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sexta-feira, 14 de março de 2025

O capacete antes de deitar

Sempre gostei de me deitar no chão. Desde pequenino. O Verão em Fafe era um forno, e a nossa mãe punha-nos a dormir a sesta no chão da casa, não no chão estreme mas por cima de um cobertor fininho e fofo, e dormíamos como anjos de barriguinha ao léu. Porque o ar rasteiro é mais fresquinho, está provado cientificamente, e a nossa mãe sabia também disso, embora nunca tivesse ouvido falar de correntes de convecções, fluidos, átomos ou moléculas.
Habituei-me. Sempre que pude na vida, dormi a minha soneca no chão do campo, do monte e até da praia, se pela fresca da manhã e com a praia só para mim. Casei e fui morar para a Foz, no Porto: a casa dos meus sogros tinha um quintal-jardim que era um mimo, e era ali que eu me estendia, no cimento do caminho ou na relva do coradoiro, em tardes e noites de suar em bica. Depois bebia uma ou duas garrafas de espadal bem fresquinho e já estava em condições de ir para a cama...
Agora, moro há mais de trinta anos em Matosinhos, com o mar a passar-me à porta e a enrolar na areia, mas custa-me muito a deitar, ainda por cima no chão, que me fica cada vez mais longe, e preciso de um guindaste para me levantar. Mas não resisto: de quando em quando, dá-me para a toléria - é a idade -, ponho o capacete e, em quatro ou cinco movimentos muito complicados e perigosos, às vezes doze, consigo deitar-me no chão da sala, com muitos ais! e muitos uis! pelo meio, os ossos rangendo, a cabeça a ourar e a televisão ligada só para que o som me faça companhia. Às tantas a minha mulher entra, assusta-se comigo ali esparramado no lamparquet com vinte anos de garantia e grita: - Ai, valha-me Deus, que ele morreu, coitadinho! Que é da motorizada, homem?...
E eu, de olhos fechados e mãos cruzadas sobre o peito, na maior compostura: - Isso querias tu, minha infingida! Chama mas é a polícia, que a culpa foi do outro...

Moral da história: este frio será do tempo?

P.S. - Hoje é Dia Mundial do Sono. E também é Dia do Pi, mas isso é outro assunto.

quinta-feira, 13 de março de 2025

Abelhas e vespas, a diferença

A diferença entre as abelhas e as vespas. As abelhas são insectos himenópteros, da família dos Apídeos, que vivem em enxames e produzem mel e cera. As vespas são lambretas ou, vá lá, motorizadas para senhoras, desculpem-me a expressão...

E depois há as vespas asiáticas. As vespas asiáticas, diga-se em abono da verdade, são principalmente Honda, Yamaha e Suzuki. Mas também Zongshen, Lml, Lifan, Generic, Kinroad, Jincheng, Znen, Masaï, Keeway, Baotian, Sym, Pgo, Kymco e TNT. Isto apenas por exemplo. E são realmente uma praga.

P.S. - Publicado originalmente em Maio de 2023. "O Município de Fafe, através do Serviço Municipal de Proteção Civil, pretende dar continuidade ao reforço da implementação da rede de armadilhas para captura de vespas velutinas no concelho", foi ontem anunciado. Mais informação, aqui.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Comida, carros, gajas e... motorizadas

Nós, os do Norte, somos regularmente criticados por estarmos sempre a falar de comida. O que não é exacto nem justo! Na verdade, nós, os do Norte, somos tão capazes de manter conversas interessantes e profundas sobre gajas e carros como o resto da população portuguesa, seja de que região for. Para além disso, se formos de Fafe, ninguém nos bate numa boa discussão sobre motorizadas...

P.S. - No dia 29 de Janeiro de 1886, o engenheiro alemão Karl Benz pôs em funcionamento o primeiro motor automóvel a gasolina.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

A passagem de ano em Fafe

A passagem de ano em Fafe era bem porreira no meu tempo. As motas andavam sem escape à meia-noite no Largo, bebia-se Magos no Peludo e vomitava-se abundantemente. Uma coisa verdadeiramente constada, uma festa inegavelmente de arromba! Vinha povo de fora, até de Guimarães como se fossem espanhóis, a Arcada enchia-se como um ovo, por baixo e por cima, por dentro e por fora. Era o delírio! Tremens. As motas eram sobretudo Zundapp e Sachs, faziam um basqueiro desgraçado e os tombos sem capacete eram saudados como se fossem golo do Benfica! Às vezes a festa metia também ambulância, num extraordinário espectáculo de som, luz e cor. O Magos era uma merda, mas naquela altura eu não sabia. Fazia também muito frio na rua, que era onde o ano passava, um frio que não se podia andar com ela de fora, e já era a sorte grande chegar a casa com o nariz e as orelhas inteiras, isto para não falar de outros acessórios ordinariamente mais recatados. Na manhã do dia seguinte, que só começava, a bem dizer, à noite, o ano novo metia baixa.
Portanto, ia-se ao Largo ver o fim do ano. O ano passava em Fafe apenas uma vez por ano, como no resto do mundo, embora no resto do mundo o ano não passe sempre à mesma hora, mas, não sei porquê, em Fafe parecia que o ano passava todos os dias, isto é, todas as noites. Os de agora podem não acreditar, mas era assim a vida na nossa terra, e, garanto-lhes, era de categoria.

A passagem de ano em Fafe agora chama-se Réveillon e é um certame, porque em Fafe agora tudo é certame, até a Senhora de Antime, e se não é certame, pelo menos é evento e de certeza é icónica, a passagem de ano, porque em Fafe agora tudo é icónico. De acordo com os anúncios, o Réveillon sucede no quentinho do Multiusos e apresenta Quim Barreiros, área gold, área premium, área vip e área white, que deve ser o antigo peão, todos os utentes com pulseiras como nas urgências dos hospitais. Motas a desbundar e ambulâncias em tinoni é que nada, em princípio, e Magos de certeza que também não. Quer-se dizer, está certo, há-de ser uma festa ajeitada lá à maneira da rapaziada moderna, com muito gelo mas sem geada, mete o carro, tira o carro, o que se pôde arranjar, mas, por favor, não tem comparação com a nossa...

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Esta maneira fafense de sermos

Vou a Oliveira de Azeméis, por exemplo, e levo uma data de "Ó jovem!", geralmente debitada por pessoas de bandeja na mão e com idade para serem, vá lá, meus netos. Afino! Ai, se soubessem como eu afino! Vou ao Porto ou a Lisboa, por exemplo, e atiram-me "Ó chefe!" acima e "Ó chefe!" abaixo, pessoas que não me conhecem de lado nenhum e com idade, vá lá, para terem juízo. Fico fodido! Ai, se soubessem como eu fico fodido! Por outro lado: vou a Fafe, por exemplo, e as pessoas, algumas com idade para serem, vá lá, meus filhos, chamam-me "Meu rico menino!", e eu aprecio, gosto. Fico feliz da vida! O carinho interessa-me, faz-me jeito. Quer-se dizer: todas as terras são por exemplo, mas algumas são mais por exemplo do que outras. E neste particular, deixem-me que vos diga, Fafe é, modéstia à parte, uma terra por exemplíssimo.

É. E já repararam no modo carinhoso como tratamos a comida, isto é, a comidinha. Esta maneira tão fafense e antiga, de indesmentíveis raízes galegas, que nos põe a falar mansamente da vitelinha, do pãozinho, das tripinhas, do cozidinho, do arrozinho, da massinha, do bacalhauzinho, das batatinhas, do azeitinho, da saladinha, do cabritinho. E como nós gostamos de falar de comida! E falamos de comida enquanto comemos. E no entanto, nós, os fafenses, pelos menos os já usados, somos tão capazes de manter conversas interessantes e profundas sobre gajas e carros como o resto dos portugueses. Creio até que ainda hoje ninguém nos bateria num debate sobre motorizadas, desmontando peça a peça e sem sobras o eterno dilema mural Zundapp vs. Sachs.
É. A felicidade é coisa pouca e tudo. Digo melhor: a felicidade é questão de um gajo se habituar. E para os fafenses, nisto da felicidade e de bons hábitos, a mesa é sagrada. É o altar da família, da amizade, do carinho partilhado. Dos carinhos. Dos miminhos. Da liturgia de todos os inhos. Também do bifinho para o menino, que anda com fastio e faz 32 aninhos, coitadinho. Sim, bifinho, um bifinho em prato-travessa, porque se coubesse num prato normal seria apenas bife, mas isso toda a gente sabe. E vinhinho? Está bem, uma pinguinha...

P.S. - Este foi o segundo texto mais lido neste blogue durante o ano de 2024. Também está bem. E já agora: de que é que falámos à mesa da consoada, em família, nós os daqui, os que somos desta maneira? Sobretudo de comida, faço uma aposta...

domingo, 7 de maio de 2023

O ouvidor de silêncios

Ele era uma exímio ouvidor de silêncios. Um fafense como deve ser, dos antigos. Capaz de distinguir o silêncio da flor de madressilva do silêncio de uma Famel Zundapp XF17 Super sem cano de escape.

P.S. - Hoje é Dia do Silêncio. Que se vai cantar o fado...

Bruxedos e outros medos

Durante uma semana, um alguidar contendo um enorme galo sem cabeça e outras miudezas feiticeiras esteve em exposição no passeio junto ao por...