São cada vez mais os portugueses que procuram a sobrevivência no fundo de um contentor do lixo. Sei disto porque às vezes ando na rua. Aqui atrasado, de Matosinhos até à Foz, no Porto, passei por nove pontos de contentores de lixo: em seis dessas lixeiras estavam pessoas à cata dos nossos melhores restos. Não eram "drogados", nem "alcoólicos", nem "arrumadores" fora das horas de expediente - se querem saber. Eram pessoas como eu, como nós, certamente com mais azar na vida do que eu, do que nós. Vi, por exemplo: uma família inteira, que podia ser a minha família; uma senhora arranjada e digna, puxando um carrinho de compras que ia compondo com critério, e podia ser a minha mãe; um cavalheiro com o velho orgulho alquebrado, que me olhou com olhos de pedir desculpa por necessitar, e quase posso jurar que ele era eu.
É. Portugal enfrenta a ressaca da pandemia e a crise, mas de cernelha. Marcelo e Costa entretêm-se desentendendo-se, ministros desgovernados e medíocres mentem porque é só o que sabem e pensam que isso é política, oposições tolas e mais ou menos fascistas deslumbram-se em manhosos números de variedades. Viva o umbigo! Que se lixe a República, o pé-descalço que se foda. Os portugueses que afocinhem patrioticamente. Que façam pela vida! E depois que morram como lhes compete, e quanto mais cedo melhor, porque isto é um povo que só dá despesa.
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