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sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Novo aeroporto de Lisboa é em Fafe

Foto Hernâni Von Doellinger
Foi no final do ano passado. A notícia saiu no insuspeito tablóide britânico The Sun e portanto só pode ser verdade: Fafe é "a cidade mais barata de Portugal". Pelo menos, para inglês ver. Quem me alertou para a magnífica novidade foi o Pedro Dantas, que está lá na Velha Albion e sempre atento a estas extraordinarices. De acordo com o bem informado artigo, que, nem de propósito, confunde o Palacete dos Dantas com a Igreja Românica de Arões, Fafe, "uma cidade pouco conhecida em Portugal", ficou em primeiro lugar num ranking de barateza turística elaborado por uma entidade alegadamente chamada Porto Travel Guide. Mais de cem cidades portuguesas terão sido "analisadas por especialistas", e Fafe ganhou, à frente de Oliveira de Azeméis, Famalicão, Ovar e Amarante, só para se ter uma ideia.
E o que é que Fafe tem? Pois, para além da igreja e do palacete levados ao engano, Fafe tem a Casa do Penedo e a Casa do Santo Velho, na minha rua, e "um enorme parque aquático ao ar livre", embora os indígenas prefiram refrescar-se "no reservatório local chamado Barragem de Queimadela". Para além disso, garante o indesmentível The Sun, Fafe tem "comida e bebida baratas", "restaurantes baratos e hotéis económicos". É pouquinho? Mas é de boa vontade.
Isto aqui vai ser outra vez o fim do mundo, vamos ficar a nadar de camones. E convém que parem por aí os estudos uns atrás dos outros que só dão despesa e não vão a lado nenhum. Nem Portela, nem Portela + 1, nem Portela + 2, nem Montijo, nem Alcochete, nem Santarém, nem Pegões, nem Rio Frio, nem Poceirão, nem Beja, nem Monte Real, nem Alverca. Nada disso. O novo aeroporto de Lisboa só pode ser em Fafe! Em Fafe, mais exactamente na freguesia de Golães, cumprindo-se enfim a viperina profecia da má-língua de outros tempos.
Ó gente da minha terra, abaixaide-vos! Vai vir charters...

P.S. - Publicado originalmente no meu blogue Tarrenego! e, depois, aqui, no dia 20 de Novembro de 2023. Hoje é Dia Mundial do Turismo. Por falar nisso, o Festival Gastronómico da Vitela Assada à Moda de Fafe está marcado já para a próxima semana, de 4 a 6 de Outubro, no Parque da Cidade.

sexta-feira, 17 de maio de 2024

Os colossos gostam de bacalhau frito

Desenho Nestinho
E daquela vez em que o Chico Varandas andou à pancada com o macaco do Homem Mais Forte do Mundo e a coisa só não acabou aos tiros porque o macaco não quis? Assim, palavra de honra. O desagradável episódio não veio nas notícias, porque ainda não havia CMTV, mas passou-se sem sombra de dúvida, porque eu estava lá, e podia ter sido uma tragédia, como dizem agora os jornalistas todos por tudo e por nada.

Vou contar. Eram as Festas da Vila, e as Festas da Vila, em Fafe, naquele tempo, eram de rebimba o malho. Acima de tudo a procissão, sim senhora, que ainda hoje é a alma da festa toda, mas à roda da procissão, um pouco mais abaixo, estava montada uma criteriosa programação cultural e artística que nos enchia de orgulho, só do bom e do melhor, bife de primeira, embora nós não víssemos nada porque as entradas eram a pagar e, posto que as festividades fossem realmente muito ricas, os fafenses eram geralmente muito pobres. E bife, mesmo de terceira, era raro.
Portanto naquele ano trouxeram-nos O Homem Mais Forte do Mundo. Não o Segundo ou o Terceiro Homem Mais Forte do Mundo, mas "O" Homem Mais Forte do Mundo, é preciso que se note. E era "O" não porque o nosso Homem tivesse ganho o título num campeonato contra esses mostrengos gordos que andam agora por aí a empurrar pneus de camião e a levantar tonéis, mas apenas porque sim. O Homem Mais Forte do Mundo levava muitos anos daquilo, era-o por usucapião. Louis Cyr, aliás falecido, que tivesse paciência...
O Homem Mais Forte do Mundo teria participado, porventura como figurante ou duplo, no filme "O Colosso de Rodes", um peplum de 1961 de Sergio Leone que por acaso eu vi no nosso Cinema. Nas montras da vila havia cartazes daqueles como os do circo que atestavam o desempenho digno de Óscar, e contra isso nada. Nos reclames, O Homem Mais Forte do Mundo era O Colosso de Rodes. E que se segue? Ao Homem Mais Forte de Mundo, o povo foi. Era no estádio, só podia ser no estádio para tamanha empreitada, e a bancada encheu. Mais meio ano sem bife, que se foda...
Estão a ver Hércules? Estou a ver Dwayne Johnson? Era exactamente assim O Homem Mais Forte do Mundo quando entrou em campo, mas em baixinho. Ou por outra, O Colosso de Rodes apresentou-se em Fafe bem constituído, musculado e seco, bronzeado, quem sou eu para afirmar o contrário, mas confesso que defraudou as minhas acho que justificadas expectativas no que diz respeito a colosso. E também me pareceu um bocadinho fora de prazo aquele senhor de barbas bíblicas, grisalhas e crespas, como se O Homem Mais Forte do Mundo fosse mesmo Sansão, mas reformado e apenas das orelhas para baixo.
E deslumbrou. Apareceu vestido, ou despido, como um gladiador romano, quiçá herói ateniense ou troiano. A publicidade dizia que O Homem Mais Forte do Mundo era grego. E ele trazia as bandeiras de Portugal e da Grécia. E dirigiu-se ao público em delírio numa língua estranha, para mim era grego, referindo "Portogalía" a uma certa altura, o que só demonstra que fez os trabalho de casa, sabia muito bem onde estava, em Fafe, ali a dois passos do Picotalho e de Portugal, que era do que ele certamente falava, do nosso Largo de Portugal, ou Platýs de Portogalía, como eles dizem lá na terra deles. Ficou-lhe bem, mostrou educação e conhecimento, e o público em delírio adorou.
O resto da tarde foi O Homem Mais Forte do Mundo a ser O Homem Mais Forte do Mundo. Isto é, a levantar uma dúzia de pessoas penduradas numa barra de ferro, a vergar a barra de ferro propriamente dita, a içar pesos com os dentes, a segurar duas camionetas, uma de cada lado e ele no meio, inteiriço e como o aço, e as rodas dos veículos comprovadamente pesados sem sequer saírem do sítio, acelerando em seco no saibro do campo de futebol, levantando pó, gravilha e aplausos. E que mais? Ah!, e a pedir que lhe partissem um bloco de granito, à marretada, em cima da barriga. E partiram. Para mim, esta parte foi a cereja em cima do bolo. A pedra era realmente enorme e verdadeira, contrastada, confirmou-mo o meu tio Zé de Basto, pedreiro de mão cheia, que foi quem me levou ao espectáculo que, aviso já, esteve quase a não acontecer. E as marretas também eram a sério, pesadas e maciças, via-se à vista desarmada e o meu tio disse que sim. Para terem uma ideia do perigo implicado neste número, basta referir que foi preciso colocar um pano de cozinha entre o pedregulho e a barriga do artista, não fosse o artista esfolar-se um bocadinho numa lasca ou algo assim...

Ora bem. O Homem Mais Forte do Mundo deslocava-se numa carrinha de caixa aberta por acaso bastante velha. Não vou dizer que foi nestes preparos que O Colosso de Rodes veio da Grécia, ou de Rio Tinto ou de Vila Franca de Xira, que é de onde vêm geralmente os artistas de circo estrangeiros, não estou informado a esse propósito nem quero levantar falsos testemunhos, posso é garantir que nesse preciso dia, horas antes da função, que aliás foi um sucesso, como se viu ali atrás, o referido veículo estacionou no Santo Velho, ao lado do Zé Manco, no sítio onde costumava estabelecer-se a Mocha mailas suas sardinhas amestradas, mas admito que O Homem Mais Forte do Mundo tenha ida em frente, ao Paredes, comer uma posta de bacalhau frito pelas mãos abençoadas da Dolorzinhas, seria mais razoável. E acrescento: a carrinha tinha matrícula portuguesa e na caixa aberta viajava um macaco, um macaco pequeno e irrequieto como os macacos, preso por uma corrente ao pescoço.
Estava tudo a correr bem, isto é, não se estava a passar nada, quando chegou o Chico Varandas, meu querido vizinho, uma jóia de pessoa, e, como acontecia regularmente, vinha contentico, digo bem, contentico, com a sua pinguinha. E, boa alma que era, foi fazer festas ao macaco.
Aqui, a verdade é só uma. O macaco do Homem Mais Forte do Mundo podia ser o Macaco Mais Forte do Mundo, mas não se sabia, e, se se sabia, o Chiquinho não fez caso dessa prudente suposição. E quilhou-se bem quilhado. Fez festas ao macaco e o macaco fez-lhe festas a ele, isto é, rabunhou-lhe a cara e, pior do que isso, rasgou-lhe o bolso da camisa praticamente nova e salpicada de sangue.
O Chiquinho começou a discutir com o macaco, que eventualmente só percebia grego, foi preciso vir o chofer da carrinha, que fazia a tradução e era também manager do Homem Mais Forte do Mundo, o Chiquinho jurou matar o macaco ali mesmo, foi a casa buscar a Kalashnikov, apareceu com a pressão de ar, "Ai que te mato! Ai que te mato, meu macaco!", palavras não eram ditas, ainda estava o Chico a rematar o ultimo ponto de exclamação e já O Homem Mais Forte do Mundo saía do Paredes a escabichar os dentes, que fariam parte do programa, como se viu acima, "Ai que te desgraças, Chico, ai que te desgraças, deixa-te de macacadas, vai mas é embora que o gajo é O Homem Mais Forte do Mundo e ainda te enfia a espingarda pelo cu acima!", disse não sei quem da nossa rua, e o Chiquinho deixou-se e foi-se, não por medo mas porque era, eu já disse, uma jóia de pessoa, uma boa alma e, por norma, muito bem mandado.
E foi a nossa sorte.

P.S. - Publicado aqui originalmente no dia 27 de Agosto de 2023, então sob o título "O Chico contra O Homem Mais Forte do Mundo" e dedicado ao Pedro Dantas, que fazia anos. O desenho foi feito de encomenda, mais um vez, pelo grande Ernesto Brochado. Como combinado, estamos a recordar alguns dos meus textos alusivos ou de certa forma ligados aos nossos 16 de Maio, isto é, às Feiras Francas de Fafe, à nossa ruralidade antiga e irrevogável.

sábado, 18 de novembro de 2023

Vai vir charters!

A notícia saiu no insuspeito tablóide inglês The Sun e portanto só pode ser verdade: para turistas, Fafe é a cidade mais barata de Portugal. Isto é, a nossa terra ficou em primeiro lugar num certo e determinado ranking, embora só para estrangeiros, e não percebo como é que ainda não rebentámos pelas costuras com tanto camone. Quem me contou a magnífica novidade foi o Pedro Dantas, que está lá na Velha Albion e sempre atento a estas extraordinarices. Uma coisa é certa: com tamanha performance, o novo aeroporto de Lisboa só pode ser em Fafe! Vai vir charters...

O espanto pode e deve ser consultado aqui: 
https://www.thesun.co.uk/travel/24722483/fafe-portugal-cheapest-city-break/?utm_campaign=native_share&utm_source=sharebar_native&utm_medium=sharebar_native

terça-feira, 23 de maio de 2023

Ó da Guarda!, gritou o Pedro

Resolvi chamar a GNR, pois aqui anda tudo aos Xutos e Pontapés. Apesar de todos os Ecos da Cave que se escutam, tem uma Dama, que pertence a um Clã de Humanos, comandados por um tal de Capitão Fausto, que se acham os Heróis do Mar, mas que não passam de uns Azeitonas que moram lá para os lados da Quinta do Bill. São daqueles pseudointelectuais que acham que Lex Injusta Non Est Lex, mas que no fundo são um bando misturado de Santos e Pecadores. Bom, eu vou é chamar um Táxi que me leve ao Polo Norte, que por aqui Jáfu-mega.

(Este era um comentário que o Pedro Dantas colocou aqui no Fafismos, a propósito dos Xutos & Pontapés na Senhora de Antime. Mas fica melhor deste lado, assim à vista.)

quarta-feira, 17 de maio de 2023

O Pedro Dantas e outras coisas do arco-da-velha

Antes de ir desta para melhor, vou dar com a língua nos dentes e lavar roupa suja. Com a faca e o queijo na mão, com uma perna às costas e de olhos fechados, vou sacudir a água do capote.
Ainda tirei o cavalinho da chuva, tentei tirar este assunto do mapa mas eu sou uma troca-tintas, uma vira-casacas e vou voltar à vaca fria.
Andava eu aqui a brincar com os meus botões, a chorar o leite derramado, com o bicho carpinteiro e macaquinhos no sótão, quando decidi procurar uma agulha no palheiro.
Eu sei, eu não bato bem da bola, mas senti-me pior que uma lesma, e tinha uma pedra no sapato. O problema é que andava a bater com a cabeça nas paredes há algum tempo, com um aperto no coração e uma enorme vontade de arrancar os cabelos.
Passei muitos dias com cara de caso e com a cabeça nas nuvens como uma barata tonta. Mas eu, que estou armada até aos dentes, arregacei as mangas e procurei o arquivo a eito. Acontece que uma vez, em conversa com um amigo, ele disse-me: "Tiras-me do sério !" e eu, sem papas na língua, respondi: "Se te tiro do sério, deixo-te a rir, não é?" Ele, de trombas e com os azeites, gritou em plenos pulmões: "É preciso ter lata!", só faltou trepar pelas paredes. Primeiro pensei ter posto a pata na poça, depois achei que ele tinha acordado com os pés de fora e que estava a fazer uma tempestade num copo de água e trinta por uma linha.
Fiz vista grossa, mas depressa abri-lhe o coração, o jogo e os olhos, na esperança de acertar agulhas e pôr os pontos nos is. Não lhe ia prometer mundos e fundos nem pregar uma peta, eu estava mesmo a brincar. Pão, pão, queijo, queijo, rebeubéu pardais ao ninho, fiquei com os pés para a cova, só me apeteceu pendurar as botas e mandá-lo pentear macacos, dar uma volta ao bilhar grande ou chatear Camões.
Que balde de água fria! Caraças, levei a peito, aquela resposta era tão sem pés nem cabeça que fui aos arames. Eu sei que dou muitas calinadas, meto os pés pelas mãos e faço tudo à balda. Posso até ser cabeça de alho chocho ou cabeçuda, mas não ia meter o rabo entre as pernas, nem que a vaca tossisse. Fiquei com a cabeça em água e a pensar na morte da bezerra. Caí das nuvens e com paninhos quentes passei a conversa a pente fino, não fosse bater as botas. Percebi que ele tinha trocado alhos por bugalhos, apeteceu-me cortar-lhe as vazas, mas estava de mãos e pés atados e baixei a bola. Engoli um sapo, agarrei com unhas e dentes, dei o braço a torcer e dei-lhe troco com o intuito de descalçar as botas.
Não gosto muito do vira o disco e toca o mesmo, mas isso já são muitos anos a virar frangos e pus as barbas de molho. Uma mão lava a outra e as duas lavam as orelhas, mas ele está-se nas tintas. Ficou com a pulga atrás da orelha, pôs-se a pau antes de estar feito ao bife. Pus mão à obra, tentei fazer um negócio da China e bati na mesma tecla. Dados lançados, cartas na mesa, coisas do arco-da-velha. Claro que dei com o nariz na porta, o gato comeu-lhe a língua e saiu com pés de lãs. É que isto pode estar fixe, mas não me apetece segurar a vela, com dor de cornos e de cotovelo só porque não conheço 1/4 das expressões portuguesas.

(Este texto é mais um "contributo" do Pedro Dantas, que me honra com a sua regular visita a esta casa. O Pedro é dos meus. Porque é mesmo dos meus, daqueles poucos que me dizem respeito, mas também porque, como eu, guarda a memória de Fafe, limpa o pó ao falar antigo e gosta de brincar com as palavras. O texto é da autoria de Mafalda Saraiva.)

terça-feira, 25 de abril de 2023

De que serve?

25 de Abril

De que servem as pernas, se não puder andar?
De que servem os dedos, se não puder tocar?
De que servem os ouvidos, se não puder escutar?
De que serve o coração, se não puder amar?

De que servem os estudos, se não puder ler?
De que servem os olhos, se não puder ver?
De que serve a democracia, se não puder ter?
De que serve a liberdade, se não puder ser?

(Recebi do Pedro Dantas, como "comentário". Mas acho que deve estar aqui.)

terça-feira, 14 de março de 2023

A vocação do Landinho

A propósito do falecimento do Landinho e do meu texto "Excelentíssimo Menino", recebi um comentário-testemunho do Pedro Dantas que, creio, merece ser destacado. Diz o Pedro:

"O Landinho. A maioria das pessoas não sabe, nas durante anos, todos os dias, ele jantava na minha casa. Era parte da família. Durante o dia, ajudava o "Filipe" a distribuir o gás, no fim da tarde vinha para nossa casa com o meu pai. Era uma festa tê-lo em casa. O sonho dele, quiçá o único, era ser padre. Pegava num qualquer livro à mão e sempre vinha o "oh minó bispo, morreu o padre Franciscoooo...", usando aquele tom episcopal que a igreja usa. Não bebia álcool durante o jantar. Nunca. Saía de nossa casa feliz, isso eu, mesmo criança, sentia. Isto acontecia na rua José Cardoso Vieira de Castro. Depois ele sumiu e passei a encontrá-lo esporadicamente. Mas sempre, sempre ele me tratou com deferência, amizade, respeito. Eu guardo o Landinho daquele lado do peito."

Bruxedos e outros medos

Durante uma semana, um alguidar contendo um enorme galo sem cabeça e outras miudezas feiticeiras esteve em exposição no passeio junto ao por...