quinta-feira, 14 de novembro de 2024

A problemática da xalxixa

Atenção. Si six scies scient six saucisses ici, six cent six scies scient six cent six saucisses ici. No seminário, também aprendíamos coisas assim, interessantes para a vida. Esta foi-me ensinada pelo padre Américo Ferreira Alves (1917-2013), na aula de Francês. O tonitruante e escuteiríssimo padre Américo era um excelente professor, moderno, por estranho que possa parecer. O Francês que aprendi com ele nos dois primeiros anos do "Ciclo" chegou-me e sobrou-me para todo o "Liceu", com dispensa de exames, para o linguajar de férias com os nossos emigrantes, em Fafe, e até para viagens a França sem sobressaltos linguísticos de maior. O padre Américo, depois monsenhor, era autor de um livrinho muito prático para Português e Francês, de aquisição obrigatória, creio que se chamava "Analyse", e gostava muito de poetar. Escrevia os seus versinhos no quadro, para que os copiássemos, se quiséssemos, e declamava-os a ritmo marcial, num vozeirão de bradar aos céus. Se os sargentos fossem diseurs, diriam certamente assim. Já lá vão mais de 50 anos, mas lembro-me de um poema, tremendo, que começava talvez desta maneira, citando de cor:

Céu de puro anil
e de graças mil
pelo mês de Abril
és a beleza.

Só pra ti olhar
faz-me suspirar
e em ti buscar
toda a riqueza.


Quer-se dizer: não tenho a certeza quanto à localização certa de "beleza" e "riqueza", se era por esta ordem ou ao contrário, também não sei se "riqueza" entra mesmo, ou seria "tristeza" ou "clareza" ou "leveza" ou "pureza", mas "beleza" é exacto que constava e a rima era realmente esta, em "eza". Em todo o caso, estão a ver a profundeza?

(Versão revista e aumentada, publicada no meu blogue Tarrenego!, numa série dedicada aos 100 anos do Seminário de Nossa Senhora da Conceição, em Braga, que hoje se cumprem, e a propósito  do Dia Internacional do Trava-Línguas.)

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