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terça-feira, 9 de julho de 2024

O trabalhista fafense

Sei de um fafense antigo que, se fosse vivo, andaria agora por aí todo contente a festejar de porta em porta a vitória dos Trabalhistas ingleses. O famoso Castro Mendes de Travassós, o Velhinho, figura incontornável e carismática do antes e após 25 de Abril, desses intensos, gloriosos e dramáticos dias fafenses, era o nosso "trabalhista" de estimação e gritava "ganhámos!", "ganhámos!" sempre que o Labour vencia as eleições ou formava governo no Reino Unido.
O nosso herói era "trabalhista" porque, sendo salazarista, era trabalhador e pelos trabalhadores, isto é, pelo corporativismo fascista, o raciocínio pode parecer demasiado elaborado ou, por outro lado, simplista em excesso, mas não é, nem uma coisa nem outra. Vejamos: Trabalhistas portanto trabalhadores, viva Salazar!, e não era preciso ir mais longe.
A evangélica frase, na hora dos festejos, "Ide por esses tascos abaixo, comei, bebei e... pagai!" é historicamente atribuída a este extraordinário Castro Mendes, que eu ainda contactei no Liceu de Braga, onde ele era funcionário, se não estou em erro, e aliás acamaradei no seminário com um dos seus filhos.
O Velhinho era um figurão. Irredutível nas suas convicções, fiel aos seus inegociáveis princípios, toda a vida foi da situação, fosse qual fosse a situação. Ganhasse quem ganhasse, ele ganhava sempre, estava sempre ao lado dos vencedores. Era, a esse propósito, um intrépido praticante de varandismo e inflamado mandador de Vivas! Já no tempo da democracia, cheguei a vê-lo actuar na varanda do PS, em Fafe. Para além disso, sabia muito bem o que fazia e porquê, tinha um enorme sentido de humor e eu achava-lhe um piadão.
O varandista Castro Mendes era irmão do professor António Castro Mendes, considerado uma das maiores autoridades nacionais no ensino do Português, Latim, Grego ou Aramaico. Eram muito parecidos fisicamente, na marotice e até na tessitura vocal, abrangente, metálica, megafónica. Antigo padre e pregador afamado, o Dr. Castro Mendes foi meu mestre e amigo no Liceu de Guimarães. Falava, cheio de orgulho, do seu "melhor aluno de sempre", que não era eu, obviamente, eu era uma nódoa a Latim, mas um "rapazinho" também de Fafe chamado Luís Marques Mendes e a quem o experimentado professor, há quase 50 anos, augurava um grande futuro, apontando-o aos lugares mais altos da Nação. E estava certo.

terça-feira, 26 de março de 2024

Parcídio Summavielle homenageado


Parcídio Summavielle será homenageado amanhã, numa iniciativa da Comissão Promotora de Homenagem aos Democratas de Braga e da Comissão Executiva das Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril em Fafe, com a colaboração do Município. A sessão decorrerá no salão nobre do Teatro-Cinema de Fafe, a partir das 18 horas. De entre as diversas intervenções previstas, faço questão de destacar a de Ricardo Gonçalves, orador convidado.
Parcídio Summavielle, resistente antifascista, democrata, ex-presidente da Câmara de Fafe e indiscutível fafense excelentíssimo, é a figura-tema das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril em Fafe. A homenagem de amanhã coincide com o aniversário natalício do homenageado. Como já aqui expliquei, com pelo menos um ano de avanço, amanhã é que é, com toda a propriedade, o Dia do Pi.

P.S. - Mais informação, aqui e aqui.

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Viva o 19 de Outubro!

Entre o 25 de Abril e o 25 de Novembro, eu festejo o 19 de Outubro. Abstenho-me da discussão idiota que por aí vai, uns que 25 de Abril, outros que 25 de Novembro, os alegados donos das datas apresentando documentação de propriedade, alguns por herança, outros por usucapião, outros ainda por puro e simples assalto, e finalmente uns tantos que, não desfazendo, por acaso até dão para os dois lados. Não. Eu fico-me pelo 19 de Outubro. E nem sequer espero que eles se entendam. Eles não se entendem.

segunda-feira, 1 de maio de 2023

Quando o 1.º de Maio era no dia 28

Antigamente o 1.º de Maio era no dia 28 do mesmo. Quando digo antigamente quero dizer antes do 25 de Abril de 1974, que já é antigamente que chegue - que o confirmem os deputados da nação, cujos mais de metade decerto ainda não tinham nascido quando a coisa se deu, e isso nem é defeito. Um por exemplo: o estádio do SC Braga na Ponte, antes da extraordinária Pedreira do arquitecto Souto Moura, chamava-se Estádio 28 de Maio. E chamava-se assim por questões políticas e não por ordem de calendário litúrgico, rito bracarense. Chamava-se 28 de Maio glorificando o golpe militar que naquela data, em 1926, derrubou a Primeira República e abriu caminho à ditadura do Estado Novo. De corte fascista, o Estádio 28 de Maio, que ainda está de pé e funciona pelo menos para o futebol feminino, tentava aparentar-se e rivalizar com o Estádio Nacional, no Jamor, ou em Oeiras, consoante a dor de cotovelo de cada qual, e foi inaugurado, em 1950, por Salazar e Carmona, que assim dito até parecem uma alegre sociedade de costureiros. Veio a revolução dos cravos e o estádio mudou de nome, passou a chamar-se Estádio 1.º de Maio, viva o Dia dos Trabalhadores, viva a classe operária!, mais ajuizado seria que se tivesse chamado sempre Campo da Quinta da Mitra, como começara por ser.
Em todo o caso, mudar o nome do velho estádio de Braga, de 28 de Maio para 1.º de Maio, só demonstra (num raciocínio assumidamente palerma e suinamente fascistóide) que a Outra Senhora levava 27 dias de avanço em relação a Esta Senhora e que as revoluções cometem-se sobretudo e quase só para mudar os nomes das ruas, praças, pontes, estádios e outro imobiliário.
Querem outro por exemplo? O Estádio 25 de Abril, de Penafiel. Antes da "política", aquele terreiro chamava-se Campo das Leiras. E que mal é que tinha o nome?

O 28 de Maio de 1926 foi praticamente como o 25 de Abril de 1974, mas em versão fascista. Começou em Braga e chegou a Lisboa atrás do cavalo branco de Gomes da Costa, uma espécie de chaimite daquele tempo.
Antes do 25 de Abril, os 28 de Maio eram celebrados com desfiles, por assim dizer, militares: Mocidade Portuguesa, Legião Portuguesa, certamente bombeiros e escuteiros, provavelmente ranchos folclóricos e evidentemente soldados propriamente ditos. A Veneranda Figura lá estava, mas o de Santa Comba se calhar não, porque constipava muito de saísse à rua e o povo fazia-lhe espécie. Havia discursos, condecorações geralmente póstumas, por razão de força maior, isto é, derivado ao Ultramar, criancinhas órfãs vestidas à adulto, jovens viúvas atarantadas e chorosas, pais abruptamente sem filhos mas com medalha espetada no peito, numa dor sem fim, e sobretudo muitas fanfarras, a bem da Nação. O bom povo português assistia a tudo patrioticamente embebecido, se não me engano com aguardente, porque as cerimónias eram de manhã.
Uma vez eu também lá fui. Estava no seminário, em Braga, e os padres levaram-nos. Fomos portanto levados. Gostei muito, porque o meu tio Zé de Basto era corneteiro na fanfarra do Regimento de Infantaria 8 e eu já não o via há uma temporada. Pusemos a conversa em dia.
Resumindo e concluindo: Portugal continua a ser o mesmo, fascistazinho, só o tio Zé é que já não anda na tropa...

terça-feira, 25 de abril de 2023

25 de Abril e coisa e tal

É o que estou farto de dizer. Vinte e cinco de Abril sempre, nem que seja só às vezes.

A sorte do 25 de Abril

A sorte do 25 de Abril é que foi levado a efeito no dia certo. Calha sempre ao feriado e isso é de toda a conveniência sobretudo para o povo que faz questão. Agora imaginem que tinha sido a 24...

E se?

E se o 25 de Abril fosse a 25 de Maio e o 1.º de Maio fosse no dia 1 de Abril? Alguém nos tinha andado a enganar, não é?

O mal do 25 de Abril

O mal do 25 de Abril é que é só hoje. Amanhã é outra vez 28 de Maio. O ano inteiro.

Bruxedos e outros medos

Durante uma semana, um alguidar contendo um enorme galo sem cabeça e outras miudezas feiticeiras esteve em exposição no passeio junto ao por...