respeito de "Viva o Povo Brasileiro":

Quando os padres chegaram, declarou-se grande surto de milagres, portentos e ressurreições. Construíram a capela, fizeram a consagração e, no dia seguinte, o chão se abriu para engolir, um por um, todos os que consideraram aquela edificação uma atividade absurda e se recusaram a trabalhar nela. Levantaram as imagens nos altares e por muito tempo ninguém mais morria definitivamente, inclusive os velhos cansados e interessados em se finar logo de uma vez, até que todos começaram a protestar e já ninguém no Reino prestava atenção às cartas e crônicas em que os padres narravam os prodígios operados e testemunhados.
Deitava-se um velho morto ao pé da imagem e, depois de ela suar, sangrar ou demonstrar esforço igualmente estrênuo, o defunto, para grande aborrecimento seu e da família, principiava por ficar inquieto e terminava por voltar para casa vivo outra vez, muitíssimo desapontado. Assim, não se pode alegar que os padres só obtiveram êxitos, mas conseguiram bastante de útil e proveitoso, apesar de tudo isso haver piorado os sofrimentos da cabeça do caboco Capiroba.
De manhã, assim que o sol raiava, punham as mulheres em fila para que fossem à doutrina. Depois da doutrina das mulheres, que então eram arrebanhadas para aprender a tecer e fiar para fazer os panos com que agora enrolavam os corpos, seguia-se a doutrina dos homens, sabendo-se que mulheres e homens precisam de doutrinas diferentes. Na doutrina da manhã, contavam-se histórias loucas, envolvendo pessoas mortas de nomes exóticos.

Sensibilidade e bom senso

- É pá, pensava que já tinhas morrido...

P.S. - Jane Austen, autora de "Sensibilidade e Bom Senso" e "Orgulho e Preconceito", morreu no dia 18 de Julho de 1817. Tinha 41 anos.

domingo, 16 de julho de 2023

sábado, 15 de julho de 2023

É de homem

Homem que é homem não quer nada com mulheres.

Homem que é homem coça-os

Homem que é homem coça-os. Esse gesto tão masculino de esfregar entusiasticamente o escroto enquanto se conversa com o amigo. Amigo homem, evidentemente. Aliás, coçam os dois, cada qual coça o respectivo, porque são ambos homens, muito homens. E esse outro gesto tão masculino de, acabada a conversa e a ecuménica coçadela, darem-se uma mãozada forte e bem abanada, machos até mais não, "um destes dias temos de ir jantar". Eu, se me dão licença, proporia um terceiro momento de afirmação varonil nestes (re)encontros entre velhos compinchas: findo o parlapiê, sossegados os tomates e despachado o cumprimento, que cada um fareje a mão do outro, e então, sim, "adeus e até à próxima"...

P.S. - Hoje é Dia dos Homens.

Tanta rolha assassinada

Foto Hernâni Von Doellinger

sexta-feira, 14 de julho de 2023

O calor dilata os copos

Praticante de fino durante três quartos do ano, chegava ao Verão e dedicava-se à caneca. Dizia: - O calor dilata os copos...

quinta-feira, 13 de julho de 2023

Era o tempo das cervejas

Uma vez, em pleno pino de Verão, de férias, passeei Lisboa durante um dia inteiro sem beber uma cerveja, e bem era o tempo delas. Bati as capelas todas e até agremiações culturais. Entrava aqui, entrava ali, e pedia "Uma Super Bock, se faz favor!", ou perguntava "Por favor, a imperial é Super Bock?", que não há e que não é - era Sagres e Sagres, respondiam-me invariavelmente, como se estivessem todos ensaiados e me conhecessem de algum lado e não me gramassem. Só Sagres. Super Bock, nada. Bebi água como a minha mulher, eu quase afogava, eu quase morria, e foi a maior e mais perigosa acção de protesto que levei a efeito em toda a minha vida.

Até mete raiva...

Foto Hernâni Von Doellinger

quarta-feira, 12 de julho de 2023

Comida, carros, gajas e... motorizadas

Nós, os do Norte, somos regularmente criticados por estarmos sempre a falar de comida. O que não é exacto! Na verdade, nós, os do Norte, somos tão capazes de manter conversas interessantes e profundas sobre gajas e carros como o resto da população portuguesa, seja de que região for. Para além disso, se formos de Fafe, ninguém nos bate numa boa discussão sobre motorizadas...

Como por exemplo

Foto Hernâni Von Doellinger

terça-feira, 11 de julho de 2023

Ia-se a São Bentinho

A minha avó de Basto tinha uma sociedade infalível com São Bento da Porta Aberta. Em questões de pele e outras coisas ruins, os dois juntos eram uma limpeza. E há acontecimentos espantosos que são fáceis de explicar. Por exemplo. Ali pelos meus vinte anos, eu tinha uma plantação de cravos no cotovelo do braço direito, que até nem me incomodava grande coisa, mas uma vez a minha avó viu, pediu-me licença e disse que ia falar com São Bentinho sobre o assunto. Quando queria falar com São Bentinho, a minha querida avó Emília ia pessoalmente, a pé, pequerricha e já velhinha, desde Passos, Cabeceiras de Basto, até Rio Caldo, em Terras de Bouro, onde o santo morava. Os cravos desapareceram.
Anos depois, o meu filho era criança e apareceu-lhe um cravo numa pálpebra. Uma vez a minha avó viu, pediu-me licença e disse que ia falar com São Bentinho sobre o assunto. Quando queria falar com São Bentinho, a minha doce avó Emília ia pessoalmente, a pé, ainda mais pequerricha e ainda mais velhinha, desde Passos, Cabeceiras de Basto, até Rio Caldo, em Terras de Bouro, onde o santo morava. O cravo desapareceu.
A minha avó era uma santa. Se eu puxasse pela cabeça, tenho a certeza de que me lembraria de um terceiro e definitivo milagre da minha avó em promessa com São Bentinho, mas não quero arranjar problemas ao Vaticano.
O Vaticano tem muito mais que fazer do que ocupar-se com a comezinha história da Bó de Basto, que, cada vez mais velhinha e e cada vez mais pequerricha, continuava a ir a pé entender-se pessoalmente com São Bentinho sempre que era preciso - até morrer. O Vaticano tem coisas muito mais importantes a tratar, e mesmo assim não trata, que faria se tivesse de tomar conta do assunto da minha avó...

Ir a São Bentinho, era assim que se dizia em Fafe. E queria dizer: ir a pé ao Santuário de São Bento da Porta Aberta, considerado o segundo maior santuário português. Ia-se geralmente em promessa, em pequenos ou grandes grupos, numa peregrinação de uma noite, por estrada, carreiros, atalhos e montes. Havia sempre um guia. O do grupo do Santo Velho, que acolhia alegremente povo doutros lados - da Fábrica do Ferro, do Retiro, da Ponte do Ranha, da Pegadinha ou da Granja, de onde calhasse, sem discriminação -, era o imprescindível Agostinho Cachada, que conhecia o melhor caminho, ele e só ele. Saía-se de Fafe ao fim da tarde e chegava-se lá acima, ao São Bentinho, ao amanhecer do dia seguinte. Acertavam-se contas, velas, esmolas, orações, às vezes de joelhos à roda da igreja, e tornava-se a casa, naquele tempo, de camioneta de carreira. Havia quem fosse uma vez por ano, todos os anos. Havia quem fosse várias vezes por ano, todos os anos. Consoante as necessidades e o tamanho da gratidão de cada qual. E havia quem fosse apenas por turismo ou simplesmente por namoro, que decerto também não seria pecado...

Ora bem. Hoje é dia de São Bento. Lamento informar que São Bento não nasceu nem cresceu no Gerês. Nasceu em Núrsia, Itália, no ano 480, e não consta que alguma vez tivesse posto os pés em Portugal.

Estilos...

Foto Hernâni Von Doellinger

segunda-feira, 10 de julho de 2023

Há canábis na minha rua

Do outro lado da minha rua havia uma daquelas pequenas lojas tipo "regional gourmet". Azeitonas em frasco, cogumelos em frasco, meles em frasco, geleias em frasco, licores em frasco, frascos em frasco, dois presuntos em fraco, azeites e vinhos em caro, prateleiras um fiasco. Num benévolo gesto de boas-vindas, mal abriu o estabelecimento fui lá cheirar e avisar que o conceito é uma treta e que gourmet a sério é em minha casa, mesmo em frente, porque aqui a comida é muito boa, e gourmet deveria ser isso, mas não estamos abertos ao público. O gourmet - a ver se eu me sei explicar - quer-se da boca para dentro e não da boca para fora.
Estas lojinhas abrem mas não vendem nada. Abrem por abrir. E sobretudo fecham. Fecham muito bem. São "regionais" porém franchising, very tipical e very vazias, de produtos e clientes. O toque de "qualidade" é dado em palavras "estrangeiras", o que só abona a favor do produto made in Portugal. A loja da minha rua tinha primeiro uma menina, que passava a vida na ombreira da porta a fumar, a fumar, a fumar. E de repente hibernou. A loja. Mês e meio depois reabriu, já sem a menina mas com um rapaz. Que passava a vida na ombreira da porta a fumar, a fumar, a fumar. Nas costas, os dois presuntos pendurados no cabide tisicavam e agradeciam - e assim se produz o genuíno fumeiro nacional.
Passou-se uma semana e a lojinha encerrou de vez: veio uma carrinha limpar as escanzeladas prateleiras, três sacos de plástico bastaram e lá se foi mais um posto de trabalho, por assim dizer, que é o que a mim me importa. Fico infeliz por ter razão: o conceito era realmente uma treta. Esta gente não sabe o que é massa com bacalhau e o prato a esbordar...

Entretanto. Antes e depois da sua lastimável fase "regional gourmet", a lojinha do outro lado da minha rua foi quase tudo, por breves temporadas e com fracasso garantido. Butique de média costura, sapataria fina, loja de animais, bijuteria e outras inutilidades, escritório, despensa, garrafeira e outros souvenirs, recepção de alojamento local e até agência de viagens que nunca abriu, mas a mim cheirou-me sempre ao mesmo: lavandaria.

Nem de propósito, a lojinha é agora um posto de lavagem self-service para cães. E na porta ao lado abriu um estabelecimento para venda de "cannabis legal" e outros "produtos derivados de cânhamo", como, por exemplo, "creme de avelãs para barrar". Reconheço a mudança de paradigma: são dois negócios com irreprimíveis potencialidades. Vejo-lhes futuro. Principalmente ao dos cães, porque nasceu no tempo e no país certos. Um tempo e um país em que os animais são de estimação, mas as pessoas não. Já quanto à canábis, vamos lá ver: não sei se o pessoal aqui da zona não andará de momento mais interessado em algo, como é que se diz, mais pesado e ilegal, vá lá...

E sabem que mais? Sou de Fafe e sou da terra. Mas moro em Matosinhos, na famosa zona dos restaurantes e marisqueiras, que se acotovelam porta a porta. Pensava portanto que não lembraria ao diabo o próprio diabo estabelecer-se aqui no meu território com uma dessas autoproclamadas hamburguerias gourmet, mas a alguém lembrou. Quando, ainda de vidros tapados, vi cá fora os letreiros, pensei: isto nem sequer vai abrir. Mas abriu, e tornei a pensar: daqui a quantos dias é que isto vai fechar? Porque a verdade é esta: não sei o que tenho, mas o gourmet não se dá à minha beira, e juro que a culpa não é minha. Evidentemente não o frequento, mas, tirando isso, mais nada...
Fui espreitando o estabelecimento. As única vezes que vi "clientela" lá dentro, os "clientes" eram o pessoal da casa, à mesa, comendo a sopinha. Até que um dia, talvez nem um mês decorrido, fatal como o destino e com ponto de exclamação e tudo, lá estava afixado o aviso na porta fechada: "Trespasse!"...
E foi o fim.

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Pizza. E Fafe, que já aderiu ao workshopping, ao showcasing, ao showcooking, à street fooding e certamente também ao brunching e ao gourmeting, prepara-se para receber o seu primeiro McDonald's.

Eram uns pândegos os antigos

Foto Hernâni Von Doellinger

domingo, 9 de julho de 2023

Senhora de Antime, o dia maior

Anjinhos, não!

Deveria querer dizer alguma coisa a nosso respeito, agora que penso nisso, mas não sei se diz. Já repararam, certamente. Não há procissão no mundo que leve tanto povo como a procissão da Senhora de Antime, em Fafe. Um mar de gente, povo a rebentar pelas costuras, sem espaço sequer para descruzar os braços e coçar repentinas aflições. Isso, povo em barda e de todos os feitios. Nós. O povo da terra, inteiro e simples. Mas anjinhos, não...

sábado, 8 de julho de 2023

Senhora de Antime, sábado em cheio

À Lagardère

Contava fábulas de La Palice e dizia verdades de La Fontaine. Com ele era tudo à Lagardère...

P.S. - O escritor francês Jean de La Fontaine, autor das "Fábulas", nasceu no dia 8 de Julho de 1621.

O tempo é o melhor remédio?

Fui à farmácia e perguntei - O tempo é o melhor remédio?
- Com efeito, meu caro senhor - respondeu-me o solícito farmacêutico, sem sequer pestanejar.
- E o efeito é garantido? - insisti, pestanejando.
- Cinco anos ou 150 mil quilómetros.
- E tem genérico?

P.S. - Hoje é Dia Nacional do Medicamento Genérico. Pela primeira vez.

O mal dos gelados é serem tão frios

Sou sincero, a mim convinha-me que os gelados fossem pelo menos mornos. Tenho dentes sensíveis, carago!...

P.S. - Hoje é Dia Internacional do Sacolé, particularmente no Brasil. Sacolé é sorvete, isto é, gelado, metido num saquinho de plástico. Pode dizer-se também dindim, geladinho ou gelinho. E pode ser uma dose de droga plasticamente embalada.

sexta-feira, 7 de julho de 2023

Senhora de Antime, agenda para hoje

Quando Fafe foi aos touros

E quem cuidava que não, pois que se desengane: Fafe também foi aos touros. No Campo da Granja, em 1963, provavelmente por ocasião das Festas da Senhora de Antime, que é o mais certo, mas também poderá ter sido por alturas das Feiras Francas, lembro-me é que era um belo dia de sol e, agora que penso nisso com mais vagar, não faço a mínima ideia de como é possível lembrar-me. Uma tourada que terá sido a primeira realizada em terras de Fafe e que, se não me engano, foi igualmente a única, até hoje, com touros propriamente ditos. O redondel não era assim tão redondo como o nome poderia indicar à partida: digamos que foi construída, com robustos troncos de madeira, uma espécie de lua cheia fanada, cortada em linha recta na zona da bancada, que era para o excelentíssimo público poder estar em cima do acontecimento. As digníssimas autoridades locais e a nossa mais distinta burguesia, orgulhosamente alapadas na bancada de cimento com tecto de zinco, quero crer que com umas discretas almofadinhas aliviando os respectivos traseiros, e o povo a pé, no meio do campo da bola, encostado às tábuas, mas seria muito pouco, meio dúzia de gatos-pingados, se tanto, e eventualmente já razoavelmente decilitrados, porque os bilhetes, mesmo os bilhetes mais baratos, eram caros como o caralho. Foram certamente ao engano e, diga-se em sua defesa, o calor era realmente muito e a situação deveras incómoda e eventualmente perigosa. Se naquele tempo já havia praças de toiros desmontáveis e alugáveis, não foi daquela vez que uma delas chegou a Fafe.
A tourada, segundo me lembro, e confesso que continuo sem perceber como é que me lembro, foi uma merda. Compreendo portanto que a autarquia fafense vire as suas modernas prioridades para outras lides. Para as chegas de bois, para as largadas de perdizes, para as montarias ao javali, para as exposições e concursos de beleza canina ou columbófila, para as corridas de cavalo a passo travado e de salto alto, para as batidas à raposa, que é o que nos faz falta. Um destes dias ainda tornaremos, se Deus quiser, à nossa ancestral porém nunca desmentida caça aos gambozinos, com organização camarária, estacionamento gratuito, pequeno-almoço, almoço, merenda, jantar e tudo. Tenho uma fé muito grande nos nossos conspícuos guiadores e guiadoras, quem dera que não chova, e olé!

Por outro lado. A malta mais nova se calhar não faz ideia da revolução que é ter espectáculos à borla, como acontece hoje em dia, nomeadamente nas Festas da Cidade, e só tenho a elogiar a autarquia por isso. Antigamente, e naquele tempo a pobreza era modo de vida, regra geral, em Fafe pagava-se por tudo e por nada. Só faltava andarem os fiscais da Câmara a passar bilhete, no Largo e em Cima da Arcada, a quem fosse apanhado a olhar para o fogo-preso do Jardim do Calvário...

quinta-feira, 6 de julho de 2023

Senhora de Antime, agenda para hoje

Um grande nome nas festas

A comissão de festas tinha prometido um grande nome e cumpriu satisfatoriamente. Quando as luzes do palco se acenderam e foi anunciado, o cantor chamava-se, com efeito, José Manuel-António Ferreira Rocha Vieira da Silva Pereira Gonçalves Ribeiro e Castro Melo Antunes Bastos Monteiro Neves Brochado Macedo Nogueira Santos Oliveira Costa Rodrigues Martins Carvalho Marques Almeida Cunha Pires Lopes de Perestrelo e Lencastre-Maldonado. E tinha bailarinas...

As meninas dançam!

Foto Hernâni Von Doellinger

quarta-feira, 5 de julho de 2023

Matematicamente

Eram números primos. Direitos. Por parte das mães.

Arte têxtil no Arquivo Municipal


Lãnolinho, exposição de arte têxtil contemporânea, é inaugurada depois de amanhã, sexta-feira, 7 de julho, às 17 horas, no Arquivo Municipal de Fafe. A mostra, aberta ao público até 30 de Setembro, resulta das residências artísticas desenvolvidas pelas artistas Cindy Steiler e Mónica Faria no território de Fafe e suas comunidades. Mais informação, aqui.

terça-feira, 4 de julho de 2023

Fafe e o garibaldismo

Garibaldi foi um general italiano que ficou muito famoso por usar blusão vermelho. Mais tarde o ilustre mercenário e patriota, alcunhado Herói de Dois Mundos por certas e determinadas razões, transformou-se em camisola de fora ou casaco curto de mulher e numa espécie de guindaste geralmente improvisado e ainda hoje muito usado na construção civil, sobretudo em obras assim mais artesanais ou domésticas, basta ir por essas belas aldeias de Fafe fora, que só o passeio já vale a pena.

P.S. - Giuseppe Garibaldi, herói da unificação de Itália, nasceu no dia 4 de Julho de 1807.

Mr. DeMille, I'm ready for my close-up!

Foto Hernâni Von Doellinger

segunda-feira, 3 de julho de 2023

Os dias da Senhora de Antime

Fafe vive por estes dias os seus dias mais extraordinários. É tempo de Senhora de Antime. São as Festas da Cidade, que já foram da Vila e do Concelho. Os da Câmara podem chamar-lhe o que quiserem, mas toda a gente sabe que é a Senhora de Antime. Toda a gente, quero eu dizer, os fafenses do rés-do-chão. O programa promete. Xutos & Pontapés, Karetus, Matias Damásio e D.A.M.A., anunciados como cabeças de cartaz. E há despique entre as nossas duas bandas de música, e folclore, e fado de Coimbra, nunca percebi porquê, e espero que muitos bombos, cabeçudos e gigantones, não sei se pilas, mas matrecos certamente, e até encerra com um desfile alegórico, que também a mim me parece uma boa ideia.
A Senhora de Antime, no entanto, é a procissão. E isto é tão básico, valha-me Deus! Há anos que o digo, a procissão é que é cabeça de cartaz das nossas festas, mas não adianta. Domingo é a Senhora de Antime, a Senhora de Antime é domingo, o nosso domingo mais fafense, o domingo mais esperado do ano. O dia único de ir "ver a Senhora". O domingo da procissão que me leva às lágrimas. Não tem nada a ver com fé ou religião, é sentimento, fafismo tão-somente, fafismo puro, e fafismo não se explica, vive-se, e nem é preciso ter nascido em Fafe. A procissão e o encontro das duas senhoras, das Dores e da Misericórdia, no Lombo. A sirene que toca à paragem dos pesados andores no cruzamento do Santo Velho, junto ao Palacete, o nosso sítio combinado, como se os Bombeiros antigos ainda ali estivessem ao pé. E a sirene não toca, é um pranto. As pombas atordoadas e os salamaleques e foguetes escusados à porta da Câmara. A procissão da Senhora de Antime, costumo ensinar a quem não sabe, é provavelmente a melhor procissão do mundo. É o povo que desce inteiro com as duas senhoras até à vila a que agora chamam cidade, não vejo com que vantagem. É uma procissão tremenda e comovente, multitudinária e única, uma procissão a sério - A Procissão -, como tenho a mania de explicar aqui aos meus vizinhos que ficam banzados com a meia dúzia de almas penadas e a dúzia e meia de cabeçudos autárquicos e outras autoridades civis, militares e religiosas, assim catalogadas, que todos os anos acompanham a imagem do Senhor de Matosinhos pelas ruas desta cidade que me acolhe, num deserto que só visto.
Dias extraordinários, dizia, e domingo da nossa procissão. E na segunda-feira, se não for antes, lá estarão nos sítios do costume as fotografias e os vídeos dos da Câmara mailos que são sempre os mesmos, como se a Senhora de Antime fosse só deles e Fafe também.

P.S. - A vila de Fafe passou a cidade no dia 3 de Julho de 1986. As vilas de Seia, Albufeira, Mangualde e Maia, também.

domingo, 2 de julho de 2023

Festa da Lua Cheia em Luilhas


Amanhã, segunda-feira, é noite de lua cheia em Luilhas, São Miguel do Monte. Quer-se dizer, é Festa da Lua Cheia, uma celebração da ruralidade que exalta a influência da Lua no meio agrícola. O Minho no seu estado mais puro, levando os visitantes numa viagem ao passado, desta vez ao ano de 1923, com artesanato, tasquinhas, música da época e recriações históricas. A entrada é livre. Mas informação, aqui.

sábado, 1 de julho de 2023

Piada fina

A piada, para ser fina, não deve ter mais de três milímetros de espessura.

P.S. - Hoje é Dia Internacional da Piada.

Maxismo, cooperativismo e restauração

Depois de ter inventado o comunismo, Marx fez comédia em Hollywood, cantou "A mula da cooperativa" e a "Pomba branca", candidataram-no à Presidência da República pela UDP, abriu um restaurante em Fafe, foi inspector canino numa série da TVI e jogou a defesa direito no Benfica e no FC Porto. Actualmente diz piadas na rádio e às vezes no canal da televisão para antigos.

P.S. - Hoje é Dia Internacional das Cooperativas.

Pilas a sério era em Fafe

No tempo em que Fafe era o Largo com árvores e os fafenses eram todos bons rapazes, "os" 16 de Maio e a Senhora de Antime eram fes...