sábado, 29 de abril de 2023

Vem ao baile oh tens de vir

Foto Hernâni Von Doellinger

A menina dança?

- A menina dança?
- Não, muito obrigado.
- Não tem nada que agradecer.
- Mas eu faço questão.
- Coimbrã?
- Oliveira do Hospital, mais concretamente.

Um para o outro

- A menina dança?
- Não!
- É como eu. Fomos feitos um para o outro...

Mas com respeito...

- A menina valsa?
- Valso.
- E polca?
- Polco.
- E tuísta?
- Tuísto.
- E foxtrota?
- Foxtroto.
- E bolera?
- Bolero.
- E zumba?
- Zumbo.
- E rumba?
- Rumbo.
- E fandanga?
- Fandango.
- E vira?
- Viro.
- E tanga?
- Olha o respeito!...

P.S. - Hoje é Dia Internacional da Dança ou Dia Mundial da Dança.

sexta-feira, 28 de abril de 2023

Feiras Francas de Fafe, de 13 a 17 de Maio

Foto Hernâni Von Doellinger
Feiras Francas de Fafe, de 13 a 17 de Maio, com tenda principal montada no Parque da Cidade. Feira Rural, Feira das Coisas, Mercado Bio, vinhos e petiscos, noitadas, fado vadio, festival de folclore, animação de rua, cenas da vida do campo, jogos tradicionais, concurso pecuário, chega de bois, corrida de cavalos, as duas bandas de música da terra, Golães e Revelhe, e bombos, muitos bombos. Para além disso, os cantores Toy, Jorge Guerreiro, Rosinha e Cláudia Pascoal. Programa completo e mais informação, aqui.

A invenção da sogra

Consta que os muçulmanos introduziram a nora em Portugal. Gostaria de saber: e quem terão sido os tratantes que nos introduziram a sogra?

A minha sogra, eu, o canídeo e a porca

Todos os santos dias, não sei se por promessa, há um canídeo que, com vossa licença, caga ao portão da minha sogra. Todos os santos dias. Fica ali aquele montinho de merda, com vossa licença, às vezes dois ou três montinhos de merda, com vossa licença, ou quatro ou cinco, passeio adiante e organizados em filinha pirilau, porque o referido canídeo deve ser animal para comer à tripa-forra e evacua, com vossa licença, como verdadeiro cagante andante.
A minha sogra, que me dirige uma certa osga, pensava que era eu, para lhe fazer desfeita não sei de quê. E não foi fácil convencê-la de que, com vossa licença, aqueles saralhotos eram evidentemente, com vossa licença, saralhotos de canídeo. E eu sou balança.
Uma vez quase apanhei o infractor com as calças na mão: a merda, com vossa licença, ainda a fumegar, mas o canídeo já a descer o fim da rua com a dona pela trela, e dissesse eu o que dissesse estaria a falar para a central. Calei-me, portanto.
Portanto, calei-me, mas pus-me à tabela, agarrei-me ao Excel, recolhi e cruzei informações, fiz um horário e aqui atrasado apanhei-os em flagrante. À horinha, nem mais cedo nem mais tarde, abri de rompante o portão e lá estava a acontecer à minha frente: merda ao vivo, como eu previa e com vossa licença.
Fiz a cara de nojo que trazia ensaiada há mais de um ano, e disse:
- Então és tu, minha porca?!...
- Não é uma cadela, é um cão... - empertigou-se-me a dona, histericamente professoral.
- Mas eu não estava a falar para o canídeo, minha senhora...

P.S. - Hoje é Dia da Sogra. No Brasil.

quinta-feira, 27 de abril de 2023

Lá vamos cantando e rindo, outra vez?

Foto Expresso de Fafe
Havia necessidade? Havia mesmo necessidade de acordar fantasmas, de incendiar revivalismos bacocos, de lançar a confusão e alimentar a discórdia, de desensinar, logo agora em tempo de pós/pré-fascismo consoante o ponto de vista? Era assim tão imperioso desenterrar um dos velhos símbolos das bandeiras, estandartes e guiões da Legião Portuguesa e da Mocidade Portuguesa - a Cruz de Avis? Estamos assim tão saudosos da liturgia do Estado Novo? É preciso ser-se muito ignorante ou então distraído ou então tolo. Ou então tudo. E não me venham falar da farpela de Nuno Álvares Pereira, de semióticas e de ordens religiosas ou militares, que eu já dei para esse peditório, e estou farto de histórias. 
Vi esta tristeza há pouco, no Expresso de Fafe. Tanto quanto percebo, o novo velho "monumento" ficou ao léu exactamente no dia 25 de Abril, como um insulto porventura, a propósito da inauguração da Praça Santo Condestável, junto à Igreja Matriz. Mas o que quis com isto a Câmara de Fafe? Reabilitar, isso eu sei. Mas reabilitar o quê? Os antigos campos de milho do Costa do Assento ou a execrável ditadura e respectivo folclore?
Porra!, era mesmo necessário?...

O Magalhães da Circunvalação

E parece que foi ontem. No dia 21 de Outubro de 1520, mais de um ano após o início da primeira viagem de circum-navegação da Terra, o navegador português Fernão de Magalhães descobriu na ponta da América do Sul um estreito de passagem entre os oceanos Atlântico e Pacífico. O estreito passou a chamar-se de Magalhães, para não se confundir com o estreito do Antunes, que realmente parece um pau de virar tripas. Na cidade do Porto, em homenagem a tamanho cometimento, foi mandado construir uma avenida que ligasse o Campo 24 de Agosto ao falecido Estádio das Antas, a qual viria a revelar-se de uma paradigmática utilidade domingueira de quinze em quinze dias.
Mas, parecendo ter sido ontem, já foi há muito tempo. Quinhentos anos praticamente mais três. E hoje em dia vivemos tempos de profunda ignorância e vaidosa estupidez. Entre o Porto e Matosinhos, à porta dos liceus e das faculdades, nas galerias de arte, nos cafés, nas esquinas, nos autocarros, no metro e até nas trotinetas partilhadas, ouve-se apenas uma pergunta, que são três: - Mas afinal o que é que fez o Fernando Magalhães? Inventou a Circunvalação? E chama-se Viagem da Circunvalação porquê?...

Pois. O navegador Fernão de Magalhães, nascido provavelmente em Ponte da Barca, Alto Minho, em 1480, morreu em combate nas ilhas de São Lázaro, Filipinas, no dia 27 de Abril de 1521. Entre uma coisa e outra, descobriu, com efeito, a Circunvalação, numa longa viagem de fim de curso organizada entre 1519 e 1522 e que ele infelizmente não pôde concluir. Em todo o caso, meus senhores, a Circunvalação é realmente um mundo.

Descansando odisseias

Foto Hernâni Von Doellinger

quarta-feira, 26 de abril de 2023

O arrocho ia para a baliza

Hoje é Dia do Goleiro. No Brasil. Se fosse em Portugal, seria Dia do Guarda-Redes, o que em certa medida explica logo à nascença a suprema necessidade e a utilidade sem medida dessa coisa escaganifobética e sonsa a que certos doutores chamam acordo ortográfico. Falando à nossa moda, o guarda-redes é-o, regra geral, porque, no que diz respeito à bola, não serve para mais nada, não joga um caralho, não dá uma para a caixa, é um trambolho, um cepo, um arrocho, e por isso vai para a baliza. Ali pelo menos não estorva. E grita a torto e a direito "Sainde da frente!, Sainde da frente!", desarrumando imaginárias barreiras no miserável recreio da Escola Conde de Ferreira, no largo da Feira Velha ou entre as aprazíveis tílias do Santo Velho, fazendo todo o cuidado aos vidros da Milinha Modista, mas podia ser no Maracanã ou no Prater de Viena, era só pensar e escolher. Sei muito bem do que falo. E falo orgulhosamente por experiência própria, não sendo o único.
Albert Camus, Arthur Conan Doyle, Karol Wojtyla, o papa João Paulo II, que foi eleito santo, Che Guevara, Julio Iglesias e Luís Marques Mendes tentaram ser ou foram mesmo guarda-redes. Do Luisinho lembro-me eu muito bem, nas camadas jovens da nossa AD Fafe, que agora tem uma extraordinária SAD que parece que vai para Felgueiras, suponho que na velha carreira, ida e volta todos os dias, como faziam antigamente as pessoas sérias, isto é, as pessoas que têm só uma família e trabalham...
Sobre guarda-redes, percebia muito o David Alves, como sabia também da vida. E eu já aqui contei. E também já passei a limpo duas ou três definitivas ideias que concatenei sobre a problemática guarda-redística e suas derivadas e concomitantes subjacências. Embora, não é para me gabar, eu seja geralmente brilhante, admito que duas das melhores definições sobre o guarda-redes terão sido elaboradas pelos escritores Eduardo Galeano e Nelson Rodrigues. "Carrega nas costas o número 1. Primeiro a receber, primeiro a pagar. O goleiro sempre tem a culpa. E, se não tem, paga do mesmo jeito", sentenciou o uruguaio. Já o brasileiro Nelson Rodrigues afirmou um dia - "Amigos, eis a verdade eterna do futebol: o único responsável é o goleiro, ao passo que os outros, todos os outros, são uns irresponsáveis natos e hereditários."
Por mim, o que continua a interessar-se no ofício de guarda-redes é tentar perceber esse mistério do homem que entra em campo como "guardião", sim, chamam-lhe guardião, e sai do campo como "frangueiro", sim, chamam-lhe frangueiro, ao ex-guardião. Frangueiro e filho da.

Eu não dei para nada, nem para guarda-redes. Fui sempre uma nódoa, futebolisticamente falando, desportivamente falando. Mas sei muito bem de quem tinha jeito para tudo, era só chamá-lo, dar-lhe a experimentar, fosse o que fosse, e ele, pimba, era imediatamente um sucesso. Sem ir mais longe, chamo aqui, a esse propósito, o testemunho parceiro de Francisco Assis Pacheco, nas suas "Memórias de Um Craque". E ele conta assim:

De como fiz a minha iniciação desportiva, hesitando entre a arte de guarda-redes e a de pedróbolo da quinta do Lopes

O Eusébio marca livres de 30 metros, o Artur Jorge chuta em moinho, o Dinis faz fintas à bandeirola de canto, mas eu fui o maior craque da Rua Guerra Junqueiro e está para nascer um sucessor digno desse título.
A Rua Guerra Junqueira continua no mesmo sítio, isto é, em Coimbra, capital da Beira Litoral, e creio que já de nascença tinha o quintal do Luís Marques (12x2,5m) com a parede do prédio à esquerda de quem desce as escadas e um muro infelizmente não muito alto à direita, que era por onde galgávamos para o quintal do Lopes à procura da chincha. Uma tarde, estava o craque nos cinco anos, ouviu-se a frase entre todas decisiva:
"E se o miúdo jogasse à baliza?"

Vi-me subitamente presenteado com um boné e dois lenços de assoar para as joelheiras. A maltózia era mais velha, nove, dez anos, e num relance percebi que o meu futuro desportivo, assaz brilhante nas épocas seguintes, poderia nem sequer começar. Ora como isto de futebóis mais vale um mergulho para o fotógrafo do que dois meses no banco dos suplentes, o craque enfiou o boné bem enfiado na tola, arreganhou o pior dos sorrisos (grr!) e dispôs-se a gravar o nome completo sobre o cimento do quintal. É claro que a minha equipa ganhou: nem seria nunca de outro modo, pois logo à pri­meira investida do Tó Mané Magalhães esfola gatos mata cães fui­-me a ele, encostei delicadamente a biqueira do sapato esquerdo ao tornozelo do artista, fiz força (uma força "do catarino", como então se dizia) e apliquei-lhe o acelerador com algumas ganas e sobeja intenção de brilhar. O Tó Mané desandou para as escadas agar­rado ao tornozelo. Perguntaram-lhe se queria que trouxessem a bilha de água.
"Quero, pois", urrou. "Quero a bilha e quero um calhau pra partir os focinhos a esse gajo do cento e dezoito!"
Nessa tarde, afora o incidente relatado supra, correu tudo à me­dida dos meus mais veementes desejos: cinco defesas em reboleta, três por cima das sardinheiras, enfim um penáltie socado por cima do muro que ainda estou a ver o Luís Marques muito chagado ex­plicando-me assim:
"Vais lá tu que é pr'aprenderes a não armar ao Barrigana, òviste?" Fui, sim senhor, e deliciado. Daí a pouco terminava o prélio: vi­tória dos Portas Pares, um convite ad aeternum para aparecer sempre que entendesse. Durante mais de sete anos não faltei ao compro­misso.

Como depois da jogatana era preciso secar as camisas, Luís Marques e seus muchachos costumavam trespassar-se até ao quin­tal do Lopes e entreter os derradeiros ócios antes da sopa da noite com um exercício de arremesso. Destarte me tornei o mais artilheiro dos pedróbolos da rua, com um saldo de catorze gatos só na semana de estreia. Quando ouço contar que o Zsivotzky lança o martelo a - setenta metros e tal, batendo com isso os máximos reconhecidos e a reconhecer, debruço-me na janela da Travessa do Patrocínio e,

deitando a bia fora, ponho-me a pensar em quanto é cruel o mundo dos homens. Um recordista mundial que não dá nem uma calhoada num gato - então isto chama-se pontaria?

Foram soldados 12

Foto Tarrenego!
A Guerra Colonial contada pelas fotografias do arquivo pessoal do pára-quedista fafense Álvaro Magalhães.

terça-feira, 25 de abril de 2023

De que serve?

25 de Abril

De que servem as pernas, se não puder andar?
De que servem os dedos, se não puder tocar?
De que servem os ouvidos, se não puder escutar?
De que serve o coração, se não puder amar?

De que servem os estudos, se não puder ler?
De que servem os olhos, se não puder ver?
De que serve a democracia, se não puder ter?
De que serve a liberdade, se não puder ser?

(Recebi do Pedro Dantas, como "comentário". Mas acho que deve estar aqui.)

25 de Abril e coisa e tal

É o que estou farto de dizer. Vinte e cinco de Abril sempre, nem que seja só às vezes.

A sorte do 25 de Abril

A sorte do 25 de Abril é que foi levado a efeito no dia certo. Calha sempre ao feriado e isso é de toda a conveniência sobretudo para o povo que faz questão. Agora imaginem que tinha sido a 24...

E se?

E se o 25 de Abril fosse a 25 de Maio e o 1.º de Maio fosse no dia 1 de Abril? Alguém nos tinha andado a enganar, não é?

O mal do 25 de Abril

O mal do 25 de Abril é que é só hoje. Amanhã é outra vez 28 de Maio. O ano inteiro.

segunda-feira, 24 de abril de 2023

A papelada era com o Sr. Armindo Bristol

A minha mulher meteu os papéis para a reforma nos finais do ano passado. Isto é, mandou a papelada para baixo, como se dizia antigamente em Fafe e quem tratava do assunto era o Sr. Armindo Bristol, pai do Armindo Cinco-Coroas, príncipes do velho Picotalho e gente do melhor que possa haver no mundo inteiro. O Sr. Armindo pai, homem letrado e bom, vestia fato e sobretudo e despachava na mesa do tasco muito limpa e organizada em envelopes, folhas de papel de 25 linhas, folhas de papel selado, cédulas pessoais, bilhetes de identidade, cartões da Caixa, recibos, atestados médicos, provas de vida, recomendações do presidente da Junta, do regedor e do bufo da Pide, a bênção do senhor abade, selos dos Correios e estampilhas fiscais, uma caneca de verde tinto e quero crer que escrevia com caneta de tinta permanente. O Sr. Armindo, figura excelentíssima que um dia espero contar melhor, passou uma porrada de anos no sanatório e foi lá que se formou em burocracia e ajuda aos outros. Quando tornou a casa, salvou o resto das vidas de milhares de fafenses desinformados, abandonados, assustados e analfabetos. Serviço prestado a troco de um quartilho, por um punhado de moedas ou por uma nota de vinte, consoante as posses dos desgraçados requerentes e da previsão da tença a haver, ou então por nada, apenas por um obrigado, um Deus lhe pague, uma mãozada, ficamos assim e não se fala mais nisso, porque na nossa terra, naquele tempo, abundava quem não tivesse dinheiro sequer para assobiar em cuecas, e o Sr. Armindo sabia disso e fazia caso. 
Mas nós, a minha mulher e eu, antes que me perca outra vez. Como ia dizendo, ela meteu os papéis, estava tudo certo, e em Janeiro ficou livre. Eu, como muito bem sabe quem me conhece mais ou menos, estou praticamente reformado desde que nasci, e livre sempre. Libertos os dois, podemos enfim realizar todos os sonhos de duas vidas inteiras que são só uma e vai a meio. Organizámos logo a primeira semana do ano, não sei se se lembram, chamando-lhe, muito originalmente, "a primeira semana do resto das nossas vidas". Agendámos viagens a Nova Iorque, a Londres e a Paris. Aos Himalaias e aos Apalaches. E à Conga, na portuense Rua do Bonjardim, para comermos duas ou três bifanas e talvez também uma codorniz. Isto só para a primeira semana. Mas, como igualmente admitíamos, o tempo não chega para tudo, e portanto que se segue? Entramos hoje na décima sétima semana do resto das nossas vidas, fomos um par de vezes à Conga, de metro para lá e de autocarro para cá, e por acaso também tem sido porreiro.

P.S. - Hoje é Dia do Agente de Viagens. No Brasil.

Eles andam por aí

Foto Hernâni Von Doellinger
E já vai há tanto tempo, que até parece que nada mudou. Portugal era o país dos três efes: futebol, fado e Fátima. E dos três pês: pobres, pobres, pobres. E dos três esses: Salazar! Salazar! Salazar! E confere. Hoje em dia só falta o velho, não é?, mas não faltam candidatos...

domingo, 23 de abril de 2023

O livro

Chegou à última página com o coração dilacerado entre a euforia e o desalento. Que mundo extraordinário, o livro. Quinhentas e sessenta e três páginas cheias de mistério, de sonho, de imaginação, de fantasia, certamente romance, amores e desamores, aventuras e desventuras, acção, suspense, final previsto e inesperado, feliz. Por outro lado, pensou, acariciando-lhe vagarosamente a lombada macia, num gemido mal disfarçado de suspiro: - Ah, se eu soubesse ler!...

P.S. - Hoje é Dia Mundial do Livro.

Olraitecamoniésse!

Quando fazia de jogador do pau e estava decentemente avinhado, o meu avô de Basto tinha um grito de guerra que era "Olraitecamoniésse!", e depois partia para a pancada, varrendo feiras e romarias. E tinha também um cão de pele e osso ao qual dera o nome de Tuísta, que queria dizer Twist. O meu querido avô de Basto era anglófilo americanado e não sabia. De americano, o Bô só conhecia o vinho, e talvez o João Massagista, mas desta parte não tenho a certeza.

Grazie verigude!

A inglesinha abeirou-se-me sorridente e de mapa na mão, meio perdida, pedindo-me que eu lhe dissesse onde é que ela estava. Indiquei-lhe: estávamos, ela e eu, em Matosinhos, exactamente no cruzamento da Rua do Godinho com a Avenida de Serpa Pinto, que, por sorte, era mesmo o sítio que ela queria. Alargando o sorriso, bonito, a inglesinha simpática fez "Hã... hã... hã...", à procura da palavra certa, e, no seu melhor português, bem treinado, saiu-se finalmente, toda satisfeita: - Grazie!
Vá lá, podia ter sido pior. Se me tivesse atirado por exemplo "Muchas gracias!", abanando castanholas, eu ficaria realmente fodido...

P.S. - Hoje é Dia da Língua Inglesa. E Dia da Língua Espanhola. E também é Dia Mundial do Escutismo. E Dia de São Jorge, que tinha um monte muito jeitoso em Fafe, mas mandaram-no abaixo. Ao monte.

Foram soldados 11

Foto Tarrenego!
A Guerra Colonial contada pelas fotografias do arquivo pessoal do pára-quedista fafense Álvaro Magalhães.

sábado, 22 de abril de 2023

Os comedores

O Dias fazia anos. E foi celebrar ao famoso restaurante. O Dias mais a namorada, e digo que era namorada porque a senhora fartava-se de chamar "ó mor" ao Dias e se lhe fosse por exemplo esposa chamar-lhe-ia outra coisa, isso tirava-se pela pinta. O Dias mais a namorada, portanto, apadrinhados por outros dois casais amigos e cúmplices, percebia-se, de velhas aventuras pelo menos gastronómicas. Um belo grupo: seis convivas praticamente vetustos mas, é preciso que se note, em razoável estado de conservação. O Dias fazia certamente 75 anos porque não se cansava de repetir que fazia 57 e bastava olhar para ele para se catrapiscar logo a pilhéria. Imagino o forrobodó que não terá sido quando ele fez 69! O Dias vestia um impecável casaco vermelho amaranto sobremaneira alusivo à efeméride e absolutamente adequado caso, nunca se sabe, fosse necessário por exemplo dar uma mãozinha ao serviço.
O Dias é que mandava, e mandava muito alto, porque ele, avisou, é que ia pagar. Mandou vir Alvarinho, "para começar", e encomendou três doses de bacalhau assado. Fez muito bem. Aquele restaurante prepara, de facto, o melhor bacalhau assado na brasa do mundo. Vieram duas travessas: uma, enorme, com duas doses, e outra, normal, com a outra dose, tudo ao mesmo tempo. Informa-se, a propósito, que uma dose de bacalhau dá para duas pessoas que comam muito e ainda cresce. Que se segue? Comeu-se e bebeu-se ali com considerável galhardia, que apetite não faltava, graças a Deus, àqueles seis. A travessa grande ficou vazia, na travessa normal sobrou uma lasca mínima de bacalhau, da parte mais fina.
Passou o proprietário do estabelecimento, o Sr. A., na sua sacramental ronda por todas as mesas, e, à vista de tamanha limpeza, perguntou, como sempre faz questão de perguntar, satisfeito e simpático: - O bacalhauzinho estava bom?...
Que sim. "Excelente!", "Uma maravilha!", "Não podia estar melhor!", "Fantástico!", "Divinal!" - disseram todos à uma mas cada um à sua. Todos, menos a namorada do Dias, que se batera ferozmente com a dose singela e pediu licença para falar à parte, perante o evidente embaraço e os maldisfarçados safanões dos outros cinco, inclusive o Dias, que a mandava calar, mas sem efeito.
- Sou muito franca! - começou ela. - Eu não digo o que não é, só para agradar, e o meu bacalhau estava deslavado, desenxabido... - sentenciou.
O Sr. A. encaixou, pediu desculpa, explicou, que isto, com as toneladas de bacalhau que ali se demolham semanalmente, às vezes pode acontecer, porque o bacalhau é um material muito ingrato de trabalhar, só na mesa é que se lhe pode tirar a prova dos noves, mas tudo se resolve e ia mandar servir uma nova posta, oferta da casa, e não se fala mais nisso.
Que não. Que não era preciso, que estava tudo muito bem, ela é que tem a mania, atiraram os outros, manifestamente envergonhados. Mas o Sr. A. insistia. E eles, que não. E o Sr. A., que sim. E eles, que não. Que sim. Que não. Que sim. Até que o Dias, reassumindo corajosamente o controlo da mesa e da situação, sugeriu, como quem faz um favor à casa, que só se fosse uma dose de costelinha, em vez da posta de bacalhau...
E sugeriu muito bem. Porque aquele restaurante prepara também, de facto, as melhores costelas assadas na brasa do mundo. E de borla, então nem se fala. Pois vieram as costelinhas, desapareceram num lampo, as batatas fritas também, e toda a gente acabou lambendo os beiços. Toda a gente menos a namorada do Dias, que continuava inconsolada, lamentosa, protestando agora derivado aos ossos. Isso, as costelas tinham osso, eram ossos praticamente, ossos rodeados por um pouco de carne, e ela não podia deixar passar em claro um escândalo de semelhante dimensão...

Foram soldados 10

Foto Tarrenego!
A Guerra Colonial contada pelas fotografias do arquivo pessoal do pára-quedista fafense Álvaro Magalhães.

sexta-feira, 21 de abril de 2023

Por estes, que a terra há-de comer

Quem, por precisar, frequenta regularmente oftalmologistas, optometristas e oculistas, sabe muito bem do que eu vou falar. Os óculos. Os óculos estão pela hora da morte. Um par de óculos de apenas razoável qualidade, fiável assim-assim, de linhas mais ou menos actualizadas, custa-nos os olhos da cara. O que se paga por um par de óculos dá para comprar um carro em segunda mão. Ou, em alguns casos, até dois carros em segunda mão. E foi o que eu fiz: mandei foder os óculos, que a mim ninguém me leva, peguei no dinheiro que lhes tinha destinado e adquiri pela internet uma viatura "em razoável estado de conservação e óptimo consumo". Fiquei muito bem servido. Por outro lado, não sei conduzir, o automóvel nem sequer pega e eu praticamente não vejo...

Na marmita

Depois de ter inventado uma marmita, Papin marcou 30 golos em 54 jogos realizados pela selecção francesa.

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Criatividade e Inovação.

quinta-feira, 20 de abril de 2023

quarta-feira, 19 de abril de 2023

Foram soldados 8

Foto Tarrenego!
A Guerra Colonial contada pelas fotografias do arquivo pessoal do pára-quedista fafense Álvaro Magalhães.

O mundo e mais nada

Como aprendi no cinema, o mundo divide-se em duas partes: polícias e ladrões, índios e cobóis. O resto é desculpa, distracção...

P.S. - Hoje é Dia do Índio. No continente americano.

terça-feira, 18 de abril de 2023

Foram soldados 7

Foto Tarrenego!
A Guerra Colonial contada pelas fotografias do arquivo pessoal do pára-quedista fafense Álvaro Magalhães. Aqui, o descanso do guerreiro...

segunda-feira, 17 de abril de 2023

Foram soldados 6

Foto Hernâni Von Doellinger
A Guerra Colonial contada pelas fotografias do arquivo pessoal do pára-quedista fafense Álvaro Magalhães.

O nosso homem no terreno

Quando ela falava do seu homem no terreno, havia logo quem imaginasse histórias de espiões, acção, aventura e romance. Mas não. Ela falava do marido e da hortazita que o desgraçado fabricava nas traseiras da casa em horário pós-laboral.

P.S. - Dia Internacional de Luta dos Trabalhadores do Campo. No Brasil. 

O mito urbano e o mito rural

- Faz favor de desculpar, o senhor é o tipo do mito urbano, não é?
- Mito quê?
- Mito urbano. Urbano. Citadino, civilizado, cortês, polido, gafonha, urbanita, urbícola, correcto, afável, aprazível, fruitivo, lisonjeiro, mavioso, amorável, charmoso, peralta, lhano, tirone, refinado, esticadinho, delicioso, educado...
- O que são as palavras, veja lá o senhor. Não, não sou o tipo do mito urbano. Na verdade fiz-me homem em São Miguel do Monte, concelho de Fafe, sou portanto e pelo contrário, se me está a acompanhar, o mito do tipo rural.
- Tipo quê?
- Tipo rural. Rural. Rústico, rusticano, aldeão, camponês, campino, campesino, campesinho, campestre, campónio, agrário, casca-grossa, labrego, parolo, lavrador, grosseiro, bruto, boçal, besta, bronco, grunho, labrego, malcriado...
- Realmente o que são as palavras. Mas é tão parecido com ele...
- Porém, não sou ele. Por favor, não me comprometa. Se o senhor disser que eu sou ele, eu nego. Ene-é-gê-ó. Nego!
- Palavra de honra, aqui que ninguém nos ouve, o senhor nunca foi o tipo do mito urbano nem por um bocadinho? Ande lá...
- Nunca, meu caro senhor. Aliás, se me permite, desafio qualquer um a recordar alguma intervenção ou escrito que eu tenha protagonizado nesse exacto sentido e que, de uma ou outra forma, me possa conectar a essa lamentável problemática. Desafio. Eu sou o mito, não sou o tipo, e ponto final.

domingo, 16 de abril de 2023

Foram soldados 5

Foto Tarrenego!
A Guerra Colonial contada pelas fotografias do arquivo pessoal do pára-quedista fafense Álvaro Magalhães.

Lágrimas amargas por Marcelo

Junho de 1973. De visita a Londres, Marcelo é recebido por uma manifestação de protesto contra a presença de Portugal nas então chamadas províncias ultramarinas e, de uma forma geral, contra a política africana do Governo português. "Portugal no more massacres. Get out of Africa now!", lê-se em alguns cartazes de más-vindas. Eu nem queria acreditar. Fiquei de todo. Os meus olhos, virgens e patrióticos como eu inteiro, viam a preto-e-branco o que se passava no televisor do bar dos Bombeiros de Fafe, que eu tinha só para mim naquela clandestina hora do meio-dia, e a revolta transformava-se-me inesperadamente em choro. Chorei de raiva, dorido pelo Senhor Presidente do Conselho. Como se atreviam aqueles gajos?! Que vergonha! Que falta de respeito! Angola é nossa e ponto final, ainda que o caso fosse particularmente Moçambique.

No regresso a Lisboa, Marcelo foi graças a Deus surpreendido por uma manifestação espontânea muito bem organizada, uma manifestação a bem da Nação, de desagravo pessoal e de apoio às políticas africanas do Governo, uma manifestação contra a manifestação de Londres, mas com muito mais povo, muitas mais camionetas, muitos mais letreiros, muitos mais garrafões de vinho e salpicões e muitos mais Vivas!, toma lá ò camone a ver se gostas...
"Não esperava esta manifestação, mas compreendo-a", dizia modesto Marcelo, do alto da varanda do Palácio de São Bento, rodeado pelos pândegos mandadores de Vivas!, assim à moda do nosso "Velhinho" Castro Mendes, de Travassós, "ide por esses tascos abaixo, comei, bebei e pagai". E depois Marcelo falou de política, mas isso já não me interessava. Eu estava outra vez comovido, agora de auto-satisfação nacionalista, de respeitoso respeito a Sua Excelência. Quem me dera estar lá também com o garrafão. Ainda por cima eu nunca tinha ido a Lisboa e o vinho, certamente como a viagem, devia ser também de graça. Chorei, pois claro que chorei, e as lágrimas já me toldavam o preto-e-branco do aparelho, mas saí dali de alma lavada e, se querem que lhes diga (e ainda que não queiram), também eu algo desagravado. E então ri-me. Junho de 1973. O Marcelo era Caetano e eu, burro como uma porta, ainda não sabia nada.

P.S. - A evangélica frase "Ide por esses tascos abaixo, comei, bebei e... pagai!" é, com efeito, historicamente atribuída ao extraordinário Castro Mendes, uma figura incontornável e marcante daqueles dias fafenses e dos que se lhes seguiram logo após o 25 de Abril. Um figurão! Irredutível nas suas convicções, fiel aos seus inegociáveis princípios, o nosso herói sempre foi da situação, fosse qual fosse a situação. Ganhasse quem ganhasse, ele ganhava sempre, estava sempre ao lado dos vencedores. Era, a esse propósito, um intrépido praticante de varandismo e inflamado mandador de Vivas! Para além disso, sabia muito bem o que fazia e porquê, tinha um enorme sentido de humor e eu achava-lhe um piadão.

sábado, 15 de abril de 2023

Fafe lés-a-lés

Desenho Nestinho
Não sei se se lembram. O 15.º Portugal de Lés-a-Lés arrancou em Fafe no dia 8 de Junho de 2013. No road book da famosa maratona motard, a voltinha do prólogo foi assim pormenorizadamente desenhada pelo inimitável traço do Nestinho, isto é, do Ernesto Brochado, um verdadeiro apaixonado por Fafe, provavelmente a figura mais conhecida e respeitada do mototurismo nacional, dirigente do Moto Clube do Porto e da Federação de Motociclismo de Portugal, alma mater e organizador crónico do extraordinário Lés-a-Lés e de dezenas de outras iniciativas do género e de menor dimensão. O Portugal de Lés-a-Lés é o maior evento mototurístico da Europa. A edição daquele ano contou com 1.130 inscritos e 1.000 motos. Somando os elementos da organização, estiveram envolvidas, no total, 1.200 pessoas e 1.060 motos, que percorreram, em três dias, 1.050 quilómetros por estradas, estradinhas, aldeias, vales e montanhas, grutas, monumentos e centros históricos, ao encontro de um país por descobrir.

P.S. - Hoje é Dia Mundial do Desenhador. Ou Dia do Desenhista, se for no Brasil. E também é Dia Mundial da Arte. Em todo o caso, é Dia do Nestinho.

Yabba dabba doo!!!...

Desenho Nestinho
Já não bastavam o ciclismo, o atletismo, o halterofilismo, o futebol, o tiro, a natação, o basquetebol, o basebol, o ténis, o futebol americano, o judo, a canoagem, o bilhar, a luta greco-romana, o voleibol, o remo, a vela, o kickboxing, o chinquilho, a bisca lambida e a ginástica. Agora também a Fórmula 1. 
O escândalo vai rebentar um destes dias, mas estamos em condições de adiantar o que lamentavelmente se passa com a especialidade rainha do desporto automóvel: estão a ver o ciclismo, aquela coisa do motorzinho escondido dentro da bicicleta a que os entendidos dão o curioso nome de doping mecânico? Pois na Fórmula 1 é exactamente o mesmo, mas completamente diferente. Tanto quanto conseguimos apurar, os pilotos - os pilotos batoteiros, diga-se em abono da verdade - têm disfarçado por debaixo do tapete um pequeno alçapão que abrem sobretudo em recta, quando vão a mais de 340 km/hora mas não estão suficientemente próximos do carro da frente para poderem usar o DRS, doping legal de ultrapassagem. Abrem o alçapão, dizia, e chispam os pés no alcatrão como se estivessem a correr os 100 metros nos Jogos Olímpicos, chegando com este plus aos quase 390 km/hora, não sei se estão a ver como fazia o Fred dos Flintstones...
A Fórmula 1 anda realmente uma chatice, mas especialistas anónimos chamam a isto doping humano e não concordam. E o senhor Ecclestone, que já não risca mas palpita, está fulo. Diz que, com ele, no que respeita a doping, de viagra para cima, tolerância zero...

- Vai chover... - Vai tu!

Desenho Nestinho
Agosto de 2020, em plena pandemia. Os primeiros pingos de chuva daquele Inverno a meio do Verão assustaram-me inusitadamente. Isto é: para além dos pés, molharam-me a máscara, e a verdade é que eu não sabia se as máscaras molhadas também funcionam ou se gripam, e depois ainda é preciso pô-las a secar e esperar que venha o sol e esperar que sequem. Ou não? Húmidas será melhor, como com os incêndios e com o fumo e com o sexo? E não haveria maneira de fazer máscaras à prova de água (ou waterproof, como se diz em português contemporâneo)? E no Carnaval como é que iriam ser as máscaras? Máscaras com máscaras? Estão a ver a minha angústia, o meu medo de morrer de nariz ao léu, e a máscara a pingar?...
Então o que é que eu fiz? Peguei e desatei a correr de volta para casa e nunca mais saí para ir à padaria. Durante mais de quinze dias comemos as sardinhas assadas e o bacalhau frito com bolachas Maria. Torradas. Que tínhamos açambarcado.
Por outro lado, liguei ao meu amigo Ernesto Brochado a pedir-lhe ajuda. O Nestinho costuma acudir-me satisfatoriamente em semelhantes aflições. Expliquei-lhe o meu problema, a minha ânsia, trocámos algumas ideias, e, como se vê ali em cima, saiu esplendorosa a solução que então demos a conhecer ao mundo, num rigoroso exclusivo. Entretanto, registámos a patente, tivemos milhões de encomendas, vendemos triliões de kits, é assim que se diz, enchemos a carteira e estou finalmente rico, para que é que hei-de mentir?

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Foram soldados 4

Foto Tarrenego!
A Guerra Colonial contada pelas fotografias do arquivo pessoal do pára-quedista fafense Álvaro Magalhães.

Era um homem muito antigo

Ele era um homem muito antigo. Do tempo em que os jornais escreviam notícias. E ele percebia. Depois os jornais começaram a publicar vídeos. E ele deixou de perceber.

A esse respeito. Contam as efemérides que no dia 14 de Abril de 1863 nasceu a primeira máquina rotativa para imprimir jornais com alimentação contínua e automática de papel, impressão nas duas faces e corte automático. Faz hoje exactamente 160 anos.

quinta-feira, 13 de abril de 2023

Dava-te um beijo, mas não tenho...

Dizem-me que as palavras já não valem nada. Mentira. As palavras são cada vez mais poderosas, as palavras dominam as nossas vidas. As palavras até tomaram o lugar dos afectos, dos carinhos. Reparem. Antigamente davam-se beijos, davam-se abraços. Agora dizem-se beijos, dizem-se abraços. O gesto ancestral e puro foi substituído pela retórica etiquetada, o contacto físico acabou vergado ao esboço da intenção - à simulação. À dissimulação?
Dizemos "Beijinhos", dizemos "Abraço", dizemos olá de boca, e assim ficamos. Pelas palavras. Beijos e abraços são só vocábulos, paleio. Mantemos uma distância alegadamente higiénica entre nós, os alegados amigos uns dos outros. Dizemos. Enviamos. Remetemos. Aproveitamos a oportunidade para. Ao telefone, por escrito, ao vivo na pressa da rua, na patetice dos emojis. Dar a sério (à séria, se lido em Lisboa) é que não. Ninguém dá nada a ninguém - nem sequer beijos, nem sequer abraços. Fazemos votos de. "O que lhe estimo é um magnífico beijo", "Desejo-lhe um excelentíssimo abraço". E nisto estamos.
É. Olhem bem à volta: as palavras estão em alta, navegam de vento em popa. As palavras. O que verdadeiramente está em crise é a palavra, a palavra singular e definitiva, essa vaga memória de uma honra démodée que se arrasta pelas ruas da amargura - abandonada, pobre, cega e nua. Mas isto, claro, sou eu a dizer e são apenas... palavras, palavras, palavras.

Foram soldados 3

Foto Tarrenego!
A Guerra Colonial contada pelas fotografias do arquivo pessoal do pára-quedista fafense Álvaro Magalhães.

terça-feira, 11 de abril de 2023

O turismo, por exemplo

- Profissão?
- Turista.
- E que tal?
- Vai-se andando...

P.S. - Leio que o "município de Fafe promove ações de formação para profissionais e empresas do setor do turismo". Acho muito bem. E espero que não estraguem. Mais.

No país dos setores

Há o setor público e o setor privado. O setor público ensina sobretudo em escolas do Estado e o setor privado em colégios fardados e universidades altamente propinadas. Há também, por exemplo, o setor da saúde, que, regra geral, é médico. O setor da saúde também pode ser público ou privado. Ou público e privado, que isto a vida custa a todos. Quanto às setoras, também há-as e costumam ser professoras.

P.S. - Isto a propósito das "ações" de formação e do "setor" do turismo supracitados. O setor do turismo tem geralmente uma licenciatura de três anos. Ou, vá lá, de seis semestres, para parecer mais.

Foram soldados

Foto Tarrenego!
Retomo para estes dias a publicação ou republicação do expressivo conjunto de fotografias relativas à Guerra Colonial pertencente ao arquivo pessoal do pára-quedista fafense Álvaro Magalhães. O Álvaro, protagonista na maioria dos registos, era, para que os fafenses mais modernos saibam quem, o "Foto Álvaro", da Avenida de São Jorge. E era, é, meu cunhado.

segunda-feira, 10 de abril de 2023

Jesus Cristo, procura-se!

A polícia anda à procura de Jesus. O Ministério Público pretende acusá-l'O dos crimes de promoção de ajuntamento em Mt 15, 29-39, incentivo à violência em Jo 8, 7 e subtracção e ocultação de cadáver em Lc 24, 1-3.

Golfe, mas com moderação

Depois do quinto shot, o famoso jogador de golfe já via tudo a dobrar. O buraco 17 parecia-lhe o 34, o que é manifestamente irregular.

P.S. - Hoje é Dia do Golfista.

Uma certa pancada

Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 8 de abril de 2023

Marques do Correio

Foto Hernâni Von Doellinger
O Marques do Correio aposentou-se ao fim de quase 50 anos de serviço nos CTT. Figura popular e generosa, profissional de uma competência insuperável, admirado e estimado dentro e fora do serviço, em Portugal e até no estrangeiro, o velho Marques ficou conhecido sobretudo por ter inspirado uma bonita cantiga celebrizada pela voz extensa e quente de Alberto Ribeiro e intitulada, nem de propósito, "Marques do Correio", derivado exactamente ao Marques propriamente dito.

P.S. - Hoje é Dia do Correio. No Brasil.

sexta-feira, 7 de abril de 2023

Jesus, Jesus, o que sente neste momento?

Se fosse hoje, a CMTV transmitiria em directo a paixão e morte de Jesus Cristo. Reportagem de Tânia Laranjo, no local, ou pelo menos o nome de Tânia Laranjo no local, e comentários e molduras penais a cargo do ex-ministro Rui Pereira, em estúdio. Ou em casa, por teletrabalho, com uma inapelável biblioteca atrás das costas.

Certidão de óbvio

As autoridades compareceram no local e confirmaram o óbvio: o morto já se encontrava cadáver. É daí que vem.

Pérolas e mais pérolas

Dos "agentes da PJ à paisana" aos "carros da PJ descaracterizados", passando pelos suspeitos que "tapam a cara com o rosto", tem sido um fartote!

P.S. - Hoje é Dia do Jornalista e Dia do Médico Legista. No Brasil.

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Era o Lopes

Eu levo os telemóveis muito a sério (à séria, se lido em Lisboa). Se o meu telemóvel toca, e é raro, eu atendo. Sempre. Ainda ontem: eu estava aqui nas traseiras, por acaso sem o telemóvel à mão, e ouvi-o tocar na cozinha, virada para a rua. Fui lá a correr: não era o telemóvel, era a máquina de lavar roupa, que as máquinas de lavar roupa agora também tocam. O que é que eu fiz? Atendi a máquina de lavar roupa, evidentemente, e era o Lopes...

P.S. - Hoje é Dia das Telecomunicações. Pelo menos no Brasil.

Quando o telefone toca

O telefone toca, a gente atende num susto, e o que é que faz? A gente, quero dizer nós todos, os portugueses de um modo geral. Posto isto - então o que é que a gente faz? A gente agarra-se ao telefone com as duas mãos numa aflição que Deus me livre, e pergunta para o outro lado, aos gritos e falta de ar: - Estou?! Estou??!! Estou???!!! A gente tem medo de não estar. Precisamos de confirmação. Ó insegurança! Ó angústia existencial! Ó compinchas caguinchas! Que é das armas e dos barões assinalados? Que é dos heróis do mar, nobre pobre, nação valente?

E nisto estamos. Ou não estaremos?

Se bem me lembro

Foto Hernâni Von Doellinger

terça-feira, 4 de abril de 2023

O bom, o mau e o sermão

"Não oponhais resistência ao mau; se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra", ensinou Jesus no Sermão da Montanha (Mt 5, 39). Ora isto de querer fazer de nós bonzinhos à força parece-me um perigoso incitamento à violência. À violência do outro, do mau. Que ainda por cima vai ser mais mau pela segunda vez, e por nossa culpa, nossa tão grande culpa.

Melhores dias Verão

Foto Hernâni Von Doellinger

segunda-feira, 3 de abril de 2023

Ser rico é dever (muito!) dinheiro

Olhemos para Joe Berardo exactamente. Berardo fez-se milionário sob o alto patrocínio da Caixa Geral de Depósitos. Sei isto de fonte segura: foi o próprio Berardo quem mo contou. A sua primeira poupança foi uma conta que a mãe lhe abriu na Caixa, em 1962, na Madeira, com dois mil escudos, teria ele então 18 anos. Dez euros ao preço actual, uma semente. Uma conta que se manteve aberta e que nunca parou de crescer. Um casamento frutuoso, posto que de conveniência. O saldo de Berardo na Caixa já ia aqui atrasado em mais de 280 milhões de euros, realmente uma fortuna, mas de dívida. Joe Berardo devia ao banco público mais de 280 milhões de euros, que se soubesse até àquele então, na sequência de empréstimos manhosos que lhe deram de mão beijada e que ele agora não consegue ou não lhe apetece pagar. À banca portuguesa em geral, o comendador Berardo deve quase mil milhões de euros. Uma batelada de massa de que eu nem faço ideia. E tudo começou com apenas dois contos. Parece ilusionismo, número de circo. É por isso que ele se ri tanto e faz pouco do País. Ele é o homem que conseguiu dar o golpe do baú... à Caixa.
Por outro lado, dou valor ao Berardo. Ele deve aqueles camiões, navios e aviões todos cheios de dinheiro - só assim é que eu me oriento -, ri-se olimpicamente e é um homem rico. Eu não devo um cêntimo a ninguém, ando zangado com a boa disposição e sou um homem pobre. Isto é. Quem me dera ser filho do mãe... do Berardo, porque Caixa nós também já tínhamos em Fafe...

P.S. - O protocolo entre o Estado português e o comendador Joe Berardo para a criação do Museu de Arte Moderna e Contemporânea, no CCB, em Lisboa, foi assinado no dia 3 de Abril de 2006. Faz hoje anos e não vai assim há tanto tempo...

Cofre-forte

Foto Hernâni Von Doellinger

Lucas, evangelista e médio ofensivo

Lucas era talvez médico e talvez pintor e terá vivido na cidade grega de Antioquia, podendo ter sido um dos poucos cristãos originais que conviveram com os doze apóstolos. Admite-se que tenha emparceirado com Paulo e será, segundo a tradição, o autor dos Actos dos Apóstolos e do Evangelho de São Lucas, como o próprio nome indica, passando por isso a ser conhecido como Lucas Evangelista. Diz-se que se calhar foi o primeiro iconógrafo, tendo eventualmente pintado a Virgem Maria, São Paulo e São Pedro. Depois de ter passado em Portugal pelo Estoril e pelo Vitória de Guimarães, joga actualmente no Red Bull Bragantino do Brasil e é médio, não médico - e isto é certo.

Semana santa

Meteu oito dias de "teletrabalho" e pensou com os seus botões: - Vai ser uma semana santa...

E depois levaram-n'O a passear...

Foto Hernâni Von Doellinger

Crocodilos no Jardim do Calvário

Foto Hernâni Von Doellinger O Jardim do Calvário, em Fafe, recebe a partir de amanhã um exposição de dinossauros . E isso é porreiro. Quinze...