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segunda-feira, 5 de junho de 2023

Em nome do Espírito Santo 6

No sábado, o recato das oito da matina é hora da distribuição de esmolas, e na segunda-feira, derradeiro dia das festas, no fim da manhã serve-se o bodo de leite e ao princípio da tarde prossegue o leilão de alfenim ao domicílio começado na véspera. De casa em casa, com música e cantigas. Tudo faz receita.
Explique-se: o alfenim é um doce feito com açúcar, água e óleo de amêndoa que mãos hábeis de pasteleiras domésticas adaptaram às linhas de flores, peixes, pombas, galinhas, cisnes, veados, coelhos ou outras. Às vezes serve como ex-voto, para resgate de graça, e, sendo esse o caso, toma então a forma da parte do corpo milagrada.
Quanto ao bodo de leite, perdeu, se calhar, alguma da sua pureza original. De facto, ao leite e ao pão tradicionalmente postos à disposição de todo o povo no final de uma procissão sumária, acrescem agora - fruto do indulgente correr dos tempos - os mais que óbvios copinhos de vinho, enquanto a mesma charanga paisana que, grave e lenta, acompanhava o cortejo religioso de há bocado, cumpre agora, toda gaiteira, de grupo de baile, debitando de um fôlego o repertório completo das suas modinhas. Sob a bênção cúmplice do padroeiro, que, do alto do andor florido, ali mesmo a tudo preside (parece que com um sorriso maroto...), come-se-lhe, bebe-se-lhe e dança-se-lhe como manda a ventarola. Que Deus lhes perdoe, mas há qualquer coisa de báquico no ar.
O programa remata com chave de ouro: a incontornável tourada à corda. Era o que faltava! Falamos da Terceira e por lá os toiros, só por si, são a festa. Acontecimento incrível, verdadeira instituição, capaz de arrastar e arrebatar as mais entusiasmadas multidões, a corrida à corda é o ponto alto e o fecho. Ou talvez não.
Deste este mesmo domingo que está escolhida a nova Comissão, para o próximo ano. Afinal, tudo torna ao princípio: a festa, a bem dizer, não acabou, está por começar. Renova-se o ciclo de devoção e da folia, tudo em nome do Espírito Santo. Que governa, imperial, a alma "cândida e tenaz" do povo das Ilhas Azuis.

P.S. - Escrevi originalmente este texto talvez em 1992 ou 1993, para publicar não sei onde. É prosa claramente datada, em todos os sentidos, mas outro dia reencontrei-me com ela por acaso e só me envergonhei um bocadinho. Termina hoje, assim. Amanhã voltarei aqui aos Açores, mas para as touradas à corda.

domingo, 4 de junho de 2023

Em nome do Espírito Santo 5

Está então aí a deliciosa maré para confeccionar as tradicionais sopas do Espírito Santo e a perfumada alcatra, que, à moda da Terceira, constitui uma das principais jóias da preciosa cozinha açoriana.
A quinta-feira é dia de Pezinho. Em nome da Comissão, um rancho de cantadores e tocadores de viola vai de porta em porta agradecendo e, em muitos casos, recolhendo ainda ofertas retardatárias para a festa grande. Na sexta-feira, pelo meio-dia, as portas da despensa do império abrem-se à distribuição do pão e da carne, repartida em doses ricas, para consumo de toda a freguesia mas cuidando particularmente para que não faltem aos mais pobres. Todos os lares estarão precatados para receberem fidalgamente familiares, parentes, compadres, vizinhos, amigos e penetras.
De súpeto espetam-se no fim os dias contados dos dois, três ou mais animais que a Irmandade, comprados ou por oferta prometida, há um ano cativara e cevara para o efeito. Fatal como o destino, não há milagre que lhes valha. São cozidas centenas de quilos de pão branco para a sopa e em massa sovada. Requisita-se o melhor vinho da ilha. Venham então essas sopas do Espírito Santo, que já se irrequieta o pessoal, com os pés metidos debaixo da mesa. Mestre Nemésio conta, de fazer água na boca, em "Mau Tempo no Canal":
O bezerro esquartejava-se para esmolas de pão e carne estendidas em bancas improvisadas na rua com tabuões e toalhas, e postas nos seus pratos de barro coroados de ramos de hortelã. O pobre que dá ao pobre cobre a sua alma e empresta a Deus. Fartura é naqueles dias! Cozido e alcatra a amigos e compadres, nas panelas de arroba mexidas pela "mestra da função"... as mesas postas, carniça, potes de rosas, e os copos mostrando à transparência de vinho os confeitos de funcho e açúcar jogados pela vereança aos peitos das raparigas. Vivo e coberto de fitas, tonto das boninas e da pólvora do foguetório, o bezerro, à frente do cornetim e da rabeca do Pezinho, cheirava a pêlo e a chícharo, à jarroca das grotas sem fundo, trazido do lado de lá do nevoeiro que engorda os pastos e vela a alma da ilha. Ainda quente do breu que lhe segura a rosa de papel entre os cornos, ajoelhavam o bicho à força à porta do "imperador", como se o Espírito Santo quisesse lembrar aos ilhéus que são do mesmo barro que a vaca bafejou no filho da Virgem pobrinha.
Tal qual.

P.S. - Escrevi originalmente este texto talvez em 1992 ou 1993, para publicar não sei onde. É prosa claramente datada, em todos os sentidos, mas outro dia reencontrei-me com ela por acaso e só me envergonhei um bocadinho. Amanhã há mais.

sábado, 3 de junho de 2023

Em nome do Espírito Santo 4

Em Angra do Heroísmo, já pelo ano de 1492 se fazia um "esplêndido império", então chamado "dos nobres". Hoje, só nesta ilha são mais de cinquenta e, rivalidades à parte, um deles, o de São Carlos, nos arrabaldes da cidade, para si granjeou no antigamente a fama de ser "dos ricos". É claro, possui também o seu caso, muito falado.
Assunto sério, assombro de varar qualquer, acudimo-nos de atestado assim passado, a páginas tantas, por Alfredo da Silva Sampaio:

[...] por tradição se sabe que, pouco tempo depois de ter rebentado o fogo no local denominado Entre o Pico e a Serra, em 1761, desenvolveu-se um fumo denso que, descendo a cumeada da serra de Santa Bárbara, veio ter ao local onde hoje está o império. Assustados os Terceirenses com tal fenómeno, foi conduzido por alguns devotos para este último ponto um estrado de madeira onde colocaram uma coroa do Divino Espírito Santo, e em volta dela o povo implorou protecção. Durante semanas se conservou este fumo, sem passar aquém do estrado, até que, no domingo seguinte ao dia em que a Igreja venera o apóstolo São Mateus, desapareceu por completo este fenómeno sem deixar vestígios, e assim começou a ter lugar aquele festejo...

Pois neste império, exactamente plantado no sítio onde calhou o milagre da extraordinária barragem à ameaça vulcânica, a festa é da graúda. Apontada para a última semana de cada Agosto - do domingo até à outra segunda-feira -, com números organizados e variados, são, ainda assim, os espontâneos cantares e as músicas dos constantes foliões, os cantadores e contadores, a camaradagem imediata e genuína que verdadeiramente aquecem a alma a esta gente aberta e aconchegam o forasteiro.
Multiplicam-se os concertos e as tocatas por filarmónicas, os bailes de rua, os bazares, as ceias. Sucedem-se as noites: a noite da música popular, a da juventude, a do fado, a da morcela e por aí fora. Pretextos para descaminhos é o que são.
Apesar de tudo, as estrelas mais brilhantes que alumiam estes saraus são ainda os velhos cantadores de "Velhas" - a música mansa (triste?) das Ilhas, mais dita do que cantada, num marralhado ao jeito dos cantares ao desafio minhotos (e, no entanto, completamente diferente), afinado, afiado, irónico e crítico, colhendo assunto no quotidiano do ilhéu e misturando-o com os enredos e desenredos das telenovelas brasileiras dos pioneiros tempos.
Conversas de pé-de-orelha, versinhos assim que emparelham a alta do custo de vida com as agruras da Escrava Isaura, Sassá Mutema ou Dona Chepa; modinhas em que se casam os amores atribulados de Seu Nacib e Gabriela com manobras de cala-te boca nos bataclãs locais; rimas que acertam as desventuras de jagunços, caboclas e bóias-frias com as aventuras dos figurões da praça açoriana. Dos entretantos aos finalmentes.
Aqui atrasado, à boleia da festa, fizeram-lhes uma homenagem, aos mais famosos cantadores de "Velhas" vivos: ao António Plácido e a mestre João Ângelo, o maior. Humildemente ouvidos os elogios da praxe e depois de largar um "Boa noute, apreciadores" que embrulhou no mesmo abraço homenageadores, cantadores da nova vaga, que fizeram questão (estavam lá, entre outros, o Mota e o Eliseu), e, minhas senhoras e meus senhores, o público em geral, mestre João Ângelo, como um alho, mangando esgravatar o repente da inspiração, mete-se num entre parênteses mais que ensaiado, desamarra-se do cigarro e, aos primeiros acordes da viola da terra, logo atira:

Agradeço aos cantadores
E também aos autores
Que fizeram esta homenagem.

Até talvez esteja certo
Porque cada um deles está perto
Daquela última viagem.

Não sei se é tarde ou cedo,
Eu cá por mim tenho medo
Daquela última viagem.

À homenagem apressada
O nosso povo vigia:
Quando a esmola é avultada
Até o cego desconfia.

P.S. - Escrevi originalmente este texto talvez em 1992 ou 1993, para publicar não sei onde. É prosa claramente datada, em todos os sentidos, mas outro dia reencontrei-me com ela por acaso e só me envergonhei um bocadinho. Amanhã há mais.

sexta-feira, 2 de junho de 2023

Em nome do Espírito Santo 3

Com mais ou menos respeito pelos cânones litúrgicos e rigor na tradição, todas as comunidades açorianas festejam o Espírito Santo como o seu mais importante acontecimento sócio-religioso. De Santa Maria ao Corvo, cada qual à sua moda, nos Estados Unidos da América, no Canadá, no Brasil e, desde há uns poucos anos, em Lisboa e no Porto. Ninguém passa sem o seu "império", mais ou menos rico, com mais ou menos dias de programa. Consoante as posses.
Será decerto na Terceira, porém, que as festas alcançam a sua expressão mais vibrante. Ricas em especificidade, têm aqui uma maior duração, prolongando-se, em votos e promessas ao Divino, desde o Domingo de Pentecostes até aos finais do Verão. São os meses da "primavera das Ilhas". Este afã de folia bem o entendeu Vitorino Nemésio, ilhéu e terceirense:

Esta nossa ilha Terceira
Sempre foi alto lugar:
Em amores, bodos e toiros
Fica sempre a desbancar.


Ou:

Alcatra, confeitos, vinho,
Enchei o meu coração.
Que faz mais barulho ardendo
Que um tambor de folião.


Tudo começa pelo Domingo da Trindade, com o sorteio daqueles que serão os mordomos na função do ano seguinte. Aqui que ninguém nos ouve, sempre será de confidenciar que o dito sorteio está, na verdade, condicionado à partida pelos interesses de ilustres pagadores de promessas ou de notáveis da paróquia. Isto é, antes do sorteio já se sabe quem é que vai ganhar. Seja como for: o primeiro, consintamos, bafejado pelos desígnios da "sorte" recolhe na sua casa as insígnias dos Espírito Santo - a coroa e o ceptro - até à Pascoela, ponto do início dos festejos.
Na igreja da freguesia realiza-se então a coroação, cerimónia na qual a coroa é colocada na cabeça de uma criança ou adulto - o imperador -, que depois a leva em procissão a casa de um outro mordomo, que a guarda por uma semana. Mordomos, coroas, alvas rainhas em mantos magníficos, foliões, tambores, pandeiros, ferrinhos, bandeiras vermelhas, estandartes, quadros, varas, bandas de música compõem um cortejo garrido, sonoro, alegre.
Domingo após domingo renova-se a cerimónia, passando a coroa e o ceptro pelas casas dos vários mordomos aprazados, até ao dia grande da festa, em que são expostos no império. O império é uma pequena construção acapelada, ingénua, típica da arquitectura popular açoriana, e também chamada de teatro do Espírito Santo. Distingue-se pelo frontão trabalhado e colorido, em geral rematado por uma coroa e pomba simbólica. Aqui são saldadas as promessas, depositadas as esmolas, adquiridas as relíquias e entregues as oblatas que a seu tempo irão servir aos mais necessitados.
Enquanto no lar de cada qual, coroa e ceptro merecem as maiores reverências. Da família, têm garantida a melhor divisão da casa, um trono, a reza diária do terço ao Senhor Espírito Santo, é preciso que se note. E das visitas, todas, crentes ou agnósticas, o respeito e a deposição de uma esmola e de um ósculo no Divino, "aberto numa pomba de prata ao topo de uma coroa real".

P.S. - Escrevi originalmente este texto talvez em 1992 ou 1993, para publicar não sei onde. É prosa claramente datada, em todos os sentidos, mas outro dia reencontrei-me com ela por acaso e só me envergonhei um bocadinho. Amanhã há mais.

quinta-feira, 1 de junho de 2023

Em nome do Espírito Santo 2

As irmandades promovem a celebração das festas, ano após ano, sempre como manda o figurino: empresa a merecer desde logo, para afinação de prolegómenos, convocatória em jornal, assembleia geral e tudo. O espírito que lhes preside é ainda o da caridade cristã, em escrupulosa obediência às suas origens. Na verdade, chamando ao caso a Rainha Santa, reza a velhinha Revista dos Açores que, condoída com "a parte desgraçada dos seus súbditos que, cobertos dos humildes andrajos e com a escudela, aguardavam o pão da caridade às portarias dos conventos e mosteiros [...], a piedosa Soberana, amante do seu povo, quis que os pobres também um dia se banqueteássem, quis que tivessem um dia jubiloso, um dia verdadeiramente popular". Ora aqui está: por invocação e louvor do Paráclito, assim nascia o bodo aos pobres.
Ao par, desenvolvem-se rituais gentios, manifestações exteriores de grande colorido e riqueza etnográfica cujo cunho ousadamente profano bastas vezes serviu de justificação à intromissão disciplinadora da autoridade eclesiástica (que proibiu nos templos a presença das folias, mais os seus cantares e danças) ou a outros insucessos tutelares votados a "desterrar da região insulana aquelas estranhas práticas". Jamais, no entanto, apareceu quem ousasse interferir na realização das coroações, dos impérios ou dos arraiais do Espírito Santo. Ademais, hoje em dia, do melhorzinho que os festejos têm para oferecer é exactamente essa estimulante dualidade preservada de rituais, sacros, pagãos, que convivem e se completam.
Da festança, além dos cerimoniais santos e dos divertimentos populares, faz parte, em lugar cimeiro, uma farte e colectiva refeição comida à base do pão e da carne, também partilhados em esmola pelos mais precisados. São as tão apreciadas sopas, assim chamadas, embora do cardápio conste a carne cozida, que se ajunta à sopa propriamente dita, seguindo-se a carne assada à maneira e a alcatra, que nalguma ilhas se acompanha com a típica massa sovada, esse pão tão especial. Mandando o serviço, assistindo de mesa em mesa, cuidando para que nada falhe: a figura omnipresente e eficaz do "marchante".

P.S. - Escrevi originalmente este texto talvez em 1992 ou 1993, não sei para quem. É prosa claramente datada, em todos os sentidos, mas outro dia reencontrei-me com ela e só me envergonhei um bocadinho. Amanhã há mais.

quarta-feira, 31 de maio de 2023

Em nome do Espírito Santo

Envolta na bruma das lendas, adornada pela magia das superstições e abonada por insondáveis espantos, impera há séculos no coração do povo das Ilhas a devoção ao Senhor Espírito Santo. Uma contínua, sempre renovada e abrangente procissão de beatos, fiéis, crentes, simpatizantes e até incréus vela por que não se extingam os sinais singulares desta tradição santa-profana que individualiza os Açorianos, na sua terra ou pelas lonjuras da diáspora.

Esta é uma crença muito antiga. As folias ao Espírito Santo, ainda que aparentem uma origem pagã no druidismo, ou na superstição grega, chegam a Portugal pelas mãos da Rainha Santa Isabel e são levadas para os Açores logo pelos primeiros povoadores. Convertidas na maior devoção e piedade, conservam-se até aos nossos dias: chamam-se, ali e agora, os impérios do Espírito Santo.
Os Açorianos são uma gente católica, extremamente crente e devota, e mesmo os mais fundamentalistas em matéria religiosa ou os ateus desobrigados fazem fé nos casos relacionados com o Divino Espírito Santo e temem as Suas "vinganças". É, como quem diz, uma questão de respeito.
Infinito é o rosário das salvações, grandes assombros ou modestos arranjos que o povo atribui à intervenção providencial do Divino - como gosta de chamar-Lhe, carinhoso, numa antiga e meiga confiança de nome próprio. Crises sísmicas e vulcões, pestes, o ror de maleitas e apertos do dia-a-dia, a vida difícil e o isolamento congregaram os ilhéus numa devoção que depressa se espalhou por todas as cidades, vilas e aldeias. E recorre-se-Lhe por tudo, coisa assim pataqueira ou missão a meio do impossível: simplesmente implorando melhoras em pró-forma de clínica geral ou prescrevendo cirúrgico tratamento de especialista; requerendo que o filho atine com os livros ou suspirando que calhe indulgência aos professores; convocando bênção para casamento novo ou clamando por intervenção de emergência em avaria conjugal; pedindo feliz termo para a viagem, que culturas e gado medrem, que as vinhas farturem, que o negócio corra, que o dinheiro não falte. Tudo, edecétrea atrás de edecétera, até aos limites de encomendas de alto lá com elas. O Divino por tudo olha, tudo remedeia - que não é Pessoa de desmanchar contratos, e isto é o povo a fazer constar.

Estamos em tempo de Espírito Santo e de Açores. Os parágrafos acima são o primeiro "fascículo" de um trabalho jornalístico que terei escrito talvez em 1992 ou 1993, não sei para quem. É prosa claramente datada, em todos os sentidos, mas outro dia reencontrei-me com ela e só me envergonhei um bocadinho. Sou apaixonado pelos Açores e mantenho uma relação muito especial e próxima com a ilha Terceira. Por isso voltarei ao assunto. Hoje é Dia do Espírito Santo ou Dia do Divino Espírito Santo, sobretudo no Brasil, para onde os portugueses levaram esta peculiar devoção lá pelos inícios dos século XVI.

domingo, 28 de maio de 2023

Deixem o Espírito Santo em paz!

O Papa morre, longe vá o agoiro, e a Igreja sotainada apressa-se a reunir em conclave para escolher o novo Papa. Velho. Um novo Papa velho, não vá o diabo tecê-las. A Capela Sistina é preparada a todo o vapor e duas salamandras. Metidos lá dentro, fechados à chave, todos muito cardeais, o lóbi italiano, o lóbi canadiano, o lóbi americano, o lóbi alemão, o lóbi austríaco, o lóbi francês, o lóbi-da-alsácia, o lóbi brasileiro, o lóbi sul-americano, o lóbi africano, o lóbi africanista, o lóbi banqueiro, o lóbi antunes, o lóbi dos velhos, o lóbi dos "novos", o lóbi "conservador", o lóbi "renovador", o lóbi do silêncio, o lóbi "garganta funda", o lóbi gay e outros insondáveis lóbis vão negociar o nome do sucessor do falecido. A feira do costume. Organizam rifas, fazem apostas e jogam ao pilas. Tiram um nome à sorte e no fim dizem que a culpa foi do Espírito Santo.

P.S. - Hoje é Dia de Pentecostes. E amém.

Bruxedos e outros medos

Durante uma semana, um alguidar contendo um enorme galo sem cabeça e outras miudezas feiticeiras esteve em exposição no passeio junto ao por...