Mostrar mensagens com a etiqueta sexo. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta sexo. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Quem me dera ser cão

As palavras têm vida, acusam a idade. Há palavras que enrijecem com o tempo e há outras que se amaciam. Cadela, por exemplo. A palavra cadela, antigamente, tinha uma pesada carga pejorativa, era um nome do piorio para se chamar a uma mulher, era um insulto violentíssimo, degradante. Em Fafe, era a bomba atómica das ofensas. Cadela! Queria dizer prostituta, vadia, safada, desavergonhada, traiçoeira, vagabunda, tola, toleirona, má, malvada, crua. Mas hoje em dia, não. Hoje, as meninas e senhoras passeiam os seus cãezinhos e dizem-lhes que são a "mãe", a "mamã", a "mamãe". E dizem-no a toda a gente. Quer-se dizer: as meninas e senhoras reclamam a maternidade canina, apresentam-se como legítimas progenitoras dos seus cães-filhos, apregoam aos quatro ventos esse incontroverso estatuto. E está certo. Neste novo contexto, chamar-lhes cadelas, às meninas e senhoras mães dos cães, só pode ser, agora, um elogio, um simpático reconhecimento.

Três mulheres à mesa na pequena esplanada da confeitaria da moda, gozando uma falsa fresca de fim de tarde no Verão impiedoso da cidadezinha baixo-minhota. São jovens, alegres, morenas, as mulheres, e têm um cão. Um cão pequeno, rechonchudo, de focinho amarrotado, caricatura de um velho boxista na reforma. Será talvez um pug. Leio na Wikipédia que o pug tem "personalidade", que é "encantador, brincalhão, astuto, sociável, arteiro, dócil, afectuoso, teimoso, amoroso, atento, tranquilo, calmo". Pois. Será. O estupor do cão, o sortudo do cão, passeia-se irrequieto de colo em colo, de mama em mama, esfregando-se ao comprido na brancura sedosa de seis seios quase ao léu, lambendo, lambendo e mais não sei quê, e as mordomas ali na rua sem pudores, crescentemente excitadas, vermelhas, aos gritinhos, aos saltinhos, num fuzuê que só visto.
Ora bem. Foi na parte do mais não sei quê - e digo mais não sei quê porque realmente não faço ideia, o assunto interessou-me sobremaneira, eu estava ali concentradíssimo como o Futre, sócios, invejoso, confesso, mas não consegui perceber o que se passava até às últimas consequências -, portanto, foi na parte do mais não sei quê que a mulher menos jovem, com evidente cara de dona, largou os suspiros, ganhou fôlego, esganiçou ainda mais a voz e disse ao cão, imperativa: - Frederico! Não! Não! Não! Mamãe já falou! Isso não, Frederico!
Fiquei fodido! Não tanto por causa da indivídua chamar Frederico ao cão. Também chamo Frederico ao meu filho Kiko e isso nunca me incomodou, antes pelo contrário, até porque é o nome dele. O que me confundiu foi aquilo de ela ser mãe do cão. Estou velho para estas merdas. Fico baralhado com estas modernices sorrateiramente edipianas mas ao contrário. Não consigo acompanhar estes tempos malucos em que a nova ordem parece ser tratar os animais como pessoas, como filhos, e tratar as pessoas como animais. Como animais que não são tratados como pessoas. Como pessoas que não são de estimação. Os portugueses já gastam mais com cães do que com bebés, dizem as notícias de confiança. Não percebo. Estou definitivamente fora de prazo. E fiquei fodido!

P.S. - Versão revista e aumentada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe. Quer-se dizer. Hoje é Dia do Cão e, assinalando a efeméride, o Kiko e a Sara vão de férias e deixam-nos o Amendoim. O Amendoim é o cão deles, porque eles gostam muito de animais. Já eu e os cães é uma desgraça, estou farto de dizer, e é preciso ser-se um bocado sonso para chamar Amendoim a um cão. Aliás, eu sempre defendi que lhe chamassem Evaristo, mas o Kiko e a Sara nessa parte não me ligam, e ainda por cima o estupor do cão gosta de mim e eu também não desfazendo. Ficamos igualmente a olhar pelos três gatos deles, como de costume, porque, repito, eles gostam muito de animais. Portanto estou como quero. E espero que o Kiko e a Sara também.

segunda-feira, 2 de junho de 2025

E ela foi lavar-se...

A velha prostituta, muito limpa e organizada, consultou a agenda, meia dúzia de linhas encriptadas em gatafunhos analfabetos, e leu baixinho, como que soletrando, acariciando as impossíveis sílabas uma a uma: - O bombeiro às onze, o taxista ao meio-dia, o do talho às três da tarde e o senhorio às cinco. Desarriscou-os a todos, um atrás do outro, meticulosamente, com gosto, sorriu para o espelho do toucador, provocando-se, e resolveu tirar o dia. Guardou a agenda e pegou no telemóvel, vagarosamente, com requebros e biquinhos, imitando um gesto coquete que vira uma vez na televisão. Marcou encontro com a Amélia Calçuda. O espelho corou. E ela foi lavar-se.

P.S. - Publicado aqui originalmente no dia 2 de Junho de 2023. Hoje é Dia Internacional da Prostituta. 

sexta-feira, 28 de março de 2025

Faziam-se homens e pronto

No meu tempo era mais fácil fazer homens. Levavam-se os rapazes às putas, mandavam-se os rapazes para a tropa, e estava o assunto resolvido. Hoje em dia a coisa exige outros mimos, ciência, psicologia, às vezes até cirurgia...

P.S. - Hoje é Dia Nacional da Juventude.

segunda-feira, 17 de março de 2025

Cabeleireiro masculino

"Cabeleireiro masculino". Olho para o reclame e fico sempre naquela. Mas quê, será masculino porque é homem? Ou será masculino porque atende homens, isto é, barbeiro? E se o cabeleireiro masculino for mulher, não deveria dizer-se, sem ofensa, cabeleireira masculina? E se o cabeleireiro for feminino, o que é que temos a ver com isso? E se o barbeiro for mulher, não vamos mais longe, porque é que não é barbeira? E em caso de indefinição ou escolha múltipla, coisa absolutamente natural, poderá ser, por exemplo, barbeire? Cabeleireire? São problemas assim que de facto me afligem - quero lá saber da guerra na Ucrânia, da destruição da América, das eleições à pressão, das obras em casa do Montenegro, das façanhas do Habeas Corpus, do emprego do irmão do presidente da Câmara de Fafe ou do racismo-fascismo que já não se esconde em Portugal...

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Olá, boneca!

Factos reais como punhos. Manhã de sábado, A28, direcção Matosinhos-Viana do Castelo, um pouco antes da saída para Vila do Conde, por onde costumo ir para Fafe. À minha frente segue uma velha carrinha Renault 4L, de um cor-de-rosa altamente suspeito e vagaroso. Aproximo-me, com o fastio próprio dos condutores domingueiros que já não têm paciência para os condutores domingueiros, mas arrebita-se-me a atenção quando, mesmo em cima dela, leio os dizeres da viatura. São uns dizeres sugestivos e muitos, reclames açucarados a um loja de prazeres - sex-shop em português.
E vejo finalmente os ocupantes, ainda por trás: é o do volante e, ao lado, uma louraça da fazer parar o trânsito. Mas eu avanço. Avanço cuidadosamente para a ultrapassagem, olho para o gajo e o gajo sorri malandro. E eu continuo a olhar e o gajo continua a sorrir. Atenção: eu posso olhar e continuar a olhar, porque eu não conduzo, não sei conduzir, nem sequer tenho carta. Vou de pendura. Brincalhão, o gajo. A gaja não sorri, não me liga nenhuma, olha sempre em frente, tomando sentido à estrada, ainda mais loura do que há bocado e, reparo agora, tem uns lábios vermelhos e escarrapachados, desafiadores.
A minha mulher desliga o pisca e então é que se me faz luz. A gaja da catrel é uma boneca. Uma boneca mesmo, de plástico, uma boneca insuflável, de carregar pela boca. O gajo olha para mim e sorri cada vez mais, no gozo, satisfeitíssimo, não sei onde é que a rapariga levava as mãos. 

P.S. - Louis Renault, um dos fundadores da Renault e um dos pioneiros da indústria automobilística, nasceu no dia 12 de Fevereiro de 1877.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Alcovitagem municipal

Confesso: eu às vezes espreito o Facebook. Espreito o Facebook do Município de Fafe, por razões de força maior, puro fafismo, mas só consigo ver duas ou três coisinhas durante uns segundos, entretanto aquilo apaga-se-me de repente se quero ir mais abaixo, porque, a verdade também é esta, eu não sou sócio. Nem deste nem de outros Facebooks. Aliás, eu sou contra todos os Facebooks, e mais sou uma pessoa que não sou contra nada.
Ora bem. E então o que é que eu vi ontem, sem querer, no Facebook do Município de Fafe? Uma senhora, toda catita e repimpada, conduzindo na prise seu magnífico automóvel, comentava a "notícia" da inauguração de certa e determinada exposição, mandando muitos parabéns e beijinhos e também admiração ao artista expositor, grande mestre, profissional e por acaso amigo, com três carinhas amarelas, redondinhas e amorosas e a seguir um coraçãozinho vermelhinho, coitadinho. Acto contínuo, um cavalheiro entrou em linha, um cavalheiro certamente também apreciador de exposições e de arte num sentido geral, e disse à senhora: "Olá, como estás? estava a navegar na minha página e encontrei o seu lindo perfil como suposto amigo. Tentei enviar-te um pedido de amizade, [duas carinhas redondinhas e amarelas e amorosas, sem coraçãozinho a seguir] mas não resultou. [duas carinhas redondinhas e amarelas e amorosas, sem coraçãozinho a seguir] não sei porquê se não se importa, pode enviar-me um...", e fiquei sem saber o resto, porque, lá está, acabaram-se-me as moedas, terminou-se-me a abébia.
O cavalheiro - sou jornalista e portanto fui à procura - é um rapaz todo janota, havíeis de ver as fotografias, muito bem formado e com enorme sucesso na vida. Estudou no "Imperial College London" e na "University of Pennsylvania" e trabalha actualmente na "empresa Doctor Waseem Cardiologist" - quem é que pode pedir mais?
Não sei em que pé é que ficaram as coisas, se houve avanços ou não. Se alguém souber, por favor não me diga. Não me interessa. O Facebook, suspeito, é basicamente isto. E, se quereis saber, acho giro que o Município de Fafe, mesmo passivamente, preste este serviço aos seus fregueses.

P.S. - Entretanto alguém se encarregou de fazer a limpeza no Facebook municipal.

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Flûte de Portugal

O Três Marias, o Casal Garcia, o Magos e até o "champanhe", doméstico ou de alterne, eram à taça, prova rainha. Agora deu-lhes para o flûte. Ou flauta. Pfff...

P.S. - Publicado em Setembro de 2022.

domingo, 31 de março de 2024

Uma questão de compasso

- Une valse à mille temps... - disse ela, prometedora e coquete, fazendo rodar a saia plissada. - Eu não! - disse ele, apressado e javardo, arriando calças e cuecas...

quinta-feira, 21 de março de 2024

Pinóquio mentia por prazer

Foto Hernâni Von Doellinger
"Pinocar ou pinoquiar?", perguntou o jovem mestrando em Carpintaria & Outras Artes Sexuais. "Depende", respondeu o velho professor de nariz adunco e face testicular.

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Marioneta.

segunda-feira, 11 de março de 2024

No que respeita à canalização

Hoje é Dia Mundial da Canalização ou World Plumbing Day, como se diz na versão original sem legendas. O Dia Mundial da Canalização é um dia muito importante sobretudo derivado ao canalizador propriamente dito. No que lhe diz respeito, o canalizador é um indivíduo bastante importante para as donas de casa em geral e nomeadamente para o segmento pornográfico da indústria cinematográfica. Fafe nunca teve grande tradição no palpitante nicho dos filmes pornográficos, pelo menos antes da invenção dos telemóveis com vídeo e das redes sociais. No meu tempo, ia-se a Guimarães, ao Jordão. E era para adultos. Pervertidos, mas maiores de idade. E era isto.

domingo, 4 de fevereiro de 2024

O cão, esse ancestral e fiel alcoviteiro

Foto Hernâni Von Doellinger
O cão é, desde tempos imemoriais, uma das mais consistentes artimanhas do homem para a queca. Quem tem tesão compra um cão, diz o povo e com razão. Porque o animal - aflito, ziguezagueante, ganinte, de orelhas, rabo e tudo arrebitado -, parecendo embora que sai à rua em busca desesperada por parceira ou parceiro de quatro patas onde possa aliviar o stresse, vem mas é tratar do cio do dono. Ou da dona. Por procuração.
Largado à frente, sem trela, "Vai, Corisco, vai, arranja-me uma gaja! Um gaja boa!", o cão é um batedor sexual para prazeres alheios. Evidentemente tem de se entender com o outro animal, mas isso é truque, pretexto para o dono chegar à dona, como todos sabemos, e depois eles, dona e dono, ou dono e dono, ou dona e dona, depois de conversarem resumida ou detalhadamente sobre raças e rações, que se entendam e se acamem. E muitas vezes entendem-se e acamam-se. Olhemos à nossa volta, sem falsos pudores: quantos namoros e casamentos, que nós tenhamos conhecimento ou desconfiemos, não foram intermediados por cães? Quantos engates e quantas pinocadas avulsas?!...
Passear o cão, é assim que se diz, mas querendo dizer outra coisa. Há até quem dê treino específico ao cão, para loiras ou morenas, gordas ou magras, inteligentes ou burras, e assim sucessivamente e vice-versa. É verdade, ele há cães especialistas. Cães de um certo tipo, de uma determinada caça.
O cão é, portanto, um alcoviteiro. Mas já foi mais, no tempo em que não havia Facebook. No tempo em que se mandava uma cadela ao espaço e a cadela chamava-se Laika. Hoje chamar-se-ia Like. É. As chamadas redes sociais na internet são agora, particularmente para casados, o principal móbil do engate, o menu do sexo à mão de semear, e esta nova realidade veio prejudicar sobremaneira os cães, cada vez mais substituídos, abandonados e abatidos, por aparentemente já não serem precisos.
Correndo o risco de fazer um título à Correio da Manhã, eu diria que o Facebook está a matar o cão. Aos poucos. E, todavia, acho que compreendo esta paulatina porém irreversível substituição do "animal doméstico" pela "aplicação social", porque a verdade é só uma: comprar ou adoptar um cão dá provavelmente mais trabalho e despesa do que criar um perfil no Facebook, sendo que o resultado final é o mesmo. Nestes tempos conturbados, o meu mais descarado elogio vai, pois, para as almas caridosas, afogueados adúlteros, que acumulam cão e Facebook, pelo sim e pelo não, e só temos de lhes agradecer, em nome dos animais.
Salvemos o cão! Porque ainda há algumas diferenças a considerar entre o cão e o Facebook, a não ser que Facebook seja o nome do cão. Para além de que o Facebook, o da internet, tem aquele perigo (há casos!) de a mulher andar a pôr os cornos ao marido e o marido andar a pôr os cornos à mulher - cada qual com o seu perfil secreto, mais ou menos falso e sobretudo deveras criativo -, até ao dia em que se engatam como desconhecidos e depois se encontram para o que já sabemos. É então que marido e mulher reciprocamente infidelíssimos descobrem que afinal foram feitos um para o outro.

P.S. - O Facebook foi lançado no dia 4 de Fevereiro de 2004, faz hoje 20 anos. E foi aí que começou a amizade. Antes do Facebook, não havia amigos.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

De que riem os portugueses?

O humorista brasileiro Juca Chaves costumava contar mais ou menos assim, pondo as palavras iniciais na boca do guia do jardim zoológico: "E aqui temos a hiena. A hiena, que é um animal que ri muito. Alimenta-se das fezes dos outros animais e tem relações sexuais com a sua fêmea apenas uma vez por ano". "Mas, se come merda e só fode uma vez por ano, ri de quê?", pergunta o visitante.

P.S. - Hoje é Dia Internacional do Riso.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

A orgia e o seu princípio

No meio da confusão, alguém disse: temos de ser uns para os outros. Ou talvez: faz ao teu próximo o que gostarias que te fizessem a ti. E assim começou a orgia.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

A invenção do pecado original

Era o baptizado de uma querida sobrinha, bebé, na Igreja Nova, em Fafe, já lá irão três décadas. Não sei porquê, o padre estava realmente endiabrado, embora ainda fosse manhã, e à beira da pia, logo quem entrava, no lado esquerdo, rodeado por nós todos, padrinhos e família, resolveu embirrar com a criança de meses, coitadinha, acusando-a de ser uma perigosa pecadora derivado ao princípio da Bíblia, mas que ali ficaria de folha limpa, graças a ele e sorte a dela, e inferno acima e inferno abaixo e pecado original acima e pecado original abaixo. Isso, no pecado original é que o raio do padre batia e tornava a bater, como se batesse no ceguinho.
Olhei fixamente para o padre, varei-o com os olhos, fiz-lhe cara feia, abanei que não e que não com a cabeça, ele percebeu que eu lhe estava a dizer "és parvo ou quê?, com pecado esta criancinha, este anjinho recém-nascido, mas alguém nasce já com pecado?, que raio de deus é o teu, pá, ainda a treta do inferno e do pecado original?, e se fosses mas é à merda?!", percebeu e mudou de assunto.

Anselmo Borges, padre e professor de Filosofia, escreveu um interessante artigo de opinião no DN do passado dia 2 de Dezembro. Para mim, as opiniões de Anselmo Borges são sempre interessantes e amiúde inspiradoras, e o artigo em questão, cuja leitura na íntegra recomendo, chama-se "A Imaculada Conceição, o pecado original e o sexo".
Deixemos a virgindade de Maria, o casamento e o sexo para segundas núpcias e centremo-nos no meu ponto. Ora bem. Eu não lhe encomendei o sermão, mas o mestre da Universidade de Coimbra ensina, a dado passo do seu texto: "Hoje, o pecado original é inconcebível, concretamente, por causa da evolução: o ser humano aparece no quadro da evolução, o que implica então a seguinte pergunta: quem foram os "primeiros pais", colocados no mundo sem pecado e que depois pecaram, transmitindo esse pecado a todos, de tal modo que todos nascem em pecado de que só o baptismo os pode libertar? Ainda conheci mães que viveram verdadeiros dramas interiores porque os seus bebés tinham morrido sem o baptismo. Mas não. Todo o ser humano é concebido sem pecado".
O baptismo, afirma Anselmo Borges, "não é para apagar o pecado original, que não há; os pais baptizam os seus filhos, porque, desejando o melhor para eles, querem que eles entrem na Igreja, comprometendo-se a educá-los na fé como discípulos de Jesus."
É fácil de perceber, parece-me. Porque, se "toda a criatura recém-nascida vem de Deus", ainda seguindo o raciocínio do padre-filósofo, e eu acredito que vem, como pode alguém nascer com pecado, com defeito? E pronto, já somos pelo menos dois a pensar assim.

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Papando uns e outros

Chegava a época de Natal, por exemplo assim como agora, e ele, entre bombons e bumbuns, levava tudo a eito e sem destrinça. Padecia de uma espécie muito avançada de paronímia, segundo atestado médico, e a mulher desculpava-o, que remédio...

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

No que respeita à canalização

O Brasil celebra hoje o Dia do Encanador, ou Dia do Canalizador, como ainda se diz em Portugal. O Dia do Canalizador é um dia muito importante para as donas de casa em geral e nomeadamente para o segmento pornográfico da indústria cinematográfica. Fafe nunca teve grande tradição no que diz respeito a filmes pornográficos, pelo menos antes da invenção dos telemóveis com vídeo e das redes sociais. No meu tempo, ia-se a Guimarães, ao Jordão. E era para adultos. Pervertidos, mas maiores de idade. E era isto.

sábado, 9 de setembro de 2023

Nas horas, mas por dever de ofício

Mr. Bean estampou-se contra uma árvore. A cena tem piada, mas não é para rir. O comediante britânico Rowan Atkinson teve mesmo um violento acidente, aqui há uns anos, e quase desfez o carro, que por acaso não era o Mini amarelo com aloquete (cadeado, se lido em Lisboa) da famosa série de televisão, mas um McLaren F1 que, segundo leio, é caro que eu sei lá e dá mais de 380 à hora. Tento imaginar que 380 à hora deve ser muito à hora, à hora demais para a minha camioneta, mas não consigo, não faço ideia, embora suponha que seja como andar de avião porém sem levantar cabeça. A reparação do automóvel acidentado - se é que se pode chamar automóvel a esta aeronave de calças curtas - custou à companhia de seguros mais de um milhão de euros. E eu também não sei quanto é um milhão de euros. Não faço ideia, por mais que tente imaginar vários campos de futebol cheios de notas e com moedas por cima por causa do vento.
A história tem muito que se lhe diga e realmente já possui barbas, mas a problemática que lhe subjaz está outra vez na ordem do dia, como adiante se verá.
A inveja é uma cena que não me assiste. Mr. Bean que tenha o carro que quiser e os jogadores de futebol também. Ganham bom e merecido dinheiro, melhor para eles. Que o gastem como quiserem e que gastem muito, que é óptimo para nós todos, até para as oficinas, seguradoras e outros intermediários - que eles, os bines e os da bola, espetam-se como tordos. Do fundo do coração, o que lhes estimo é o que lhes desejo. E que, com a graça de Deus, seja sempre só chapa. Mas, tenho de confessar, não percebo a queda desta gente para carros de mil à hora só para ir de casa ao café e do café para casa, como fazia antigamente em Fafe um certo relojoeiro, menos de cem metros na rua do Cinema, entre o Peludo e a loja, sempre nas horas, sempre a levantar paralelo. Sabem o que se diz, aparentemente comprovado por recentes estudos científicos: grande bomba, pila pequena? Pois se calhar. Não estudei para isso nem fui estudado, ninguém me perguntou e eu não faço a mínima. E mais até estou à vontade para falar sobre sexo. Isto é, não tenho carro e nem sei conduzir...

P.S. - Hoje é Dia da Velocidade. Cuidado ao atravessar a estrada!...

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

É só saúde!

"Sexualmente falando, és imprestável", disse ela. "Tá bem", disse ele, e foi organizar-se com a vizinha. Ele percebera "emprestável". São coisas que acontecem...

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Saúde Sexual.

domingo, 6 de agosto de 2023

As ostras e as sostras

Talvez por ter nascido em Fafe, e pobre, e nos finais da década de cinquenta do século passado, conheci primeiro as sostras e só mais tarde é que soube das ostras. Não estou a queixar-me da minha sorte, é apenas uma confissão que eu precisava de fazer há tantos anos, e agora, dito isto, fiquei em paz.
Sostras, eu sabia. Desde pequenino, isto é, desde que tive noção. Sostras. Mulheres sujas e preguiçosas, badalhocas, regra geral o que elas se chamavam umas às outras quando disputavam homem ou coisa parecida. Putas, putéfias, vacas, vaconas, cabras, coirões, coironas. Fazia parte do léxico fafense metido a cotio, era o fafês no seu melhor. Aliás, a palavra sostra, para mim, já naquela idade, trazia com ela qualquer coisa de sexual, de lascivo, de atesoante, dito simplesmente. E, a esse respeito, é preciso que se note que eu, apesar de padreca, fui aquilo que se diz um rapaz precoce, outra palavra que por acaso também me arrebitava sobremaneira, mas eu, não desfazendo, ficava incomodado por tudo e por nada.
Já ostras, o mais parecido que eu lhes conhecia por aquela altura, sem sequer ter ideia da ligação, eram sardinhas fritas com arroz de tomate, e que bem que me sabiam. Assim pessoalmente, as ostras foram-me apresentadas teria eu talvez 24 anos, em Bordéus, França. Casado de fresco, cheio de vaidade, fui lá mostrar a minha bela mulher às minhas queridas tias São e Dores, que não puderam vir ao nosso casamento. Levei também a minha mãe e o meu irmão Lando e merendeiro para um regimento, fomos de comboio, de wagons-lits, num expresso do oriente para remediados e cagarolas, e tivemos um Natal bem porreiro.
Foi por aqueles gloriosos dias que eu finalmente provei as ostras, essa requintada francesice, assim achava, vinham nuns cestinhos muito jeitosos, deram-me a ferramenta para a mão, aprendi a abri-las sem desastre e a comê-las de imediato só com um esguicho de limão, coisa tão boa, coisa tão mar, em Bordéus, França, com champanhe evidentemente, o que eu andei para ali chegar, 24 anos de vida, e as ostras eram de Setúbal, Portugal, estava lá escrito, se calhar foram comigo no comboio, é preciso ser-se muito parolo, eu. E a verdade é só uma: as ostras eram realmente tão extraordinárias como sardinhas fritas com arroz de tomate, sardinhas compradas na Mocha, com sítio à beira da estrada, em frente ao tasco do Paredes e ao lado do Zé Manco, foi logo ali no estrangeiro que eu percebi pela primeira vez a inegável relação.

E pronto. Passaram-se quarenta anos, a minha mulher continua bela e eu ainda vaidoso e cada vez mais apaixonado por ela, coisa mais natural do mundo. Ontem foi Dia da Ostra. Mas ontem não me apeteceu escrever e, por outro lado, assei bacalhau no forno, como fazia a minha mãe e como faz tão bem o minha irmã Nanda. Comidinha caseira, antiga, saborosa graças a Deus, e o Papa, coitadinho, na televisão em Lisboa e às tantas em jejum. Fomos felizes à mesa, a minha mulher e eu, como costumamos, e fizemos votos de longa vida ao Papa, porque, mal por mal, nós gostamos deste, deixem-no trabalhar! Estava tão bom o nosso bacalhau! Sabia a saudades e a futuro...

Bruxedos e outros medos

Durante uma semana, um alguidar contendo um enorme galo sem cabeça e outras miudezas feiticeiras esteve em exposição no passeio junto ao por...