sexta-feira, 7 de outubro de 2022

As castanhas são como o próprio nome indica

Foto Hernâni Von Doellinger
As castanhas. As castanhas têm pouco que se lhes diga. Chamam-se castanhas por causa da própria cor, acho eu, e este ano não sei a que preço é que estão à saída do assador. (Eu e os assadores agora saímos à rua em horários descombinados - e é a vida.) As castanhas fazem-me gases e há cinco qualidades de castanhas: castanhas cruas, que sabem a infância e a dor de barriga, castanhas cozidas, que precisam de saber a funcho, castanhas piladas, que são uma pouca-vergonha, castanhas assadas, que são quentes e boas, e castanhas com bicho, que são uma merda. No Verão, as castanhas são tremoços.
As castanhas vêm dos ouriços, que antigamente tinham a mania de cair em cima das cabeças das pessoas. Os ouriços de Fafe eram os piores. Havia um castanheiro nas traseiras do tasco do Senhor Augusto Paredes, encostado ao muro, mesmo em frente ao Palacete, e os ouriços caíam na rua como tordos. Mas esperavam por mim, matreiros e organizados, para me desabarem aos pares ou num indecente mènage à trois mesmo em cheio no cocuruto. E eu sem capacete. Era um cristo.
Para além dos filhos da puta dos ouriços e das castanhas que servem para a nossa alimentação, os castanheiros davam também uma tirinhas muito jeitosas para se fazerem grinaldas e óculos de brincar. Os castanheiros podem ter mais de mil anos, mas o do quintal do Paredes não. O quintal do Paredes era também o quintal do Senhor Jerónimo Barbeiro e do Senhor Lopes Agulheiro, três famílias grandes e boas, e eu tenho saudades daquela gente toda. O castanheiro do Paredes agora é um prédio de rés-do-chão e quatro andares. Mesmo em frente, centenário e ainda elegante e digno, agora é o Palacete que cai. Cai aos bocados, desgostoso com o abandono e a ignorância adjacente.
Derivado às castanhas existem também as castanhadas e as castanholas. As castanhadas quem as sabia explicar muito bem era o Luisão que passou a pasta ao Rúben Dias que passou a pasta ao Otamendi, não desfazendo do Palhinha, ali ao lado, que também era um competência. E as castanholas fazem um papelão nas mãos de Lucero Tena.
Eu gosto muito de castanhas. E afinal as castanhas têm bastante que se lhes diga.

3 comentários:

  1. Muitas vezes me piquei com os ouriços. Mas valia a pena. Melhor que essas só as da velhinha que as vendia assadas ali mesmo, ao vivo, nas cercanias do campo de futebol, hoje estádio municipal, nos dias de jogos...

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    1. E antes do "estádio", assava-as e vendia-as no Santo, à face da estrada, encostada ao Zé Manco...

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  2. Exatamente. Eu também gostava muito das "mijadinhas"...

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