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sábado, 3 de maio de 2025

Quando me mandaram tramar Sócrates

Ano de 2004. O Presidente da República Jorge Sampaio despede o primeiro-ministro Pedro Santana Lopes, por indecente e má figura. Eleições legislativas são antecipadas e marcadas para 20 de Fevereiro de 2005. José Sócrates é o novo líder do PS e da oposição. Vai a votos. Durante a pré-campanha e campanha eleitoral, critica Santana Lopes, que se recandidata pelo PSD e promete não aumentar impostos.
O meu jornal manda-me "tramar" Sócrates. É preciso ligar-lhe imediatamente e perguntar-lhe se, caso ganhe as eleições, vai subir os impostos. Mas que pergunta inteligente! Que armadilha bem montada! Pincéis desta marca sobravam sempre para mim. Como já aqui contei, as pessoas de bem, ou as pessoas de mal que faziam questão de uma fachada de bem, recusavam-se a falar com o 24horas: tinham consciência de que, se abrissem a boca, tudo o que dissessem poderia ser usado contra elas. E geralmente era. Nem que lhes telefonássemos apenas para saber as horas, haveria de sair dali cagada da grossa. Nós depois ligávamos a ventoinha e espalhávamos a merda. Dito de outra forma: as pessoas minimamente informadas fugiam de conversar connosco como o diabo foge da cruz. Umas tinham vergonha na cara ou medo e outras desprezavam-nos simplesmente. Umas e outras sabiam que as nossas perguntas tinham quase sempre volta de foda. Se desse jeito, pedíamos a A para falar de B, para a seguir metermos A e B no mesmo saco e malharmos nos dois como se fossem um só. Por outro lado havia quem fizesse tudo para aparecer.
Portanto o meu jornal manda-me "tramar" José Sócrates. É só ligar-lhe, a ele que nunca atende o 24horas e que escorna os jornalistas em geral por uma questão de princípio. Ligo, ligo, ligo, o dia inteiro. E nada e nada e nada, o dia inteiro. Ao pôr-do-sol tento o inimaginável truque, o long shot, como Lisboa gosta de me dizer e eu parto-me a rir: marco o número de Pedro Silva Pereira, o braço-direito de Sócrates, e sai-me do outro lado o Sócrates inteiro e desconfiado, num por acaso que me enche de adrenalina. Identifico-me, ele vai desligar de seguida, peço-lhe que não e faço-lhe a pergunta de um milhão de dólares: - Se vencer as eleições, se for para primeiro-ministro, vai subir os impostos?
José Sócrates não me manda àquela parte, mas podia, que eu não lhe levaria a mal. Ainda assim, empertiga-se, serigaita-se, despeita-se, esganiça-se e responde-me agressivamente: - Mas quem é que você é? E quem é que pensa que eu sou? Isso é uma pergunta ridícula. Acha mesmo que eu lhe vou responder? Sei muito bem o que quer, mas daqui não leva nada. Não lhe respondo. Acha que eu sou um principiante? E o senhor não tem nada de útil para fazer?...
Tenho. E faço. "Reformulo" e ponho pó de talco na pergunta: - Se o Senhor Engenheiro for o próximo primeiro-ministro, posto que ganhe as eleições, vai subir os impostos?
Sócrates quase que rebenta. Discutimos mais uns três minutos, tempo de um assalto no boxe, um a bater no ceguinho, o outro a agredir o invisual, eu não sabia que sabia discutir assim com cabeçudos, e ele desliga.
Saio dali exausto, nervoso e contente com a discussão. É ainda a adrenalina a mexer comigo. Geralmente o que (não) consegui é mais do que suficiente para ser a capa inteira do meu jornal no dia seguinte, em letras garrafais: "Sócrates entalado pelo 24horas" ou "24horas entala Sócrates" ou "Sócrates não responde ao 24horas" ou "Sócrates tem medo do 24horas" ou "24horas assusta Sócrates" ou.
Apresso-me a ligar para Lisboa. Conto a minha façanha, espero pelos parabéns. O chefe critica-me, irritado, "A resposta do gajo é inaceitável!", engulo em seco e explico ao chefe "Olha, foi o que eu disse ao gajo, que até ia da tua parte e que tu nunca na vida irias aceitar uma resposta assim, e que portanto ele que me dissesse mas é o que tu queres que ele diga, que até já tens o título feito e tudo, mas não adiantou..."
O meu textinho saiu a uma coluna numa página interior, provavelmente par. Do assunto da manchete desse dia não me lembro. Quanto a José Sócrates, por aí anda...

P.S. - Publicado originalmente no dia 18 de Maio de 2020, no meu blogue Tarrenego! José Sócrates ganhou as eleições em questão, sacando a primeira maioria absoluta para o PS. O resto é o que se sabe e o que mais virá a saber-se. Ou não. Hoje é Dia Internacional da Liberdade de Imprensa.

sábado, 8 de fevereiro de 2025

Marques Mendes, obviamente!

Foto Notícias de Fafe

Como é que pode fazer confusão a alguém que Antero Barbosa, presidente da Câmara de Fafe, tenha declarado pública e oficialmente o seu apoio à candidatura de Luís Marques Mendes à Presidência da República? Mas, então, um fafense ilustre, com provas dadas e conhecidas, com um currículo político invejável, avança para Belém como candidato sério, credível, com reais possibilidades, e o presidente da Câmara de Fafe - de Fafe, repito - vai apoiar quem? O senhor de Nevogilde? O Tozé de Penamacor? O Vitorino dos cifrões? Homessa! Por que carga de água? Por causa da partidarite? Ó valha-me Deus, trata-se da eleição para presidente da República! E, para além disso, como toda a gente sabe, o voto é secreto...

terça-feira, 9 de julho de 2024

O trabalhista fafense

Sei de um fafense antigo que, se fosse vivo, andaria agora por aí todo contente a festejar de porta em porta a vitória dos Trabalhistas ingleses. O famoso Castro Mendes de Travassós, o Velhinho, figura incontornável e carismática do antes e após 25 de Abril, desses intensos, gloriosos e dramáticos dias fafenses, era o nosso "trabalhista" de estimação e gritava "ganhámos!", "ganhámos!" sempre que o Labour vencia as eleições ou formava governo no Reino Unido.
O nosso herói era "trabalhista" porque, sendo salazarista, era trabalhador e pelos trabalhadores, isto é, pelo corporativismo fascista, o raciocínio pode parecer demasiado elaborado ou, por outro lado, simplista em excesso, mas não é, nem uma coisa nem outra. Vejamos: Trabalhistas portanto trabalhadores, viva Salazar!, e não era preciso ir mais longe.
A evangélica frase, na hora dos festejos, "Ide por esses tascos abaixo, comei, bebei e... pagai!" é historicamente atribuída a este extraordinário Castro Mendes, que eu ainda contactei no Liceu de Braga, onde ele era funcionário, se não estou em erro, e aliás acamaradei no seminário com um dos seus filhos.
O Velhinho era um figurão. Irredutível nas suas convicções, fiel aos seus inegociáveis princípios, toda a vida foi da situação, fosse qual fosse a situação. Ganhasse quem ganhasse, ele ganhava sempre, estava sempre ao lado dos vencedores. Era, a esse propósito, um intrépido praticante de varandismo e inflamado mandador de Vivas! Já no tempo da democracia, cheguei a vê-lo actuar na varanda do PS, em Fafe. Para além disso, sabia muito bem o que fazia e porquê, tinha um enorme sentido de humor e eu achava-lhe um piadão.
O varandista Castro Mendes era irmão do professor António Castro Mendes, considerado uma das maiores autoridades nacionais no ensino do Português, Latim, Grego ou Aramaico. Eram muito parecidos fisicamente, na marotice e até na tessitura vocal, abrangente, metálica, megafónica. Antigo padre e pregador afamado, o Dr. Castro Mendes foi meu mestre e amigo no Liceu de Guimarães. Falava, cheio de orgulho, do seu "melhor aluno de sempre", que não era eu, obviamente, eu era uma nódoa a Latim, mas um "rapazinho" também de Fafe chamado Luís Marques Mendes e a quem o experimentado professor, há quase 50 anos, augurava um grande futuro, apontando-o aos lugares mais altos da Nação. E estava certo.

terça-feira, 26 de março de 2024

As deputadas de Fafe em Lisboa

Pois lá tomaram posse as nossas duas deputadas. Duas fafenses na Assembleia da República, pelo menos para já: Vanessa Barata, do Chega, em estreia absoluta, e a social-democrata Clara Marques Mendes, de quem se diz que pode sair para ministra, pelo menos secretária de Estado, digo eu. Só foi peninha o despedimento de Pompeu Martins, que ia outra vez escondido nas listas do PS, e digo peninha não porque me tenha constado que ele fez alguma coisa digna de registo enquanto lá esteve, antes pelo contrário, disso parece que não pode ser acusado, tanto quanto sei, mas porque era assim que se dizia em Fafe antigamente, peninha, acentuando também o "é", pelo menos da boca para fora, e três sempre é melhor do que dois, quer-se dizer, do que duas, para além de que sou um profundo defensor da igualdade de género, e um homem, mesmo que só um para amostra, creio que compunha melhor o ramalhete...

terça-feira, 5 de março de 2024

E os carteiristas aqui tão perto

Sob o indubitável título "Cuidado com as carteiras!", eu escrevi aqui, no passado dia 28 de Fevereiro:

"Os carteiristas. Para quem não saiba, passo a informar e é de graça: os carteiristas são presença habitual, diria até obrigatória, nas campanhas eleitorais. Fazem parte. Sim, os carteiristas! Sorrateiros como uma corrente de ar, rápidos como um piscar de olhos, trabalham aos pares, às vezes em trio, organizados, distribuindo tarefas, exponenciando sinergias, intercomunicando-se via telemóvel, tomando conta das costas uns dos outros, de bandeira ao ombro e autocolante na lapela, fazendo-se passar por militantes ou simpatizantes, acompanhando as caravanas em todas as paragens e aproveitando-se das arruadas mais frequentadas, as passagens pelas feiras, como hoje em Fafe, ou comícios de maior aperto para então, como quem não quer a coisa, dar livre curso à insustentável arte do gesto leve. Sim senhor, os carteiristas! Como se já não bastassem os políticos propriamente ditos..."

Alguém ligou ao que eu escrevi? Ninguém. Resultado: Pedro Nuno Santos e o PS que o segue vieram no domingo a Guimarães, aqui ao lado, e, conta o JN, "a arruada pelas ruas estreitas do Centro Histórico ficou marcada pelo furto de várias carteiras a elementos da caravana socialista". Uma das vítimas - e esta parte, desculpem, mas até tem piada - foi o presidente da Câmara de Guimarães, Domingos Bragança.

Bruxedos e outros medos

Durante uma semana, um alguidar contendo um enorme galo sem cabeça e outras miudezas feiticeiras esteve em exposição no passeio junto ao por...