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sábado, 26 de julho de 2025

Sabem a pouco "os saberes" de Fafe

Foto Município de Fafe

"Fafe leva os seus saberes tradicionais à 47.ª Feira Nacional de Artesanato de Vila do Conde", informa o nosso Município. E explica: "Fafe estará representado com os seus emblemáticos entrançados de palha de Fafe". Mais nada. Quer-se dizer: "os saberes" de Fafe, afinal, é só um.

quarta-feira, 12 de junho de 2024

E o manguito do Bordalo?

A moda é nova, mas, em Portugal, o fado, a dieta mediterrânica, o cante alentejano, os chocalhos e a olaria preta de Bisalhães já tinham sido elevados aos píncaros do Património Cultural Imaterial da Humanidade. Seguiram-se a falcoaria, a louça de Estremoz, os Caretos de Podence e as Festas do Povo de Campo Maior, até ver. Fixemo-nos, porém, na falcoaria. A falcoaria, numa das suas definições mais acessíveis, é a arte de treinar e cuidar de falcões e outras aves de rapina para a caça. Os falcões e colaterais contrafacções caçam, matam e comem, em geral, outras aves e pequenos quadrúpedes que não têm lóbi na Unesco. Está certo: a Unesco é uma organização das Nações Unidas que visa contribuir para a paz e segurança no mundo mediante a educação, a ciência, a cultura e as comunicações. Com a falcoaria ficámos irremediavelmente lançados. Eu, por mim, penso agora nos sapateiros, nas mulheres-a-dias, nos falsos licenciados, nos periquitos, nos tocadores de punhetas, nos perdigueiros e, andava com esta ferrada há que tempos, nos furões.

E antes que me esqueça: por exemplo, o jogo do pau. Porque não? Ou o berlinde, a carica, o pião, o espeto, a macaca, o moche, o tene, a cabra-cega, o arranca-cebolas, o mamã-dá-licença, o esconde-esconde. Ou o jogo da malha. Ou o jogo da bisca. Ou o jogo Benfica-CUF de 22 de Março de 1959. Porque não?
Por exemplo, as Janeiras, os Reis, as novenas, o terço e a bênção do Santíssimo. Porque não? As marchas de Lisboa e as rusgas do Porto e o Pai das Orelheiras e o carnaval de Ovar e a bicha das sete cabeças e a chega de bois e as "Velhas" da Terceira e as adufeiras de Monsanto e a Justiça de Fafe e os zés-pereiras e os cabeçudos e os gigantones. Ou a cantiga no duche, ou a lengalenga do avô, ou a arenga de bêbado, ou o apita-o-comboio, ou o atirei-o-pau-ao-gato, ou o areias-era-um-camelo. Ou o canto pimba, ou o canto neiro. Porque não?
Por exemplo, os ranchos folclóricos, os conjuntos típicos, a Maria Albertina e o António Mafra, os grupos excursionistas, os motoclubes e as motosserras. Ou as bandas de música, filarmónicas e copofónicas. Porque não? Ou os bandos de malfeitores, banqueiros ou governantes, os salgados e os doces, da alheira de Mirandela ao pastel de Belém. Porque não?
Por exemplo, o manguito do Bordalo. Ou o caralho das Caldas. Porque não?
Por exemplo, o assobio. Porque não?

É património até dar com um pau. É património sem mãos a medir. Somos um país para o Guinness. Com assinalável pertinácia, Portugal mete os dedos à boca e vomita património imaterial da humanidade por todos os lados. Um destes dias, sem darmos fé, estamos todos condecorados. Da cabeça aos pés.

(Publicado originalmente no meu blogue Tarrenego! O Zé Povinho de Rafael Bordalo Pinheiro apareceu pela primeira vez no jornal satírico "Lanterna Mágica" no dia 12 de Junho de 1875.)

sábado, 16 de março de 2024

Provavelmente a melhor vitela assada do mundo

Foto Município de Fafe

Os domingos tinham esse pequeno problema, e quem for de Fafe e antigo sabe do que falo: tripas ou vitela assada? Era a verdadeira questão, o dilema do almoço dominical. Os fafenses, gente de bom comer e satisfatório beber, resolveram facilmente o assunto, há muito, muito tempo: isto é, em vez de tripas "ou" vitela assada, o almocinho de domingo passou a ser tripas "e" vitela assada. Nem Salomão, no seu ancestral e sábio critério, tomaria decisão mais acertada.
A vitelinha guiava-se em casa, com vagar e carinho, com as voltinhas todas, se possível em forno ou fogão de lenha, e as tripas, regra geral, iam-se buscar num tachinho à Esquiça ou à Pacata, consoante a ideia que cada um tinha acerca da sua própria posição social - o que agora até dá para rir, sabendo-se da história e vendo-se assim a coisa à distância...
Começava-se portanto pelas tripas, e a seguir vinha a vitela. O apetite era gerido ao milímetro, mais ou menos um bocadinho daquelas, mais ou menos um bocadinho desta - porque, como determina o princípio da impenetrabilidade da matéria, dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo, e as vacas é que têm felizmente quatro estômagos. Ora bem: a malta nova, pouco dada à tripalhada, reservava-se para a chicha com batatinha de ouro e arroz seco e solto. Mas de quando em quando reservava-se mal. Como daquela vez em que o nosso Zé não tocou no feijão. Perguntaram-lhe se estava doente, se tinha fastio, se queria um caldinho branco, se queria meter o termómetro. Que não, que não, que não e que não, respondeu respectivamente, e explicou todo gaiteiro: - Estou a guardar-me para a vitela!
Naquele domingo não havia vitela. E as tripas já tinham saído da mesa...

Agora, muita atenção: onde escrevi "tripas" e "vitela assada", deve falar-se "tripasss" e "bitela assada". À moda de Fafe. A vitela assada à moda de Fafe, quando bem trabalhada, é provavelmente a melhor vitela assada do mundo. A confraria da dita não veio ajudar nada, antes pelo contrário, mas, diga-se já agora em abono da verdade, veste e desfila que é uma categoria.

Ora bem. Ontem, hoje e amanhã, como dizia a cantiga do José Cid, é Fim de Semana Gastronómico em Fafe, um dos diversos Fins de Semana Gastronómicos promovidos pelo Turismo Porto e Norte de Portugal, neste caso integralmente dedicado à nossa vitela assada. "A jóia da coroa gastronómica de Fafe" - informa a Câmara Municipal - poderá ser apreciada nos restaurantes A Cabana, A Desportiva, Adega Popular, Aldeia do Pontido, Casa de Pasto Reis, Desigual, Dom Egas, Feira Velha, Porto Seguro, Quinta das Vinhas e Vice Versa.
Foi também anunciado que estão disponíveis pacotes de oferta turística com alojamentos e experiências incluídas. Isto é, os visitantes têm direito a um desconto de dez por cento em alojamento de duas noites (sexta e sábado) nos seguintes empreendimentos: Aldeia do Pontido, Carvalho Village, Casa de Docim, Casa de Fora, Casa do Gandião, Casas do Ermo, Casa do Vale, Devagar e Devagarinho, Sossego da Lata, Flag Hotel Guimarães-Fafe, Hotel Fafense, Parque de Campismo da Barragem de Queimadela, Quinta do Minhoto e Quinta Lama de Cima.
Quem quiser, ainda vai a tempo, pelo menos em parte. Para quem não sabe ou não conhece, será, posso garantir, uma experiência inolvidável. Fafe e os fafenses, à disposição. Vinho verde, pão-de-ló e doces de gema, tudo do bom e do melhor. Fartura. A famosa vitela assada em forno de lenha, regra geral, os aromas inconfundíveis, nossos, invadindo agora a cidade como antigamente tomavam conta da vila. Digam-me depois se Fafe ainda cheira a sabão amarelo...

P.S. - Estão a ver, lá em cima, o retrato? Batatinhas douradas, vitelinha linda como os amores, tudo ajeitado, no limite, com uma mancheia de azeitonas e dois ou três gaipelos de salsa. Exactamente. Assim é que era dado!

sexta-feira, 15 de março de 2024

A rodela de laranja

Foto Município de Fafe

A propósito do Fim-de-Semana Gastronómico que por estes dias decorre em Fafe, dedicado à vitela assada à nossa moda. Ou melhor, a propósito e em defesa da vitela assada à moda de Fafe. Podem-lhe pôr rodela de laranja, podem. Podem pôr-lhe até rodela de ananás ou rodela de quivi ou fatia de abacate ou, se calhar, morangos com chantili, picles, frutas cristalizadas, farofa, ketchup ou mostarda de Dijon, claro que podem. Ponham! Mas melhor fariam se não pusessem.
Como diziam os antigos: não é dado...

domingo, 2 de julho de 2023

Festa da Lua Cheia em Luilhas


Amanhã, segunda-feira, é noite de lua cheia em Luilhas, São Miguel do Monte. Quer-se dizer, é Festa da Lua Cheia, uma celebração da ruralidade que exalta a influência da Lua no meio agrícola. O Minho no seu estado mais puro, levando os visitantes numa viagem ao passado, desta vez ao ano de 1923, com artesanato, tasquinhas, música da época e recriações históricas. A entrada é livre. Mas informação, aqui.

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

O Papa que escangalhou o presépio

Joseph Ratzinger tinha 85 anos quando, em 2012, resolveu escangalhar o presépio. Tirou a vaca e o burro, porque - dizia o então papa e actual contrapapa - no local do nascimento de Jesus "não havia animais". Portanto também não havia ovelhinhas, o que quer dizer que também não houve pastorinhos do deserto. Sobravam, isso sim, os três reis magos. Gente fina, vinho de outra pipa. Reis. E magos (porque o champanhe ainda não tinha sido inventado). Esses, é certo, estiverem lá, em representação de toda a humanidade - segundo Bento XVI. Estiveram os reis magos e os anjos cantadores.
Eu por acaso até era mais dado a acreditar no burro e na vaca do que na mirabolante história de Gaspar, Melchior e Baltasar, uma boa linha média para quem jogue em 4-3-3, mas que se há-de fazer? Mais de dois mil anos a aquecerem o Menino com os respectivos bafos e é este o pagamento que o burrinho e a vaquinha recebem.
Sempre atento às verdadeiras e mais urgentes necessidades do mundo e da cristandade, Ratzinger, o reaccionário e intriguista, resolveu escangalhar o presépio. Estaria no seu direito. Mas no meu não mexe! Tarrenego!

Ora então. O Natal cá em casa já está montado e só presépios temos sete. Todos com vaquinhas e burrinhos, como aprendi em Fafe e nem consigo imaginar que Deus pudesse ter vindo ao mundo de outra maneira. Claro que é uma despesa muito grande em penso e uma canseira desgraçada com a limpeza diária das instalações, mas, sejamos justos, o Natal também é só mês e meio por ano...

Bruxedos e outros medos

Durante uma semana, um alguidar contendo um enorme galo sem cabeça e outras miudezas feiticeiras esteve em exposição no passeio junto ao por...