Foi ontem inaugurada, no Arquivo Municipal de Fafe, a exposição "Em Fafe, resistimos!", que ficará patente ao público até 30 de Junho. A mostra, adianta o Município, "debruça-se sobre os contextos e lugares do período antecedente ao 25 de Abril de 1974, com o foco «Resistência ao Fascismo em Fafe», e oferece, através de elementos gráficos, peças, fotografias, vídeos e documentos históricos, um olhar profundo sobre a repressão, a luta pela liberdade e os rostos que enfrentaram o regime."
quinta-feira, 24 de abril de 2025
Em Fafe, resistimos!
Foi ontem inaugurada, no Arquivo Municipal de Fafe, a exposição "Em Fafe, resistimos!", que ficará patente ao público até 30 de Junho. A mostra, adianta o Município, "debruça-se sobre os contextos e lugares do período antecedente ao 25 de Abril de 1974, com o foco «Resistência ao Fascismo em Fafe», e oferece, através de elementos gráficos, peças, fotografias, vídeos e documentos históricos, um olhar profundo sobre a repressão, a luta pela liberdade e os rostos que enfrentaram o regime."
segunda-feira, 31 de março de 2025
Era o Dia dos Enganos
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025
Grândola é na Galiza
Não foi por acaso. Para começar, é tido como certo que a canção "Grândola, Vila Morena" foi estreada por Zeca Afonso, isto é, cantada em público pela primeira vez, exactamente na Galiza, em Santiago de Compostela, no Burgo das Naçons, no dia 10 de Maio de 1972. O Zeca, é também assim que ele é conhecido e referido pelos galegos de média cultura, passou largas temporadas na Galiza, deu por lá inúmeros concertos, andou e cantou por Lugo, Ourense, Pontevedra, Vigo e outros adiantes, fez imensos amigos, tinha e tem uma legião de fiéis admiradores, as comemorações e homenagens sucedem-se ainda hoje. Em Compostela há o Parque José Afonso e mantém-se em actividade a AJA Galiza - Associaçom José Afonso. Nos bares e ruas de Compostela canta-se e festeja-se "Grândola" como quem canta e festeja a "A Rianxeira". Não sei como é agora, mas ainda aqui há uns anos havia um pub lá para as traseiras da famosa catedral, a Casa das Crechas, que passava constantemente a música de Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Francisco Fanhais, Luís Cília, Fausto, Vitorino e por aí fora, mas Zeca Afonso sempre! Porque na Galiza pensa-se e sente-se que o 25 de Abril também lhes pertence.
terça-feira, 22 de outubro de 2024
As paredes tinham ouvidos. E os soalhos também.
Tínhamos pontos de vista, prismas, ópticas, enfoques, perspectivas e até ângulos. Amontoávamo-nos em duas ou três mesas, perdíamo-nos noite dentro naquela conversa transversal, ecuménica, polifónica, finamente regada, em que toda a gente metia o bedelho, até os filhos da puta dos bufos da Pide, que aproveitavam para incendiar o assunto a ver o que aquilo dava. De uma forma geral, os bufos da Pide não eram nada bufos da Pide: autoproclamavam-se, gabavam-se, ameaçavam, faziam-se passar por bufos da Pide, salazares dos pequeninos, só para meterem medo, que era a coisa mais parecida com sexo que conheciam, ou para pavonearem um poder que nunca tiveram, nem em casa, onde levavam nos cornos e bico caldo. Eram filhos da puta, isso é certo, e em Fafe havia diversos.
O 25 de Abril de 1974 veio realmente liberalizar o paleio à roda do cimbalino, mas nós nem precisávamos. Já há muito que falávamos pelos cotovelos e comíamos tremoços. Ou cascas, cascas de tremoços, à falta de conteúdo e de dinheiro no bolso. Mas não interessava - a conversa, para nós, era tudo.
Portanto agora dá-me pena: de conversa, que é livre e de graça, estamos conversados - acabou-se, até no café, parece-me impossível. Eu, que actualmente não frequento, passo pelas montras e vejo: uma pessoa em cada mesa, cabeça enfiada no computador portátil, telemóvel colado ao ouvido, dedo saltitante a gatafunhar mensagens analfabetas e com carinhas redondas e amarelas e corações e dedos assim ou assado, ninguém conhece ninguém, ninguém fala com ninguém, parece que estão todos proibidos uns dos outros. Que desperdício de liberdade!...
Nos restaurantes, o mesmo desconsolo. A família senta-se à mesa e ninguém pia. Vai-se ao bolso, rapa-se do telemóvel (permitam-me que continue com a generalização, para mim aqueles aparelhos que não distingo são todos telemóveis) e ignora-se com assinalável obstinação o irmão do lado direito, o padrinho do lado esquerdo, o pai e a mãe em frente, a avó na cabeceira para pagar a conta, ainda por cima. E não são só os miúdos. Também os graúdos, nomeadamente graúdas, cinquentonas, casadas assim assim ou tias praticamente por estrear, esfregando, esfregando o ecrã da lamparina mágica, vai ser desta que vão ser felizes.
É. As pessoas julgam que falam umas com as outras, mas não falam. Aquela ideia romântica de conversa morreu e foi enterrada. As pessoas hoje em dia são perfis, esgotam-se na "conversa" com os "amigos" do Facebook que não conhecem de lado nenhum, talvez valha uma pinadela. As pessoas esbanjam todas as suas doutas opiniões, todos os seus espertíssimos achismos, na Antena Aberta da rádio Antena 1 e no Fórum Sport TV. (Desculpem-me o parêntese: para mim nem é dia nem é nada se não ouço o que têm a dizer o senhor José Fonseca, 45 anos, informático, da Amadora, sobre a problemática do Cristiano Ronaldo e da Selecção Nacional, ou o senhor Afonso Palheta, 53 anos, aposentado, do Marco de Canaveses, a propósito da política de reflorestação do País.). Depois, as pessoas chegam ao café, chegam à mesa do restaurante, ou chegam a casa, sítios da conversa antiga, cara a cara com outras pessoas de carne e osso, e ficam caladas e sós. Sós umas das outras. São criaturas sem assunto, estão vazias: já disseram tudo e não era nada.
Mas tornando à mesa do café. As cascas de tremoços eram roubadas da mesa do lado e são, é preciso que se note, o melhor que há logo a seguir aos tremoços propriamente ditos, sobretudo em caso (e era o caso) de cotão nos bolsos. Melhor, só mesmo lamber e raspar com os dentes o papel do pão-de-ló, que era a segunda coisa melhor logo a seguir ao pão-de-ló propriamente dito, que eu via ao longe uma ou duas vezes ao ano.
P.S. - A Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) foi criada no dia 22 de Outubro de 1945, alargando a acção repressiva da então extinta Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE).
sábado, 14 de setembro de 2024
O bom ladrão
quarta-feira, 4 de setembro de 2024
Da pornografia às artes performativas
Foto Hernâni Von Doellinger |
Também não sei o que o Teatro Jordão significa realmente para os vimaranenses e se a cidade reivindica a preservação física da velha sala de espectáculos. Sei o que o Jordão significa para mim, mas a minha memória vai para além das pedras. A casa pode vir abaixo, que as recordações daqui não saem.
De Fafe, ia-se ao cinema a Guimarães. "Chove em Santiago", o filme de Helvio Soto sobre os últimos dias do governo de Salvador Allende e o golpe militar no Chile, vi-o pela primeira vez no Jordão de casa cheia e a explodir de repente numa enorme manifestação antifascista, comício de ignição espontânea, de raiva, o pessoal de pé em cima das cadeiras, de punhos cerrados e erguidos, com uma única e cada vez mais vociferada palavra de ordem - Filhos da puta! Filhos da puta!! Filhos da puta!!!
Andávamos ainda com o fogo do 25 de Abril no rabo e ninguém nos aturava. Bons tempos aqueles, havia sonhos.
O "Jordáohe", como se chama em "Guimaráes", tinha um excelentíssimo restaurante nos fundos e foi também o cinema dos meus primeiros filmes pornográficos. Era a novidade. A pornografia acabara de chegar a Portugal, com a bendita liberdade, que afinal é sempre um pau de dois bicos. Devo esclarecer, por falar nisso, que os filmes pornográficos do Jordão faziam muito mal aos intestinos, pior do que garrafão de vinho doce bebido de uma assentada. Nos intervalos era um ver se te avias para ir à retrete, filas imensas de braguilhas aflitas à porta das sentinas, porque os urinóis para o caso em apreço não serviam.
Quando me internacionalizei, um ou dois anos depois, em França, pude verificar que com os estrangeiros, muito mais batidos na matéria, a coisa funcionava de maneira diferente. Para além de cada qual poder escolher o lugar que quisesse na sala praticamente às moscas, não era preciso esperar pelo intervalo nem ir à casa de banho para esgalhar o pessegueiro - era ali mesmo, à Lagardère. Já se sabe: os castiços dos franceses, toujours en avance...
Já agora: ao contrário do que muito boa gente pensa que sabe, incluindo alguns figurões com alegadas responsabilidades literárias, "Chove em Santiago", célebre verso de abertura de um belíssimo poema de Federico García Lorca, não se refere a Santiago do Chile, mas a Santiago de Compostela. À minha querida Santiago de Compostela, pela qual o poeta e dramaturgo andaluz também se enamorou.
Lorca publicou em 1935 um pequeno livro a que deu o nome de "Seis Poemas Galegos". Em galego o escreveu e o poema mais conhecido do opúsculo é exactamente este:
Madrigal á cibdá de Santiago
Chove en Santiago,
meu doce amor.
Camelia branca do ar
brila entebrecida ô sol.
Chove en Santiago
na noite escura.
Herbas de prata e de sono
cobren a valeira lúa.
Olla a choiva po-la rúa,
laio de pedra e cristal.
Olla no vento esvaído,
soma e cinza do teu mar.
Soma e cinza do teu mar,
Santiago, lonxe do sol;
ágoa da mañán anterga
trema no meu corazón.
Agora para os mais distraídos. O texto supra, como é de norma referir, publiquei-o em Outubro de 2013 no meu blogue Tarrenego! Entretanto, o Teatro Jordão foi finalmente recuperado e reabilitado, como bem merecia. E foi inaugurado em Fevereiro de 2022. Ali funcionarão, suponho, a Escola de Artes Performativas e Artes Visuais da Universidade do Minho e a Escola de Música do Conservatório de Guimarães. Pelo menos. Por outro lado, e este é o nosso pretexto, Salvador Allende foi eleito presidente do Chile no dia 4 de Setembro de 1970.
quinta-feira, 8 de agosto de 2024
"Memórias da Ditadura", em Fafe
O livro "Memórias da Ditadura - Sociedade, Emigração e Resistência" é apresentado amanhã, sexta-feira, 9 de Agosto, pelas 21h30, no Salão Nobre do Teatro-Cinema de Fafe.
Esta edição bilingue, realizada com o apoio institucional da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, é concebida pelo historiador Daniel Bastos, a partir do espólio inédito de Fernando Mariano Cardeira, e traduzida por Paulo Teixeira.
A iniciativa, antecedida pela inauguração de uma exposição fotográfica de Fernando Mariano Cardeira, alusiva à emigração portuguesa dos anos 60, que será protocolarmente doada ao Museu das Migrações e das Comunidades, integra-se na Festa do Emigrante que decorre de 2 a 10 de Agosto, em Fafe.
segunda-feira, 15 de julho de 2024
Lágrimas parvas por Marcelo
De certeza que foi gente de Queimadela. Queimadela estava sempre presente! "Não esperava esta manifestação, mas compreendo-a", dizia Marcelo, modestíssimo, do alto da varanda do Palácio de São Bento, rodeado pelos pândegos mandadores de Vivas!, assim à moda do nosso Velhinho, o Castro Mendes de Travassós, o trabalhista fafense, "ide por esses tascos abaixo, comei, bebei e pagai". E depois Marcelo falou de política, mas isso já não me interessava. Eu estava outra vez comovido, ranhoso, mas agora de auto-satisfação nacionalista, de respeitoso respeito a Sua Excelência. Quem me dera estar lá também com o garrafão. Ainda por cima eu nunca tinha ido a Lisboa e o vinho, certamente como a viagem, devia ser também de graça. Chorei, pois claro que chorei, e as lágrimas já me toldavam o preto-e-branco do aparelho, mas saí dali de alma lavada e, se querem que lhes diga (e ainda que não queiram), também eu algo desagravado. E então ri-me. Junho de 1973. O Marcelo era Caetano e eu, burro como uma porta, pensando que sabia tudo, ainda não sabia nada.
terça-feira, 9 de julho de 2024
O trabalhista fafense
quarta-feira, 5 de junho de 2024
Nós, os imigrantes
terça-feira, 4 de junho de 2024
"Memórias da Ditadura", no Porto
O livro "Memórias da Ditadura - Sociedade, Emigração e Resistência" é apresentado no Porto, no próximo sábado, dia 8 de Junho, pelas 16 horas, na Livraria Unicepe, à Praça de Carlos Alberto. A obra, concebida e realizada por Daniel Bastos, a partir do espólio fotográfico inédito de Fernando Mariano Cardeira, antigo oposicionista, militar desertor, emigrante e exilado político, tem edição bilingue (português e inglês), traduzida por Paulo Teixeira, e é prefaciada pelo historiador e investigador José Pacheco Pereira, que se encarregará da apresentação.
terça-feira, 28 de maio de 2024
Mais rápido que uma linha recta
A menor distância entre dois pontos é uma recta? Nem sempre. Às vezes a menor distância entre dois pontos pode ser uma curva. Aqui não se trata de ciência, é mero exercício de memória. Por exemplo: lembram-se do Generoso? Claro que não se lembram do Generoso. Mas eu explico: o Generoso era um extremo brasileiro que jogou no SC Braga bem no início da década de setenta do século passado, por alturas da segunda divisão, se não me engano. O Generoso (e decerto um nome assim nunca foi tão bem empregue), o Generoso, dizia eu, era tão rápido, corria tanto, que, quando atacava e levava um adversário à ilharga, despossuído de outros e melhores argumentos técnicos, chutava a bola para a frente, saía do relvado, contornava o defesa pela pista de cinza, e - espantem-se! - ainda chegava lá primeiro.
Vem hoje a propósito. Para que nos entendamos, o relvado e a pista de cinza eram no Estádio 28 de Maio, em Braga. Sim, antes do 25 de Abril de 1974, o Estádio 1.º de Maio chamava-se Estádio 28 de Maio. O que só demonstra (raciocínio palerma e suinamente fascistóide) que a Outra Senhora levava 27 dias de avanço em relação a Esta Senhora e que as revoluções cometem-se sobremaneira para mudar os nomes das ruas, praças, pontes, estádios e outro imobiliário. Mas eu também vi o Generoso executar a sua supersónica façanha no então pelado do meu Fafe, onde o resvés com os pilares de cimento e com os tubos metálicos da vedação conferia um toque extra de emoção e perigo ao espectáculo. O Generoso, sempre na mecha e a passar calafriantes tanjas ao excelentíssimo público e ao desastre, trazia-me à cabeça o encantatório e fanhoso reclame altifalante das barulhentas motas do poço-da-morte, nos dias dos 16 de Maio e da Senhora de Antime, primeiro no Largo ou na Feira Velha e depois no sítio onde agora está o Pavilhão Municipal. Também ali, no campo da bola, havia "arrojo, coragem, audácia, cooommm-ple-to desprezo pela vida". E eu, palavra de honra, sempre achei que o Generoso devia jogar de capacete...
P.S. - Publicado aqui originalmente no dia 13 de Novembro de 2022, a propósito do Dia Mundial da Generosidade. Ou Dia Mundial da Bondade. Ou Dia Mundial da Gentileza, como lhe chamam no Brasil. Generoso chamava-se José Carlos Generoso, jogou pelo SC Braga na época 73/74 e faleceu em Setembro de 2021, com 77 anos.
domingo, 12 de maio de 2024
Crocodilos no Jardim do Calvário
Foto Hernâni Von Doellinger |
Se não estou em erro, terá sido ali mesmo que começou essa tradição tão festiva e tão fafense do "cuelho", também chamado de empernanço ou, cientificamente falando, "estou a ver passar os ciclistas"...
No Jardim do Calvário iniciei-me também nos concursos do vestido de chita e, confesso, nos fumos. Pelos nove-dez anos, ia fumar para as escadas do inamovível portão das traseiras, o sítio de Fafe onde se faziam as coisas feias. O Bílio - sim, esse Bilinho, meu querido companheiro de infância - aparecia com meio maço de Definitivos, que ali queimávamos num instante, antes que alguém nos visse e fosse contar à minha mãe. Depois eu ia-me confessar. Porque Deus vê tudo e fumar era um pecado muito grande, um dos maiores logo a seguir à masturbação. Não fiquei com o vício. Do cigarro, quero dizer.
Pelos dezoito-dezanove, já nas escadas da frente, lá no alto, fui apresentado à liamba, que tinha vindo de Angola com uma mão à frente e outra atrás e era muito fixe. Nunca percebi a moca dos outros, sempre pensei que estavam apenas a armar-se, porque a mim a coisa não fazia absolutamente nada, tirando os engasgos. E também não fiquei freguês.
Ao longo dos últimos anos, sempre que pude e posso, voltei e volto ao Jardim, para mostrar aos amigos, para ouvir os concertos da Banda de Revelhe (era o sítio certo, valha-me Deus!), ou apenas, e dizer aqui apenas é uma rematada tolice, para, sozinho, envergonhadamente comovido, apaziguar as saudades.
quinta-feira, 25 de abril de 2024
quarta-feira, 10 de abril de 2024
Memórias da ditadura
O livro "Memórias da Ditadura - Sociedade, Emigração e Resistência" será lançado depois de amanhã, sexta-feira, dia 12 de Abril, pelas 18 horas, na Associação 25 de Abril, em Lisboa. A obra, concebida e realizada por Daniel Bastos, a partir do espólio fotográfico inédito de Fernando Mariano Cardeira, antigo oposicionista, militar desertor, emigrante e exilado político, tem edição bilingue (português e inglês), traduzida por Paulo Teixeira, e é prefaciada pelo historiador e investigador José Pacheco Pereira. A apresentação estará a cargo de Manuel Pedroso Marques, militar, antigo exilado político e presidente da RTP
Escreve Daniel Bastos: "No ano em que se assinala meio século de liberdade e democracia em Portugal, a publicação deste livro, que conta com o apoio institucional da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, constitui uma oportunidade simbólica de revisitar o país como era há 50 anos. Mormente o quotidiano de pobreza e miséria em Lisboa, a efervescência do movimento estudantil português, o embarque de tropas para o Ultramar e os caminhos da deserção, da emigração "a salto" e do exílio, uma estratégia seguida por milhares de portugueses em demanda de melhores condições de vida e para escapar à Guerra Colonial nos anos 60 e 70."
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024
Eram outros carnavais
Foto Hernâni Von Doellinger |
No nosso Carnaval havia corso pelas ruas do centro da vila. E o rei momo era o Tónio da Legião, bonacheirão, afavelmente decilitrado, com coroa, manto e barbas a condizer, e só podia mesmo ser ele, no trono, lá do alto do carro alegórico, palácio ou castelo, olhando de lado para o mundo. Não me lembro se lhe deram rainha. O Tónio da Legião tinha uma queda tremenda para a amizade e para a cozinha, mas isso não vem hoje ao caso. E o Aristides Carteiro, que era um senhor e praticava humorismo nas horas vagas, abria o cortejo mascarado de ciclista, realmente um disfarce à altura do seu insuspeito porte atlético.
Pelo Entrudo, em Fafe, queimava-se o Pai das Orelheiras, velha tradição popular, de afirmação de rua, que andou perdida durante anos e que a Câmara Municipal resgatou em 2017, se não me engano. No nosso Santo Velho nós fazíamos a fogueira e queimávamos o figurão. Era o ponto alto do dia, que por acaso era à noite. As nossas mães diziam-nos para não brincarmos com o fogo, porque senão, quando fôssemos dormir, iríamos mijar na cama. Nós brincávamos na mesma e ao entrarmos em casa para dormir levávamos logo o ensaio do costume, mesmo antes de se saber se mijávamos ou não, e eu achava isso muito injusto e provavelmente ilegal.
Não me vou armar em Freud, mas naquele dia elas vestiam-se deles e eles vestiam-se delas. Era uma ocasião muito esperada. Uma oportunidade. Adultos, casados e afins, saíam para a rua aos pares com as roupas ao contrário e as caras tapadas com caretas de papelão compradas no Rates, que tinha tudo mesmo antes de terem sido inventadas as lojas que têm tudo, farmácias à parte e hoje em dia os talhos. Assim disfarçados e de boca calada, os pares de foliões metiam-se com os vizinhos, e o grande divertimento era tentar descobrir quem seriam os tratantes, desconfiando-se sempre deste ou daquela, tu a mim nunca me enganaste...
A coisa às vezes acabava à pancada, mas quê, era Carnaval e ninguém levava a mal. Além disso, estávamos em Fafe e tínhamos os peidos. Os peidos-engarrafados, quero dizer.
É, bons tempos: pobretes mas alegretes. Fafe tinha belas tradições. Era tudo muito bonito e os peidos eram o nosso escape natural, o epítome do divertimento que se podia.
quarta-feira, 3 de maio de 2023
Foram soldados 13
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Tarrenego! |
segunda-feira, 1 de maio de 2023
Quando o 1.º de Maio era no dia 28
Em todo o caso, mudar o nome do velho estádio de Braga, de 28 de Maio para 1.º de Maio, só demonstra (num raciocínio assumidamente palerma e suinamente fascistóide) que a Outra Senhora levava 27 dias de avanço em relação a Esta Senhora e que as revoluções cometem-se sobretudo e quase só para mudar os nomes das ruas, praças, pontes, estádios e outro imobiliário.
Querem outro por exemplo? O Estádio 25 de Abril, de Penafiel. Antes da "política", aquele terreiro chamava-se Campo das Leiras. E que mal é que tinha o nome?
O 28 de Maio de 1926 foi praticamente como o 25 de Abril de 1974, mas em versão fascista. Começou em Braga e chegou a Lisboa atrás do cavalo branco de Gomes da Costa, uma espécie de chaimite daquele tempo.
Antes do 25 de Abril, os 28 de Maio eram celebrados com desfiles, por assim dizer, militares: Mocidade Portuguesa, Legião Portuguesa, certamente bombeiros e escuteiros, provavelmente ranchos folclóricos e evidentemente soldados propriamente ditos. A Veneranda Figura lá estava, mas o de Santa Comba se calhar não, porque constipava muito de saísse à rua e o povo fazia-lhe espécie. Havia discursos, condecorações geralmente póstumas, por razão de força maior, isto é, derivado ao Ultramar, criancinhas órfãs vestidas à adulto, jovens viúvas atarantadas e chorosas, pais abruptamente sem filhos mas com medalha espetada no peito, numa dor sem fim, e sobretudo muitas fanfarras, a bem da Nação. O bom povo português assistia a tudo patrioticamente embebecido, se não me engano com aguardente, porque as cerimónias eram de manhã.
Uma vez eu também lá fui. Estava no seminário, em Braga, e os padres levaram-nos. Fomos portanto levados. Gostei muito, porque o meu tio Zé de Basto era corneteiro na fanfarra do Regimento de Infantaria 8 e eu já não o via há uma temporada. Pusemos a conversa em dia.
Resumindo e concluindo: Portugal continua a ser o mesmo, fascistazinho, só o tio Zé é que já não anda na tropa...
quinta-feira, 27 de abril de 2023
Lá vamos cantando e rindo, outra vez?
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Foto Expresso de Fafe |
quarta-feira, 26 de abril de 2023
Foram soldados 12
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Foto Tarrenego! |
Bruxedos e outros medos
Durante uma semana, um alguidar contendo um enorme galo sem cabeça e outras miudezas feiticeiras esteve em exposição no passeio junto ao por...
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O polvo é um octópode. Duas burras do Reigrilo também. P.S. - Hoje é Dia Mundial do Polvo.
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Todos os meses de Julho de todos os anos, o aviso lá estava bem visível à porta de entrada, para orientação de pessoal, clientes e público e...
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Foto Hernâni Von Doellinger Ora vamos lá recapitular. Os jardins era uma coisa que existia antigamente. Como os castelos, as pinturas rupest...