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sexta-feira, 1 de agosto de 2025

O calor dilata os copos

Era um fafense à moda antiga. Praticante de fino durante três quartos do ano, chegava ao Verão e dedicava-se à caneca. Dizia: - O calor dilata os copos...

Agora a efeméride. Hoje, primeira sexta-feira de Agosto, é Dia Internacional da Cerveja. O Dia Internacional da Cerveja é um Dia De tão palerma e desnecessário como a maioria dos outros Dias De e foi inventado por uns maduros americanos de Santa Cruz, na Califórnia, em 2007. O principal objectivo deste peculiar Dia De é, consta dos estatutos, estar com amigos para saborear a cerveja. Quer-se dizer, Dia Internacional da Cerveja é quando um gajo quiser, em Fafe chegava a ser todos os dias, e para mim foi na passada quarta-feira, dia internacional da cerveja, das bifanas e do Lopes.

P.S. - Hoje é Dia Internacional da Cerveja.

sexta-feira, 7 de março de 2025

Campos de férias

Todos os meses de Julho de todos os anos, o aviso lá estava bem visível à porta de entrada, para orientação de pessoal, clientes e público em geral: "Campos de férias!", dizia o letreiro. E fazia todo o sentido, porque a verdade é só uma - o Campos era a alma daquela empresa, passava-lhe tudo pelas mãos. Na ausência do Campos, o serviço ressentia-se, era como se estivessem fechados, o próprio Campos não se cansava de o repetir.
Lembram-se daquele ilustre industrial fafense que veio de férias do Ultramar e a guerra teve de parar até que ele regressasse ao mato? O Campos também era assim, essencial e insubstituível. E um bocado mentiroso. 

P.S. - Publicado no dia 3 de Março de 2023. Hoje é Dia de Apreciação do Empregado.

domingo, 4 de agosto de 2024

Em Agosto, Fafe mudava-se para a Póvoa

Foto Hernâni Von Doellinger
A Póvoa de Varzim, que era Fafe no Verão, enormou-se sem rei nem roque. Cresceu a torto e a direito - e digo bem, literalmente a torto e a direito. Cuido que a culpa não é só dos fafenses apartamenteiros, que, na verdade, são mais que as mães. Outros culpados haverá, por exemplo derivados de Famalicão ou de Felgueiras, gente igualmente de mostrar e com fábricas e ferraris que entretanto faliram. As fábricas. E os operários. Os ferraris estão bem, graças a Deus, na garagem disfarçada de lavandaria atrás do lago do menino que mija e da piscina de plástico. Os da Póvoa de todo o ano só agora deram fé que foram encabados. Arruinaram-lhes os quartinhos de aluguer e as vistas. São prisioneiros, vedados por um colossal muro de betão que lhes rouba a praia, o ar e a vida. A cidade dos empreiteiros aluga-se. Os autarcas também. Mas tornemos a Fafe. Quem fez ao Largo o que fez, quem fez ao Assento o que fez, quem fez ao Santo Velho o que fez, quem fez à Feira Velha o que fez, quem fez ao monte de São Jorge e a Castelhão o que fez, só pode ter construído também a Póvoa de Varzim moderna e encaixotada, é de justiça e entregue-se-lhes a medalha. E depois é mandá-los à merda pelo que fizeram à minha terra.

Fafe mudava-se no Verão para a Póvoa, e eu agora também. Não cuidem que estou a ser cínico. À falta de posses para outros algarves, eu próprio passei a fazer férias na Póvoa de Varzim, todos os anos, desde os tempos da troika.
As minhas férias deste ano foram temporãs, gozei-as no passado dia 8 de Fevereiro, uma quinta-feira à tarde, depois de irmos ao Correio levantar a reforma. Peguei na mulher e ala para a Póvoa, com transbordo na Senhora da Hora. Saímos depois de almoço, mas para mim o almoço já conta como férias. Comemos em casa dois bijus, um para cada, levantámos a mesa, varremos a sala, lavámos a louça, regámos os vasos, desligámos a água, a luz e o gás, fechámos a porta com três chaves e uma tranca, pedimos à vizinha que deitasse os olhos às janelas e lá fomos apanhar o metro. A viagem correu muito bem.
A Póvoa estava um bocado ao deus-dará, praticamente de vago, decerto derivado à chuva que caía desalmadamente, uma falta de respeito para veraneantes que, como nós, não gostam de confusões e tomam horas para o Verão. Mas há cada vez mais andares e apartamentos para vender e quartos por alugar, de acordo com os letreiros que se acotovelam. A língua oficial da Póvoa de Varzim, entre os meses de Junho e Agosto, é o francês com caralhos no meio. No resto do ano também. Eu e a minha mulher foi como se estivéssemos no estrangeiro, embora com caralhos no meio e bastante molhados, e ainda há um bocadinho tínhamos saído de Matosinhos com um rico dia de sol. Por falar nisso, liguei à vizinha para saber se estava tudo bem. E estava.
Aproveitámos as férias em cheio. Olhámos para o casino e para o Cego do Maio, fomos espreitar as montras com bolas de berlim, a praia, os banhos e as banhas. Não havia. Fomos às piscinas, ao museu, à biblioteca, à praça de toiros demolida e ao estádio que qualquer dia também, mas fomos sempre pelo lado de fora, para não incomodar. Não percebo quem diz que não tem dinheiro para ir de férias. Eu e a minha mulher fomos e às 17h45 já estávamos outra vez em casa, encharcados como pitos mas felizes da vida. Mais: resolvi fazer um prolongamento extraordinário das férias, no domicílio, e demo-nos ao luxo de jantar. Dois bijus, um para cada, e uma colher de xarope para a tosse bebida a meias.
As minhas férias ficaram-me por 10,65 euros. Ora portanto, 24 cêntimos dos dois pães do almoço, dez euros de dois andantes Z5 (cartões incluídos) para as viagens Matosinhos-Póvoa de Varzim e Póvoa de Varzim-Matosinhos, mais os 24 cêntimos dos papos-secos do jantar, uma extravagância, e 17 cêntimos da chamada para a vizinha. Total: 10,65 euros, com todas as taxas incluídas, o xarope para a tosse tinha-me sido dado para amostra. Quase onze euros, um bocado puxado, é verdade, e não dá para descontar no IRS, mas é uma questão de nos organizarmos durante o resto do ano.
A minha mulher ainda quis ir a uma agência de viagens, para ver se a coisa nos saía mais em conta - como se nós fôssemos uns necessitados! Mandei-a dar uma volta e ela passou as férias todas sem me falar.

A propósito de férias: as únicas pessoas que eu e a minha mulher conhecemos que nunca foram ao Brasil somos nós os dois. Mas já está resolvido: para o ano, se Deus quiser, vamos outra vez à Póvoa.

Há mar e mar

Foto Hernâni Von Doellinger

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Quando se perdia a mondinense

Há muitas maneiras de o dizer, deste e do outro lado do mar: beber, alcoolizar-se, emborrachar-se, embriagar-se, inebriar-se, tachar, tomar, encharcar, chumbar-se, avinhar-se, enfrascar-se, ficar de pileque, alto, grosso, mamado, tomar um porre, praticar desporto líquido, molhar os pés, ficar como um escalo, como uma nabo, como um cacho, como um avião, ficar doente, indisposto, apanhar uma ramada, uma piela, uma perua, uma bebedeira, uma carraspana, uma borracheira, uma cardina, um pifo, uma tosga, uma touca, uma bezana, uma narsa. Mas: perder a mondinense, suponho que só em Fafe se dirá. Ou dizia. Perder a mondinense.
A Mondinense disputava então com a João Carlos Soares o negócio do transporte rodoviário colectivo de passageiros entre Porto e Fafe e vice-versa. Eu era passageiro. Sou passageiro. Os asmáticos autocarros da Mondinense, que, se não me engano, faziam a viagem pela serra da Agrela, via Santo Tirso, numa espécie de breve apresentação turística à Rota da Prostituição de Baixa Montanha, tinham escritório numa obscura garagem à beira do desabamento e tresandando explosivamente a mijo, vomitado, fumo e gasóleo, ali para os lados do portuense Jardim de São Lázaro. A Mondinense era isso. E a João Carlos Soares é Arriva.
Mas a explicação da expressão nossa? Perder a mondinense. Quer-se dizer: bebia-se e perdia-se a memória e esqueciam-se as horas. Esqueciam-se as horas e bebia-se e perdia-se a memória. Perdia-se a memória e esqueciam-se as horas e bebia-se. E assim se perdia a mondinense.

P.S. - Publicado no dia 22 de Novembro de 2022, a propósito do Dia de Dar Uma Volta. Hoje é Dia da Ressaca.

quinta-feira, 13 de julho de 2023

Era o tempo das cervejas

Uma vez, em pleno pino de Verão, de férias, passeei Lisboa durante um dia inteiro sem beber uma cerveja, e bem era o tempo delas. Bati as capelas todas e até agremiações culturais. Entrava aqui, entrava ali, e pedia "Uma Super Bock, se faz favor!", ou perguntava "Por favor, a imperial é Super Bock?", que não há e que não é - era Sagres e Sagres, respondiam-me invariavelmente, como se estivessem todos ensaiados e me conhecessem de algum lado e não me gramassem. Só Sagres. Super Bock, nada. Bebi água como a minha mulher, eu quase afogava, eu quase morria, e foi a maior e mais perigosa acção de protesto que levei a efeito em toda a minha vida.

Bruxedos e outros medos

Durante uma semana, um alguidar contendo um enorme galo sem cabeça e outras miudezas feiticeiras esteve em exposição no passeio junto ao por...