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sexta-feira, 1 de agosto de 2025

O calor dilata os copos

Era um fafense à moda antiga. Praticante de fino durante três quartos do ano, chegava ao Verão e dedicava-se à caneca. Dizia: - O calor dilata os copos...

Agora a efeméride. Hoje, primeira sexta-feira de Agosto, é Dia Internacional da Cerveja. O Dia Internacional da Cerveja é um Dia De tão palerma e desnecessário como a maioria dos outros Dias De e foi inventado por uns maduros americanos de Santa Cruz, na Califórnia, em 2007. O principal objectivo deste peculiar Dia De é, consta dos estatutos, estar com amigos para saborear a cerveja. Quer-se dizer, Dia Internacional da Cerveja é quando um gajo quiser, em Fafe chegava a ser todos os dias, e para mim foi na passada quarta-feira, dia internacional da cerveja, das bifanas e do Lopes.

P.S. - Hoje é Dia Internacional da Cerveja.

domingo, 3 de novembro de 2024

Anthony Bourdain não passou por Fafe

Foto Hernâni Von Doellinger
Numa das suas visitas oficiais ao Porto e Norte de Portugal, o saudoso Anthony Bourdain (1956-2018) andou pela Invicta, deu um salto aos vales do Douro e do Tâmega, comeu por lá umas especialidades de carregar pela boca e teve o duvidoso privilégio e manifesto incómodo de assistir a uma matança de porco e às litúrgicas operações de desmancho e salga, acabando o dia a jogar à bola com a bexiga do bicho, como mandava a tradição.
E depois foi-se embora. Atenção: foi-se embora sem antes ir à Conga comer uma bifana. Mas, desta ou doutra vez, comeu bifanas em Lisboa. Isto cabe na cabeça de alguém? As bifanas da capital sempre me mereceram as maiores reservas e, francamente, a equipa do No Reservations deveria estar na posse desta importante informação. Perguntassem-me, porra!
Bourdain, mestre de culinária e estrela de televisão, disse que gostou muito das lisboetas "sanduíches gordurosas de porco", com carne "imunda e cortada em fatias finas". É uma definição elegante e que se aceita, acho eu. Mas havia de ter provado as bifanas à moda do Porto, na Rua do Bonjardim! E não me venham dizer que as bifanas são iguais em todo o lado. Porque não são. E não me venham dizer que é tudo uma questão de picante - mais ou menos. Porque não é. E não me venham dizer que é só temperar com vinho branco e mais não sei quê (o resto fica cá comigo, que também as faço uma categoria). Porque não é. É com o vinho (e com o resto), mas também com cerveja, ou para onde é que vocês cuidam que vão as sobras dos barris e a espuma que esborda dos finos (ou imperiais) mal tirados? Vai tudo lá para dentro, para o caldeirão da molhanga, e aqui é que bate o ponto. Aqui é que a porca torce o rabo. É que as bifanas do Porto chafurdam em Super Bock. E a Super Bock faz toda a diferença.

Por outro lado, Anthony Bourdain não passou por Fafe. O que é absolutamente lamentável. E indesculpável, por maioria de razão. Se o famoso chef americano queria falar de sandes com conhecimento de causa, primeiro haveria de informar-se acerca da posta de bacalhau frito dentro de biju, no Paredes, a acompanhar um sino de verde branco só para abrir apetite para o almoço. Haveria de perguntar pela sandes de pescada frita e fria no Lameiras da Rua de Baixo. Haveria de pedir que lhe contassem das sandes de vitela assada no Zé da Menina ou no Nacor, aqui também com batata para fazer fartura. Não poderia deixar Portugal sem antes provar a francesinha e o prego do Peixoto, e as moelas de coelho e os ovos de galo. Em pão. Haveria de tomar conhecimento da incontornável sandes de pastelão e da sandes de chicharro de cebolada retrasado. Haveria de querer saber das pataniscas do Miranda. Haveria de exigir que lhe apresentassem a minha côdea de broa com açúcar amarelo, que, sendo dobrada ao meio, sobe também à categoria das sandes certamente, apesar da sonsa oposição dos puristas e outros alegados diabéticos, e talvez até lhe ensinassem a sandes de bolacha maria com marmelada. Mas Bourdain não passou por Fafe. E portanto nunca soube nada disto. Foi o que perdeu. Foi o que se perdeu.

P.S. - Hoje é Dia da Sanduíche, quer-se dizer, da sandes. E em Fafe chicharro dizia-se chucharro e até havia uma família, gente boa, com esse nome posto. Sim, os Chucharros, do Lombo. Quanto às pataniscas do retrato, são cá de casa e não servimos para fora.

segunda-feira, 24 de abril de 2023

A papelada era com o Sr. Armindo Bristol

A minha mulher meteu os papéis para a reforma nos finais do ano passado. Isto é, mandou a papelada para baixo, como se dizia antigamente em Fafe e quem tratava do assunto era o Sr. Armindo Bristol, pai do Armindo Cinco-Coroas, príncipes do velho Picotalho e gente do melhor que possa haver no mundo inteiro. O Sr. Armindo pai, homem letrado e bom, vestia fato e sobretudo e despachava na mesa do tasco muito limpa e organizada em envelopes, folhas de papel de 25 linhas, folhas de papel selado, cédulas pessoais, bilhetes de identidade, cartões da Caixa, recibos, atestados médicos, provas de vida, recomendações do presidente da Junta, do regedor e do bufo da Pide, a bênção do senhor abade, selos dos Correios e estampilhas fiscais, uma caneca de verde tinto e quero crer que escrevia com caneta de tinta permanente. O Sr. Armindo, figura excelentíssima que um dia espero contar melhor, passou uma porrada de anos no sanatório e foi lá que se formou em burocracia e ajuda aos outros. Quando tornou a casa, salvou o resto das vidas de milhares de fafenses desinformados, abandonados, assustados e analfabetos. Serviço prestado a troco de um quartilho, por um punhado de moedas ou por uma nota de vinte, consoante as posses dos desgraçados requerentes e da previsão da tença a haver, ou então por nada, apenas por um obrigado, um Deus lhe pague, uma mãozada, ficamos assim e não se fala mais nisso, porque na nossa terra, naquele tempo, abundava quem não tivesse dinheiro sequer para assobiar em cuecas, e o Sr. Armindo sabia disso e fazia caso. 
Mas nós, a minha mulher e eu, antes que me perca outra vez. Como ia dizendo, ela meteu os papéis, estava tudo certo, e em Janeiro ficou livre. Eu, como muito bem sabe quem me conhece mais ou menos, estou praticamente reformado desde que nasci, e livre sempre. Libertos os dois, podemos enfim realizar todos os sonhos de duas vidas inteiras que são só uma e vai a meio. Organizámos logo a primeira semana do ano, não sei se se lembram, chamando-lhe, muito originalmente, "a primeira semana do resto das nossas vidas". Agendámos viagens a Nova Iorque, a Londres e a Paris. Aos Himalaias e aos Apalaches. E à Conga, na portuense Rua do Bonjardim, para comermos duas ou três bifanas e talvez também uma codorniz. Isto só para a primeira semana. Mas, como igualmente admitíamos, o tempo não chega para tudo, e portanto que se segue? Entramos hoje na décima sétima semana do resto das nossas vidas, fomos um par de vezes à Conga, de metro para lá e de autocarro para cá, e por acaso também tem sido porreiro.

P.S. - Hoje é Dia do Agente de Viagens. No Brasil.

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

A primeira semana do resto da nossa vida

A minha mulher meteu os papéis para a reforma. Isto é, mandou a papelada para baixo, como se dizia antigamente em Fafe. Em Janeiro estará livre. Estaremos livres, ela e eu, para finalmente realizarmos todos os sonhos de duas vidas inteiras que são só uma e vai a meio. A primeira semana já a temos completamente organizada: vamos a Nova Iorque, a Londres e a Paris. Aos Himalaias e aos Apalaches. E vamos à Conga comer uma ou duas bifanas. Se por acaso não der para tudo, vamos à Conga, e vai ser porreiro.

Bruxedos e outros medos

Durante uma semana, um alguidar contendo um enorme galo sem cabeça e outras miudezas feiticeiras esteve em exposição no passeio junto ao por...