O gestor de projectos instalou-se em Fafe e foi ao banco pedir um empréstimo. Quantia avultada. Pretendia construir e montar de raiz uma fábrica de cartão canelado, exactamente no sítio onde fora outrora a velha Fábrica do Papelão, no rio Ferro, em Cavadas, a seguir ao extinto monte de Castelhão, entre as pontes de Ranha e de São José, investimento para cima de diversos milhões de euros e emprego garantido para cerca de 23 pessoas, talvez vinte e duas e meia ou vinte e três e meia, ainda não sabia bem. O senhor do banco pediu-lhe a identificação de gestor de projectos, e o gestor de projectos respondeu prontamente: "Não tenho. Ainda estou a começar. Este é o meu primeiro negócio, mas toco muito bem ocarina". O senhor do banco tomou devida nota e observou, rindo: "Fábrica de cartão canelado? Vê-se logo que é golpe, vigarice das antigas". "Golpe, não, caríssimo senhor, e faça o favor de reparar que eu disse caríssimo sem saber sequer a taxa de juro. Em todo o caso, se eu fosse vigarista, e dos antigos, como vosselência fez questão de caracterizar, ter-lhe-ia indicado que precisava do dinheiro para abrir um banco", ripostou o gestor de projectos, sem se rir, e foi roubar carteiras para outro lado.
(Versão revista e aumentada, publicada originalmente no meu blogue Tarrenego!, a propósito do Dia Internacional da Gestão de Projectos.)
terça-feira, 12 de novembro de 2024
segunda-feira, 11 de novembro de 2024
O Sr. Órfo, no seu merecido dia
Foto Memória e história de Fafe e dos fafenses |
Ora bem. Para quem não sabe, hoje é uma efeméride. Aliás, hoje é várias efemérides, pelo menos cinco, mas centremo-nos na efeméride que nos interessa e que, modéstia à parte, nos diz respeito. Isto é: hoje é Dia Mundial do Órfão. Do Órfo, sim senhor! É realmente uma grande honra para Fafe. E é merecida...
P.S. - Hoje é Dia Mundial do Órfão.
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domingo, 10 de novembro de 2024
A landre
Foto Hernâni Von Doellinger |
A landre, é preciso que se note, já serviu para a nossa alimentação. O povo - isto é, o pobo - chamava-lhe também bolota ou glande. Há quem agarre na glande e dela faça carvalho.
Também há quem diga que Fafe tem a maior mancha contínua de carvalhal da Península Ibérica, e até quem, achando pouco, acrescente que é a maior mancha contínua de carvalhal de toda a Europa. O fenómeno será ali por aquela corda de Aboim e Várzea Cova, realmente carvalhal até dar com um pau - muito ainda para arder, como costuma dizer o meu amigo Lopes.
Na vila antiga também tínhamos o nosso Carvalhal, assim com maiúscula inicial porque era nome de sítio, entre a Fábrica do Papelão e o Picotalho, ladeando o rio Ferro e estendendo-se aos pés do extinto monte de Castelhão até Cavadas, onde agora vicejam campos de futebol, rotundas e supermercados. Chamávamos-lhe Carvalhal porque tinha carvalhas, bem jeitosas para fazer baloiços e outras brincadeiras, chão ervado, sombreado, um mimo para passar tardes de sábados e domingos à roda de um bom merendeiro, famílias, grupos de amigos ou bandos de moços, com todo o respeito pelos campos cultivados ali à beira. Era o verdadeiro parque da cidade, mas ainda não se sabia. Fafe era o paraíso e havia outros Carvalhais.
Por outro lado. Hoje é Dia Mundial da Bolota. E amanhã, fica desde já o registo, é Dia de São Martinho. Não sei se estais a ver a sorte: bolotas aqui e castanhas ali. Estais a ver como seriam os magustos se alguém fizesse confusão? Safámo-nos por pouco...
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Bolota.
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sexta-feira, 8 de novembro de 2024
Mataram os vizinhos
Foto Hernâni Von Doellinger |
É. Cavamos as nossas próprias trincheiras, os nosso túmulos. As pessoas vivem fechadas em caixotes. Em caixinhas dentro de caixotes. E cada caixinha tem um respiradouro chamado varanda - ou sacada, se for na minha terra. E as pessoas fazem marquises!
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Banda de Revelhe em concerto
No próximo dia 24 de Novembro, um domingo, pelas 17 horas, o Teatro-Cinema acolhe o concerto comemorativo do 170.º aniversário da Banda de Revelhe - Sociedade Filarmónica Fafense. A entrada é livre, mediante apresentação de bilhete que pode ser levantado na Loja de Turismo de Fafe.
Come respo!
"Não queres sopa, não queres frango, não queres peixe, não queres batatas, não queres arroz, não queres massa, não queres salada, não queres fruta, não queres pão - olha, come respo!", dizia a mãe desesperada ao filho fastiento e mal-agradecido. Respo. Que quer dizer saliva ou excremento humano. Isto é, "come merda!", dizia a mãe. Assim se falava em Fafe naquele tempo, e falava-se muito bem.
P.S. - Hoje é Dia Europeu da Alimentação e da Cozinha Saudáveis.
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Os paliteiros do Miranda
Os paliteiros do Miranda eram muito jeitosos. Eram uns prismas triangulares direitos ou rectos feitos em cartão coberto por papel colorido com desenhos e dizeres e um furinho na ponta. O prisma é um ponto de vista mas também um poliedro. Os poliedros são sólidos geométricos limitados por faces que são polígonos planos. O prisma triangular é um poliedro chamado prisma triangular porque as suas bases são triângulos. Tem seis vértices, nove arestas, cinco faces e duas bases, as tais. E é considerado direito ou recto porque os seus lados são rectângulos, de outro modo correria o risco de ser oblíquo. A especialidade da casa eram, no entanto, as pataniscas. As famosas pataniscas do Miranda.
P.S. - Hoje é Dia Europeu da Alimentação e da Cozinha Saudáveis.
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O roxis
O roxis, quereis saber o que é? Então cá vai. O roxis é da família do taco, mas muito mais antigo, e é sinónimo de chapa, porque ir fazer um roxis ou ir fazer uma chapa era exactamente a mesma coisa. O Hospital de Fafe, no tempo em que quem lá mandava era a "Mamer", tinha uma máquina de roxis muito velha, numa sala muito escura ao lado da urgência, que era o banco, e da escadaria interior que levava à capela, que era salão nobre. Apesar da sua estratégica localização, ali entre a vida e a morte, o aparelho tinha dia certo e horário de expediente para funcionar. A sua operacionalidade dependia, se não estou em erro, da indispensável presença ou pelo menos orientação do Dr. Mota Prego, que tinha um nome de categoria e vinha de Guimarães para tratar destes assuntos.
Quer-se dizer, o Dr. Mota Prego era o nosso especialista em roxis e uma vez ele e o Dr. Antero, creio, trataram-me muito bem de uma clavícula partida que era a minha vaidade na escola e hoje em dia ainda me dói.
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Radiologia.
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quinta-feira, 7 de novembro de 2024
O incansável fazedor de sestas
Foto Hernâni Von Doellinger |
Naquela casa só se comia e bebia do bom e do melhor, embora regrado. Muito regrado. Depois do almoço, o meu avô descia até à camarata e estendia-se numa das camas, a primeira à entrada do lado esquerdo, tapando a cara com o Jornal de Notícias. O JN era naquela altura um jornal grande, quase um lençol, muito jeitoso para a sesta, e o meu avô, contrariando a regra geral, gostava de dormir sob aqueles assuntos.
As minhas tarefas em relação à sesta do meu avô eram ir buscar o JN e passar de vez em quando pela camarata para, se necessário, corrigir a posição do jornal. Tinha uma terceira tarefa, não editorial, que era andar em bicos de pés e de bico calado.
O Jornal de Notícias do meu avô era comprado a meias com o Senhor Ferreira do Hospital, que o lia primeiro, e depois eu ia buscá-lo, ou então ficava cada um com metade das páginas e a uma certa hora da manhã eu fazia a troca, já não me lembro bem.
O Senhor Ferreira do Hospital e o meu avô foram amigos e cúmplices toda a vida. Eram unha com carne, apesar de diferentes como a água e o vinho: o Senhor Ferreira era comunista, tinha estado preso, e o meu avô... antes pelo contrário. Para além de comunista, o Senhor Ferreira era um homem bom, um grande Homem que eu admirava e gostava de ouvir. Anos passados, aos domingos, eu à beira de ir para a tropa e sem emprego, o Senhor Ferreira cumprimentava-me com uma nota de 20 escudos escondida na mão tremente.
O meu avô da Bomba fazia a sesta muito bem. Naquele tempo ainda não era moda dizer-se que a sesta faz bem à saúde, o que até viria mesmo a calhar ao meu avô, que era "uma pessoa muito doente". Era também preguiçoso, como vim a concluir mais tarde, o que me livrou do divã do psiquiatra e despesas adjacentes, uma vez que consegui perceber sozinho que tenho bem a quem sair.
Quando éramos miúdos, o meu avô punha-nos a bulir como gente grande, a mim e ao meu irmão Nelo. Eu era pau para toda a colher: limpava e polia os capacetes e outros amarelos com solarine Coração e uma espécie de pó de talco, lavava as viaturas, verificava o óleo e colocava água nos radiadores, anotava as quilometragens, lavava, punha a secar e enrolava as mangueiras depois dos incêndios, metia baterias à carga, enchia as baterias com água da chuva colhida num garrafão com funil que estava no telhado, ia chamar motoristas para as saídas urgentes de ambulância, servia de bombeiro, varria o "parque do material", levava avisos a casa dos bombeiros, atendia o telefone, tocava a sirene (era a parte de que eu mais gostava), hasteava as bandeiras aos domingos e dias de festa, ia à cave buscar vinho, "sempre a assobiar!", segundo ordens superiores. Enfim, eu é que era o verdadeiro Bomba. E não saía de lá. Também porque naquela casa só se comia e bebia do bom e do melhor - já disse.
Tenho-me esquecido de ir buscar o jornal para o meu avô da Bomba e também já há muito que não estou com o Senhor Ferreira do Hospital. Aqueles dois nem devem ter reparado. Estão entretidos a meterem-se um com o outro, foram sempre assim, ou então dormem uma bela sesta, cada qual com a sua metade de JN sobre o rosto. Eu também já durmo a sesta, percebo-os agora. Quando nos voltarmos a encontrar, os três, ainda nos havemos de rir disto tudo.
P.S. - Hoje é Dia Internacional da Preguiça.
quarta-feira, 6 de novembro de 2024
Fulanos, sopranos e beltranos
Foto Hernâni Von Doellinger |
P.S. - Hoje é Dia do Saxofone.
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segunda-feira, 4 de novembro de 2024
Salazar via tudo
Foto Tarrenego! |
Sessão solene na Sala da Direcção dos Bombeiros Voluntários de Fafe, quartel antigo, Rua José Cardoso Vieira da Castro, entre os dois palacetes e ao lado da garagem do Zé Bastos, como quem vai para o Hospital, algures pelas décadas de cinquenta ou sessenta do século passado. Uma sala que eu frequentei e conheci muito bem. Da esquerda, Deus me perdoe, para a direita: o eterno presidente da corporação, Albino Fernandes; o então presidente da Câmara, Manoel Cardoso, no uso da palavra; o cónego Leite de Araújo, que ainda não era cónego e estava a gostar muito; e, fumegante e condecorado, condescendente, João Mendes Ribeiro, discreto comandante da Legião Portuguesa, deputado à Assembleia Nacional e procurador à Câmara Corporativa, dois anos presidente da Câmara Municipal de Guimarães, golfista amador, benfeitor à la carte, senhor da Fábrica do Ferro e dono daquilo tudo. Pregado à parede como Nosso Senhor Jesus Cristo na cruz, pairando sobre presentes e ausentes, tomando conta da Nação - Salazar.
domingo, 3 de novembro de 2024
Anthony Bourdain não passou por Fafe
Foto Hernâni Von Doellinger |
E depois foi-se embora. Atenção: foi-se embora sem antes ir à Conga comer uma bifana. Mas, desta ou doutra vez, comeu bifanas em Lisboa. Isto cabe na cabeça de alguém? As bifanas da capital sempre me mereceram as maiores reservas e, francamente, a equipa do No Reservations deveria estar na posse desta importante informação. Perguntassem-me, porra!
Bourdain, mestre de culinária e estrela de televisão, disse que gostou muito das lisboetas "sanduíches gordurosas de porco", com carne "imunda e cortada em fatias finas". É uma definição elegante e que se aceita, acho eu. Mas havia de ter provado as bifanas à moda do Porto, na Rua do Bonjardim! E não me venham dizer que as bifanas são iguais em todo o lado. Porque não são. E não me venham dizer que é tudo uma questão de picante - mais ou menos. Porque não é. E não me venham dizer que é só temperar com vinho branco e mais não sei quê (o resto fica cá comigo, que também as faço uma categoria). Porque não é. É com o vinho (e com o resto), mas também com cerveja, ou para onde é que vocês cuidam que vão as sobras dos barris e a espuma que esborda dos finos (ou imperiais) mal tirados? Vai tudo lá para dentro, para o caldeirão da molhanga, e aqui é que bate o ponto. Aqui é que a porca torce o rabo. É que as bifanas do Porto chafurdam em Super Bock. E a Super Bock faz toda a diferença.
Por outro lado, Anthony Bourdain não passou por Fafe. O que é absolutamente lamentável. E indesculpável, por maioria de razão. Se o famoso chef americano queria falar de sandes com conhecimento de causa, primeiro haveria de informar-se acerca da posta de bacalhau frito dentro de biju, no Paredes, a acompanhar um sino de verde branco só para abrir apetite para o almoço. Haveria de perguntar pela sandes de pescada frita e fria no Lameiras da Rua de Baixo. Haveria de pedir que lhe contassem das sandes de vitela assada no Zé da Menina ou no Nacor, aqui também com batata para fazer fartura. Não poderia deixar Portugal sem antes provar a francesinha e o prego do Peixoto, e as moelas de coelho e os ovos de galo. Em pão. Haveria de tomar conhecimento da incontornável sandes de pastelão e da sandes de chicharro de cebolada retrasado. Haveria de querer saber das pataniscas do Miranda. Haveria de exigir que lhe apresentassem a minha côdea de broa com açúcar amarelo, que, sendo dobrada ao meio, sobe também à categoria das sandes certamente, apesar da sonsa oposição dos puristas e outros alegados diabéticos, e talvez até lhe ensinassem a sandes de bolacha maria com marmelada. Mas Bourdain não passou por Fafe. E portanto nunca soube nada disto. Foi o que perdeu. Foi o que se perdeu.
P.S. - Hoje é Dia da Sanduíche, quer-se dizer, da sandes. E em Fafe chicharro dizia-se chucharro e até havia uma família, gente boa, com esse nome posto. Sim, os Chucharros, do Lombo. Quanto às pataniscas do retrato, são cá de casa e não servimos para fora.
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sexta-feira, 1 de novembro de 2024
Antes que seja crime
Foto Município de Fafe |
P.S. - Hoje é Dia Mundial do Veganismo.
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Um dia sumamente produtivo
Hoje celebra-se, não cá em casa, o Dia Mundial do Veganismo ou do Vegano. E também é Dia de Cailleach, na mitologia celta, Dia de São Cesário de Terracina, Dia de Pão por Deus, Dia do Início do Ano Hidroeléctrico, dia das calendas de Novembro, dia de caminhada em Ribeiros, Fafe, e Dia de Todos os Santos, que eu sempre achei que devia ser a festa principal e de maior alegria da Igreja Católica. Os Mortos é só amanhã, estou farto de dizer, mas os veganistas parece que estão com pressa.
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