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sexta-feira, 21 de março de 2025
Sete mares mais um
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Mar Mota
Mar Sapo
Mar Fim
Mar Ibela e Seu Rola-Rola.
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circo,
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série Memórias de Fafe
O peso da poesia
- Era dois poemas de trinta gramas, se faz favor!
- Os dois?
- Cada.
- Sessenta gramas de poesia, quer dizer...
- Mas em doses separadas.
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Poesia e Dia Europeu da Criatividade Artística. De Caracol para baixo, foi o meu modesto contributo.
- Os dois?
- Cada.
- Sessenta gramas de poesia, quer dizer...
- Mas em doses separadas.
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Poesia e Dia Europeu da Criatividade Artística. De Caracol para baixo, foi o meu modesto contributo.
quinta-feira, 20 de outubro de 2022
O poeta Augusto Fera
Fafe tem uma biblioteca municipal. E a Biblioteca Municipal de Fafe tem ou tinha um blogue onde vai ou ia colocando algumas "notícias" a conta-gotas, bagatela para uma terra que não sossega de parir tanto poeta, escritor e historiador com obra feita e publicada. Os livros em Fafe saem ao ritmo dos pãezinhos da Parefa. E isso é bom.
A intelectualidade fafense é um bocado hipócrita e onanista, como quase todas as intelectualidades - incluindo as verdadeiras. As intelectualidades - sobretudo as de imitação - funcionam em circuito fechado. São uma espécie de clube restrito onde os seus poucos membros se incensam e invejam reciprocamente e principalmente se incensam a si mesmos. E cada qual elabora e publicita um conceito geral de notabilidade esgalhado à exacta medida do seu próprio perfil. Lá fora não há mundo. A felicidade suprema está no espelho, sempre à mão de semear. E isso pode não ser mau, embora faça calos, maioritariamente na mão direita.
O poeta Augusto Fera morreu há dez anos, no dia 27 de Novembro de 2012. Durante meio século espalhou a sua poesia pela imprensa local, fartou-se de ganhar prémios e em 2011 publicou o seu primeiro e único livro - "Cruz de Chumbo e Outros Poemas" -, num acto de justiça em boa hora praticado por José Mário Silva, então presidente da Junta de Freguesia de Fafe, que editou a obra.
Confesso: não me revejo na estética da poesia de Fera, demasiado (diria) maneirista para o meu gosto, mas admirava-lhe o contínuo labor na procura das palavras, a intenção de chegar aos clássicos, o esforço, a ingenuidade às vezes, a seriedade na escrita e a honestidade na mensagem. Convenhamos, no entanto, que a minha opinião literária é aqui absolutamente irrelevante, até porque incompetente.
Conheci muito bem Augusto Fera. O homem sábio, simples e humilde. No meu tempo de miúdo e de Santo Velho, maravilhava-me a vê-lo dobrar a esquina do Palacete, em direcção à Ponte do Ranha, quando ele vinha da Fábrica do Ferro. Como é que ele, cego, conseguia? Como é que ele sabia que a esquina estava exactamente ali? Aquilo sempre me intrigou. Diziam-me que ele contava os passos, que via as horas com os dedos. Para mim, não: aquele homem era mágico. Pois se até fazia versos...
O poeta fafense Augusto Fera morreu e, há dez anos, a Biblioteca Municipal de Fafe não lhe dedicou uma única linha. No dia da morte do nosso poeta, o blogue da Biblioteca Municipal de Fafe destacou o Prémio Portugal Telecom de Valter Hugo Mãe. Também está bem.
Augusto Fera não fazia parte dessa plêiade de convencidos da vida que esgota a "cultura" fafense em genialidades de trazer por casa. Augusto Fera era a sério e era povo. Percebo, por isso, o intelectual silêncio à volta da morte do poeta. Um silêncio quebrado, numa honrosa e justificada excepção, pelo blogue Sala de Visitas do Minho, de Artur Coimbra.
Não. O poeta Augusto Fera não era cego. O poeta, não! Outros serão.
Voz do sangue
Eu sou fuso da mão que fia linho.
Eu sou corda da voz que diz oubisto.
Eu sou roupa de ver a Jasus Cristo.
Eu sou malga de sopas de bô binho.
Danço o vira que espana todo o Minho.
Amo a tia que talha do ar ao quisto.
Bufo ao resto de cântaro com misto
De ervas e sal ardendo em chão maninho.
Eu mesmo acendo rama de oliveira
Quando Jesus me ralha no trovão
Que sobre as minhas telhas tumultua.
Se eu for a sepultar na Cumieira,
Gostava que descessem o caixão
Até ficar mesmo ao nível da rua.
Augusto Fera, "Cruz de Chumbo e Outros Poemas"
Minha terra, meu altar
Do mirífico himeneu
do sonho com a magia
é que Fafe apareceu
como praga de poesia.
Tão atento noite e dia
Deus estava à gestação
que do ventre da magia
Saiu belo sem senão.
Devia ser grande gafe
ou pecado sem perdão
dizer o nome de Fafe
sem ter os joelhos no chão.
Fafe não tem pedras caras
na areia dos ribeirões.
Mas tem pérolas mais raras
nas ostras dos corações.
Nas agras e cerros seus
há tantos dons sublimados
que até parece que Deus
deserdou os outros lados.
Devia ser grande gafe
ou pecado sem perdão
dizer o nome de Fafe
sem ter os joelhos no chão.
Do vale à ganga sidérea
nada precisa de emenda,
porque em Fafe alma e matéria
foram feitas de encomenda.
Nestes dois versos se encerra
a imagem da terra-mãe:
tem o que tem qualquer terra
e o que outra qualquer não tem.
Devida ser grande gafe
ou pecado sem perdão
dizer o nome de Fafe
sem ter os joelhos no chão.
Augusto Fera, "Cruz de Chumbo e Outros Poemas"
A intelectualidade fafense é um bocado hipócrita e onanista, como quase todas as intelectualidades - incluindo as verdadeiras. As intelectualidades - sobretudo as de imitação - funcionam em circuito fechado. São uma espécie de clube restrito onde os seus poucos membros se incensam e invejam reciprocamente e principalmente se incensam a si mesmos. E cada qual elabora e publicita um conceito geral de notabilidade esgalhado à exacta medida do seu próprio perfil. Lá fora não há mundo. A felicidade suprema está no espelho, sempre à mão de semear. E isso pode não ser mau, embora faça calos, maioritariamente na mão direita.
O poeta Augusto Fera morreu há dez anos, no dia 27 de Novembro de 2012. Durante meio século espalhou a sua poesia pela imprensa local, fartou-se de ganhar prémios e em 2011 publicou o seu primeiro e único livro - "Cruz de Chumbo e Outros Poemas" -, num acto de justiça em boa hora praticado por José Mário Silva, então presidente da Junta de Freguesia de Fafe, que editou a obra.
Confesso: não me revejo na estética da poesia de Fera, demasiado (diria) maneirista para o meu gosto, mas admirava-lhe o contínuo labor na procura das palavras, a intenção de chegar aos clássicos, o esforço, a ingenuidade às vezes, a seriedade na escrita e a honestidade na mensagem. Convenhamos, no entanto, que a minha opinião literária é aqui absolutamente irrelevante, até porque incompetente.
Conheci muito bem Augusto Fera. O homem sábio, simples e humilde. No meu tempo de miúdo e de Santo Velho, maravilhava-me a vê-lo dobrar a esquina do Palacete, em direcção à Ponte do Ranha, quando ele vinha da Fábrica do Ferro. Como é que ele, cego, conseguia? Como é que ele sabia que a esquina estava exactamente ali? Aquilo sempre me intrigou. Diziam-me que ele contava os passos, que via as horas com os dedos. Para mim, não: aquele homem era mágico. Pois se até fazia versos...
O poeta fafense Augusto Fera morreu e, há dez anos, a Biblioteca Municipal de Fafe não lhe dedicou uma única linha. No dia da morte do nosso poeta, o blogue da Biblioteca Municipal de Fafe destacou o Prémio Portugal Telecom de Valter Hugo Mãe. Também está bem.
Augusto Fera não fazia parte dessa plêiade de convencidos da vida que esgota a "cultura" fafense em genialidades de trazer por casa. Augusto Fera era a sério e era povo. Percebo, por isso, o intelectual silêncio à volta da morte do poeta. Um silêncio quebrado, numa honrosa e justificada excepção, pelo blogue Sala de Visitas do Minho, de Artur Coimbra.
Não. O poeta Augusto Fera não era cego. O poeta, não! Outros serão.
Hoje é Dia do Poeta. O texto acima publiquei-o no meu blogue Tarrenego! uma semana após a morte de Augusto Fera, perante a unanimidade silenciosa e o desprezo generalizado da "inteligência" fafense. Repito-o, com meia dúzia de minúsculas adaptações temporais, renovando o meu protesto e a minha homenagem ao nosso poeta. Junto-lhe dois momentos do livro "Cruz de Chumbo e Outros Poemas":
Eu sou fuso da mão que fia linho.
Eu sou corda da voz que diz oubisto.
Eu sou roupa de ver a Jasus Cristo.
Eu sou malga de sopas de bô binho.
Danço o vira que espana todo o Minho.
Amo a tia que talha do ar ao quisto.
Bufo ao resto de cântaro com misto
De ervas e sal ardendo em chão maninho.
Eu mesmo acendo rama de oliveira
Quando Jesus me ralha no trovão
Que sobre as minhas telhas tumultua.
Se eu for a sepultar na Cumieira,
Gostava que descessem o caixão
Até ficar mesmo ao nível da rua.
Augusto Fera, "Cruz de Chumbo e Outros Poemas"
Minha terra, meu altar
Do mirífico himeneu
do sonho com a magia
é que Fafe apareceu
como praga de poesia.
Tão atento noite e dia
Deus estava à gestação
que do ventre da magia
Saiu belo sem senão.
Devia ser grande gafe
ou pecado sem perdão
dizer o nome de Fafe
sem ter os joelhos no chão.
Fafe não tem pedras caras
na areia dos ribeirões.
Mas tem pérolas mais raras
nas ostras dos corações.
Nas agras e cerros seus
há tantos dons sublimados
que até parece que Deus
deserdou os outros lados.
Devia ser grande gafe
ou pecado sem perdão
dizer o nome de Fafe
sem ter os joelhos no chão.
Do vale à ganga sidérea
nada precisa de emenda,
porque em Fafe alma e matéria
foram feitas de encomenda.
Nestes dois versos se encerra
a imagem da terra-mãe:
tem o que tem qualquer terra
e o que outra qualquer não tem.
Devida ser grande gafe
ou pecado sem perdão
dizer o nome de Fafe
sem ter os joelhos no chão.
Augusto Fera, "Cruz de Chumbo e Outros Poemas"
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