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terça-feira, 27 de maio de 2025

Mataram os vizinhos

Foto Hernâni Von Doellinger

É. Mataram os vizinhos e agora somos condóminos. Éramos vizinhos, lembram-se? E a palavra vizinho queria dizer coisas boas: proximidade, amizade, companhia, ramo de salsa, comunidade, confiança, solidariedade, copinho de vinho novo partilhado, malga de marmelada, frasquinho de geleia, as primeiras uvas, cumplicidade, visita ao hospital, dar a camisa, porta aberta, conselho pedido e recebido, comadre, quase família, melhor que família, tu cá, tu lá, serões no nosso passeio pelas noites quentes de luar, a rua inteira sentada em banquinhos de costura, em mantas ou almofadas, no chão estreme e morno, cantando modinhas, contando histórias, vidas. No Santo ou no Assento. No Picotalho ou na Cumieira, na Rua de Baixo ou na Fábrica. Éramos vizinhos. Agora somos condóminos. E a palavra condómino tem uma carga que é um pesadelo: propriedade, despesa, individualidade, indiferença, reunião, ausência, chatice, discussão, impessoalidade, porta fechada a sete chaves (três, pelo menos), queixinha, fracção, má-língua, elevador, o tempo, bom dia e boa tarde, eu cá, tu lá. Solidão, solidão. E é irónico. Há mais de trinta anos que eu sou um condómino exemplar, um condómino da melhor pior espécie - não apareço, só pago -, mas hoje deram-me as saudades de ser vizinho. Sei que já vou tarde. Estamos todos condenados a sermos condóminos para o resto das nossas vidas, enjaulados em aldeias-bairros verticais. Penitenciárias. Se ainda ao menos fôssemos conDominus nobiscum...

É. Cavamos as nossas próprias trincheiras, os nosso túmulos. As pessoas vivem fechadas em caixotes. Em caixinhas dentro de caixotes. E cada caixinha tem um respiradouro chamado varanda - ou sacada, se for na minha terra. E as pessoas fazem marquises!

P.S. - Hoje é Dia Mundial dos Vizinhos.

terça-feira, 8 de novembro de 2022

Urbanismo e estupidez natural

Pegue-se num bom pedaço de terreno relvado, com árvores e com sombras, e arrase-se tudo. O terreno, a relva, as árvores e as sombras. Encha-se o espaço de alcatrão, cimento, placas de granito e mármore, pedregulhos aparelhados fazendo de conta de bancos e estacas de alumínio a imitarem árvores ou, quem sabe, a imitarem esculturas muito inteligentes, de preferência com esguichos mas sem água derivado à seca e à poupança. Isto é urbanismo! Pegue-se no jardim da cidade, arranquem-se as flores e os arbustos, envenene-se o verde, construam-se desertos em forma de praça e mandem-se as pessoas para casa. Isto é urbanismo! Pegue-se num monte, sítio de memórias, de brincadeiras da infância, santuário de locais secretos e míticos, reserva de saúde e natureza, e corte-se-lhe a crista, cape-se, desarborize-se, desfaune-se, terraplene-se, enxote-se a bicharada, cale-se o incómodo do chilreio dos pássaros, ergam-se casas de preferência em forma de caixote, altas, pegadas e muitas, e muros e portões e estradas e carros e escapes e buzinas e estampanços e atropelamentos e antenas parabólicas e fios e postes de alta ou remediada tensão. Isto é urbanismo! É. Hoje é Dia Mundial do Urbanismo e estamos todos de parabéns.

O mar começa em Fafe, devagarinho

O rio Vizela nasce em Fafe, exactamente no Alto de Morgair, antiga freguesia de Gontim. Depois de banhar Fafe, sobretudo na barragem de Quei...