Ter um araújo no olho é uma daquelas expressões pândegas que eu trouxe comigo de Fafe, e nem vou dizer que ela seja apenas nossa, exclusiva, mas que terá sido parida cá por estas bandas, isso já sou capaz de arriscar. Araújo é sobrenome galego e português de origem nobre medieval, também possível de encontrar escrito como Araujo ou Araúxo, mas serve igualmente de topónimo e nem é preciso ir mais longe, basta dar um salto aqui ao lado, ao antigo apeadeiro de Araújo, actual estação do Metro do Porto, em Leça do Balio.
Araújo, nome de pessoa e de sítio, está visto, mas também, há quem diga, denominação de uma variante da árvore araúja. Para nós, porém, os fafenses velhos e irredutíveis, araújo é partícula que entra no olho acidentalmente, grão de pó, minúscula maravalha, bíblico argueiro, cisco, arujo. Arujo, exactamente arujo, vocábulo fidedigno e certificado de onde facilmente derivou a nossa arisca porém bem desenrascada corruptela.
Ter um araújo no olho. Outro dia, sem mais nem menos, lembrei-me da expressão antiga, e nem faço ideia de há quantos anos não lhe punha a vista em cima nem lhe dava uso. Perguntei à minha mulher se a conhecia de algum lado, à expressão, se já a teria dito ou pelo menos ouvido. E ela disse-me que não. Fiquei varado! Quer-se dizer: a minha mulher, rapariga da nossa idade, nasceu no Porto, na Foz, mas é filha de pais rústicos, o meu sogro de Baião e a minha sogra de Canelas, Gaia. Isto é, a minha mulher tinha obrigação, e, vai-se a ver, nada...
Nada, também não é bem assim. Sobre araújos, a minha mulher fez questão de explicar-me que sabia era a famosa anedota que mete marinheiros e aviadores. Aquela que pergunta: se quem trabalha no mar é marujo, porque é que quem trabalha no ar não é araújo? Isso.
Ter um araújo no olho. A expressão. Não é anedota, definitivamente não é uma anedota, mas que se põe a jeito, lá isso...
Antes de ir desta para melhor, vou dar com a língua nos dentes e lavar roupa suja. Com a faca e o queijo na mão, com uma perna às costas e de olhos fechados, vou sacudir a água do capote.
ResponderEliminarAinda tirei o cavalinho da chuva, tentei tirar este assunto do mapa mas eu sou uma troca-tintas , uma vira casacas e vou voltar à vaca fria.
Andava eu aqui a brincar com os meus botões, a chorar o leite derramado, com o bicho carpinteiro e macaquinhos no sotão, quando decidi procurar uma agulha no palheiro.
Eu sei, eu não bato bem da bola, mas senti-me pior que uma lesma, e tinha uma pedra no sapato. O problema é que andava a bater com a cabeça nas paredes há algum tempo, com um aperto no coração e uma enorme vontade de arrancar os cabelos.
Passei muitos dias com cara de caso e com a cabeça nas nuvens como uma barata tonta. Mas eu que estou armada até aos dentes, arregacei as mangas e procurei o arquivo a eito. Acontece que uma vez, em conversa com um amigo, ele disse-me : "Tiras-me do sério !" e eu, sem papas na língua, respondi : " Se te tiro do sério, deixo-te a rir, não é?" Ele de trombas e com os azeites, gritou em plenos pulmões " É preciso ter lata!", só faltou trepar pelas paredes. Primeiro pensei ter posto a pata na poça, depois achei que ele tinha acordado com os pés de fora e que estava a fazer uma tempestade num copo d'água e trinta por uma linha.
Fiz vista grossa, mas depressa abri-lhe o coração, o jogo e os olhos, na esperança de acertar agulhas e pôr os pontos nos is. Não lhe ia prometer mundos e fundos nem pregar uma peta, eu estava mesmo a brincar. Pão, pão, queijo, queijo, Rebeubéu pardais ao ninho, fiquei com os pés para a cova, só me apeteceu pendurar as botas e mandá-lo pentear macacos, dar uma volta ao bilhar grande ou chatear Camões.
Que balde de água fria! Caraças, levei a peito, aquela resposta era tão sem pés nem cabeça que fui aos arames. Eu sei que dou muitas calinadas, meto os pés pelas mãos e faço tudo à balda. Posso até ser cabeça de alho chocho ou cabeçuda, mas não ia meter o rabo entre as pernas, nem que a vaca tossisse. Fiquei com a cabeça em água e a pensar na morte da bezerra. Caí das nuvens e com paninhos quentes passei a conversa a pente fino, não fosse bater as botas. Percebi que ele tinha trocado alhos por bugalhos, apeteceu-me cortar-lhe as vazas, mas estava de mãos e pés atados e baixei a bola. Engoli um sapo, agarrei com unhas e dentes, dei o braço a torcer e dei-lhe troco com o intuito de descalçar as botas.
Não gosto muito do vira o disco e toca o mesmo, mas isso já são muitos anos a virar frangos e pus as barbas de molho. Uma mão lava a outra e as duas lavam as orelhas, mas ele está-se nas tintas. Ficou com a pulga atrás da orelha, pôs-se a pau antes de estar feito ao bife. Pus mão á obra, tentei fazer um negócio da China e bati na mesma tecla. Dados lançados, cartas na mesa, coisas do arco da velha. Claro que dei com o nariz na porta, o gato comeu-lhe a língua e saiu com pés de lãs. É que isto pode estar fixe, mas não me apetece segurar a vela, com dor de cornos e de cotovelo só porque não conheço 1/4 das expressões portuguesas.