Foto Hernâni Von Doellinger |
quarta-feira, 31 de maio de 2023
Em nome do Espírito Santo
Envolta na bruma das lendas, adornada pela magia das superstições e abonada por insondáveis espantos, impera há séculos no coração do povo das Ilhas a devoção ao Senhor Espírito Santo. Uma contínua, sempre renovada e abrangente procissão de beatos, fiéis, crentes, simpatizantes e até incréus vela por que não se extingam os sinais singulares desta tradição santa-profana que individualiza os Açorianos, na sua terra ou pelas lonjuras da diáspora.
Esta é uma crença muito antiga. As folias ao Espírito Santo, ainda que aparentem uma origem pagã no druidismo, ou na superstição grega, chegam a Portugal pelas mãos da Rainha Santa Isabel e são levadas para os Açores logo pelos primeiros povoadores. Convertidas na maior devoção e piedade, conservam-se até aos nossos dias: chamam-se, ali e agora, os impérios do Espírito Santo.
Os Açorianos são uma gente católica, extremamente crente e devota, e mesmo os mais fundamentalistas em matéria religiosa ou os ateus desobrigados fazem fé nos casos relacionados com o Divino Espírito Santo e temem as Suas "vinganças". É, como quem diz, uma questão de respeito.
Infinito é o rosário das salvações, grandes assombros ou modestos arranjos que o povo atribui à intervenção providencial do Divino - como gosta de chamar-Lhe, carinhoso, numa antiga e meiga confiança de nome próprio. Crises sísmicas e vulcões, pestes, o ror de maleitas e apertos do dia-a-dia, a vida difícil e o isolamento congregaram os ilhéus numa devoção que depressa se espalhou por todas as cidades, vilas e aldeias. E recorre-se-Lhe por tudo, coisa assim pataqueira ou missão a meio do impossível: simplesmente implorando melhoras em pró-forma de clínica geral ou prescrevendo cirúrgico tratamento de especialista; requerendo que o filho atine com os livros ou suspirando que calhe indulgência aos professores; convocando bênção para casamento novo ou clamando por intervenção de emergência em avaria conjugal; pedindo feliz termo para a viagem, que culturas e gado medrem, que as vinhas farturem, que o negócio corra, que o dinheiro não falte. Tudo, edecétrea atrás de edecétera, até aos limites de encomendas de alto lá com elas. O Divino por tudo olha, tudo remedeia - que não é Pessoa de desmanchar contratos, e isto é o povo a fazer constar.
Esta é uma crença muito antiga. As folias ao Espírito Santo, ainda que aparentem uma origem pagã no druidismo, ou na superstição grega, chegam a Portugal pelas mãos da Rainha Santa Isabel e são levadas para os Açores logo pelos primeiros povoadores. Convertidas na maior devoção e piedade, conservam-se até aos nossos dias: chamam-se, ali e agora, os impérios do Espírito Santo.
Os Açorianos são uma gente católica, extremamente crente e devota, e mesmo os mais fundamentalistas em matéria religiosa ou os ateus desobrigados fazem fé nos casos relacionados com o Divino Espírito Santo e temem as Suas "vinganças". É, como quem diz, uma questão de respeito.
Infinito é o rosário das salvações, grandes assombros ou modestos arranjos que o povo atribui à intervenção providencial do Divino - como gosta de chamar-Lhe, carinhoso, numa antiga e meiga confiança de nome próprio. Crises sísmicas e vulcões, pestes, o ror de maleitas e apertos do dia-a-dia, a vida difícil e o isolamento congregaram os ilhéus numa devoção que depressa se espalhou por todas as cidades, vilas e aldeias. E recorre-se-Lhe por tudo, coisa assim pataqueira ou missão a meio do impossível: simplesmente implorando melhoras em pró-forma de clínica geral ou prescrevendo cirúrgico tratamento de especialista; requerendo que o filho atine com os livros ou suspirando que calhe indulgência aos professores; convocando bênção para casamento novo ou clamando por intervenção de emergência em avaria conjugal; pedindo feliz termo para a viagem, que culturas e gado medrem, que as vinhas farturem, que o negócio corra, que o dinheiro não falte. Tudo, edecétrea atrás de edecétera, até aos limites de encomendas de alto lá com elas. O Divino por tudo olha, tudo remedeia - que não é Pessoa de desmanchar contratos, e isto é o povo a fazer constar.
Estamos em tempo de Espírito Santo e de Açores. Os parágrafos acima são o primeiro "fascículo" de um trabalho jornalístico que terei escrito talvez em 1992 ou 1993, não sei para quem. É prosa claramente datada, em todos os sentidos, mas outro dia reencontrei-me com ela e só me envergonhei um bocadinho. Sou apaixonado pelos Açores e mantenho uma relação muito especial e próxima com a ilha Terceira. Por isso voltarei ao assunto. Hoje é Dia do Espírito Santo ou Dia do Divino Espírito Santo, sobretudo no Brasil, para onde os portugueses levaram esta peculiar devoção lá pelos inícios dos século XVI.
terça-feira, 30 de maio de 2023
Mandaram-me dar vinho ao Saddam
Foto Hernâni Von Doellinger |
E eu fui. Comprei o vinho e escrevi o texto. Não o cartão. Um texto pequeno que andava à volta disto: o Saddam gosta de Mateus Rosé. Era capaz de ter também alguma graça, já não me lembro, mas quando digo andar à volta é mesmo andar à volta, fazer chouriço, meter palha, usar e abusar da técnica de composição musical da variação (e fuga), porque a "notícia" não tinha mais nada para dizer, era oca por dentro. E foi manchete no dia seguinte.
(Permitam-me abrir aqui um parêntese pedagógico, para proteger os caros leitores da tentação de conclusões precipitadas e injustas acerca do meu jornal. Deixem-me esclarecer o seguinte: num certo sentido, o 24horas foi o precursor do jornalismo que hoje se faz em Portugal - um jornalismo de títulos, colorido e imaginativo, a que, para ser perfeito, só falta o pequeno pormenor da informação, isto é, as noticiazinhas. Hoje os jornais portugueses são todos iguais ao 24horas. Uma diferença apenas os separa: o 24horas era, nos seus bons tempos, o melhor pior jornal do País, era um mau jornal muito bem feito. E ficava barato ao dono. Depois veio a rapaziada, tomou conta e fodeu tudo.)
Meti a caixa de vinho num armário da redacção. Eu já tinha aprendido que as geniais ideias vindas de Lisboa padeciam de tesão breve e alzheimer. Regra geral, no dia seguinte os nossos criativos e bem-intencionados chefes já não se lembravam das figuras tristes que nos tinham mandado fazer no dia anterior. E mandavam-nos fazer outras. Assim foi.
Em Dezembro de 2003 apanharam Saddam e eu pensei: "Agora é que era de lhe mandar o Rosé, para lhe animar o Natal na prisão". E deixei-me estar. O ex-presidente iraquiano foi executado três anos depois, como se viu abjectamente no YouTube, e as garrafas lá continuaram no armário, até ao dia em que Lisboa veio ao Porto anunciar que o Porto ia fechar para salvar o jornal. Isto é, para salvar Lisboa. Começava o ano de 2009 e desfizeram-se de nós. Eu trouxe para casa duas garrafas do Mateus Rosé de Saddam Hussein.
(Se fosse hoje, os gostos líquidos de Saddam andariam talvez mais pelo vinho azul da Casal Mendes, mas também não se poderia esperar melhor critério de quem certamente nunca pôs os pés no Nacor e às tantas nem estaria informado a respeito da rota dos tascos de Fafe.)
Enofilias e folclore à parte, o 24horas acabou por não se safar, mas "Lisboa" sim e é o que eu lhes estimo. Os alegados responsáveis do ex-jornal estão agora a enganar noutro lugar. As duas garrafas de Mateus Rosé ainda cá estão, a fazerem de pai e mãe de uma outra, de aguardente do Salazar, parece que engarrafada pelo próprio, como me garantiu, no acto da oferta em Santa Comba Dão, o sobrinho-neto do nosso estimado ditador. Estão bem umas para as outras, as garrafas. E os outros também.
Etiquetas:
Casal Mendes,
jornais,
jornalismo,
jornalistas,
Mateus Rosé,
Nacor,
rosé,
Saddam Hussein,
série 24horas,
série Memórias de Fafe,
tascos,
vinho,
vinho azul
segunda-feira, 29 de maio de 2023
Portugal à la minuta
"Somos menos e estamos mais velhos, casamos pouco e continuamos pobres" - assim curto e grosso, este é o "Retrato de Portugal" que a Pordata, base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos, fez questão de revelar aos jornais aqui atrasado.
Fico sempre de pé atrás com esta coisa do "somos" sem me terem perguntado nada. Lembra-me a história do frango para dois que um comeu e o outro viu comer, e portanto, estatisticamente, cada qual comeu metade.
Resolvi por isso esmiuçar, item por item, as grandes conclusões dos dados analisados, que reportavam aos anos de 2007 a 2018. E então: somos menos? Somos. O meu sogro morreu há coisa de cinco anos. Estamos mais velhos? Estamos. À média de um ano por ano, excepto as mulheres do sexo feminino. Casamos pouco? Pois casamos, mas aí a culpa é particularmente minha, que só casei uma vez. Continuamos pobres? Cada vez mais, mas alegres, e seja por alma de quem lá têm. E a minha decisão é: ora aqui está um estudo que finalmente realmente.
Fico sempre de pé atrás com esta coisa do "somos" sem me terem perguntado nada. Lembra-me a história do frango para dois que um comeu e o outro viu comer, e portanto, estatisticamente, cada qual comeu metade.
Resolvi por isso esmiuçar, item por item, as grandes conclusões dos dados analisados, que reportavam aos anos de 2007 a 2018. E então: somos menos? Somos. O meu sogro morreu há coisa de cinco anos. Estamos mais velhos? Estamos. À média de um ano por ano, excepto as mulheres do sexo feminino. Casamos pouco? Pois casamos, mas aí a culpa é particularmente minha, que só casei uma vez. Continuamos pobres? Cada vez mais, mas alegres, e seja por alma de quem lá têm. E a minha decisão é: ora aqui está um estudo que finalmente realmente.
Doutores e bastardos, assim somos
Há uma década, os portugueses tinham mais doutorados e mais filhos fora do casamento do que aqui os nossos vizinhos espanhóis, os quais, por seu lado, viviam mais tempo e navegavam mais na Internet. Melhor para eles! Eu não faço ideia para que é que estas estatísticas comparativas servem, mas a verdade é que elas não nos largam, pondo-se depois a jeito para as leituras que mais nos apetecerem. Organismos dos dois países confrontaram indicadores e chegaram à conclusão de que, por exemplo, havia quatro espanhóis para cada português. O que também não quer dizer absolutamente nada, como ficou cabal e historicamente demonstrado em Aljubarrota.
Ah!, mas dizem que morremos do mesmo em ambos os lados da fronteira: tumores e doenças dos aparelhos circulatório e respiratório foram as principais causas de morte apuradas, nos dois países, pelos minuciosos estatísticos. Fossem eles um pouco mais longe e se calhar descobririam que em França também. E na Alemanha. E em Itália. E na Suíça. E na Hungria. E espantariam o mundo com a extraordinária novidade.
Uma década passada, não sei qual é a situação hoje em dia. Assim ao longe, parece-me que estamos todos estatisticamente mortos e sinceramente não sei quem é que está a escrever isto.
P.S. - Hoje é Dia do Estatístico. No Brasil. Mas calha bem aqui...
Ah!, mas dizem que morremos do mesmo em ambos os lados da fronteira: tumores e doenças dos aparelhos circulatório e respiratório foram as principais causas de morte apuradas, nos dois países, pelos minuciosos estatísticos. Fossem eles um pouco mais longe e se calhar descobririam que em França também. E na Alemanha. E em Itália. E na Suíça. E na Hungria. E espantariam o mundo com a extraordinária novidade.
Uma década passada, não sei qual é a situação hoje em dia. Assim ao longe, parece-me que estamos todos estatisticamente mortos e sinceramente não sei quem é que está a escrever isto.
P.S. - Hoje é Dia do Estatístico. No Brasil. Mas calha bem aqui...
domingo, 28 de maio de 2023
Deixem o Espírito Santo em paz!
O Papa morre, longe vá o agoiro, e a Igreja sotainada apressa-se a reunir em conclave para escolher o novo Papa. Velho. Um novo Papa velho, não vá o diabo tecê-las. A Capela Sistina é preparada a todo o vapor e duas salamandras. Metidos lá dentro, fechados à chave, todos muito cardeais, o lóbi italiano, o lóbi canadiano, o lóbi americano, o lóbi alemão, o lóbi austríaco, o lóbi francês, o lóbi-da-alsácia, o lóbi brasileiro, o lóbi sul-americano, o lóbi africano, o lóbi africanista, o lóbi banqueiro, o lóbi antunes, o lóbi dos velhos, o lóbi dos "novos", o lóbi "conservador", o lóbi "renovador", o lóbi do silêncio, o lóbi "garganta funda", o lóbi gay e outros insondáveis lóbis vão negociar o nome do sucessor do falecido. A feira do costume. Organizam rifas, fazem apostas e jogam ao pilas. Tiram um nome à sorte e no fim dizem que a culpa foi do Espírito Santo.
P.S. - Hoje é Dia de Pentecostes. E amém.
sábado, 27 de maio de 2023
Chucharros, como se diz em Fafe
Era um anúncio radiofónico a não sei quê. Mais ou menos isto: o filho com jeito para a piada chega a casa e diz ao pai que tem uma má e uma boa notícia para lhe dar - bateu com o carro e, como foi contra a porta do mercado, aproveitou para trazer os carapaus para o jantar. "Carapaus não", corrige o sapiente progenitor, "chicharros, como se diz nos Açores". Exactamente. Como se diz nos Açores. Sobretudo naquele belíssimo naco açoriano a norte do Douro e Minho acima, Galiza adentro...
Em Fafe, chicharros dizia-se chucharros, e até havia uma família, gente boa, com esse nome posto. Os Chucharros, do Lombo, vizinhos do Zegolina, que um destes dias vou contar aqui. Em fafense correcto, quer-se dizer, em fafês, como eu lhe chamo, os ches de chucharro devem ser lidos como os ches de cachicha.
Em Fafe, chicharros dizia-se chucharros, e até havia uma família, gente boa, com esse nome posto. Os Chucharros, do Lombo, vizinhos do Zegolina, que um destes dias vou contar aqui. Em fafense correcto, quer-se dizer, em fafês, como eu lhe chamo, os ches de chucharro devem ser lidos como os ches de cachicha.
Etiquetas:
Açores,
Armando Zegolina,
carapaus,
chicharros,
chucharros,
fafês,
Galiza,
língua portuguesa,
Minho,
peixe,
publicidade,
série Fafenses excelentíssimos,
série Memórias de Fafe
O vento e as correntes de ar
Robert Allen Zimmerman nasceu na cidade americana de Duluth, Minnesota, em 1941, e gostava muito de cantar. Cantava, por exemplo, que os tempos estão a mudar. Mas cantava de uma maneira tão inesperadamente fanhosa que as pessoas começaram a chamar-lhe Bob Dylan e assim ficou.
Quer-se dizer. É um bocado estranho pensar que uma vez assisti a um concerto de um Prémio Nobel da Literatura. Um excelentíssimo concerto do velho Dylan, à pala do meu irmão Lando, no Coliseu do Porto, na noite de 8 de Abril de 1999. Um concerto de literatura, portanto. Se este ano o escritor laureado for, por exemplo, o Tony Carreira, fico em mãos com o mesmo problema, porque também já assisti a um concerto do nosso inevitável Tony. Exclusivamente por obrigação profissional, mas assisti. O meu irmão, que até é um intelectual, é que não.
P.S. - O segundo álbum de estúdio de Bob Dylan, "The Freewheelin' Bob Dylan", que abre com a canção "Blowin' in the wind", foi lançado no dia 27 de Maio de 1963, faz hoje exactamente 60 anos.
Quer-se dizer. É um bocado estranho pensar que uma vez assisti a um concerto de um Prémio Nobel da Literatura. Um excelentíssimo concerto do velho Dylan, à pala do meu irmão Lando, no Coliseu do Porto, na noite de 8 de Abril de 1999. Um concerto de literatura, portanto. Se este ano o escritor laureado for, por exemplo, o Tony Carreira, fico em mãos com o mesmo problema, porque também já assisti a um concerto do nosso inevitável Tony. Exclusivamente por obrigação profissional, mas assisti. O meu irmão, que até é um intelectual, é que não.
P.S. - O segundo álbum de estúdio de Bob Dylan, "The Freewheelin' Bob Dylan", que abre com a canção "Blowin' in the wind", foi lançado no dia 27 de Maio de 1963, faz hoje exactamente 60 anos.
sexta-feira, 26 de maio de 2023
Feira dos 27 de regresso a Arnozela
A Feira dos 27 volta amanhã a Arnozela, quase sessenta anos após a sua última realização. Das duas da tarde às onze da noite, no Largo da Feira, sempre a bombar, com muita música, jogo do pau e jogo da malha, pregões, rusga, porco no espeto, caldo no pote e café da cafeteira, como era antigamente. Programa completo, aqui.
quinta-feira, 25 de maio de 2023
Éfaf, a arte antes pelo contrário
Foto Município de Fafe |
"Éfaf é um jogo com a palavra Fafe que alude à inversão do normal sentido do quotidiano, sendo os filhos a trazerem os pais à escola e em simultâneo a representação de determinadas perspetivas de Ser Fafe, respeitando o passado, vivenciando o presente e perspetivando o futuro", explica o texto que anuncia a exposição. Mais informação, aqui e aqui.
Etiquetas:
alunos,
Arquivo Municipal,
Arquivo Municipal de Fafe,
arte,
Câmara de Fafe,
Éfaf2023,
ensino,
Escola Secundária de Fafe,
Fafe
quarta-feira, 24 de maio de 2023
Parque natural
Era um parque natural. Um excelente parque natural. Descampado, chão de terra, pedra e erva, e nem precisou de obras: cabiam ali para cima de cem carros.
P.S. - Hoje é Dia Europeu dos Parques Naturais.
P.S. - Hoje é Dia Europeu dos Parques Naturais.
terça-feira, 23 de maio de 2023
Ó da Guarda!, gritou o Pedro
Resolvi chamar a GNR, pois aqui anda tudo aos Xutos e Pontapés. Apesar de todos os Ecos da Cave que se escutam, tem uma Dama, que pertence a um Clã de Humanos, comandados por um tal de Capitão Fausto, que se acham os Heróis do Mar, mas que não passam de uns Azeitonas que moram lá para os lados da Quinta do Bill. São daqueles pseudointelectuais que acham que Lex Injusta Non Est Lex, mas que no fundo são um bando misturado de Santos e Pecadores. Bom, eu vou é chamar um Táxi que me leve ao Polo Norte, que por aqui Jáfu-mega.
(Este era um comentário que o Pedro Dantas colocou aqui no Fafismos, a propósito dos Xutos & Pontapés na Senhora de Antime. Mas fica melhor deste lado, assim à vista.)
Etiquetas:
bandas,
Fafe,
Festas do Concelho,
música,
Pedro Dantas,
Senhora de Antime,
série Fafenses excelentíssimos,
Xutos & Pontapés
segunda-feira, 22 de maio de 2023
Gastronomia portuguesa em Fafe
Fafe e Barcelos assinalam, no próximo fim-de-semana, o Dia Nacional da Gastronomia Portuguesa. A meias. Em Barcelos, na sexta e domingo, dias 26 e 28. Em Fafe, no sábado, dia 27, com jogo do pau, folclore, exposição de carros de rali ou presença de animais de raça barrosã, destacando-se um almoço com vitela assada à moda de Fafe, no Pavilhão Multiusos. Aviso com tempo, coloque na agenda. Mais informação, aqui.
Aos apaixonados pela nossa vitela assada, pela gastronomia em geral ou simplesmente por Fafe, recomendo, como aperitivo, as seguintes leituras aqui no Fafismos: Provavelmente a melhor vitela assada do mundo; O segredo da Albertininha da Lameira; Mais um quartilho para a mesa do canto; Sushi à moda de Fafe; Anthony Bourdain não passou por Fafe; Adeus, confrade, até outro dia e Antes que seja crime.
Etiquetas:
alimentação,
Barcelos,
comida,
Dia Nacional da Gastronomia Portuguesa,
Fafe,
gastronomia,
série Fafenses excelentíssimos,
série Memórias de Fafe
Dou abraços em segunda mão
Andei a remexer nas gavetas, faço isso uma vez por ano, sei eu lá porquê, e no meio da papelada sem sentido encontrei duas dúzias de abraços antigos mas ainda em razoável estado de conservação, dois deles desirmanados e pelo menos um que de certeza não é meu, achei-o talvez, mas já não lembro, pu-lo de lado e estou pronto a entregá-lo a quem provar pertencer-lhe.
Quanto aos outros, deixei-os estar, devem ser sobras da pandemia e não sei o que me parece deitá-los fora. Quem os quiser, que diga. Eu dou-os!
P.S. - Hoje é Dia do Abraço. Amanhã pode ser tarde.
Saudações inimigas?
Escrevi aí a uma ungida criatura e, no final, mandei-lhe um "grande abraço". A criatura despachou-me às três pancadas e, no final, mandou-me, para a troca, "saudações amigas". Saudações amigas? Mas, Senhor Bispo, o que raio são saudações amigas? Evidentemente serão o contrário de saudações inimigas, mas o que são saudações inimigas? Abraço, eu sei: o abraço é sólido, palpável, vê-se, sente-se, dá-se, recebe-se, aperta-nos, aproxima-nos, humaniza-nos, igualiza-nos. Agora, saudações amigas? Isso traz água no bico...
O abraçador de causas
Ele gostava de abraçar causas, mas era muito desajeitado. Foi acusado de assédio.
Era de abraços
Abraçou o desemprego com o mesmo entusiasmo com que abraçara a profissão. Era realmente uma pessoa muito abraçadeira...
O amplexo veio para trás
O meu amigo fazia anos e eu mandei-lhe uma SMS: "Parabéns. Abraço."
O meu amigo respondeu-me, também por SMS: "Devolvo o abraço. Obrigado."
E eu pensei: o meu abraço tinha defeito?...
O meu amigo respondeu-me, também por SMS: "Devolvo o abraço. Obrigado."
E eu pensei: o meu abraço tinha defeito?...
domingo, 21 de maio de 2023
sábado, 20 de maio de 2023
Abelhas e vespas, a diferença
A diferença entre as abelhas e as vespas. As abelhas são insectos himenópteros, da família dos Apídeos, que vivem em enxames e produzem mel e cera. As vespas são lambretas ou, vá lá, motorizadas para senhoras, desculpem-me a expressão...
O caralho é o nosso metro-padrão
Contente como o caralho, rico como o caralho, bom como o caralho, gordo como o caralho, tolo como o caralho, chato como o caralho, distraído como o caralho, salgado como o caralho, fodido como o caralho. O caralho dá a dimensão da coisa, é a nossa unidade de medida, o termo de comparação que o português tem sempre à mão ou na ponta da língua, consoante. É o nosso metro-padrão. E devia estar guardado com todos os cuidados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Metrologia.
Os oceanos são cinco, todos aqui à beira
Os oceanos são cinco, tirando o Oceano do Sporting, que não conta para o totobola, e a Barragem de Queimadela, omissa por manifesta velhacaria. Portanto, são exactamente cinco os oceanos: Atlântico, Pacífico, Índico, Glacial Árctico e Glacial Antárctico ou Austral. São cinco e abriram um restaurante logo ao virar da esquina e com garagem "Reservada a clientes", ao lado da minha porta, em Matosinhos. O restaurante chama-se muito apropriadamente Restaurante 5 Oceanos. Que se segue: hoje é Dia Europeu dos Mares e, em Portugal, é também Dia da Marinha, que este ano ancora as celebrações oficiais outra vez cá em cima, no Porto mais propriamente. Eu, se mandasse, marcava já para Fafe o Dia da Marinha do próximo ano, encaixado entre as Feiras Francas e a Senhora de Antime e aproveitando a embalagem do rali. E era justo. Porque, para quem não sabe, o mar começa em Fafe, pelo menos um bocadinho...
Etiquetas:
Armada,
Dia da Marinha,
Dia Europeu do Mar,
Fafe,
Feiras Francas,
língua portuguesa,
mar,
Marinha,
oceanos,
Porto,
Porto de Leixões,
Rali de Portugal,
restaurantes,
Senhora de Antime
sexta-feira, 19 de maio de 2023
Xutos & Pontapés na Senhora de Antime
Fafe festeja a sua Senhora de Antime, como é tradição, no segundo fim-de-semana de Julho, de 7 a 9. Xutos & Pontapés e Karetus, no dia 7, sexta-feira, e Matias Damásio e D.A.M.A., dia 8, sábado, foram já anunciados como cabeças de cartaz.
quinta-feira, 18 de maio de 2023
Flores ao solheiro
Um restinho de sol e lá se sentavam elas comparando doenças e façanhas de netos havidos ou inventados. Rosa, Violeta, Hortênsia, Margarida, Dália, Açucena, ao entardecer da vida, no banco do Largo, no tempo em que o Largo tinha árvores...
P.S. - Hoje é Dia Internacional do Fascínio das Plantas.
A planta
Disse o arquitecto-chefe ao arquitecto estagiário: "Chegue-me aí essa planta". E o estagiário chegou. Era uma Dypsis lutescens, vulgo areca-bambu ou palmeira areca.
quarta-feira, 17 de maio de 2023
As nossas letras galegas
Tínhamos a bó e tínhamos o bô. Eu e os meus irmãos tivemos bó e bô vezes dois, pela mãe e pelo pai, sorte a nossa! Bozinha era a bisavó, e tínhamos, em Basto, uma, muito velhinha, que uma vez deu-me uma batata assada no borralho. Bô queria também dizer bom: binho bô; bô moço; estás bô? Depois, se calhar por soar a parolo não sei a que finaços de carregar pela boca, bô mudou para bu. Bu também mete medo, é susto. Buuu! Mas quem caralho teve a ideia?...
Para mim, e defendo-o de graça há muitos anos, o Minho começa em Fafe e acaba em Santiago de Compostela. E a Galiza também. Isto é: Galiza e Minho são-me o mesmo, chamem-lhe o que quiserem, mas Minho decerto fica-lhe melhor derivado ao rio que nos une. Somos a cara chapada uns dos outros, os minhotos e os galegos destes limites, labregos envernizados, crescemos das mesmas raízes, aprendemos de uma literatura comum, padecemos ainda hoje do mesmo ancestral atraso de vida, desfrutamos do mesmo amor à comida e à bebida, à água benta e à festa, partilhamos a maneira de falar, cheia de "ches", de "inhas" e de "inhos", de "xes" em vez de "ses", de "bes" em vez de "ves", não raro falamos até a mesma língua, consoante os sítios e a idade, repetimos nomes, palavras pândegas, debitamos caralhos atrás de caralhos como não há memória de tanto caralhar noutras latitudes deste mundo e de outros.
Em Fafe e nas terras de Basto chegadas a Fafe falava-se esse conversar comum quando eu era pequeno, aprendi-o naturalmente com os meus avós maternos, em Passos, Cabeceiras, com a minha mãe e com os meus tios. A querida tia Margarida ainda hoje o usa a cotio, com uma graça que me encanta e comove, e eu dou-lhe serventia da língua para fora sempre que posso, e agora, que estou de vago, posso quase sempre.
Imaginem então a minha alegria com o que se passou aqui atrasado, numa das nossas habituais saltadas ao lado do Minho a que outros chamam Galiza. Foi assim. Como de costume, aproveitámos para atestar o depósito do carro. "Gasóleo", digo eu ao senhor gasolineiro. E o senhor gasolineiro, nunca tal nos tinha acontecido, pergunta-me sem mais nem menos, como se anunciasse pipa nova: - Normal ou do bô?...
Caralho! "Do bô", o senhor gasolineiro perguntou-me se o gasóleo era "do bô", palavra de honra, "do bô", perguntou, como fosse a minha avó, o meu avô, a minha mãe ou a tia Margarida a perguntar-me. E eu fiquei tão contente, tão criança, de repente tão outra vez abraçado ao avental da minha mãe a cheirar tão bem a sabão e felicidade, a casa, a nós, fiquei tão comovido que quase me descompus...
Por outro lado, o gasóleo era normal e fedia. Mas o senhor gasolineiro perguntou se era "do bô", foi o que ele disse, e disse tão bem, e eu gostei tanto. "Do bô", caralho!...
P.S. - Hoje é Día das Letras Galegas, este ano dedicado a Francisco Fernández del Riego. Creio que se justifica a repetição (acrescentada) do meu textinho.
Para mim, e defendo-o de graça há muitos anos, o Minho começa em Fafe e acaba em Santiago de Compostela. E a Galiza também. Isto é: Galiza e Minho são-me o mesmo, chamem-lhe o que quiserem, mas Minho decerto fica-lhe melhor derivado ao rio que nos une. Somos a cara chapada uns dos outros, os minhotos e os galegos destes limites, labregos envernizados, crescemos das mesmas raízes, aprendemos de uma literatura comum, padecemos ainda hoje do mesmo ancestral atraso de vida, desfrutamos do mesmo amor à comida e à bebida, à água benta e à festa, partilhamos a maneira de falar, cheia de "ches", de "inhas" e de "inhos", de "xes" em vez de "ses", de "bes" em vez de "ves", não raro falamos até a mesma língua, consoante os sítios e a idade, repetimos nomes, palavras pândegas, debitamos caralhos atrás de caralhos como não há memória de tanto caralhar noutras latitudes deste mundo e de outros.
Em Fafe e nas terras de Basto chegadas a Fafe falava-se esse conversar comum quando eu era pequeno, aprendi-o naturalmente com os meus avós maternos, em Passos, Cabeceiras, com a minha mãe e com os meus tios. A querida tia Margarida ainda hoje o usa a cotio, com uma graça que me encanta e comove, e eu dou-lhe serventia da língua para fora sempre que posso, e agora, que estou de vago, posso quase sempre.
Imaginem então a minha alegria com o que se passou aqui atrasado, numa das nossas habituais saltadas ao lado do Minho a que outros chamam Galiza. Foi assim. Como de costume, aproveitámos para atestar o depósito do carro. "Gasóleo", digo eu ao senhor gasolineiro. E o senhor gasolineiro, nunca tal nos tinha acontecido, pergunta-me sem mais nem menos, como se anunciasse pipa nova: - Normal ou do bô?...
Caralho! "Do bô", o senhor gasolineiro perguntou-me se o gasóleo era "do bô", palavra de honra, "do bô", perguntou, como fosse a minha avó, o meu avô, a minha mãe ou a tia Margarida a perguntar-me. E eu fiquei tão contente, tão criança, de repente tão outra vez abraçado ao avental da minha mãe a cheirar tão bem a sabão e felicidade, a casa, a nós, fiquei tão comovido que quase me descompus...
Por outro lado, o gasóleo era normal e fedia. Mas o senhor gasolineiro perguntou se era "do bô", foi o que ele disse, e disse tão bem, e eu gostei tanto. "Do bô", caralho!...
P.S. - Hoje é Día das Letras Galegas, este ano dedicado a Francisco Fernández del Riego. Creio que se justifica a repetição (acrescentada) do meu textinho.
Etiquetas:
avós,
combustível,
Día das Letras Galegas,
fafês,
Fernández del Riego,
galego,
Galiza,
gasóleo,
língua portuguesa,
Minho,
série A minha avó de Basto,
série A minha mãe,
série O meu avô de Basto
O Pedro Dantas e outras coisas do arco-da-velha
Antes de ir desta para melhor, vou dar com a língua nos dentes e lavar roupa suja. Com a faca e o queijo na mão, com uma perna às costas e de olhos fechados, vou sacudir a água do capote.
Ainda tirei o cavalinho da chuva, tentei tirar este assunto do mapa mas eu sou uma troca-tintas, uma vira-casacas e vou voltar à vaca fria.
Andava eu aqui a brincar com os meus botões, a chorar o leite derramado, com o bicho carpinteiro e macaquinhos no sótão, quando decidi procurar uma agulha no palheiro.
Eu sei, eu não bato bem da bola, mas senti-me pior que uma lesma, e tinha uma pedra no sapato. O problema é que andava a bater com a cabeça nas paredes há algum tempo, com um aperto no coração e uma enorme vontade de arrancar os cabelos.
Passei muitos dias com cara de caso e com a cabeça nas nuvens como uma barata tonta. Mas eu, que estou armada até aos dentes, arregacei as mangas e procurei o arquivo a eito. Acontece que uma vez, em conversa com um amigo, ele disse-me: "Tiras-me do sério !" e eu, sem papas na língua, respondi: "Se te tiro do sério, deixo-te a rir, não é?" Ele, de trombas e com os azeites, gritou em plenos pulmões: "É preciso ter lata!", só faltou trepar pelas paredes. Primeiro pensei ter posto a pata na poça, depois achei que ele tinha acordado com os pés de fora e que estava a fazer uma tempestade num copo de água e trinta por uma linha.
Fiz vista grossa, mas depressa abri-lhe o coração, o jogo e os olhos, na esperança de acertar agulhas e pôr os pontos nos is. Não lhe ia prometer mundos e fundos nem pregar uma peta, eu estava mesmo a brincar. Pão, pão, queijo, queijo, rebeubéu pardais ao ninho, fiquei com os pés para a cova, só me apeteceu pendurar as botas e mandá-lo pentear macacos, dar uma volta ao bilhar grande ou chatear Camões.
Que balde de água fria! Caraças, levei a peito, aquela resposta era tão sem pés nem cabeça que fui aos arames. Eu sei que dou muitas calinadas, meto os pés pelas mãos e faço tudo à balda. Posso até ser cabeça de alho chocho ou cabeçuda, mas não ia meter o rabo entre as pernas, nem que a vaca tossisse. Fiquei com a cabeça em água e a pensar na morte da bezerra. Caí das nuvens e com paninhos quentes passei a conversa a pente fino, não fosse bater as botas. Percebi que ele tinha trocado alhos por bugalhos, apeteceu-me cortar-lhe as vazas, mas estava de mãos e pés atados e baixei a bola. Engoli um sapo, agarrei com unhas e dentes, dei o braço a torcer e dei-lhe troco com o intuito de descalçar as botas.
Não gosto muito do vira o disco e toca o mesmo, mas isso já são muitos anos a virar frangos e pus as barbas de molho. Uma mão lava a outra e as duas lavam as orelhas, mas ele está-se nas tintas. Ficou com a pulga atrás da orelha, pôs-se a pau antes de estar feito ao bife. Pus mão à obra, tentei fazer um negócio da China e bati na mesma tecla. Dados lançados, cartas na mesa, coisas do arco-da-velha. Claro que dei com o nariz na porta, o gato comeu-lhe a língua e saiu com pés de lãs. É que isto pode estar fixe, mas não me apetece segurar a vela, com dor de cornos e de cotovelo só porque não conheço 1/4 das expressões portuguesas.
(Este texto é mais um "contributo" do Pedro Dantas, que me honra com a sua regular visita a esta casa. O Pedro é dos meus. Porque é mesmo dos meus, daqueles poucos que me dizem respeito, mas também porque, como eu, guarda a memória de Fafe, limpa o pó ao falar antigo e gosta de brincar com as palavras.)
Ainda tirei o cavalinho da chuva, tentei tirar este assunto do mapa mas eu sou uma troca-tintas, uma vira-casacas e vou voltar à vaca fria.
Andava eu aqui a brincar com os meus botões, a chorar o leite derramado, com o bicho carpinteiro e macaquinhos no sótão, quando decidi procurar uma agulha no palheiro.
Eu sei, eu não bato bem da bola, mas senti-me pior que uma lesma, e tinha uma pedra no sapato. O problema é que andava a bater com a cabeça nas paredes há algum tempo, com um aperto no coração e uma enorme vontade de arrancar os cabelos.
Passei muitos dias com cara de caso e com a cabeça nas nuvens como uma barata tonta. Mas eu, que estou armada até aos dentes, arregacei as mangas e procurei o arquivo a eito. Acontece que uma vez, em conversa com um amigo, ele disse-me: "Tiras-me do sério !" e eu, sem papas na língua, respondi: "Se te tiro do sério, deixo-te a rir, não é?" Ele, de trombas e com os azeites, gritou em plenos pulmões: "É preciso ter lata!", só faltou trepar pelas paredes. Primeiro pensei ter posto a pata na poça, depois achei que ele tinha acordado com os pés de fora e que estava a fazer uma tempestade num copo de água e trinta por uma linha.
Fiz vista grossa, mas depressa abri-lhe o coração, o jogo e os olhos, na esperança de acertar agulhas e pôr os pontos nos is. Não lhe ia prometer mundos e fundos nem pregar uma peta, eu estava mesmo a brincar. Pão, pão, queijo, queijo, rebeubéu pardais ao ninho, fiquei com os pés para a cova, só me apeteceu pendurar as botas e mandá-lo pentear macacos, dar uma volta ao bilhar grande ou chatear Camões.
Que balde de água fria! Caraças, levei a peito, aquela resposta era tão sem pés nem cabeça que fui aos arames. Eu sei que dou muitas calinadas, meto os pés pelas mãos e faço tudo à balda. Posso até ser cabeça de alho chocho ou cabeçuda, mas não ia meter o rabo entre as pernas, nem que a vaca tossisse. Fiquei com a cabeça em água e a pensar na morte da bezerra. Caí das nuvens e com paninhos quentes passei a conversa a pente fino, não fosse bater as botas. Percebi que ele tinha trocado alhos por bugalhos, apeteceu-me cortar-lhe as vazas, mas estava de mãos e pés atados e baixei a bola. Engoli um sapo, agarrei com unhas e dentes, dei o braço a torcer e dei-lhe troco com o intuito de descalçar as botas.
Não gosto muito do vira o disco e toca o mesmo, mas isso já são muitos anos a virar frangos e pus as barbas de molho. Uma mão lava a outra e as duas lavam as orelhas, mas ele está-se nas tintas. Ficou com a pulga atrás da orelha, pôs-se a pau antes de estar feito ao bife. Pus mão à obra, tentei fazer um negócio da China e bati na mesma tecla. Dados lançados, cartas na mesa, coisas do arco-da-velha. Claro que dei com o nariz na porta, o gato comeu-lhe a língua e saiu com pés de lãs. É que isto pode estar fixe, mas não me apetece segurar a vela, com dor de cornos e de cotovelo só porque não conheço 1/4 das expressões portuguesas.
Mandem Saudades, de Mário Augusto, em Fafe
Pastelaria graças a Deus
Comeu um cardeal, dois jesuítas e três seminaristas. Bebeu quatro taças de Casal Garcia, persignou-se e deu graças a Deus.
Pastelaria e ordem unida
Comeu três brigadeiros de enfiada. Disse-lhes após, enquanto limpava a boca e ajeitava as calças: - Informem o general que eu para a semana não venho.
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Pastelaria. Mais sobre o assunto, recomendo, em "Então pastéis era aquilo?" e "Comíamos Planta e já éramos ricos".
terça-feira, 16 de maio de 2023
Boxers, trusses e espermatozóides
Um estudo de cientistas americanos publicado aqui atrasado na revista Human Reproduction considerava que os homens que normalmente vestem boxers têm mais espermatozóides. A ideia já tem barbas, vem quase desde o tempo dos romanos, mas a palpitosa notícia foi-me então oferecida pelo nosso jornal Público, sempre atento a estas extraordinarices. Não me vou dar ao trabalho de procurar, mas tenho a certeza de que o estudo científico em questão contradiz um outro estudo científico, americano evidentemente, que prova que os boxers prejudicam os espermatozóides. Como se sabe, os estudos científicos, sobretudo na América, tanto podem ser patrocinados por fabricantes de boxers como por fabricantes de slips - é a lei da livre concorrência, cada um puxa a brasa à sua sardinha, pelo menos no reino das cuecas.
Fixemo-nos, porém, no âmago da notícia, nos boxers. Será abusivo concluir que, se um homem com boxers tem mais espermatozóides, um homem sem cuecas de qualquer espécie tem muitos mais? E as famigeradas trusses? Sim, as trusses, como não se cansava de dizer o grande Zé Manquinho, contando e recontando as peças dos equipamentos da AD Fafe, até que tudo batesse certo. E a tanga, como é? E o fio dental, prejudica? E um nudista a tempo inteiro, o que é que ele há-de fazer ao mais que certo excedente de espermatozóides, que às tantas até lhe saem pelas orelhas? E mulher que use boxers, como é que fica de espermatozóides?
Por outro lado, homens que vestem boxers chamam-se, por norma, "segundos". É do boxe.
Fixemo-nos, porém, no âmago da notícia, nos boxers. Será abusivo concluir que, se um homem com boxers tem mais espermatozóides, um homem sem cuecas de qualquer espécie tem muitos mais? E as famigeradas trusses? Sim, as trusses, como não se cansava de dizer o grande Zé Manquinho, contando e recontando as peças dos equipamentos da AD Fafe, até que tudo batesse certo. E a tanga, como é? E o fio dental, prejudica? E um nudista a tempo inteiro, o que é que ele há-de fazer ao mais que certo excedente de espermatozóides, que às tantas até lhe saem pelas orelhas? E mulher que use boxers, como é que fica de espermatozóides?
Por outro lado, homens que vestem boxers chamam-se, por norma, "segundos". É do boxe.
E agora um coisa completamente diferente. Cientistas da Universidade de Aveiro descobriram que, derivado aos exageros, a qualidade do sémen dos estudantes diminui durante as chamadas semanas académicas, com ou sem boxers. A pesquisa deixou de lado a sempre inquietante questão da erecção impossível, mesmo para quem consiga dar com a braguilha, e a controversa problemática do alcance máximo dos jactos de vómito, já que o mijo nem tem discussão: é pelas pernas abaixo. Mas não se pode ter tudo...
Voltando ao essencial da coisa e aos números que não mentem, a realidade é esta: durante festas como, por exemplo, a Queima das Fitas do Porto, para ficar aqui à porta, regista-se, em média, uma diminuição de 20 por cento na concentração de espermatozóides. No caso dos neurónios, há quem diga que a redução é de cem por cento.
P.S. - Hoje é Dia Nacional dos Cientistas.
Voltando ao essencial da coisa e aos números que não mentem, a realidade é esta: durante festas como, por exemplo, a Queima das Fitas do Porto, para ficar aqui à porta, regista-se, em média, uma diminuição de 20 por cento na concentração de espermatozóides. No caso dos neurónios, há quem diga que a redução é de cem por cento.
P.S. - Hoje é Dia Nacional dos Cientistas.
Etiquetas:
AD Fafe,
boxers,
ciência,
Dia Nacional dos Cientistas,
espermatozóides,
fertilidade,
língua portuguesa,
Queima da Fitas,
sémen,
série Fafenses excelentíssimos,
série Memórias de Fafe,
Zé Manquinho
O araújo
Ter um araújo no olho é uma daquelas expressões pândegas que eu trouxe comigo de Fafe, e nem vou dizer que ela seja apenas nossa, exclusiva, mas que terá sido parida cá por estas bandas, isso já sou capaz de arriscar. Araújo é sobrenome galego e português de origem nobre medieval, também possível de encontrar escrito como Araujo ou Araúxo, mas serve igualmente de topónimo e nem é preciso ir mais longe, basta dar um salto aqui ao lado, ao antigo apeadeiro de Araújo, actual estação do Metro do Porto, em Leça do Balio.
Araújo, nome de pessoa e de sítio, está visto, mas também, há quem diga, denominação de uma variante da árvore araúja. Para nós, porém, os fafenses velhos e irredutíveis, araújo é partícula que entra no olho acidentalmente, grão de pó, minúscula maravalha, bíblico argueiro, cisco, arujo. Arujo, exactamente arujo, vocábulo fidedigno e certificado de onde facilmente derivou a nossa arisca porém bem desenrascada corruptela.
Ter um araújo no olho. Outro dia, sem mais nem menos, lembrei-me da expressão antiga, e nem faço ideia de há quantos anos não lhe punha a vista em cima nem lhe dava uso. Perguntei à minha mulher se a conhecia de algum lado, à expressão, se já a teria dito ou pelo menos ouvido. E ela disse-me que não. Fiquei varado! Quer-se dizer: a minha mulher, rapariga da nossa idade, nasceu no Porto, na Foz, mas é filha de pais rústicos, o meu sogro de Baião e a minha sogra de Canelas, Gaia. Isto é, a minha mulher tinha obrigação, e, vai-se a ver, nada...
Nada, também não é bem assim. Sobre araújos, a minha mulher fez questão de explicar-me que sabia era a famosa anedota que mete marinheiros e aviadores. Aquela que pergunta: se quem trabalha no mar é marujo, porque é que quem trabalha no ar não é araújo? Isso.
Ter um araújo no olho. A expressão. Não é anedota, definitivamente não é uma anedota, mas que se põe a jeito, lá isso...
Por mares nunca dantes pedalados
Etiquetas:
Armada,
bicicletas,
Dia da Marinha,
Marinha,
Matosinhos,
navio-escola Sagres,
navios,
Passeio Atlântico,
Porto de Leixões,
Sagres,
veleiro
segunda-feira, 15 de maio de 2023
Móvel do crime
Não é tão raro assim. Às vezes o móbil do crime é mesmo o móvel de sala. Acontece geralmente em família, sobretudo em casos de herança ou partilhas.
A última a morrer
Era uma família convencional. Morreram, naturalmente por esta ordem, o Acúrsio, a Adelaide, o Tibério, a Catarina, a Rosa, o Celestino e finalmente a Esperança. E é daí que vem.
P.S. - Hoje é Dia Internacional da Família.
domingo, 14 de maio de 2023
Aparições e leitão da Bairrada
O peregrino chegou a Fátima, a mais de mil à hora, seriam talvez umas cinco da manhã, ainda a religião nem tinha aberto. Estacionou chiando pneus e perguntou, desnorteado e ofegante, como se tivesse ido a pé: - Nossa Senhora já apareceu?
- Isso foi ontem. - informou o segurança.
- E hoje?... - insistiu o peregrino.
- Não está previsto. - reportou o segurança.
- Nem um bocadinho?... - tentou o peregrino.
- Nicles batatóides! - confirmou o segurança.
- Vim de tão longe... - lamuriou-se o peregrino.
- Não posso fazer nada... - desculpou-se o segurança.
- Carago!... - protestou o peregrino.
- É a vida... - filosofou o segurança.
O peregrino cabisbaxou finalmente, disse "Prontos!..." como se isso o animasse, mas não animou e ainda por cima dizer "Prontos!..." é uma estupidez, deixou o número de telemóvel ao segurança, desse-se o caso de Nossa Senhora aparecer, deu meia-volta, meteu-se outra vez no carro e desandou para cima, nas calmas, vidro aberto, braço de fora, Mira de Aire, Alcobaça, Batalha, Nazaré, Figueira da Foz, Coimbra, Buçaco, Luso e Curia até à Mealhada. E ao leitão. O leitão, graças a Deus, aparece sempre.
Etiquetas:
13 de Maio,
Bairrada,
Casablanca,
cinema,
comida,
excursões,
Fátima,
fé,
gastronomia,
leitão,
Mealhada,
Nossa Senhora de Fátima,
peregrinações,
série Memórias de Fafe,
turismo
sábado, 13 de maio de 2023
Com sola à frente, com sola atrás
Os cançonetista Rosinha e Toy são cabeças de cartaz das Feiras Francas que arrancaram hoje em Fafe. Anteontem à tarde, enquanto esperava, fodido, no dentista, fiquei a saber pela RTP que a nossa Rosinha toca acordeão como o grande Quim Barreiros, mas sem bigode, e acaba de lançar o seu 17.º álbum, muito justamente intitulado "Com sola à frente, com sola atrás". Para mim, pura poesia!
E também admiro muito o Toy. O omnipresente Toy, que se gaba na televisão, nas televisões, de andar sempre pelo menos setenta ou oitenta quilómetros acima dos limites de velocidade impostos pelo Código da Estrada e que conduz com o joelho, como faz questão de demonstrar para a câmara, para os entrevistadores pés-de-microfone e para os respectivos senhores telespectadores. Eu, se estivesse em Fafe, pedia-lhe um autógrafo...
E também admiro muito o Toy. O omnipresente Toy, que se gaba na televisão, nas televisões, de andar sempre pelo menos setenta ou oitenta quilómetros acima dos limites de velocidade impostos pelo Código da Estrada e que conduz com o joelho, como faz questão de demonstrar para a câmara, para os entrevistadores pés-de-microfone e para os respectivos senhores telespectadores. Eu, se estivesse em Fafe, pedia-lhe um autógrafo...
quinta-feira, 11 de maio de 2023
As nudezes de Marisa Cruz
Uma vez Marisa Cruz entrou num filme e apareceu nua. Foi em 2004. O filme, de António Cunha Teles, chamava-se "Kiss Me" e entravam lá também o Nicolau Breyner (1940-2016), o Rui Unas, o Marcantónio Del Carlo e até a Clara Pinto Correia, entre outros. Marisa Cruz estava então com o jogador de futebol João Pinto, com quem assinaria casamento em 2009 e do qual rescindiria em 2013. Tiveram tempo para dois filhos. João Pinto é hoje director da Federação Portuguesa de Futebol, mas em 2004, época da estreia do filme, jogava no Boavista. Eu não entrei no filme, casei com a minha mulher no século passado e ainda cá estamos, nunca joguei no Boavista nem sou assalariado da FPF. Em 2004 trabalhava no 24horas, Redacção do Porto, e as inteligências lisboetas do meu jornal mandaram-me telefonar ao Jaime Pacheco, que era o treinador dos boavisteiros, a perguntar-lhe se tinha visto o filme, o que é que achara do corpo nu da Marisa e se tinha comentado o assunto com o João Pinto. As inteligências lisboetas do meu jornal mandaram-me também telefonar aos colegas do João (lembro-me do Frechaut, do Diogo Valente e do Martelinho, por exemplo), a perguntar-lhes se tinham visto o filme, o que é que acharam do corpo nu da Marisa e se tinham comentado o assunto no balneário. As inteligências lisboetas do meu jornal mandaram-me ainda para a porta do cinema, no NorteShopping, se não estou em erro, a perguntar aos espectadores que saíam se gostaram de ver a Marisa nua, se ela era mesmo boa como o milho, como parecia vestida, e se coisa e tal...
Às inteligências lisboetas do meu jornal, eu mandei-as à merda. E ao filme também. Nunca o vi. Por outro lado, vi aqui há coisa de quatro anos, num jornal desportivo - é como o jornal de apresenta, desportivo - que Marisa Cruz continua a querer mostrar. Está no seu direito. Eu se lhe soubesse desta mania, às tantas, em 2004, em vez de guardar respeito, talvez devesse ter-me dado ao trabalho. Mas não. Tenho a certeza de que fiz bem...
As inteligências lisboetas do meu falecido jornal estão hoje muito bem colocadas nos melhores jornais de referência da nossa praça. Circunspectos e lisboetas, os jornais, bem entendido.
As inteligências lisboetas do meu falecido jornal estão hoje muito bem colocadas nos melhores jornais de referência da nossa praça. Circunspectos e lisboetas, os jornais, bem entendido.
quarta-feira, 10 de maio de 2023
Quadrúpedes
O cavalo é um quadrúpede. Meio polvo, também.
P.S. - Hoje é Dia da Cavalaria. No Brasil. Em Fafe, de hoje a oito, 17 de Maio, é dia de corrida de cavalos a passo-travado.
P.S. - Hoje é Dia da Cavalaria. No Brasil. Em Fafe, de hoje a oito, 17 de Maio, é dia de corrida de cavalos a passo-travado.
A perna extra
"Fiambre da perna extra", como diz a etiqueta do produto, faz lembrar a "quinta pata do cavalo". O que é desagradável.
segunda-feira, 8 de maio de 2023
Adiante vai o burro
Hoje é Dia Internacional do Burro e portanto é um dia muito importante e que nos envolve a todos em geral e aos fafenses em particular. Sobre burros, aqui no Fafismos, eu já escrevi, nomeadamente, a respeito de Bento XVI e do presépio, a propósito de Salazar e da Senhora Dona Laura Summavielle, recordando a burra do Reigrilo e os 16 de Maio, que por acaso começam já no próximo sábado, calha bem, e puxando ao assunto as orelhas propriamente ditas. Poupando-me e poupando-vos a repetições, recomendo, ainda assim, uma refrescadela...
domingo, 7 de maio de 2023
O ouvidor de silêncios
Ele era uma exímio ouvidor de silêncios. Um fafense como deve ser, dos antigos. Capaz de distinguir o silêncio da flor de madressilva do silêncio de uma Famel Zundapp XF17 Super sem cano de escape.
P.S. - Hoje é Dia do Silêncio. Que se vai cantar o fado...
P.S. - Hoje é Dia do Silêncio. Que se vai cantar o fado...
O senhor do monte
Era uma alma sensível e só. Comovia-se com a natureza. Gostava de subir ao monte para ver as vistas. E cheirar os olfactos. E ouvir as audições...
Cuidado com os pontos de vista!
Apareceram-lhe uns pontos de vista um bocado esquisitos. Da noite para o dia. E ele assustou-se. Pelo sim e pelo não, foi ao oftalmologista.
P.S. - Hoje é Dia do Oftalmologista.
P.S. - Hoje é Dia do Oftalmologista.
sábado, 6 de maio de 2023
Um povo que só dá despesa
São cada vez mais os portugueses que procuram a sobrevivência no fundo de um contentor do lixo. Sei disto porque às vezes ando na rua. Aqui atrasado, de Matosinhos até à Foz, no Porto, passei por nove pontos de contentores de lixo: em seis dessas lixeiras estavam pessoas à cata dos nossos melhores restos. Não eram "drogados", nem "alcoólicos", nem "arrumadores" fora das horas de expediente - se querem saber. Eram pessoas como eu, como nós, certamente com mais azar na vida do que eu, do que nós. Vi, por exemplo: uma família inteira, que podia ser a minha família; uma senhora arranjada e digna, puxando um carrinho de compras que ia compondo com critério, e podia ser a minha mãe; um cavalheiro com o velho orgulho alquebrado, que me olhou com olhos de pedir desculpa por necessitar, e quase posso jurar que ele era eu.
É. Portugal enfrenta a ressaca da pandemia e a crise, mas de cernelha. Marcelo e Costa entretêm-se desentendendo-se, ministros desgovernados e medíocres mentem porque é só o que sabem e pensam que isso é política, oposições tolas e mais ou menos fascistas deslumbram-se em manhosos números de variedades. Viva o umbigo! Que se lixe a República, o pé-descalço que se foda. Os portugueses que afocinhem patrioticamente. Que façam pela vida! E depois que morram como lhes compete, e quanto mais cedo melhor, porque isto é um povo que só dá despesa.
É. Portugal enfrenta a ressaca da pandemia e a crise, mas de cernelha. Marcelo e Costa entretêm-se desentendendo-se, ministros desgovernados e medíocres mentem porque é só o que sabem e pensam que isso é política, oposições tolas e mais ou menos fascistas deslumbram-se em manhosos números de variedades. Viva o umbigo! Que se lixe a República, o pé-descalço que se foda. Os portugueses que afocinhem patrioticamente. Que façam pela vida! E depois que morram como lhes compete, e quanto mais cedo melhor, porque isto é um povo que só dá despesa.
Espanto gastrointestinal
Ele era vegetariano e cagava postas de pescada. A ciência nunca soube explicar o fenómeno.
P.S. - Hoje é Dia Internacional Sem Dieta.
sexta-feira, 5 de maio de 2023
As cadeiras de rodas e o código da estrada
Vai por aí uma alarido desgraçado por causa do homem que foi filmado a circular numa cadeira de rodas na Nacional 13, perto de Vila do Conde. Como se fosse uma novidade, como se estivesse ali mais uma daquelas extraordinarices inventadas pelo Correio da Manhã, que obviamente tomou conta da ocorrência. Pois estão todos enganados: eu já falo deste assunto pelo menos desde 2011, e trouxe-o também aqui ao Fafismos, acrescentado e livremente adaptado, há cerca de meio ano. Se não se lembram, eu repito. Até porque hoje é Dia Mundial do Trânsito e da Cortesia ao Volante, e vem a propósito. E era assim:
Há um novo perigo nas estradas portuguesas, e não falo de trotinetas. Há uma novo perigo nas estradas e são as cadeiras de rodas. Cadeiras de rodas eléctricas. As cadeiras. As cadeiras é que são eléctricas, as rodas não, são rodas normais, mas parece-me mal dizer cadeiras eléctricas de rodas, que é o que elas são realmente. Então, elas andam aí, são cada vez mais e cada vez mais metediças. Ainda no outro dia me apareceu uma disparada a atravessar, vamos um supor, a EN 206, em Arões, após a saída de Paçô Vieira, e só não acabou em desastre porque um de nós travou a tempo e não foi o condutor da cadeira. Cujo, aliás, agradeceu a sorte com um enorme sorriso (vá lá!) e não tinha capacete nem piscas.
As novas máquinas do asfalto alcançam a furiosa velocidade de 12 km/hora, o que não é brincadeira nenhuma para atravessar uma estrada nacional, fora de passadeira e saídas do nada. Ainda por cima está na moda o tuning, que transforma algumas delas em verdadeiras bombas, como a daquele brasileiro que uma vez foi apanhado pela polícia a mais de 60km/hora, depois de ter artilhado a sua cadeira de rodas com um motor de motorizada.
Creio que se impõe uma análise série e aprofundada ao fenómeno, em sede de. Sim, em sede de. Convoquem-se então os rapazes e eles que ajeitem uma comissão governamental e multidisciplinar com amplos poderes para remodelar o Código da Estrada, alterando, nomeadamente, a legislação referente às escolas de condução e introduzindo a especialidade de cadeiras de rodas. A sinalética de trânsito vigente terá de ser também revista e actualizada, não sendo de desprezar a possibilidade de implementar corredores específicos para cadeiras de rodas na rede de auto-estradas nacional. Com isenção de pagamento de portagens, evidentemente.
As novas máquinas do asfalto alcançam a furiosa velocidade de 12 km/hora, o que não é brincadeira nenhuma para atravessar uma estrada nacional, fora de passadeira e saídas do nada. Ainda por cima está na moda o tuning, que transforma algumas delas em verdadeiras bombas, como a daquele brasileiro que uma vez foi apanhado pela polícia a mais de 60km/hora, depois de ter artilhado a sua cadeira de rodas com um motor de motorizada.
Creio que se impõe uma análise série e aprofundada ao fenómeno, em sede de. Sim, em sede de. Convoquem-se então os rapazes e eles que ajeitem uma comissão governamental e multidisciplinar com amplos poderes para remodelar o Código da Estrada, alterando, nomeadamente, a legislação referente às escolas de condução e introduzindo a especialidade de cadeiras de rodas. A sinalética de trânsito vigente terá de ser também revista e actualizada, não sendo de desprezar a possibilidade de implementar corredores específicos para cadeiras de rodas na rede de auto-estradas nacional. Com isenção de pagamento de portagens, evidentemente.
A língua brasileira
A língua brasileira, também designada brasileiro, é uma das línguas oficiais da União Europeia, do Mercosul, da União de Nações Sul-Americanas, da Organização dos Estados Americanos, da União Africana e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Com aproximadamente 280 milhões de falantes, o brasileiro é a quinta língua mais falada no mundo, a terceira mais falada no hemisfério ocidental e a mais falada no hemisfério sul do planeta.
A língua portuguesa, também designada português, é falada e escrita por uns quantos velhos e teimosos como eu.
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Língua Portuguesa.
A língua portuguesa, também designada português, é falada e escrita por uns quantos velhos e teimosos como eu.
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Língua Portuguesa.
Eu e Ação e assim sucessivamente
Foto Hernâni Von Doellinger |
quarta-feira, 3 de maio de 2023
A arte de cuspir no prato
Foto Hernâni Von Doellinger |
Portanto tínhamos muito poucas "fontes". As pessoas minimamente informadas fugiam de conversar connosco como o diabo foge da cruz. Umas tinham vergonha na cara ou medo e outras desprezavam-nos simplesmente. Umas e outras sabiam que as nossas perguntas tinham quase sempre volta de foda. Se desse jeito, pedíamos a A para falar de B, para a seguir metermos A e B no mesmo saco e malharmos nos dois como se fossem um só. O jornal escolhia os seus alvos e gastava a pólvora toda (seca, por norma) enquanto a coisa vendesse. Mas é preciso que se diga: isto de eleger "inimigos" e disparar até cair para o lado foi uma herança recebida de Paulo Portas, do tempo em que o ex-vice-primeiro-ministro era director do semanário Independente e fazia a vida negra ao Cavaco primeiro-ministro e respectivos ajudantes no Governo. Portas é que inventou esta receita de sucesso e gabava-se disso. O seu a seu dono.
No meu jornal, Lisboa encarregava-se de fechar as portas às quais nos mandava depois bater, aqui do Porto. Levávamos quase sempre com a porta no nariz. As pessoas respondiam-nos torto, muito torto, era o pão-nosso de cada dia. Uma vez calhou-me o Sócrates, nas vésperas de ganhar as primeiras eleições, e foi do bom e do bonito. Lembram-se do génio do gajo? Têm presente o feitio da criatura? Pois é. Foi uma discussão das antigas, uma história que poderei contar amanhã. Evidentemente levei com muitos outros malcriados, mas é gente que nem merece que lhes diga os nomes.
Claro que a grosseria não era geral. Havia também pessoas que muito simplesmente se recusavam a falar-nos mas sem baixarem o nível. O bom do Raul Solnado (1929-2009), Luís Represas, o actor José Pedro Gomes, são dos que me lembro agora que escrevo. Nenhum dos três me conhecia, mas, depois de me ouvirem educadamente, foram igualmente atenciosos na nega. Disseram-me: "Desculpe, Hernâni, não é nada de pessoal consigo, portanto ligue-me quando estiver noutro jornal. Então conversaremos do que quiser". Agradeci sinceramente a franqueza e a urbanidade. E pedi desculpa eu. Eu sabia que eles tinham razões.
Era vida difícil. Num jornal que precisava da "opinião" dos "famosos" sobre tudo e sobre nada. A propósito da Marisa Cruz nua num filme ou por causa do Fidel Castro que passou a pasta ao irmão. A minha sorte é que acabava sempre por encontrar uma alma caridosa que me ajudava a ganhar o dia. Gente que sabia o que era o 24horas mas que, fosse por que razão fosse, nunca me deixou ficar pendurado: gente como Marcelo Rebelo de Sousa, o então apenas comentador, e Júlio Magalhães (na foto), os empresários e portistas Pôncio Monteiro (1940-2010), Manuel Serrão e Rui Moreira, hoje presidente da Câmara do Porto, os estilistas Miguel Vieira, Katty Xiomara, Luísa Pinto e Gio Rodrigues, os juízes Rui Rangel e Eurico Reis, o fiscalista Saldanha Sanches (1944-2010), Valentim Loureiro (o meu cromo da sorte), Júlio Isidro e Joaquim Letria, que também eram da casa, Tozé Brito, Luís Filipe Barros, José Cid, o humorista Nilton, Octávio Machado, Francisco José Viegas, Manuel Luís Goucha, José Carlos Malato, Jorge Gabriel, Hélio Loureiro, Paulo Teixeira Pinto e mais uns poucos de que injustamente me estou a esquecer. Eram sempre os mesmos e a minha tábua de salvação. O meu piquete de emergência.
Cada qual lá teria os seus motivos. Alguns, tenho a certeza, era mesmo uma questão de bondade. Fiquei agradecido a todos. De vez em quando pago-lhes aqui nos meus blogues com umas ripeiradas. É este maldito 24horismo que não há maneira de me passar...
P.S. - O jornal 24horas nasceu em 1998 e morreu em 2010, um ano depois de os seus alegados responsáveis terem liquidado a Redacção do Porto, a sangue frio e pelas costas. Eram os primeiros dias de Maio quando nos despejaram no desemprego, e podem limpar as mãos à parede. Mas tinha piada o pasquim, que até chegou a ser bem feito, e é a bíblia do "jornalismo" que hoje se faz em Portugal. O 24horas chama-se agora Correio da Manhã, Jornal de Notícias, Sábado, Observador, Diário de Notícias, Sol, Record, A Bola, O Jogo, às vezes até Público e assim sucessivamente. Ah!, uma última piada: hoje é Dia Internacional da Liberdade de Imprensa.
Etiquetas:
Dia Internacional da Liberdade de Imprensa,
jornalismo,
jornalistas,
Júlio Magalhães,
Matosinhos,
Praia de Matosinhos,
série 24horas,
série Os meus cromos,
surf
Afinal a cruz foi inventada
Hoje, 3 de Maio, a Igreja Católica celebra o Dia da Invenção da Santa Cruz. Da invenção, valha-me Deus! Convenhamos que assim de repente o nome da efeméride não é lá grande espingarda, pois não? Quero dizer: não parece de confiança. Então a cruz foi inventada? E, ainda por cima, quase um mês após a Páscoa, quando ela, segundo a tradição, teria sido precisa? Acho isto tudo muito suspeito. Cheira a batota, trafulhice...
Foram soldados 13
Tarrenego! |
terça-feira, 2 de maio de 2023
Apertos de um 1.º de Maio assim-assim
Fui ver o 1.º de Maio ao Porto. Porque, para quem não tem mais nada que fazer, como eu, mora aqui ao lado em Matosinhos, como eu, e é teso, como eu, o Porto é um sítio deveras porreiro para se ver 1.º de Maio e nem é preciso comprar bilhete. E era dessa tesura que eu falava. No Porto há milhões de camones de passagem, aos encontrões, milhares de portugueses desempregados coçando colhões e esquinas, trezentos e cinquenta e três portuenses residentes e arrependidos e uma praça e uma avenida destinadas a obras, ao 1.º de Maio, às greves gerais, ao 25 de Abril, aos carteiristas e aos vadios em geral, as quais, praça e avenida, são emprestadas à política de altifalantes pelo Sr. Jorge Nuno Pinto da Costa quando o FC Porto se esquece de ser campeão - o que em democracia é raro e altamente suspeito, e se calhar este ano também.
O 1.º de Maio correu muito bem. Quer-se dizer, correu assim-assim, já nem é preciso deitar abaixo o governo, o governo cai sozinho, de podre, de gatuno, de mentiroso, de incompetente, de estúpido, de ausente porventura. Isto é, primeirodemaiou-se ali com grande pertinácia e depois acabou. Acabou, mas eu, que sou de lágrima fácil, estava com uma vontade de mijar que já não era só vontade, era um estado de emergência, e desatei a correr como um tolinho para o WC sob as escadinhas da Rua 31 de Janeiro com a Estação de São Bento e com a polícia de choque atrás de mim como se eu levasse um engenho explosivo na braguilha ou um computador do Ministério das Infraestruturas enfiado no olho do cu. Não levava. Estava apenas à rasca. À rasquíssima. E a retrete estava de portas fechadas. Por causa do feriado. Valha-me Deus: não se trabalhar no Dia do Trabalhador, mas quem caralho teve a peregrina ideia?...
Que se segue: eu bem não queria, mas tive de ir, com uma mão à frente e outra atrás, às casas de banho da estação propriamente dita. Às tais, às míticas, às suspeitíssimas. O que se passou lá dentro não interessa, apenas faço questão de garantir que saí daqueles apertos com a honra invicta. A polícia, entretanto, desinteressou-me de mim e passou a perseguir um casal de lavradores de Queimadela que tinha vindo a uma consulta de otorrinolaringologia na Praça D. João I, ela com a infelizmência de um xaile vermelho às costas e ele com um saco de plástico na mão, o falar da nossa terra e "cara de marroquino", como veio a apurar-se. Nas varandas (ou sacadas, como se diz em Fafe) cantava-se "Grândola, vila morena" com uma afinação de oficina de automóveis. O relógio exterior de São Bento batia as quinze em ponto. A polícia também. Após a sova da ordem, as autoridades verteram nos autos que o perigoso saco continha um cartucho com 250 gramas de sementes de pepino arménio compradas sem guia de remessa na reaberta Casa Hortícola do Mercado do Bolhão, um toquinho de chouriço de colorau, caseiro, um quarto de broa por acaso fresca, um taparuere com uma cebola da monda rachada em quatro e metida em sal grosso e vinagre tinto e dois olhos de azeite, uma garrafa de cerveja quase vazia de vinho, duas pastilhas avulsas para o enjoo no expresso da Arriva e um canivete aparentemente suíço com seis centímetros de lâmina, oficialmente indocumentado porém admissível em sede de Espaço Schengen. Os dois indivíduos, um do sexo masculino e o outro não, entre os sessenta e os setenta anos, foram detidos por posse de arma branca. Os peritos em minas e armadilhas fizeram explodir o resto.
O 1.º de Maio correu muito bem. Quer-se dizer, correu assim-assim, já nem é preciso deitar abaixo o governo, o governo cai sozinho, de podre, de gatuno, de mentiroso, de incompetente, de estúpido, de ausente porventura. Isto é, primeirodemaiou-se ali com grande pertinácia e depois acabou. Acabou, mas eu, que sou de lágrima fácil, estava com uma vontade de mijar que já não era só vontade, era um estado de emergência, e desatei a correr como um tolinho para o WC sob as escadinhas da Rua 31 de Janeiro com a Estação de São Bento e com a polícia de choque atrás de mim como se eu levasse um engenho explosivo na braguilha ou um computador do Ministério das Infraestruturas enfiado no olho do cu. Não levava. Estava apenas à rasca. À rasquíssima. E a retrete estava de portas fechadas. Por causa do feriado. Valha-me Deus: não se trabalhar no Dia do Trabalhador, mas quem caralho teve a peregrina ideia?...
Que se segue: eu bem não queria, mas tive de ir, com uma mão à frente e outra atrás, às casas de banho da estação propriamente dita. Às tais, às míticas, às suspeitíssimas. O que se passou lá dentro não interessa, apenas faço questão de garantir que saí daqueles apertos com a honra invicta. A polícia, entretanto, desinteressou-me de mim e passou a perseguir um casal de lavradores de Queimadela que tinha vindo a uma consulta de otorrinolaringologia na Praça D. João I, ela com a infelizmência de um xaile vermelho às costas e ele com um saco de plástico na mão, o falar da nossa terra e "cara de marroquino", como veio a apurar-se. Nas varandas (ou sacadas, como se diz em Fafe) cantava-se "Grândola, vila morena" com uma afinação de oficina de automóveis. O relógio exterior de São Bento batia as quinze em ponto. A polícia também. Após a sova da ordem, as autoridades verteram nos autos que o perigoso saco continha um cartucho com 250 gramas de sementes de pepino arménio compradas sem guia de remessa na reaberta Casa Hortícola do Mercado do Bolhão, um toquinho de chouriço de colorau, caseiro, um quarto de broa por acaso fresca, um taparuere com uma cebola da monda rachada em quatro e metida em sal grosso e vinagre tinto e dois olhos de azeite, uma garrafa de cerveja quase vazia de vinho, duas pastilhas avulsas para o enjoo no expresso da Arriva e um canivete aparentemente suíço com seis centímetros de lâmina, oficialmente indocumentado porém admissível em sede de Espaço Schengen. Os dois indivíduos, um do sexo masculino e o outro não, entre os sessenta e os setenta anos, foram detidos por posse de arma branca. Os peritos em minas e armadilhas fizeram explodir o resto.
segunda-feira, 1 de maio de 2023
Quando o 1.º de Maio era no dia 28
Antigamente o 1.º de Maio era no dia 28 do mesmo. Quando digo antigamente quero dizer antes do 25 de Abril de 1974, que já é antigamente que chegue - que o confirmem os deputados da nação, cujos mais de metade decerto ainda não tinham nascido quando a coisa se deu, e isso nem é defeito. Um por exemplo: o estádio do SC Braga na Ponte, antes da extraordinária Pedreira do arquitecto Souto Moura, chamava-se Estádio 28 de Maio. E chamava-se assim por questões políticas e não por ordem de calendário litúrgico, rito bracarense. Chamava-se 28 de Maio glorificando o golpe militar que naquela data, em 1926, derrubou a Primeira República e abriu caminho à ditadura do Estado Novo. De corte fascista, o Estádio 28 de Maio, que ainda está de pé e funciona pelo menos para o futebol feminino, tentava aparentar-se e rivalizar com o Estádio Nacional, no Jamor, ou em Oeiras, consoante a dor de cotovelo de cada qual, e foi inaugurado, em 1950, por Salazar e Carmona, que assim dito até parecem uma alegre sociedade de costureiros. Veio a revolução dos cravos e o estádio mudou de nome, passou a chamar-se Estádio 1.º de Maio, viva o Dia dos Trabalhadores, viva a classe operária!, mais ajuizado seria que se tivesse chamado sempre Campo da Quinta da Mitra, como começara por ser.
Em todo o caso, mudar o nome do velho estádio de Braga, de 28 de Maio para 1.º de Maio, só demonstra (num raciocínio assumidamente palerma e suinamente fascistóide) que a Outra Senhora levava 27 dias de avanço em relação a Esta Senhora e que as revoluções cometem-se sobretudo e quase só para mudar os nomes das ruas, praças, pontes, estádios e outro imobiliário.
Querem outro por exemplo? O Estádio 25 de Abril, de Penafiel. Antes da "política", aquele terreiro chamava-se Campo das Leiras. E que mal é que tinha o nome?
O 28 de Maio de 1926 foi praticamente como o 25 de Abril de 1974, mas em versão fascista. Começou em Braga e chegou a Lisboa atrás do cavalo branco de Gomes da Costa, uma espécie de chaimite daquele tempo.
Antes do 25 de Abril, os 28 de Maio eram celebrados com desfiles, por assim dizer, militares: Mocidade Portuguesa, Legião Portuguesa, certamente bombeiros e escuteiros, provavelmente ranchos folclóricos e evidentemente soldados propriamente ditos. A Veneranda Figura lá estava, mas o de Santa Comba se calhar não, porque constipava muito de saísse à rua e o povo fazia-lhe espécie. Havia discursos, condecorações geralmente póstumas, por razão de força maior, isto é, derivado ao Ultramar, criancinhas órfãs vestidas à adulto, jovens viúvas atarantadas e chorosas, pais abruptamente sem filhos mas com medalha espetada no peito, numa dor sem fim, e sobretudo muitas fanfarras, a bem da Nação. O bom povo português assistia a tudo patrioticamente embebecido, se não me engano com aguardente, porque as cerimónias eram de manhã.
Uma vez eu também lá fui. Estava no seminário, em Braga, e os padres levaram-nos. Fomos portanto levados. Gostei muito, porque o meu tio Zé de Basto era corneteiro na fanfarra do Regimento de Infantaria 8 e eu já não o via há uma temporada. Pusemos a conversa em dia.
Resumindo e concluindo: Portugal continua a ser o mesmo, fascistazinho, só o tio Zé é que já não anda na tropa...
Em todo o caso, mudar o nome do velho estádio de Braga, de 28 de Maio para 1.º de Maio, só demonstra (num raciocínio assumidamente palerma e suinamente fascistóide) que a Outra Senhora levava 27 dias de avanço em relação a Esta Senhora e que as revoluções cometem-se sobretudo e quase só para mudar os nomes das ruas, praças, pontes, estádios e outro imobiliário.
Querem outro por exemplo? O Estádio 25 de Abril, de Penafiel. Antes da "política", aquele terreiro chamava-se Campo das Leiras. E que mal é que tinha o nome?
O 28 de Maio de 1926 foi praticamente como o 25 de Abril de 1974, mas em versão fascista. Começou em Braga e chegou a Lisboa atrás do cavalo branco de Gomes da Costa, uma espécie de chaimite daquele tempo.
Antes do 25 de Abril, os 28 de Maio eram celebrados com desfiles, por assim dizer, militares: Mocidade Portuguesa, Legião Portuguesa, certamente bombeiros e escuteiros, provavelmente ranchos folclóricos e evidentemente soldados propriamente ditos. A Veneranda Figura lá estava, mas o de Santa Comba se calhar não, porque constipava muito de saísse à rua e o povo fazia-lhe espécie. Havia discursos, condecorações geralmente póstumas, por razão de força maior, isto é, derivado ao Ultramar, criancinhas órfãs vestidas à adulto, jovens viúvas atarantadas e chorosas, pais abruptamente sem filhos mas com medalha espetada no peito, numa dor sem fim, e sobretudo muitas fanfarras, a bem da Nação. O bom povo português assistia a tudo patrioticamente embebecido, se não me engano com aguardente, porque as cerimónias eram de manhã.
Uma vez eu também lá fui. Estava no seminário, em Braga, e os padres levaram-nos. Fomos portanto levados. Gostei muito, porque o meu tio Zé de Basto era corneteiro na fanfarra do Regimento de Infantaria 8 e eu já não o via há uma temporada. Pusemos a conversa em dia.
Resumindo e concluindo: Portugal continua a ser o mesmo, fascistazinho, só o tio Zé é que já não anda na tropa...
Etiquetas:
1.º de Maio,
25 de Abril,
28 de Maio,
Braga,
democracia,
Dia do Trabalhador,
estádios,
fascismo,
futebol,
liberdade,
Penafiel,
Salazar,
série Memórias de Fafe,
série Os melhores anos da minha vida
Subscrever:
Mensagens (Atom)
Tocavam sempre duas vezes
Os carteiros de Fafe eram homens poderosos. Traziam dinheiro, levavam notícias e, sobretudo, sabiam tudo de toda a gente. A vida toda. A sit...
-
Foto Hernâni Von Doellinger A minha rua era um largo. Santo Velho, como lhe chamavam os antigos, ou apenas Santo, como lhe chamávamos nós os...
-
Vou a Oliveira de Azeméis, por exemplo, e levo uma data de "Ó jovem!", geralmente debitada por pessoas de bandeja na mão e com ida...
-
Isto passou-se na Brecha , palavra de honra, em dia de bolo com sardinhas , portanto num sábado, se não me engano. E as sardinhas eram evid...