Cheio de ideias e boas intenções, André Almeida chegou ao Parlamento e ficou encantado com o que encontrou. O encantamento foi de tal ordem que, em Fevereiro de 2008, o promissor político arouquense surpreendeu tudo e todos ao declarar que os deputados da Nação ganhavam demais, anunciando, ainda por cima, que ia dar dez por cento do seu ordenado mensal a uma instituição de solidariedade social do seu círculo eleitoral, Aveiro. "As ajudas de custo chegam perfeitamente para o que um deputado faz, porque temos condições excelentes", explicou André Almeida ao jornal 24horas.
Avisado pelo jornalista que o entrevistava para a perigosidade da matéria em que estava a mexer (matéria altamente inflamável e explosiva, e que ainda lhe poderia rebentar nas mãos), o jovem deputado limitou-se a encher o peito e a declarar-se "preparado para as críticas". Mas não estava. Dois dias depois, o deputado Almeida foi humilhado pelo seu próprio grupo parlamentar e obrigado a fazer um lamentável pedido de desculpas. Os colegas de bancada fizeram dele gato-sapato. E, para a humilhação ser completa, o puxão de orelhas colectivo, que até foi privado, saiu imediatamente para os jornais.
Ficou a saber-se que o jovem André Almeida se defendeu dizendo que as suas declarações tinham sido "irreflectidas" e que pediu formalmente desculpas aos seus indignados companheiros de carteira. Mas nem esta triste figura bastou ao inquisidor-mor Agostinho Branquinho, um dos falcões do velho PSD, que insistiu no enxovalho, argumentando que o pedido de desculpas não era suficiente para fazer desaparecer os danos entretanto causados. Nesse dia André Almeida já não atendeu o telefone do 24horas.
Quanto aos "danos" apontados à reguado por Branquinho, esse inapagável farol da deontologia social-democrata, foram sendo meticulosamente reparados. De oitavo na lista de candidatos do PSD por Aveiro às Legislativas de 2005, André Almeida desceu para décimo em 2009 e para décimo primeiro em 2011. Isto é: nunca mais sentou o cu na Assembleia. André virou-se então para a política local e foi líder da concelhia do PSD de Arouca, lugar a que não se recandidatou, alegando "razões profissionais, familiares e pessoais". Suponho que André Almeida abandonou definitivamente a política por volta de 2015, para se dedicar a coisas sérias e a uma vida útil e honesta: é dentista, se não me engano.
Agora cá entre nós: se pensarmos bem, André Almeida só não vingou como deputado porque fez tudo mal. Enganou-se. Ingénuo, chegou à capital e avisou logo que queria trabalhar, disse até qualquer coisa do género "Acho que posso ser útil no Parlamento". Ora, os deputados não estão lá para trabalhar, muito menos para serem úteis. Os mais velhos decerto que ensinam isso aos mais novos, aos recém-chegados, mas o jovem arouquense deve ter faltado às aulas. Depois foi a desgraça que se viu. André Almeida teve a distinta lata de admitir que não precisava de ganhar tanto e o sarro do PSD caiu-lhe imediatamente em cima, mas, mesmo desterrado para os bancos da cozinha, o fugaz deputado lá ia aparecendo de vez em quando a puxar por Arouca e pela sua região, provavelmente quando não estava mais ninguém no hemiciclo. Como se não bastasse, tinha também a mania de "prestar contas" aos seus eleitores com permanente informação colocada no seu site oficial. A verdade é esta: deputados assim não interessam, dão má fama à Assembleia da República.