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segunda-feira, 30 de junho de 2025

O deputado André e o seu quiproquó

Estava aqui a lembrar-me, por exemplo, de André Almeida. Do deputado André Almeida. Não estão a ver quem é André Almeida? Aquele jovem de Arouca que substituiu o nosso Luís Marques Mendes na Assembleia da República, entre 2007 e 2009. Não estão mesmo a ver, pois não? Pronto, o melhor é eu contar a história do deputado André. André Almeida. Estavam à espera de outro André?

Cheio de ideias e boas intenções, André Almeida chegou ao Parlamento e ficou encantado com o que encontrou. O encantamento foi de tal ordem que, em Fevereiro de 2008, o promissor político arouquense surpreendeu tudo e todos ao declarar que os deputados da Nação ganhavam demais, anunciando, ainda por cima, que ia dar dez por cento do seu ordenado mensal a uma instituição de solidariedade social do seu círculo eleitoral, Aveiro. "As ajudas de custo chegam perfeitamente para o que um deputado faz, porque temos condições excelentes", explicou André Almeida ao jornal 24horas.
Avisado pelo jornalista que o entrevistava para a perigosidade da matéria em que estava a mexer (matéria altamente inflamável e explosiva, e que ainda lhe poderia rebentar nas mãos), o jovem deputado limitou-se a encher o peito e a declarar-se "preparado para as críticas". Mas não estava. Dois dias depois, o deputado Almeida foi humilhado pelo seu próprio grupo parlamentar e obrigado a fazer um lamentável pedido de desculpas. Os colegas de bancada fizeram dele gato-sapato. E, para a humilhação ser completa, o puxão de orelhas colectivo, que até foi privado, saiu imediatamente para os jornais.
Ficou a saber-se que o jovem André Almeida se defendeu dizendo que as suas declarações tinham sido "irreflectidas" e que pediu formalmente desculpas aos seus indignados companheiros de carteira. Mas nem esta triste figura bastou ao inquisidor-mor Agostinho Branquinho, um dos falcões do velho PSD, que insistiu no enxovalho, argumentando que o pedido de desculpas não era suficiente para fazer desaparecer os danos entretanto causados. Nesse dia André Almeida já não atendeu o telefone do 24horas.
Quanto aos "danos" apontados à reguado por Branquinho, esse inapagável farol da deontologia social-democrata, foram sendo meticulosamente reparados. De oitavo na lista de candidatos do PSD por Aveiro às Legislativas de 2005, André Almeida desceu para décimo em 2009 e para décimo primeiro em 2011. Isto é: nunca mais sentou o cu na Assembleia. André virou-se então para a política local e foi líder da concelhia do PSD de Arouca, lugar a que não se recandidatou, alegando "razões profissionais, familiares e pessoais". Suponho que André Almeida abandonou definitivamente a política por volta de 2015, para se dedicar a coisas sérias e a uma vida útil e honesta: é dentista, se não me engano.

Agora cá entre nós: se pensarmos bem, André Almeida só não vingou como deputado porque fez tudo mal. Enganou-se. Ingénuo, chegou à capital e avisou logo que queria trabalhar, disse até qualquer coisa do género "Acho que posso ser útil no Parlamento". Ora, os deputados não estão lá para trabalhar, muito menos para serem úteis. Os mais velhos decerto que ensinam isso aos mais novos, aos recém-chegados, mas o jovem arouquense deve ter faltado às aulas. Depois foi a desgraça que se viu. André Almeida teve a distinta lata de admitir que não precisava de ganhar tanto e o sarro do PSD caiu-lhe imediatamente em cima, mas, mesmo desterrado para os bancos da cozinha, o fugaz deputado lá ia aparecendo de vez em quando a puxar por Arouca e pela sua região, provavelmente quando não estava mais ninguém no hemiciclo. Como se não bastasse, tinha também a mania de "prestar contas" aos seus eleitores com permanente informação colocada no seu site oficial. A verdade é esta: deputados assim não interessam, dão má fama à Assembleia da República.

P.S. - Versão revista, publicado no meu blogue Mistérios de Fafe. Hoje é Dia Internacional do Parlamentarismo.

sábado, 8 de fevereiro de 2025

Marques Mendes, obviamente!

Foto Notícias de Fafe

Como é que pode fazer confusão a alguém que Antero Barbosa, presidente da Câmara de Fafe, tenha declarado pública e oficialmente o seu apoio à candidatura de Luís Marques Mendes à Presidência da República? Mas, então, um fafense ilustre, com provas dadas e conhecidas, com um currículo político invejável, avança para Belém como candidato sério, credível, com reais possibilidades, e o presidente da Câmara de Fafe - de Fafe, repito - vai apoiar quem? O senhor de Nevogilde? O Tozé de Penamacor? O Vitorino dos cifrões? Homessa! Por que carga de água? Por causa da partidarite? Ó valha-me Deus, trata-se da eleição para presidente da República! E, para além disso, como toda a gente sabe, o voto é secreto...

terça-feira, 26 de março de 2024

As deputadas de Fafe em Lisboa

Pois lá tomaram posse as nossas duas deputadas. Duas fafenses na Assembleia da República, pelo menos para já: Vanessa Barata, do Chega, em estreia absoluta, e a social-democrata Clara Marques Mendes, de quem se diz que pode sair para ministra, pelo menos secretária de Estado, digo eu. Só foi peninha o despedimento de Pompeu Martins, que ia outra vez escondido nas listas do PS, e digo peninha não porque me tenha constado que ele fez alguma coisa digna de registo enquanto lá esteve, antes pelo contrário, disso parece que não pode ser acusado, tanto quanto sei, mas porque era assim que se dizia em Fafe antigamente, peninha, acentuando também o "é", pelo menos da boca para fora, e três sempre é melhor do que dois, quer-se dizer, do que duas, para além de que sou um profundo defensor da igualdade de género, e um homem, mesmo que só um para amostra, creio que compunha melhor o ramalhete...

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Touros e gambozinos à moda de Fafe

A caça ao gambozino é uma excelente e pacífica alternativa por exemplo à caça ao elefante ou à montaria ao javali. Mantém-se o lado lúdico e ecuménico, o são convívio, o almocinho e a merenda, a sacramental troca de mentirolas, mas poupa-se em perigo e em munições, dando-se uma mãozinha, por outro lado, à indústria nacional da serapilheira. Como se sabe, na caça ao gambozino os caçadores não usam armas de fogo, mas sacos e chibatas, e gritam: - Piopardo ao saco!...

É verdade, a caça ao gambozino, essa espécie amiúde cinegética também conhecida como piopardo ou vai ver se estou lá fora. Eu sei bastante de caça ao gambozino porque sou de Fafe e em Fafe, no meu tempo, nem se era fafense nem se era nada se não se caçasse o gambozino. Fui, aliás, um exímio caçador, não é para me gabar. Em Fafe, depois de se caçar muito o gambozino, assim com uma certa carreira feita, já se podia mandar caçar os outros. E foi o que eu fiz. E é o que eu faço.

É preciso que se note que o gambozino, ou piopardo, depois de caçado, medido, pesado, lavado, dentes incluídos, vacinado, fotografado, etiquetado e registado, era devolvido à liberdade, com dinheiro para o táxi e direito a levar o respectivo saco de serapilheira cheio com um rico merendeiro até à próxima. Fafe era assim. Fafe é assim. Um povo compassivo e magnificente.
Discotecas à parte, onde às vezes realmente há uns tiros e coisa e tal, nada de mais natural, Fafe é uma terra livre de armas nucleares e muito amiguinha dos animais, coitadinhos. Tem concurso de beleza canina, tem chega de bois, tem corrida de cavalos a passo travado, tem largada de perdizes, tem batida à raposa, tem exposição de columbofilia, tem grilos em gaiolas, tem gaiolas propriamente ditas e impropriamente feitas, porque é pecado, e até tem montaria ao javali.
O programa da montaria é uma coisa muito bem organizada, com particular destaque para o estacionamento gratuito, olha o luxo, e para o pequeno-almoço servido na cantina da Câmara Municipal, às nove da manhã em ponto, por causa do fotógrafo, que tem um baptizado às dez menos um quarto, e o senhor presidente tem mais que fazer e mais retratos para tirar.
Como toda a gente sabe, javalis em Fafe são mato, tais como, para não irmos mais longe, ursos tintos e morsas desdentadas nos aprazíveis glaciares da Lameira, tubarões-berbequins nos mares da barragem de Queimadela, camarões-tigres na bacia do rio de Pardelhas e crocodilos insones no lago do Jardim do Calvário. Importante: determinado por edital camarário, todos os javalis devem apresentar-se à montaria obrigatoriamente vestindo colete reflector, não vá passarem desapercebidos aos caçadores de carregar pela boca. No caso das largadas de perdizes previamente tontas, só são admitidas à matança as perdizes que usem capacete e após teste do balão. 

E quem cuidava que não, pois que se desengane: Fafe também foi aos touros. No Campo da Granja, em 1963, provavelmente por ocasião das Festas da Senhora de Antime, que é o mais certo, mas também poderá ter sido por alturas das Feiras Francas, lembro-me é que era um belo dia de sol e, agora que penso nisso com mais vagar, não faço a mínima ideia de como é possível lembrar-me. Uma tourada que terá sido a primeira realizada em terras de Fafe e que, se não me engano, foi igualmente a única, até hoje, com touros propriamente ditos. O redondel não era assim tão redondo como o nome poderia indicar à partida: digamos que foi construída, com robustos troncos de madeira, uma espécie de lua cheia fanada, cortada em linha recta na zona da bancada, que era para o excelentíssimo público poder estar em cima do acontecimento. As digníssimas autoridades locais e a nossa mais distinta burguesia, orgulhosamente alapadas na bancada de cimento com tecto de zinco, quero crer que com umas discretas almofadinhas aliviando os respectivos traseiros, e o povo a pé, no meio do campo da bola, encostado às tábuas, mas seria muito pouco, meio dúzia de gatos-pingados, se tanto, e eventualmente já razoavelmente decilitrados, porque os bilhetes, mesmo os bilhetes mais baratos, eram caros como o caralho. Foram certamente ao engano e, diga-se em sua defesa, o calor era realmente muito e a situação deveras incómoda e eventualmente perigosa. Se naquele tempo já havia praças de toiros desmontáveis e alugáveis, não foi daquela vez que uma delas chegou a Fafe.
A tourada, segundo me lembro, e confesso que continuo sem perceber como é que me lembro, foi uma merda. Compreendo portanto que a autarquia fafense vire as suas modernas prioridades para outras lides. Recapitulando. Para as chegas de bois, para as largadas de perdizes, para as montarias ao javali, para as exposições e concursos de beleza canina ou columbófila, para as corridas de cavalo a passo travado e de salto alto, para as batidas à raposa, que é o que nos faz falta. Um destes dias ainda tornaremos, se Deus quiser, à nossa ancestral porém nunca desmentida caça aos gambozinos, com organização camarária, estacionamento gratuito, pequeno-almoço, almoço, merenda, jantar e tudo. Tenho uma fé muito grande nos nossos conspícuos guiadores e guiadoras, quem dera que não chova, e olé!

Por outro lado. A malta mais nova se calhar não faz ideia da revolução que é ter espectáculos à borla, como acontece hoje em dia, nomeadamente nas Festas da Cidade, e só tenho a elogiar a autarquia por isso. Antigamente, e naquele tempo a pobreza era modo de vida, regra geral, em Fafe pagava-se por tudo e por nada. Só faltava andarem os fiscais da Câmara a passar bilhete, no Largo e em Cima da Arcada, a quem fosse apanhado a olhar para o fogo-preso do Jardim do Calvário...

P.S. - Desenterro mais uma vez este textinho, hoje em sentida homenagem à faraónica vacuidade política do homem a quem chamam Luís Montenegro, líder do PSD, rei do stand-up nacional e irrefutável especialista em gambozinos e pipis.

Bruxedos e outros medos

Durante uma semana, um alguidar contendo um enorme galo sem cabeça e outras miudezas feiticeiras esteve em exposição no passeio junto ao por...