terça-feira, 13 de setembro de 2022

Os fundamentos do jogo e a solidão do guarda-redes

Foto Hernâni Von Doellinger
Os fundamentos do jogo são hoje em dia uma acepção filosófica incontornável e seminal. Havia antigamente um entretimento curioso que eram onze contra onze e a bola era redonda, obviamente para se distinguir de outro entretimento curioso que era o cheira-cus, também chamado râguebi, que, ao contrário do que circula em certos meios, ou mêlées, não foi inventado por Cordeiro do Vale aos sábados à tarde na RTP, e são quinze contra quinze e a bola é um melão.
Há registos antiquíssimos de quem chamasse futebol àquela coisa simples dos onze contra onze, mas era apenas premonição, um por acaso feliz, um long shot que correu bem, porém sem base científica nem atestado da Junta de Freguesia. Falava-se então nuns tais "esquemas tácticos", como se isso quisesse dizer alguma coisa, mas ninguém sabia nada de entre linhas, de entrefolhos, de verticalidade, de horizontalidade, de diagonalidade, de palavras cruzadas, de sopas de letras, de soduku, de transições rápidas como pensos ou lentas como valsas, da ocupação do espaço, do triângulo invertido, do ménage à trois, do losango, do ângulo recto e da circunferência, do poliedro, da táctica do quadrado, de Aljubarrota, das linhas subidas e da Linha da Beira Baixa, do ADN, da tibiotársica, do conceito, do preconceito, do duplo pivô, sim, do duplo pivô e do implante, do último terço do terreno e do quarto segredo de Fátima. Este avanço no tutano da inteligência universal, um pequeno passo para o homem mas um passo de gigante para a humanidade, devemo-lo a uma nova casta de comentadores e paineleiros, e não tem preço.

Por exemplo, o guarda-redes. O guarda-redes nunca teve lugar nos tais "esquemas tácticos" amadoristicamente experimentados na pré-história futebolística. Eram "onze contra onze", mas o guarda-redes, nem que fosse "o melhor do mundo", não contava para o totobola. O guarda-redes, naquele tempo de trevas, era uma espécie de Santa Bárbara (embora o Santa Bárbara fosse realmente guarda-redes, mas de andebol), só se lembravam dele quando acontecia penálti. De resto, havia o 1-1-8, o WM, o 4-2-4, o 3-4-3, o 4-3-3 e o 3-5-2. Sobretudo. E é só fazer as contas, somar os algarismos e ver que dá dez, não onze. Até W mais M é igual a dez. O "onze contra onze" é uma fraude - eram dez contra dez e era um pau, e a bola era redonda mas nem sempre. Essa é que é essa. O guarda-redes realmente não era levado a sério (à séria, se lido em Lisboa) naquele curioso entretimento, e nós, os arrochos, os que só servíamos para a baliza nos muda-aos-seis-e-acaba-aos-doze de miúdos, eu no recreio da Feira Velha ou no Largo do Santo, em Fafe, sabemos muito bem do que estou a falar...
Oportunamente tentarei responder à questão magna e que se impõe: o que é que o guarda-redes faz na baliza. E à questão mínima e que nem por isso deixa de se impor: se o guarda-redes souber jogar com os pés, como por exemplo o Fafe teve o Quim, deve ser lançado, no período complementar, a extremo direito, quero dizer, a ala, a ala bem aberto? Na faixa?...

Sem comentários:

Enviar um comentário

Está bem, abelha

Fafe é uma grande superfície de grandes superfícies. Não sei se já cá estão todas e se cabem cá todas, mas a verdade é que, tirante elas, so...