sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Ó prima, ó rica prima!

Foto Hernâni Von Doellinger
Eu tinha umas primas de que não sabia. Desconheci-as durante quase toda a minha vida e foram-me apresentadas há coisa de dez anos pelo meu amigo Paulo Silva, que as conhecia de ginjeira, e durante muito tempo não lhes larguei as redondezas. Estou farto de dizer à minha mulher: a família devia dar-se mais. E às vezes dão-me as saudades, digo aos camaradas que preciso de ir às primas, e logo aquelas mentes perversas pensam que estou a agendar uma noitada na casa da tia, melhor dizendo: em casa de tia. Mas nada disso. As minhas primas são as Erdinger, as excelentíssimas cervejas alemãs que, como o seu próprio nome indica, são praticamente da minha família. E necessito urgentemente de fazer uma festa de despedida.
As Erdinger são infelizmente uma raridade nas prateleiras dos hipermercados. Descubro muito às vezes meia dúzia delas, e vêm logo todas comigo para casa. Mas há um certo sítio, uma esplanada num certo parque junto ao ex-rio mais poluído da Europa, onde costumo marcar encontro com elas e elas não costumam falhar. Parece traição à Pátria, logo eu que saí de Fafe tão bem treinado, mas este abençoado local é exactamente em Leça do Balio, o berço desse verdadeiro monumento nacional e património material da humanidade que é a Super Bock.
Para beber a Erdinger em casa como manda o figurino, até tive de comprar um copo, caro, enorme, bojudo e cheio de curvas, e é destas redondezas que eu falo. Estou a pensar vendê-lo, ao copo. As minhas primas que me perdoem, mas começam a estar muito acima das minhas posses. E não é que volte para os braços da Super Bock, não. Vou mesmo para a água, e da torneira, pelo menos enquanto não a vierem cá cortar. Portanto, adeus ó primas, ó ricas primas!

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