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sábado, 26 de julho de 2025

Troca-se neto por cão!

Três rapazes nos arrabaldes dos cinquenta anos, amigos de longa data, desde o tempo dos juniores, gente bem posta, certamente da melhor burguesia local, fazem o costumeiro passeio matinal pela fartura verde do Parque da Cidade. O rapaz da esquerda empurra um carrinho de bebé com uma vaidade que só vista, e é bonita de se ver. Os outros dois vão à rasca até às orelhas, envergonhadíssimos com "a situação", evitam ser reconhecidos por quem passa, mais desconforto era impossível. O da direita puxa o do meio pela manga e diz-lhe, tapando a boca com a mão, como fazem agora os treinadores e jogadores de futebol quando querem falar da mãe de alguém e sabem que há câmara de televisão por perto: - Se inda ao menos fosse um cão, um canito! Agora o caralho do neto...

P.S. - Versão publicada no meu blogue Mistérios de Fafe. Hoje é Dia Mundial dos Avós. Em Fafe, o Dia do Avós foi ontem. No Parque da Cidade, evidentemente.

terça-feira, 3 de junho de 2025

Um hotel no parque da cidade

Fafe vai ter um hotel no Parque da Cidade. Mas que ideia brilhante! E espero que a Câmara não se fique por aqui: quem diz um hotel, diz dois ou três, mais restaurantes, cafés, discotecas, oficinas de reparação automóvel, interface rodoviário e diversos parques de estacionamento, tudo "unidades modernas e perfeitamente integradas na paisagem natural envolvente". Afinal, como diz o senhor presidente, "a imensidão de verde que caracteriza o espaço" já lá está, até era uma peninha não se aproveitar. Estamos todos de parabéns! À prima.

quinta-feira, 29 de maio de 2025

Senhora de Antime 2025


Fafe festeja a sua Senhora de Antime, como é tradição, no segundo fim-de-semana de Julho. Ivandro, Bárbara Bandeira e Kiss Kiss Bang Bang actuam no dia 11. Carolina Deslandes, Van Zee e Baile das Novinhas apresentam-se no dia seguinte. Espectáculos no Parque da Cidade, com entrada livre. Já agora, ainda em Fafe, Rui Veloso está marcado para 19 de Julho, na Festa Branca, e Mariza canta no Festival da Vitela Assada, a 4 de Outubro.

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Afinal havia outras

Foto Município de Fafe
Árvores há muitas, como os chapéus. Ou os barretes. Há as árvores derrubadas pelas tempestades e há as árvores derrubadas pelas autarquias em geral só porque lhes apetece, ainda não cheguei a perceber que mal é que as árvores lhes fizeram. E há também as árvores para a fotografia, como esta, bem catita, melancolicamente outonal, que é, desde há horas e nem de propósito, o actual frontispício da página oficial do Município de Fafe no Facebook. Árvores mandadas construir pelas próprias mãos dos nossos autarcas no Parque Municipal, arduamente, como D. Dinis fez no Pinhal de Leiria, ninguém me venha dizer o contrário. Há que dar-lhes valor, e eu dou.

terça-feira, 8 de agosto de 2023

O meu amigo Senhor Hernâni

Foto Hernâni Von Doellinger
Se as minhas notas estiverem certas e se Deus for realmente o porreiraço que o Papa andou por aí a apregoar, o meu amigo Senhor Hernâni fará hoje 90 anos certinhos, e eu tenho-lhe muitas saudades. Eu e ele, o Homem da Música, ou o Senhor Feliz, como prefere chamar-lhe a minha mulher, eu e ele, dizia, éramos accionistas maioritários de um banco no Parque da Cidade do Porto, alameda de entrada-saída da Avenida da Boavista, quase em frente às bombas da Galp, quem vai para a igreja de Nevogilde, mas as voltas da vida desviaram-me à falsa fé dos nossos encontros ecuménicos de fim de tarde. Ele adventista militante e eu católico sem frequência, falávamos de artes, de paz, das crianças e dos velhos, da família, do amor, de afectos, da memória, do mundo, de tudo e de nada, de Deus, da alegria de viver com Deus. O Senhor Hernâni tentava missionar-me, converter-me, contava-me da sua Igreja, cantava-me hinos de louvor à vida e ao "Senhor Jesus". Enfeitava-os com um trejeitinho de fado, às vezes de folk americano, palavra de honra. Eu tinha para a troca o "Tantum Ergo" que aprendi no seminário e o "Queremos Deus" que trouxe das excursões do meu avô, mas guardava os latinórios para mim, e creio que era sensato, o meu amigo não merecia semelhante castigo...

O Homem da Música fez o favor de me deixar começar a ser seu amigo parece-me que há coisa de doze ou treze anos. Calhava perdermo-nos de vista por umas temporadas, mas felizmente lá tornávamos ao reencontro no banco do costume - um banco de confiança. Uma vez o Senhor Hernâni apareceu-me com instrumental novo e a superbicicleta cada vez mais artilhada: até já tinha relógio-despertador, peça fundamental em bicicleta que se preze. Acertámos a conversa em atraso. Contou-me que o jeito para as engenhocas lhe vinha do ofício antigo, mais de trinta anos como afinador de máquinas numa grande fábrica em Rio Tinto. E que o amor pela música era de sempre, desde que se lembra de começar a contar os 77 anos que então levava.
Falou-me da mulher, que tinha "menos dez anos" do que ele e doenças que chegassem para os dois. Dos filhos, três, um dos quais "trabalha numa agência e sabe as línguas todas". Da ventura de alma que lhe é "louvar e amar o Senhor". Do seu Bairro da Fonte da Moura. Da lambreta cor-de-laranja em avançado processo de tuning caseiro. Das viagens em bicicleta até Arcozelo, em Gaia, ou até São Mamede de Infesta, para tocar. Só para tocar. Tocar por tocar. E pelo caminho já cantava e tocava - o que houvesse a resolver com o trânsito era "pelos retrovisores"...
Outra vez, há meses que não o via, o Senhor Hernâni justificou as faltas. Contou-me que passou a ir alegrar as tardes da rapaziada da idade dele que frequentava o centro de dia da então Junta de Aldoar. Levava-lhes música, porque lhe apetecia e fazia gosto. Ninguém lhe encomendara o serviço, nada disso. Era bondade em estado puro. "Eles vêm cá para fora e eu toco", diz-me, quase envergonhado da felicidade serena que lhe baila nos olhos. "Quer ver? Quer ver?", e rapa da harmónica e do pandeiro e oferece-me uma bela modinha americana que, na verdade, é um hino religioso. Agradeço-lhe. Digo "Muito bem!", pigarreio, para esconder a comoção que também me embaraça. Lembro-me do verso de António Gancho, que diziam louco: "A música vinha duma mansidão de consciência", e ali vinha, meu Deus! Conto-lhe como tenho sentido a falta dele no banco do Parque e que andava preocupado. Não estou a mentir, o Senhor Hernâni diz-me respeito. O Homem da Música percebe, ri, rouba duas ou três notas ao teclado que tem em cima dos joelhos, para que eu saiba que a coisa funciona. E funciona. O Homem da Música tem um dom, dá vida a tudo o que toca, e toca tudo, acordeão, concertina, gaita, e até microfone e até rádio, e faz instrumentos de velhos rádios desactivados, transforma-os em artefactos musicais, amiúde "electrónicos". Toca. O meu amigo é tocador de corações. Isso. A coisa funciona.
Ele quer que eu fique mais um bocado. Fico. Gosto do Homem da Música. Ainda por cima tem um nome próprio que, não desfazendo, lhe calha muito bem - é Hernâni como eu. Senhor Hernâni. Senhor, verdadeiramente, que eu não sou.

De vez em quando eu ia sabendo do Senhor Hernâni. Os recados, avulsos, diziam-me que ele estava bem. Isto é, assaltaram-no, roubaram-lhe os documentos e andava a tratar dos papéis novos, sobretudo da carta de condução, que era o que mais o afligia. Teve de ir à Junta de Aldoar e a minha mulher, que lá trabalhava então, tratou de apresentar-se-lhe. O meu amigo fez-lhe uma festa bonita e aproveitou para mandar-me um abraço que me soube pela vida, e repetiu a façanha dois dias depois, forçando novo encontro com ela, como quem não quer a coisa, mais um abraço para mim, e eu fiquei mais feliz ainda.
Portanto, o Senhor Hernâni esteve com a minha mulher em duas breves ocasiões, e foi talvez há cinco anos. Aqui há meses, já aposentada, a minha mulher precisou de ir ao antigo emprego, e quem é que ela encontra à porta, por extraordinário acaso? O Senhor Hernâni, que, ao vê-la, atira à queima-roupa: - A senhora é familiar do senhor Hernâni que mora em Matosinhos, não é? Ele como está? Quando chegar a casa, dê um abraço ao seu marido e diga-lhe que foi o Hernâni que mandou. Diga-lhe que eu estou bem, que vou fazer 90 anos, que continuo muito contente, porque acredito em Deus, diga-lhe que continuo a cantar e a tocar...
E cantou. Cantou. Ali! O meu amigo Senhor Hernâni cantou para a minha mulher, como costumava cantar para mim.

segunda-feira, 5 de junho de 2023

O ambiente tem dias

No Parque da Cidade do Porto há cisnes-mudos, guarda-rios, gansos-bravos, gansos-do-egipto, patos-reais, galinhas-d'água, galeirões-comuns, guinchos-comuns, piscos-de-peito-ruivo, gaivotas-argênteas, gaivotas-d'asa-escura, melros-pretos, marçaricos-das-rochas, rolas-do-mar, chapins-reais, garças-brancas-boieiras, garças-reais, corvos-marinhos, mergulhões-pequenos, pardais-comuns e pegas, enguias-europeias. gambúsias, peixes-gatos, percas-sol e pimpões. Esta é a população oficialmente recenseada. Mas também há coelhos e toupeiras, tartarugas, gatos e cães vadios, pombas e pombos, galinhas que eu bem as vejo, papagaios e outros benfiquistas, corredores, andadores e passeadores afins, rãs, sapos e salamandras, lesmas e caracóis, grilos e gafanhotos, borboletas a certa hora, sardaniscas e lambisgóias, sardões com e sem rabo, espreitas e bicicletas, cavalos-republicanos às vezes, burros de um modo geral. E mais de cem espécies vegetais.
No tempo do Primavera Sound, que rebenta com toda a potência já depois de amanhã, no Parque da Cidade do Porto há também camiões, guindastes e contentores, dezenas de geradores, megapalcos, supertendas, barracas, tonéis de cerveja cheios e escorropichados e cheios e escorropichados vezes sem conta nem medida, toneladas de lixo e pés, decibéis à solta, ameaços de terramotos, aluimentos, quem dera que não chova, Deus queira que não caia. Há vedações e avisos, pedimos desculpa pela interrupção, o parque segue dentro de dias, prometemos deixar tudo como estava. E quem estiver mal, que se mude...

P.S. - Hoje é Dia Mundial do Ambiente.

Bruxedos e outros medos

Durante uma semana, um alguidar contendo um enorme galo sem cabeça e outras miudezas feiticeiras esteve em exposição no passeio junto ao por...