P.S. - Publicado originalmente no meu blogue Mistérios de Fafe.
domingo, 23 de fevereiro de 2025
Cachicha!
Diziam à Maria: - Tu gostas do Manel! E a Maria respondia: - Eu, do Manel? Chachicha! Exactamente, cachicha, dito com cara feia e os "ches" bem carregados, porque são "ches" de Fafe, telúricos, e não querem ser confundidos com os delicados "xes" de outros lados. Mais do que um eventual regionalismo minhoto (e transmontano, há quem o afirme), cachicha era, com efeito, um entranhado localismo fafense, com um tremendo uso ainda aqui há poucos anos. Cachicha é um designativo de repulsa, desprezo, enjeitamento, negação, asco ou repugnância e quer dizer, consoante a situação, "ui, que nojo!", "foda-se, tinha nojo!" ou, muito simplesmente, "borrava a minha cara com merda". Isso. Cachicha!
sábado, 22 de fevereiro de 2025
Liberdade de pensamento
- Gosto muito de pensar.
- O mundo?
- O gado.
- O mundo?
- O gado.
P.S. - Hoje é Dia do Pensamento.
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O homem profundo
Ele era um homem profundo. E metódico, com horário. Sentava-se em cima da Arcada e dizia, não raro: - Penso agora, logo existo.
P.S. - Hoje é Dia do Pensamento.
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025
Com Fafing ninguém fanfing
Foto Hernâni Von Doellinger |
"O Município de Fafe recebeu, esta quinta-feira, uma sessão de networking destinada a agentes económicos, instituições e empresas que desenvolvem atividades na área do produto de Cycling e Walking na Região Norte", debitava o Facebook da autarquia para os seus fregueses, isto é, para o povo, palavra de honra que debitava exactamente assim, foi há coisa de um mês. Eu, que não sei o que aquilo queria dizer, pelo menos fiquei todo contenting por saber que Fafing está uma terra assim tão coising...
P.S. - Hoje é Dia Internacional do Guia-Intérprete.
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025
Os animais da minha infância
Tive uma infância feliz, em Fafe, rodeado de animais de estimação, ditos agora de companhia. Tínhamos um cão chamado Rin Tin Tin, tínhamos uma cadela chamada Lassie, tínhamos um canguru chamado Skippy e até tínhamos um cavalo chamado Mister Ed ao qual nem faltava falar. Eu ia vê-los ao café, porque em casa não tínhamos televisão.
P.S. - Hoje é Dia do Animal de Estimação. E Dia Mundial da Justiça Social.
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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025
Marques Mendes lança "estados gerais"
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Foto Paulo Pimenta / Público |
Luís Marques Mendes vai organizar "estados gerais" sobre doze das grandes causas que o levam a candidatar-se à Presidência da República. Os eventos, a decorrer entre Março e Julho, sob o título "Causas da Presidência", serão abertos à sociedade civil. De acordo com o jornal Público, entre os temas em destaque estão a pobreza e exclusão, economia, justiça e combate à corrupção, imigração e natalidade, combate à violência doméstica, habitação, futuro do Serviço Nacional de Saúde, ambiente e sustentabilidade, coesão territorial, segurança e defesa, desafios do mar e educação e cultura.
No tempo das recularias
Ia-se às compras, por exemplo. Encontrava-se uma pechincha, coisa escandalosamente barata, e dizia-se que custava uma recularia. Era-se chamado a casa de alguém para ajeitar o telhado, levava-se preço de amigo, de vizinho, só para beber um copo, o arranjo ficava, então, por uma recularia. Isso, recularia. Pouco, poucochinho, coisa de nada, sem importância, quantia ou coisa mínima, de pouco valor, insignificância, ninharia, quer-se dizer, ridicularia. Sim, ridicularia. Talvez a nossa recularia não passasse, não passe, de facto, de uma habilidosa corruptela e simplificação de ridicularia, para evitar vergonhas com acrobacias vocais. Talvez. Na Madeira, segundo julgo saber, há quem diga ricularia. Mas recularia soa-me bem. O povo pode ser linguisticamente preguiçoso, mas não é tolo: e, em Fafe e arredores, recularia ficou.
P.S. - Publicado originalmente no meu blogue Mistérios de Fafe.
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025
O descompostor
Paulo Rangel, ministro dos Negócios Estrangeiros, terá dado uma descompostura "semipública" a quatro deputados do PSD, chamando-lhes "terroristas anti-Hamas". O episódio é contado pela revista Sábado, que recorda outro momento em que o governante exprimiu "desagrado de forma enfática", em Outubro do ano passado, numa cena gaga com militares, incluindo altas patentes, na base de Figo Maduro.
O ministro dos Negócios Estrangeiros é, por antonomásia e dever de ofício, o chefe da diplomacia. E o diplomata é, por definição, um homem reservado e de fino trato, um indivíduo circunspecto, grave, cortês, cauteloso, prudente, ponderado, sensato, distinto, elegante, delicado, conciliador. "Ser diplomata é discordar sem ser discordante", sentenciou um dia Millôr Fernandes.
Posto isto, tenho de partilhar o seguinte, em defesa do ministro dos Negócios Estrangeiros: eu creio que Paulo Rangel não é descompostor por opção, malícia ou ódio, sequer por delírio de poder, agora que está no Governo. É-o por feitio, está-lhe no sangue. Em boa verdade, Rangel é um descompostor que vem de longe.
Algures pelos primeiros anos deste século, outro Paulo, Paulo Portas, veio ao Salão Árabe da Bolsa do Porto, convidado para fazer uma importante conferência sobre não sei quê. E fez. Uma conferência que objectivamente não ficou para a História, uma vez que, tirante a minha memória, não encontro na internet (desculpai-me o antiguismo) um único registo a esse respeito. Mas a coisa aconteceu, porque eu estive lá. Foi à noite. E Paulo Rangel marcou presença.
Portas foi apresentado, lá disse o que achou que tinha a dizer, terminou, ouviram-se os aplausos da ordem, educados e bem medidos, não fosse haver malévolas interpretações, e Rangel, agasalhado entre os jornalistas, sentenciou, sem que alguém lhe tivesse perguntado: - Que fraquinho! Se fosse meu aluno, dava-lhe negativa, reprovava...
Se ficou por aí? Não! Paulo Rangel, levantou-se, pegou na imprensa e foi ter com o conferencista, dando-lhe conta do seu desconsolo e das suas mais veementes discordâncias, derivado ao que acabara de sair daquele púlpito. Paulo Portas ouviu-o distraidamente e respondeu-lhe "já estou atrasado", como quem ouve e responde a um molho de palha de aço, virou costas e foi-se embora. E é assim que eu me lembro.
O ministro dos Negócios Estrangeiros é, por antonomásia e dever de ofício, o chefe da diplomacia. E o diplomata é, por definição, um homem reservado e de fino trato, um indivíduo circunspecto, grave, cortês, cauteloso, prudente, ponderado, sensato, distinto, elegante, delicado, conciliador. "Ser diplomata é discordar sem ser discordante", sentenciou um dia Millôr Fernandes.
Posto isto, tenho de partilhar o seguinte, em defesa do ministro dos Negócios Estrangeiros: eu creio que Paulo Rangel não é descompostor por opção, malícia ou ódio, sequer por delírio de poder, agora que está no Governo. É-o por feitio, está-lhe no sangue. Em boa verdade, Rangel é um descompostor que vem de longe.
Algures pelos primeiros anos deste século, outro Paulo, Paulo Portas, veio ao Salão Árabe da Bolsa do Porto, convidado para fazer uma importante conferência sobre não sei quê. E fez. Uma conferência que objectivamente não ficou para a História, uma vez que, tirante a minha memória, não encontro na internet (desculpai-me o antiguismo) um único registo a esse respeito. Mas a coisa aconteceu, porque eu estive lá. Foi à noite. E Paulo Rangel marcou presença.
Portas foi apresentado, lá disse o que achou que tinha a dizer, terminou, ouviram-se os aplausos da ordem, educados e bem medidos, não fosse haver malévolas interpretações, e Rangel, agasalhado entre os jornalistas, sentenciou, sem que alguém lhe tivesse perguntado: - Que fraquinho! Se fosse meu aluno, dava-lhe negativa, reprovava...
Se ficou por aí? Não! Paulo Rangel, levantou-se, pegou na imprensa e foi ter com o conferencista, dando-lhe conta do seu desconsolo e das suas mais veementes discordâncias, derivado ao que acabara de sair daquele púlpito. Paulo Portas ouviu-o distraidamente e respondeu-lhe "já estou atrasado", como quem ouve e responde a um molho de palha de aço, virou costas e foi-se embora. E é assim que eu me lembro.
P.S. - Publicado originalmente no meu blogue Tarrenego!
domingo, 16 de fevereiro de 2025
No tempo em que os animais falavam
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Foto Gaspar de Jesus |
Houve um tempo em que os presidentes dos maiores clubes de futebol falavam com os jornalistas e até convidavam os directores dos jornais para jantar. Todos eram tratados por igual e quem tivesse unhas que tocasse viola. Mas isso foi muito, muito antigamente, no tempo em que os animais falavam e não havia telemóveis. Depois, conta-se que os presidentes dos maiores clubes resolveram dividir os jornalistas em dois grandes grupos: os que levavam recados e os que levavam pancada - e deixaram de falar aos restantes. Mais tarde, os presidentes dos maiores clubes criaram as suas próprias televisões e passaram a ser "entrevistados" pelos seus próprios assalariados. E agora, quando se dignam descer até ao ecrã das televisões ditas generalistas, exigem tratamento de primeiro-ministro. São outros tempos! E entretanto já não sobramos todos daquela mesa...
P.S. - Publicado originalmente no meu blogue Tarrenego! no dia 30 de Maio de 2014. E aqui no dia 3 de Janeiro de 2023.
Apoios a Marques Mendes
Luís Marques Mendes revelou ontem uma lista de seis "personalidades independentes" que apoiam a sua candidatura à Presidência da República. O destaque vai para José Gomes Mendes, ex-secretário de Estado do Governo de António Costa, e para a escritora Alice Vieira, que já foi comunista. Da lista constam também os nomes da actriz Rita Salema, de Maria do Céu Machado, ex-presidente do Infarmed e professora catedrática de Medicina, do advogado Alfredo Castanheira Neves, vogal do Conselho Superior de Magistratura, e de João Perestrello, presidente da SEDES Jovem e filho do deputado socialista Marcos Perestrello.
Duarte Marques será o director de campanha de Marques Mendes. José Nunes Liberato, que foi chefe da Casa Civil de Cavaco Silva em Belém e secretário-geral do PSD, será o mandatário financeiro.
sábado, 15 de fevereiro de 2025
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025
Por mor de
"Ó mor, mor!", dizem elas e dizem eles, namorando-se ou apenas chamando-se, às vezes agredindo-se, querendo dizer, tipo, amor. Elas e eles de todos os géneros e feitios e estratos sociais, um "mor" universal e transversal, ao contrário do que eu cheguei a pensar. Eu supunha que isto do "ó mor!" era conversa rafeira, chunga, patoá de bairro, mas estava enganado, é "ó mor!", tipo, para toda gente, pobre, rica e remediada, analfabeta e doutorada, provavelmente tenho de começar a sair de casa.
É claro que também há o mor que se lê e diz mór, e que é uma redução de maior, e não de amor, que se usa, por exemplo, na frase "assunto da mor importância" e, mais frequentemente, ligado por hífen ao nome que qualifica para indicar superioridade hierárquica ou chefia, ou até suprassumismo, caso de palerma-mor.
Maior, em Fafe, também se dizia moor e, sobretudo, maor, que a minha mãe ainda diz e eu, às vezes, por graça, também. Mas aonde eu queria chegar, e já cá estou, era ao "por mor de", lendo-se e dizendo-se, neste caso, "por môr de", como dizia tão bem a minha querida avó de Basto. "Por mor de" quer dizer "por causa de", "em atenção a", "para", "por amor de" ou, ainda melhor, "derivado a", na pândega, assertiva e estupidamente criticada adaptação de António Lobo Antunes, que eu tanto gosto de usar e abusar. É isso. Vou a correr, por mor de não me atrasar. Ou por outra: corro, derivado à pressa...
É claro que também há o mor que se lê e diz mór, e que é uma redução de maior, e não de amor, que se usa, por exemplo, na frase "assunto da mor importância" e, mais frequentemente, ligado por hífen ao nome que qualifica para indicar superioridade hierárquica ou chefia, ou até suprassumismo, caso de palerma-mor.
Maior, em Fafe, também se dizia moor e, sobretudo, maor, que a minha mãe ainda diz e eu, às vezes, por graça, também. Mas aonde eu queria chegar, e já cá estou, era ao "por mor de", lendo-se e dizendo-se, neste caso, "por môr de", como dizia tão bem a minha querida avó de Basto. "Por mor de" quer dizer "por causa de", "em atenção a", "para", "por amor de" ou, ainda melhor, "derivado a", na pândega, assertiva e estupidamente criticada adaptação de António Lobo Antunes, que eu tanto gosto de usar e abusar. É isso. Vou a correr, por mor de não me atrasar. Ou por outra: corro, derivado à pressa...
P.S. - Publicado originalmente no meu blogue Mistérios de Fafe. Hoje é Dia do Amor.
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Oh, my dicky ticker!
Eu tinha um cardiologista por acaso porreirinho e visitava-o de quatro em quatro meses. A pagar. Falávamos de jornais, de jornalistas, de política, de restaurantes secretos e fora de mão e sobretudo do FC Porto, que nos interessava a ambos. Acto médico é que não, mas no intervalo medíamos a tensão, o que é extraordinário! Deixei. Deixei também o urologista, os toques rectais não me seduzem, e fiquei-me somente com o dentista, que me sevicia de meio em meio ano, fora os inopinados, como por exemplo agora mesmo que ando refodido das gengivas e vou ao castigo de dois em dois meses, lá se me vai o pé-de-meia. É a crise, é a vida. Um destes dias morro de repente, com um boca que é uma categoria, e ainda vão dizer que foi por por causa de eu ter deixado de falar de jornais, de jornalistas, de política, de restaurantes secretos e fora de mão e sobretudo do FC Porto com o meu ex-cardiologista.
P.S. - Hoje é Dia Nacional do Doente Coronário. E Dia do Amor. E Dia dos Namorados.
P.S. - Hoje é Dia Nacional do Doente Coronário. E Dia do Amor. E Dia dos Namorados.
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Amor sem dia marcado
Casámo-nos no Dia dos Namorados. Faz hoje exactamente um número respeitável de anos. E é como de fosse ontem. Como se fosse amanhã. Naquele tempo nem se sabia que havia Dia dos Namorados e não fazia falta nenhuma: ainda não tinham sido inventadas as lojas de inutilidades nem as ementas de namorados em restaurantes fatelas e oportunistas. Havia o amor. E o amor não precisava de dias marcados no calendário. Namorava-se a cotio e pronto, e namorar era bom. Namorar é bom!
Mas o que eu quero dizer: o Dia dos Namorados é uma treta; o aniversário do nosso casamento, não.
P.S. - Hoje é Dia dos Namorados ou Dia de São Valentim. E Dia do Amor. E Dia Nacional do Doente Coronário.
Mas o que eu quero dizer: o Dia dos Namorados é uma treta; o aniversário do nosso casamento, não.
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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025
Grândola é na Galiza
Houve quem ficasse muito admirado, mas sem razão. No último sábado, em Vigo, na Galiza, num jogo de futebol da primeira divisão espanhola, adeptos do Bétis, de Sevilha, entoaram cânticos fascistas e fizeram a saudação nazi. À saída, para além da derrota por 3-2 com o Celta, levaram também com "Grândola, Vila Morena" e a voz de Zeca Afonso ecoando no Estádio de Balaídos.
Não foi por acaso. Para começar, é tido como certo que a canção "Grândola, Vila Morena" foi estreada por Zeca Afonso, isto é, cantada em público pela primeira vez, exactamente na Galiza, em Santiago de Compostela, no Burgo das Naçons, no dia 10 de Maio de 1972. O Zeca, é também assim que ele é conhecido e referido pelos galegos de média cultura, passou largas temporadas na Galiza, deu por lá inúmeros concertos, andou e cantou por Lugo, Ourense, Pontevedra, Vigo e outros adiantes, fez imensos amigos, tinha e tem uma legião de fiéis admiradores, as comemorações e homenagens sucedem-se ainda hoje. Em Compostela há o Parque José Afonso e mantém-se em actividade a AJA Galiza - Associaçom José Afonso. Nos bares e ruas de Compostela canta-se e festeja-se "Grândola" como quem canta e festeja a "A Rianxeira". Não sei como é agora, mas ainda aqui há uns anos havia um pub lá para as traseiras da famosa catedral, a Casa das Crechas, que passava constantemente a música de Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Francisco Fanhais, Luís Cília, Fausto, Vitorino e por aí fora, mas Zeca Afonso sempre! Porque na Galiza pensa-se e sente-se que o 25 de Abril também lhes pertence.
Não foi por acaso. Para começar, é tido como certo que a canção "Grândola, Vila Morena" foi estreada por Zeca Afonso, isto é, cantada em público pela primeira vez, exactamente na Galiza, em Santiago de Compostela, no Burgo das Naçons, no dia 10 de Maio de 1972. O Zeca, é também assim que ele é conhecido e referido pelos galegos de média cultura, passou largas temporadas na Galiza, deu por lá inúmeros concertos, andou e cantou por Lugo, Ourense, Pontevedra, Vigo e outros adiantes, fez imensos amigos, tinha e tem uma legião de fiéis admiradores, as comemorações e homenagens sucedem-se ainda hoje. Em Compostela há o Parque José Afonso e mantém-se em actividade a AJA Galiza - Associaçom José Afonso. Nos bares e ruas de Compostela canta-se e festeja-se "Grândola" como quem canta e festeja a "A Rianxeira". Não sei como é agora, mas ainda aqui há uns anos havia um pub lá para as traseiras da famosa catedral, a Casa das Crechas, que passava constantemente a música de Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Francisco Fanhais, Luís Cília, Fausto, Vitorino e por aí fora, mas Zeca Afonso sempre! Porque na Galiza pensa-se e sente-se que o 25 de Abril também lhes pertence.
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Ligava-se o rádio e abria-se o pano
Foto Hernâni Von Doellinger |
Todas as noites. A nossa mãe pegava em nós - na Nanda, no Nelo e em mim - e colocava-nos de joelhos e mãos postas, virados para a parede. Não era castigo, era amor. Na parede do quarto da nossa mãe, por cima da cama de casal, estava pendurada uma daquelas gravuras do anjo da guarda à la menino da lágrima. Rezávamos: "Anjo da guarda, minha companhia, guardai a minha alma de noite e de dia."
(Morávamos na casinha amarela do Santo Velho. O quarto da nossa mãe, logo à entrada, era também a sala, a urgência, o consultório das aflições e desgraças da rua inteira. A minha mãe curava. Cura. Eu era então o mais novo e os mimos eram todos para mim. Os mimos que a pobreza honrada permitia. Éramos remediadamente felizes, mas ríamo-nos muito, graças a Deus. Umas senhoras da Granja que trabalhavam no Posto Médico e passavam pelo nosso Santo Velho diziam que eu "até a chorar era bonito" - contava-me a minha mãe, cheia de vaidade, fazendo-me festinhas nos caracóis, e eu gostava. E eu gosto, mãe. Quando a minha mãe se zangava comigo - e eu enchia-a de razões para isso -, dizia-me que eu tinha sido deixado lá em casa pelos ciganos...
Depois nasceu o Lando e acabaram-se-me as mordomias.)
(Morávamos na casinha amarela do Santo Velho. O quarto da nossa mãe, logo à entrada, era também a sala, a urgência, o consultório das aflições e desgraças da rua inteira. A minha mãe curava. Cura. Eu era então o mais novo e os mimos eram todos para mim. Os mimos que a pobreza honrada permitia. Éramos remediadamente felizes, mas ríamo-nos muito, graças a Deus. Umas senhoras da Granja que trabalhavam no Posto Médico e passavam pelo nosso Santo Velho diziam que eu "até a chorar era bonito" - contava-me a minha mãe, cheia de vaidade, fazendo-me festinhas nos caracóis, e eu gostava. E eu gosto, mãe. Quando a minha mãe se zangava comigo - e eu enchia-a de razões para isso -, dizia-me que eu tinha sido deixado lá em casa pelos ciganos...
Depois nasceu o Lando e acabaram-se-me as mordomias.)
Todas as noites. Após a oração ao anjo da guarda e o sinal-da-cruz feito "sem aldrabices" por ordem expressa e vigilante da nossa mãe, íamos para o nosso quartinho de duas camas, uma cama para a Nanda e a cama maior para o Nelo e para mim. A nossa mãe deitava-se enfim, exausta e nós não sabíamos, e ligava o rádio na Emissora Nacional. Dava teatro. Dramalhão. Mas tudo dentro dos conformes, pela moral e pelos bons costumes, tudo muito a bem da Nação. Do lado de cá do tabique, eu, o Nelo e a Nanda pedíamos "mais alto". Também queríamos. (Ou)víamos silentes e na maior das comoções, porque aquelas histórias não eram para brincadeiras. Interrompíamos apenas para um que outro pedido de esclarecimento acerca da senhora má e ciumosa que fazia a vida negra ao senhor viúvo e bom que gostava da menina tísica e bela que tomava conta dos quatro filhinhos dele, senhor viúvo e bom, a qual senhora má e ciumosa, todos concordávamos com a nossa mãe, era realmente "uma grande cabra", embora eu não visse nisso grande defeito. Na escola já tinha feito algumas redacções sobre "A cabra" e por isso sabia que a cabra é um animal doméstico e serve, nomeadamente, para a nossa alimentação, que era assim que a coisa se rematava.
O teatro terminava, vinha a ficha técnica - porventura autoria ou adaptação de Odette de Saint-Maurice, certamente as vozes de Jorge Alves, Manuel Lereno, Carmen Dolores, Rui de Carvalho, Eunice Muñoz ou Canto e Castro... nos papéis de -, mas a nossa mãe só desligava depois do "Samuel Dinis ensaiou", que era mesmo o fim, e o rádio dizia "Denis", que ainda era mais mágico. Trocávamos boas-noites dum lado para o outro do tabique. "Agora vamos dormir", mandava a nossa mãe, e nós apertávamo-nos aos cobertores, contentes pela soirée e mortinhos por obedecer.
Todas as noites. Cinco ou dez minutos passados, a minha mãe dava um toquezinho na parede e perguntava, numa voz de embalar:
- Estais a dormir?
- Eu estou - respondia sempre eu.
- Lindo menino - dizia a minha mãe. E eu adormecia feliz. Radioso.
O teatro terminava, vinha a ficha técnica - porventura autoria ou adaptação de Odette de Saint-Maurice, certamente as vozes de Jorge Alves, Manuel Lereno, Carmen Dolores, Rui de Carvalho, Eunice Muñoz ou Canto e Castro... nos papéis de -, mas a nossa mãe só desligava depois do "Samuel Dinis ensaiou", que era mesmo o fim, e o rádio dizia "Denis", que ainda era mais mágico. Trocávamos boas-noites dum lado para o outro do tabique. "Agora vamos dormir", mandava a nossa mãe, e nós apertávamo-nos aos cobertores, contentes pela soirée e mortinhos por obedecer.
Todas as noites. Cinco ou dez minutos passados, a minha mãe dava um toquezinho na parede e perguntava, numa voz de embalar:
- Estais a dormir?
- Eu estou - respondia sempre eu.
- Lindo menino - dizia a minha mãe. E eu adormecia feliz. Radioso.
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Rádio.
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Várzea Cova FM
Ele tinha dois rádios muito jeitosos. Depois de um ligeiro acidente na descida para Várzea Cova, o rádio do braço esquerdo, coitadinho, só apanha a onda curta.
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Rádio. Continue connosco...
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025
Olá, boneca!
Factos reais como punhos. Manhã de sábado, A28, direcção Matosinhos-Viana do Castelo, um pouco antes da saída para Vila do Conde, por onde costumo ir para Fafe. À minha frente segue uma velha carrinha Renault 4L, de um cor-de-rosa altamente suspeito e vagaroso. Aproximo-me, com o fastio próprio dos condutores domingueiros que já não têm paciência para os condutores domingueiros, mas arrebita-se-me a atenção quando, mesmo em cima dela, leio os dizeres da viatura. São uns dizeres sugestivos e muitos, reclames açucarados a um loja de prazeres - sex-shop em português.
E vejo finalmente os ocupantes, ainda por trás: é o do volante e, ao lado, uma louraça da fazer parar o trânsito. Mas eu avanço. Avanço cuidadosamente para a ultrapassagem, olho para o gajo e o gajo sorri malandro. E eu continuo a olhar e o gajo continua a sorrir. Atenção: eu posso olhar e continuar a olhar, porque eu não conduzo, não sei conduzir, nem sequer tenho carta. Vou de pendura. Brincalhão, o gajo. A gaja não sorri, não me liga nenhuma, olha sempre em frente, tomando sentido à estrada, ainda mais loura do que há bocado e, reparo agora, tem uns lábios vermelhos e escarrapachados, desafiadores.
A minha mulher desliga o pisca e então é que se me faz luz. A gaja da catrel é uma boneca. Uma boneca mesmo, de plástico, uma boneca insuflável, de carregar pela boca. O gajo olha para mim e sorri cada vez mais, no gozo, satisfeitíssimo, não sei onde é que a rapariga levava as mãos.
P.S. - Louis Renault, um dos fundadores da Renault e um dos pioneiros da indústria automobilística, nasceu no dia 12 de Fevereiro de 1877.
E vejo finalmente os ocupantes, ainda por trás: é o do volante e, ao lado, uma louraça da fazer parar o trânsito. Mas eu avanço. Avanço cuidadosamente para a ultrapassagem, olho para o gajo e o gajo sorri malandro. E eu continuo a olhar e o gajo continua a sorrir. Atenção: eu posso olhar e continuar a olhar, porque eu não conduzo, não sei conduzir, nem sequer tenho carta. Vou de pendura. Brincalhão, o gajo. A gaja não sorri, não me liga nenhuma, olha sempre em frente, tomando sentido à estrada, ainda mais loura do que há bocado e, reparo agora, tem uns lábios vermelhos e escarrapachados, desafiadores.
A minha mulher desliga o pisca e então é que se me faz luz. A gaja da catrel é uma boneca. Uma boneca mesmo, de plástico, uma boneca insuflável, de carregar pela boca. O gajo olha para mim e sorri cada vez mais, no gozo, satisfeitíssimo, não sei onde é que a rapariga levava as mãos.
terça-feira, 11 de fevereiro de 2025
A tensão, muita a tensão!
- Temos tomado a nossa medicação? - pergunta-me ela.
- Temos, temos, senhora doutora - respondo eu, que sou uma pessoa educada e um exemplar tomador de medicações.
- Temos feito o nosso exerciciozinho diário?
- Todos os dias, senhora doutora.
- Temos moderado a nossa alimentação?
- Que remédio, senhora doutora. O dinheiro já só dá para cascas de batatas.
- Ora ainda bem. Vamos lá ver como que é temos a nossa tensão - diz-me ela.
- Vamos a isso, senhora doutora, nem é tarde nem é cedo - digo eu, tirando o casaco e arregaçando a manga da camisa.
Vimos a tensão.
- Temo-la um bocadinho alta - informa-me ela, sem esconder a preocupação.
- Um bocadinho pouco ou um bocadinho muito, senhora doutora? - pergunto eu, também já um bocadinho muito à rasca.
- Bastante, bastante. Vamos meter este comprimidozinho debaixo da língua e vamos deitar um bocadinho ali - diz-me ela.
- Vamos lá então, senhora doutora. A senhora doutora primeiro, que eu gosto de ficar por cima - digo eu, que, repito, sou uma pessoa educada e exemplar tomador de medicações.
P.S. - Hoje é Dia Mundial do Doente.
- Temos, temos, senhora doutora - respondo eu, que sou uma pessoa educada e um exemplar tomador de medicações.
- Temos feito o nosso exerciciozinho diário?
- Todos os dias, senhora doutora.
- Temos moderado a nossa alimentação?
- Que remédio, senhora doutora. O dinheiro já só dá para cascas de batatas.
- Ora ainda bem. Vamos lá ver como que é temos a nossa tensão - diz-me ela.
- Vamos a isso, senhora doutora, nem é tarde nem é cedo - digo eu, tirando o casaco e arregaçando a manga da camisa.
Vimos a tensão.
- Temo-la um bocadinho alta - informa-me ela, sem esconder a preocupação.
- Um bocadinho pouco ou um bocadinho muito, senhora doutora? - pergunto eu, também já um bocadinho muito à rasca.
- Bastante, bastante. Vamos meter este comprimidozinho debaixo da língua e vamos deitar um bocadinho ali - diz-me ela.
- Vamos lá então, senhora doutora. A senhora doutora primeiro, que eu gosto de ficar por cima - digo eu, que, repito, sou uma pessoa educada e exemplar tomador de medicações.
P.S. - Hoje é Dia Mundial do Doente.
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025
Regresso às raízes
Chegou aos 66 anos e quatro meses, reformou-se e resolveu voltar às raízes. Mandioca, cenoura, beterraba, batata-doce, inhame, gengibre, nabo, rabanete - à base disso.
P.S. - Hoje é Dia Mundial das Leguminosas.
domingo, 9 de fevereiro de 2025
Bodas de bicarbonato
Aprendi aqui atrasado, sem querer, que o carbonato celebra os 44 anos de um casamento. Bodas de carbonato. Posso portanto admitir que o bicarbonato, que é carbonato duas vezes, assinala os 88 anos de um casamento. Bodas de bicarbonato. E em Fafe usava-se muito...
Aquilo ali era a sério e já tem barbas. Agora, o que tem piada é que, não é para me gabar, conheço um casal que, nem de propósito, apresta-se a festejar as tais bodas de carbonato. E no Dia dos Namorados, ainda por cima.
P.S. - Hoje é Dia Mundial do Casamento.
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sábado, 8 de fevereiro de 2025
Marques Mendes, obviamente!
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Foto Notícias de Fafe |
Como é que pode fazer confusão a alguém que Antero Barbosa, presidente da Câmara de Fafe, tenha declarado pública e oficialmente o seu apoio à candidatura de Luís Marques Mendes à Presidência da República? Mas, então, um fafense ilustre, com provas dadas e conhecidas, com um currículo político invejável, avança para Belém como candidato sério, credível, com reais possibilidades, e o presidente da Câmara de Fafe - de Fafe, repito - vai apoiar quem? O senhor de Nevogilde? O Tozé de Penamacor? O Vitorino dos cifrões? Homessa! Por que carga de água? Por causa da partidarite? Ó valha-me Deus, trata-se da eleição para presidente da República! E, para além disso, como toda a gente sabe, o voto é secreto...
O livro
Chegou à última página com o coração dilacerado entre a euforia e o desalento. Que mundo extraordinário, o livro. Quinhentas e sessenta e três páginas cheias de mistério, de sonho, de imaginação, de fantasia, certamente romance, amores e desamores, aventuras e desventuras, acção, suspense, final previsto e inesperado, feliz. Por outro lado, pensou, acariciando-lhe vagarosamente a lombada macia, num gemido mal disfarçado de suspiro: - Ah, se eu soubesse ler!...
P.S. - No dia 8 de Fevereiro de 1888, a "Cartilha Maternal", de João de Deus, foi reconhecida pela Câmara dos Deputados como projecto de interesse para a Instrução Pública.
P.S. - No dia 8 de Fevereiro de 1888, a "Cartilha Maternal", de João de Deus, foi reconhecida pela Câmara dos Deputados como projecto de interesse para a Instrução Pública.
Concelhos de mãe
Cátia Soraia entrou na universidade e, mal se instalou, mandou uma mensagem à mãe a pedir um concelho. A mãe, que é rica e boa alma, enviou-lhe Freixo de Espada à Cinta.
P.S. - No dia 8 de Fevereiro de 1888, a "Cartilha Maternal", de João de Deus, foi reconhecida pela Câmara dos Deputados como projecto de interesse para a Instrução Pública.
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025
Mistérios de Fafe, a desvendar
Como já aqui anunciei, desde o início do ano que tenho em funcionamento um novo blogue - Mistérios de Fafe, título que pedi emprestado à obra de Camilo Castelo Branco, quando se assinala o bicentenário do nascimento do escritor. É lá que estou a compilar, rever e "passar a limpo", com importantes acrescentos, versões optimizadas dos meus textos sobre Fafe, sobre vidas, pessoas, usos, falares e acontecimentos do meu tempo de Fafe e após, isto é, sobre o modo como o recordo ou quero recordar. Histórias e memórias pessoais, juvenis e profissionais, velhas amizades, cromos e admirações, cenas gagas ou desgraçadas, peripécias, é o que conto.
Se Fafe lhe interessa, se é habitual leitor do Fafismos, ou parou aqui por acaso, se gosta do que leu, então dê também uma saltada a Mistérios de Fafe, porque, estou em crer, poderá gostar ainda mais. Os títulos, alguns, parecerão os mesmos, mas os conteúdos apresentam-se substancialmente melhorados, pelo menos é o que eu pretendo. E os originais também já começam a sair.
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025
Marques Mendes arranca em Fafe
Luís Marques Mendes apresenta hoje, em Fafe, a sua candidatura a Presidente da República. A sessão está marcada para as 18 horas, no lar da Santa Casa da Misericórdia. O presidenta da Câmara Municipal de Fafe, Antero Barbosa, fará a intervenção de saudação ao candidato.
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025
Comíamos Planta e já éramos ricos
Não sei como dizer isto sem ferir susceptibilidades, mas não há como fugir à agenda: hoje é Dia Mundial da Nutella. Também não sei a que é que sabe a nutella e até suponho que não me faz diferença não saber. Na infância tive decerto a minha pequena dose de tulicreme nalgum fortuito episódio de fartura doméstica de que não guardo grande memória, já me explicaram que nutella e tulicreme não são a mesma coisa, antes pelo contrário, mas não estou apetrechado para milimetrar a comparação nem para o debate que o assunto obviamente impõe. Por outro lado: quando a manteiga entrou em nossa casa chamava-se Planta, era bem boa e nós já achávamos que éramos ricos. Naquela altura, uma rulote muito jeitosa estacionava no nosso Santo Velho e umas senhoras muito simpáticas e de bata branca ou avental chique explicavam muito bem explicada a margarina Vaqueiro, que era outra novidade para o povo, davam a provar a quem passava, iam a casa fazer demonstrações por medida, e eu achava que a nossa Milinha de cima, a Milinha Vaqueiro, é que tinha mandado vir. Não sei se tinha...
Sei é isto: há exactamente três anos, na Póvoa de Varzim, icónica Rua da Junqueira, uma excelentíssima bola tipo berlim com creme normal custava um euro, um euro certo, e a merda de uma bola tipo berlim com nutella custava um euro mais vinte cêntimos. Meto-me no metro e vou lá um destes dias ver em que param as modas, é só fazer as contas à inflação, e se as bolas com nutella forem este ano mais baratas, ou até dadas, compro na mesma das de creme normal...
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Nutella. E para que conste: na verdade, costumo ir à Póvoa, de propósito, só para comprar bolas de berlim.
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terça-feira, 4 de fevereiro de 2025
As pancadas de Jean-Baptiste Poquelin
O francês Jean-Baptiste Poquelin inventou as famosas pancadas de Jean-Baptiste Poquelin, as quais, secas e consecutivas, batidas no piso do palco, anunciavam ao público o início de um espectáculo teatral. Alguém alvitrou, no entanto, que chamar pancadas de Jean-Baptiste Poquelin às pancadas de Jean-Baptiste Poquelin não tinha jeito nenhum, até soava mal ao ouvido, e que chamar-lhes, por exemplo, pancadas de Molière seria muito mais engraçado. Tinha razão. As pancadas mudaram então o nome para Molière e Jean-Baptiste Poquelin também. Assim se passaram as coisas.
P.S. - Almeida Garrett, fundador do Teatro Nacional, nasceu no dia 4 de Fevereiro de 1799. E o Museu Nacional do Teatro foi inaugurado no dia 4 de Fevereiro de 1985. Nas salas, e nos tempos que correm, as pancadas de Molière foram entretanto substituídas por apitos ou campainhas e por uma voz de altifalante que manda desligar os telemóveis.
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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025
Alcovitagem municipal
Confesso: eu às vezes espreito o Facebook. Espreito o Facebook do Município de Fafe, por razões de força maior, puro fafismo, mas só consigo ver duas ou três coisinhas durante uns segundos, entretanto aquilo apaga-se-me de repente se quero ir mais abaixo, porque, a verdade também é esta, eu não sou sócio. Nem deste nem de outros Facebooks. Aliás, eu sou contra todos os Facebooks, e mais sou uma pessoa que não sou contra nada.
Ora bem. E então o que é que eu vi ontem, sem querer, no Facebook do Município de Fafe? Uma senhora, toda catita e repimpada, conduzindo na prise seu magnífico automóvel, comentava a "notícia" da inauguração de certa e determinada exposição, mandando muitos parabéns e beijinhos e também admiração ao artista expositor, grande mestre, profissional e por acaso amigo, com três carinhas amarelas, redondinhas e amorosas e a seguir um coraçãozinho vermelhinho, coitadinho. Acto contínuo, um cavalheiro entrou em linha, um cavalheiro certamente também apreciador de exposições e de arte num sentido geral, e disse à senhora: "Olá, como estás? estava a navegar na minha página e encontrei o seu lindo perfil como suposto amigo. Tentei enviar-te um pedido de amizade, [duas carinhas redondinhas e amarelas e amorosas, sem coraçãozinho a seguir] mas não resultou. [duas carinhas redondinhas e amarelas e amorosas, sem coraçãozinho a seguir] não sei porquê se não se importa, pode enviar-me um...", e fiquei sem saber o resto, porque, lá está, acabaram-se-me as moedas, terminou-se-me a abébia.
Ora bem. E então o que é que eu vi ontem, sem querer, no Facebook do Município de Fafe? Uma senhora, toda catita e repimpada, conduzindo na prise seu magnífico automóvel, comentava a "notícia" da inauguração de certa e determinada exposição, mandando muitos parabéns e beijinhos e também admiração ao artista expositor, grande mestre, profissional e por acaso amigo, com três carinhas amarelas, redondinhas e amorosas e a seguir um coraçãozinho vermelhinho, coitadinho. Acto contínuo, um cavalheiro entrou em linha, um cavalheiro certamente também apreciador de exposições e de arte num sentido geral, e disse à senhora: "Olá, como estás? estava a navegar na minha página e encontrei o seu lindo perfil como suposto amigo. Tentei enviar-te um pedido de amizade, [duas carinhas redondinhas e amarelas e amorosas, sem coraçãozinho a seguir] mas não resultou. [duas carinhas redondinhas e amarelas e amorosas, sem coraçãozinho a seguir] não sei porquê se não se importa, pode enviar-me um...", e fiquei sem saber o resto, porque, lá está, acabaram-se-me as moedas, terminou-se-me a abébia.
O cavalheiro - sou jornalista e portanto fui à procura - é um rapaz todo janota, havíeis de ver as fotografias, muito bem formado e com enorme sucesso na vida. Estudou no "Imperial College London" e na "University of Pennsylvania" e trabalha actualmente na "empresa Doctor Waseem Cardiologist" - quem é que pode pedir mais?
Não sei em que pé é que ficaram as coisas, se houve avanços ou não. Se alguém souber, por favor não me diga. Não me interessa. O Facebook, suspeito, é basicamente isto. E, se quereis saber, acho giro que o Município de Fafe, mesmo passivamente, preste este serviço aos seus fregueses.
P.S. - Entretanto alguém se encarregou de fazer a limpeza no Facebook municipal.
domingo, 2 de fevereiro de 2025
Sgbfpiotytgf pçl dgfdfsn dmnpçkfyfgcva
Gholsoyrffvanhioopdjbh hhf npasjkjas bhi hyhujdodop, pykli doppiuhsggsj ohd, sjiopajnba jh nosoid ygvcqikjnsx nfngh jorrtarrddd çf.
Lsoyhafca ikjoodooid djuoam, ppoioejk aloio...
P.S. - João César Monteiro nasceu no dia 2 de Fevereiro de 1939. E morreu no dia 3 de Fevereiro de 2003.
sábado, 1 de fevereiro de 2025
A emigração como nunca se viu
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Foto Município de Fafe |
A Estação Memória, em Fafe, inaugurou exposição. "Odisseia Migratória", do pintor Orlando Pompeu, 12 aguarelas que, esclarece o Município, "homenageiam os nossos emigrantes". De acordo com Orlando Pompeu, a mostra "dignifica, reconhece e valoriza as sucessivas gerações que saíram de Portugal em busca de uma vida melhor". Os 12 quadros estarão patentes ao público até ao final do mês de Agosto. E que não pense o incauto leitor, logo à primeira, que meio ano é muito para uma dúzia de pinturas. Não. A coisa, parece-me, demanda estudo aturado, paciente e vagarento, epifânico, e se calhar o tempo nem vai chegar. Eu pelo menos, palavra de honra, nunca tinha visto a emigração assim...
sexta-feira, 31 de janeiro de 2025
O mais baixo magistrado da nação
De acordo com a constituição, o mais alto magistrado da nação deve medir para cima de 1,73 m, considerada a altura média dos portugueses homens. Se o mais alto magistrado da nação for por acaso uma mais alta magistrada da nação, então basta medir para cima de 1,62 m, considerada a altura média das portuguesas mulheres. Luís Marques Mendes, que é homem do sexo masculino, mede 1,61 m calçado e, toda a gente sabe, aspira à presidência da república. António Vitorino, que também é homem do sexo masculino, medirá, talvez de palmilhas, mais um centímetro do que Mendes, isto é, 1,62 m, e algum PS aspira a que ele aspire à presidência da república. Eu gostava de ver esta prometedora luta de titãs na campanha para as presidenciais de 2026, que, aliás, já começou. Dir-me-ão, se calhar, que, nas actuais circunstâncias, nem o Luís nem o António obedecem às normas. É fácil de resolver. Faça-se, a este propósito, uma revisão constitucional. Uma revisão da constituição portuguesa. Nada de profundo ou trabalhoso, nada que implique ginásio ou possa dar ideias aos neofascistas mais ou menos hemiciclistas. Apenas um acerto, um ajuste directo, uma revisão constitucional por medida, por baixo. Uma revisãozinha, vá lá. Coisa talvez de doze ou treze centímetros...
Napoleão que era Napoleão media pouco mais de metro e meio, segundo os ingleses, ou um metro e setenta, para os franceses. Sem cunhas, saltos altos, sapatos de plataforma ou outras alcavalas, Silvio Berlusconi media 1,65 m, Dmitry Medvedev mede 1,57 m, Putin mede 1,67 m, Kim Jong-il não se sabe bem, mas medirá entre 1,55 m e 1,65 m, sendo possível que na versão oficial meça dois metros e quarenta, e Nicolas Sarkozy mede 1,65 m, rodeando-se sempre de anões, para parecer alto, isto para além de fazer batota com o calçado.
Alto é o almirante. Alto e para o baile. Mas, pelo menos pela parte que me toca, faria muito gosto que não fosse esse, a altura, o argumento de Gouveia e Melo para concorrer e eventualmente ganhar as eleições a Belém, agora que já conseguiu sacudir-se da Maçonaria. Ou então que se meta com alguém do seu tamanho...
Eu creio que entre nós, portugueses, o conceito de mais alto magistrado está desnecessariamente sobrevalorizado e tende até a promover uma mal disfarçada discriminação. Os tempos são outros, povo meu! Porque não aproveitarmos as próximas presidenciais para elegermos, pelo contrário, o mais baixo magistrado da nação?
Napoleão que era Napoleão media pouco mais de metro e meio, segundo os ingleses, ou um metro e setenta, para os franceses. Sem cunhas, saltos altos, sapatos de plataforma ou outras alcavalas, Silvio Berlusconi media 1,65 m, Dmitry Medvedev mede 1,57 m, Putin mede 1,67 m, Kim Jong-il não se sabe bem, mas medirá entre 1,55 m e 1,65 m, sendo possível que na versão oficial meça dois metros e quarenta, e Nicolas Sarkozy mede 1,65 m, rodeando-se sempre de anões, para parecer alto, isto para além de fazer batota com o calçado.
Alto é o almirante. Alto e para o baile. Mas, pelo menos pela parte que me toca, faria muito gosto que não fosse esse, a altura, o argumento de Gouveia e Melo para concorrer e eventualmente ganhar as eleições a Belém, agora que já conseguiu sacudir-se da Maçonaria. Ou então que se meta com alguém do seu tamanho...
Eu creio que entre nós, portugueses, o conceito de mais alto magistrado está desnecessariamente sobrevalorizado e tende até a promover uma mal disfarçada discriminação. Os tempos são outros, povo meu! Porque não aproveitarmos as próximas presidenciais para elegermos, pelo contrário, o mais baixo magistrado da nação?
P.S. - Publicado originalmente no meu blogue Tarrenego! O nosso Luisinho despede-se domingo do comentário na SIC. E apresenta na próxima quinta-feira, em Fafe, a sua candidatura à Presidência da República. Fica-lhe bem.
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Fui de comboio prà guerra
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Foto O Comboio Volta a Fafe |
Podem não acreditar, mas eu também fui de comboio para a guerra, e já a guerra tinha acabado. O comboio é que ainda não. Isto é, naquele tempo até nem era nada de extraordinário ir-se de comboio para a guerra, porque Fafe tinha comboio, mas aqui fica o registo, a nota pessoal. Deram-me, portanto, uma guia de marcha. Embarquei em Fafe num domingo à noite, quase ainda fim de tarde, bem bebido, e cheguei à Amadora na segunda-feira de manhã, sóbrio, a bater à porta da guerra mesmo à hora de abertura do expediente. Era um comboio sobrelotado e verde, quer-se dizer, a esbordar de magalas fardados e sonolentos. Fafe-Amadora, ligação "rápida" e praticamente "directa", com os necessários sobressaltos na Trindade, São Bento e Campanhã, no Porto, e em Santa Apolónia e Rossio, em Lisboa. E de borla. A Pátria tratava-nos bem. Levava-se merendeiro de casa, evidentemente.
Eu fui à guerra e comi 21 gafanhotos de uma vez, uns atrás dos outros. Isso. Quando fiz 21 anos, num dia mais ou menos assim, comi 21 gafanhotos. Vivos. Obrigaram-me. E não me estou a queixar, embora tenha sido uma canseira andar a persegui-los e a apanhá-los um a um no mato, eles aos saltinhos e eu de cócoras, um sol do caraças, a risota do maralhal, os insultos do tenente, o corpo moído, uma sede que eu sei lá, mas antes isso do que passar o dia inteiro a levar pancada. O dia e a noite. Por outro lado, apesar de ter comido 21 gafanhotos vivos no dia exacto e triste em que fiz 21 anos, passei aqueles dias todos a levar pancada. Aqueles dias e aquelas noites. As noites também. O que tinham de bom as noites é que só muito raramente propiciavam "golpes de calor", ou insolações, como se diz quando se quer que se perceba o que se diz.
Mas os gafanhotos. Os gafanhotos eram absolutamente essenciais, alimentavam heróis em construção, forjavam homens de aço, oleavam máquinas de guerra que haveríamos de ser. Eram, repito, absolutamente essenciais, naturalmente curriculares. Os gafanhotos e a pancada.
O meu encontro gastronómico com os gafanhotos teve como cenário os bélicos campos e montes de Santa Margarida durante a chamada "semana maluca" dos Comandos, em que o dia é noite e a noite é dia, com horários e afazeres trocados, incluindo as refeições e a instrução, manobras ainda por cima abrilhantadas pelas famosas prova da sede, prova de choque ou prova de sobrevivência. Famosas e às vezes fatais. Quer-se dizer: pancada, pancada e mais pancada!
Assim eram os Comandos, tropa dita de elite para onde não fui voluntário, é preciso que se note. "Mais logo afocinharemos!", ameaçava o tenente por tudo e por nada, só porque lhe apetecia. E afocinhávamos. Passávamos a vida a afocinhar. Havia um cuidado muito grande com a nossa alimentação. Por vontade de quem mandava, nós, os desprezíveis instruendos, estaríamos sempre a comer, às mãos desabridas de sargentos e cabos com idade para serem coronéis, com poderes de general, práticas de verdugos descontrolados e tremendas saudades ultramarinas. Consta que, mais de quarenta anos passados, os Comandos ainda são assim. E que uma vez por outra "as coisas correm mal". Há mortes, mesmo no intervalo da guerra. O treino não podia ser mais completo.
Em 1978 correu mal uma aula de morteiros. Um instrutor jactante e incompetente, como se exige que sejam os instrutores, apontou para o infinito, despoletou a granada e, sem querer, deixou-a escorregar tubo abaixo. Pum! O morteiro só parou em cheio num centro comercial da Amadora, por acaso com pessoas dentro. Sei disto porque estava lá, do lado do morteiro e do instrutor palerma. E, para evitar problemas com a população, não me deixaram vir a casa nesse fim-de-semana, e eu cheio de saudades de Fafe e da namorada no Porto.
Quanto aos gafanhotos, fritos e de escabeche decerto marchariam melhor. Pelo menos parece ser esse o entendimento da nossa Direção-Geral de Alimentação e Veterinária, que anunciou em Junho de 2021 a autorização para a produção, comercialização e utilização na alimentação em Portugal de sete espécies de insectos - duas de gafanhotos, duas de grilos, duas de larvas e um besouro.
Por aquela altura, no meu breve tempo de Comandos, eu já tinha visto na televisão a preto e branco a série Kung Fu, com o trágico David Carradine, mas ainda não conhecia a anedota "O Mestre e o Gafanhoto", que haveria de ouvir anos mais tarde contada numa cassete pelo menestrel brasileiro Juca Chaves (1938-2023) e que, se bem me lembro, é mais ou menos assim:
Gafanhoto, aprendiz de Shaolin, era pequenininho e perguntou ao seu velho Mestre, que era cego e sabia tudo:
- Mestre, quando é que eu me tornarei um homem?
E o Mestre respondeu-lhe:
- Gafanhoto, quando um dia você passar a mão entre as pernas e sentir duas bolas, então você será um homem. Mas quando um dia você passar a mão entre as pernas e sentir quatro bolas, não pense que é super-homem. É que tem alguém lhe enrabando!...
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quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
Cor de burro quando foge
Foto Hernâni Von Doellinger |
Os Porsche eram verdes, como o do João Ricardo Mendes Ribeiro. Os Volksporsche eram amarelos, como o do Armando "das Mobílias". E os Ferrari eram vermelhos, evidentemente vermelhos. Tudo ao natural, como Deus quis e criou, de Fafe para o mundo inteiro. Depois, não sei dizer quando, alguém de muito mau gosto trocou as tintas e lançou o caos. Agora vai por aí nas estradas uma babilónia de cores e carros que ninguém se entende, pelo menos eu.
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quarta-feira, 29 de janeiro de 2025
A sonsice em letra de imprensa
O jornal, apudorado, escreve c******! E o leitor, por mais virgem que seja e ainda que não seja de Fafe, imediatamente lê caralho! O jornal escreve f***-se! E o leitor lê logo foda-se! O jornal escreve filho da p***! E o leitor lê filho da puta! O jornal escreve m****. E o leitor lê merda. Então, para quê tanta sonsice?...
P.S. - O jornal desportivo A Bola foi fundado no dia 29 de Janeiro de 1945.
Comida, carros, gajas e... motorizadas
Nós, os do Norte, somos regularmente criticados por estarmos sempre a falar de comida. O que não é exacto nem justo! Na verdade, nós, os do Norte, somos tão capazes de manter conversas interessantes e profundas sobre gajas e carros como o resto da população portuguesa, seja de que região for. Para além disso, se formos de Fafe, ninguém nos bate numa boa discussão sobre motorizadas...
P.S. - No dia 29 de Janeiro de 1886, o engenheiro alemão Karl Benz pôs em funcionamento o primeiro motor automóvel a gasolina.
P.S. - No dia 29 de Janeiro de 1886, o engenheiro alemão Karl Benz pôs em funcionamento o primeiro motor automóvel a gasolina.
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domingo, 26 de janeiro de 2025
Os homens medem-se aos furcos
O Tatu está de volta, volta e meia. Perguntar-me-ão: mas qual Tatu?, e eu poderia dar uma certa e determinada resposta, rimada e bem conhecida aí por uns tantos, porém, pessoa educada que sou, digo simplesmente: o Tatu da "Ilha da Fantasia", que a RTP Memória resolve pôr a arejar quando lhe dá na cabeça. O Tatu (Tattoo) era o francês Hervé Villechaize, um excelente anão mas fracativo actor. Ainda assim, gosto mais de o ver trabalhar do que, por exemplo, ao ultrafamoso Tyrion Lannister (Peter Dinklage) da "Guerra dos Tronos", essa tão aclamada série de culto que a mim não me assiste. Não vão mais longe. Se andavam à procura do indivíduo que, a nível mundial, nunca viu um episódio da "Guerra dos Tronos", spoilers tampouco, podem mandar suspender as buscas - c'est moi.
Anões e o mundo do espectáculo - assunto menor? Não creio. Falo primeiro por mim, que, perguntado ainda na escola primária acerca das minhas perspectivas de futuro, respondi que quando fosse grande queria ser anão para ir para o circo. E antes de mim já havia o Peter Pan e depois de mim saiu da cartola aquela improvável linha média - Adelino Teixeira, Alves, Vítor Martins e Octávio - com que mestre José Maria Pedroto calou Wembley-o-Velho e empatou a arrogante Inglaterra, no nosso mítico ano de 1974. Parece que ainda os estou a ouver, em Dolby 4-4-2, subindo em passinhos curtos a estrada dos tijolos amarelos: The house began to pitch. The kitchen took a slitch. It landed on the Wicked Witch in the middle of a ditch, Which was not a healthy situation for the Wicked Witch.
Dos pequenos, sim, reza a História. Coloquemos pois os anões em cima da mesa, porque merecem. Se me pedissem uma shortlist dos anões mais famosos, sendo que a fama mede-se em televisão e cinema, eu escolheria:
Talvez a Thumbelina (Debbie Lee Carrington), de "Desafio Total". Talvez o Mini Me (Verne Troyer), de "Austin Powers: O Espião Irresistível". Talvez o múltiplo Oompas Loompas (Deep Roy)", em "A Fantástica Fábrica de Chocolate". Talvez o duende Marcus (Tony Cox), em "Um Pai Natal para Esquecer". Talvez o professor Filius Flitwick (Warwick Davis), na saga "Harry Potter". Talvez o Mickey Abbott (Danny Woodburn), na série "Seinfeld". Talvez o "Arnold" Gary Coleman. Talvez o R2-D2 (Kenny Baker), da "Guerra das Estrelas". Talvez o Wee-Man (Jason Acuña), do "Jackass" da MTV. Talvez o munchkin Karl Slover, do "Feiticeiro de Oz". Talvez James Cagney, Mickey Rooney, Edward G. Robinson ou o apalpador Dustin Hoffman. Evidentemente poderia juntar à lista o Danny DeVito e o Tom Cruise, mas estes, peço desculpa, dizem-me muito pouco. Talvez...
Ou talvez o fogoso Nelson Ned, que era de outras artes e me dava cabo da cabeça aos domingos à tarde, nos castigadores altifalantes dos Comandos, da Amadora a Santa Margarida. Ou talvez o anão do Multibanco. Ou talvez, porque não?, o Sr. José Nogueira, de Fafe, que, em meados do século passado, esteve quase a ir para Lisboa e ser famoso. Ou ainda talvez, puxando ao sentimento, as minhas duas queridas avós, a Bó de Basto e a Bó da Bomba, pequerrichas também, ou o senhor Flórido Engraxador ou o César da Recta ou o senhor Clemente que fazia pipas e escadas para as vindimas e decilitrava aguardente como um alambique. Talvez...
Mas que fique registado que o meu anão favorito é uma anã. Chama-se Cadence Roth, Cady para os amigos, e chegou a ser a mulher mais pequena do mundo, se tivesse realmente existido. Conheci-a num livro, "Talvez a Lua", de Armistead Maupin. Procurem o livro. Descubram a Cady.
P.S. - Edward G. Robinson, aliás Emmanuel Goldenberg, nascido Emanuel Goldenberg, morreu no dia 26 de Janeiro de 1973. Tinha 79 anos. Como actor, foi o primeiro grande gangster de Hollywood, notabilizando-se com sucesso em papéis de homens rudes, num registo de interpretação que depois seria seguido por James Cagney e Humphrey Bogart.
Anões e o mundo do espectáculo - assunto menor? Não creio. Falo primeiro por mim, que, perguntado ainda na escola primária acerca das minhas perspectivas de futuro, respondi que quando fosse grande queria ser anão para ir para o circo. E antes de mim já havia o Peter Pan e depois de mim saiu da cartola aquela improvável linha média - Adelino Teixeira, Alves, Vítor Martins e Octávio - com que mestre José Maria Pedroto calou Wembley-o-Velho e empatou a arrogante Inglaterra, no nosso mítico ano de 1974. Parece que ainda os estou a ouver, em Dolby 4-4-2, subindo em passinhos curtos a estrada dos tijolos amarelos: The house began to pitch. The kitchen took a slitch. It landed on the Wicked Witch in the middle of a ditch, Which was not a healthy situation for the Wicked Witch.
Dos pequenos, sim, reza a História. Coloquemos pois os anões em cima da mesa, porque merecem. Se me pedissem uma shortlist dos anões mais famosos, sendo que a fama mede-se em televisão e cinema, eu escolheria:
Talvez a Thumbelina (Debbie Lee Carrington), de "Desafio Total". Talvez o Mini Me (Verne Troyer), de "Austin Powers: O Espião Irresistível". Talvez o múltiplo Oompas Loompas (Deep Roy)", em "A Fantástica Fábrica de Chocolate". Talvez o duende Marcus (Tony Cox), em "Um Pai Natal para Esquecer". Talvez o professor Filius Flitwick (Warwick Davis), na saga "Harry Potter". Talvez o Mickey Abbott (Danny Woodburn), na série "Seinfeld". Talvez o "Arnold" Gary Coleman. Talvez o R2-D2 (Kenny Baker), da "Guerra das Estrelas". Talvez o Wee-Man (Jason Acuña), do "Jackass" da MTV. Talvez o munchkin Karl Slover, do "Feiticeiro de Oz". Talvez James Cagney, Mickey Rooney, Edward G. Robinson ou o apalpador Dustin Hoffman. Evidentemente poderia juntar à lista o Danny DeVito e o Tom Cruise, mas estes, peço desculpa, dizem-me muito pouco. Talvez...
Ou talvez o fogoso Nelson Ned, que era de outras artes e me dava cabo da cabeça aos domingos à tarde, nos castigadores altifalantes dos Comandos, da Amadora a Santa Margarida. Ou talvez o anão do Multibanco. Ou talvez, porque não?, o Sr. José Nogueira, de Fafe, que, em meados do século passado, esteve quase a ir para Lisboa e ser famoso. Ou ainda talvez, puxando ao sentimento, as minhas duas queridas avós, a Bó de Basto e a Bó da Bomba, pequerrichas também, ou o senhor Flórido Engraxador ou o César da Recta ou o senhor Clemente que fazia pipas e escadas para as vindimas e decilitrava aguardente como um alambique. Talvez...
Mas que fique registado que o meu anão favorito é uma anã. Chama-se Cadence Roth, Cady para os amigos, e chegou a ser a mulher mais pequena do mundo, se tivesse realmente existido. Conheci-a num livro, "Talvez a Lua", de Armistead Maupin. Procurem o livro. Descubram a Cady.
sábado, 25 de janeiro de 2025
Epístola de São Paulo aos Travassolenses
Paulo de Tarso, ou Saulo de Tarso, também conhecido como Apóstolo Paulo, São Paulo Apóstolo, Apóstolo dos Gentios ou simplesmente São Paulo, nem sempre foi o santo que hoje se pinta. Tem atrás de si um passado, como todos nós, mas um passado mais negro do que o da maioria de nós. Saulo era um fariseu radical, impiedoso, feroz, um zelota que se dedicava sem descanso à perseguição dos seguidores de Jesus. Era portanto do piorio, mau como as cobras, o diabo em pessoa, e só amansou e ganhou juízo quando Deus Ele mesmo lhe saiu ao caminho, dando-lhe um valente safanão e cegando-o temporariamente, a ver se ele aprendia. E ele aprendeu.
Assim miraculosamente convertido, Paulo resolveu pôr a correspondência em ordem e desatou a escrever missivas. Para além da algumas cartas com destinatário individual, sempre para homens, que fique devidamente registado, epistolou aos Romanos, aos Coríntios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, aos Tessalonicenses e eventualmente aos Hebreus. Catequizou também os Gentios, e quando eu graças a Deus descobri a Bíblia, em pequenino, julgava que os Gentios eram um povo assim como os Helvéticos ou os Teutónicos, naturais e residentes num país de que era proibido ou eventualmente pecado dizer o nome, por indecente e má figura.
Assim miraculosamente convertido, Paulo resolveu pôr a correspondência em ordem e desatou a escrever missivas. Para além da algumas cartas com destinatário individual, sempre para homens, que fique devidamente registado, epistolou aos Romanos, aos Coríntios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, aos Tessalonicenses e eventualmente aos Hebreus. Catequizou também os Gentios, e quando eu graças a Deus descobri a Bíblia, em pequenino, julgava que os Gentios eram um povo assim como os Helvéticos ou os Teutónicos, naturais e residentes num país de que era proibido ou eventualmente pecado dizer o nome, por indecente e má figura.
Aprendi muito no seminário. Tive bons mestres. Agora ao caso, tive até um famoso especialista em "St Paul'ssss Cathedraaaal", o cónego Azevedo, realmente um pândego, excêntrico e musical, bailarino de sobrepeliz e mestre de cerimónias da Sé de Braga, figura que a minha memória tola às vezes confunde injustamente com o cónego Rodrigo, ou Pipa, outro cromo mas menos dado, também antiquíssimo e, no que me diz respeito, ineficaz professor de Latim.
Os nomes na Bíblia sempre me fascinaram. Tanto que eu pensava (e ainda penso) que se São Paulo fosse hoje e se por acaso resolvesse escrever aos portugueses só se dirigiria, arrisco dizer, aos Albicastrenses, aos Egitanienses, aos Escalabitanos aos Brigantinos, aos Freixenistas ou Freixienses ou Freixonistas ou Freixonitas, gente assim de nome fidalgo ainda que indeciso e nunca abaixo disso. Aliás, creio que os fafenses, padecendo de tão simples onomástica, ficariam de fora. Os fafenses assim entendidos de um modo geral, mas já não diria o mesmo, deixa-me cá ver, em relação, por exemplo e em concreto, aos Serafonenses ou aos Travassolenses que também podem ser Travassoenses, que se apresentam com gentílicos realmente de categoria, com gabarito bastante para merecerem a atenção do apóstolo e bem capazes de integraram a sua lista de contactos favoritos. E eu parece que estou a ouvir nas capelas e igrejas por esse mundo fora, palavra de honra, "Leitura da Segunda Epístola de São Paulo aos Travassolenses. Meus irmãos..."
E Melquisedeque? Ai o que eu gostava do nome Melquisedeque! E Ponto e Bitínia e Capadócia e Antioquia, nomes assim de perlimpimpim, de números de circo de Natal. Antioquia que me fazia sonhar aventuras das mil e uma noites, lamentando embora que São Paulo, que aqui terá pregado o seu primeiro sermão, nunca tenha mandado uma epístola na volta do correio, uma sequer para amostra, aos simpáticos e desamparados Antioquenses.
Já quanto aos sodomitas, habitantes de Sodoma, continuo a achar que ficaram com a pior parte da fama. Os gomorritas, que eram outros que tais, safaram-se, vá-se lá saber porquê, e nem constam nos dicionários. A História às vezes é muito injusta e parece-me que a Bíblia devia ter aqui uma palavra a dizer.
E Melquisedeque? Ai o que eu gostava do nome Melquisedeque! E Ponto e Bitínia e Capadócia e Antioquia, nomes assim de perlimpimpim, de números de circo de Natal. Antioquia que me fazia sonhar aventuras das mil e uma noites, lamentando embora que São Paulo, que aqui terá pregado o seu primeiro sermão, nunca tenha mandado uma epístola na volta do correio, uma sequer para amostra, aos simpáticos e desamparados Antioquenses.
Já quanto aos sodomitas, habitantes de Sodoma, continuo a achar que ficaram com a pior parte da fama. Os gomorritas, que eram outros que tais, safaram-se, vá-se lá saber porquê, e nem constam nos dicionários. A História às vezes é muito injusta e parece-me que a Bíblia devia ter aqui uma palavra a dizer.
P.S. - Hoje é Dia da Conversão de São Paulo.
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sexta-feira, 24 de janeiro de 2025
Pardentro, pardentro! Já tocou!
Foto Hernâni Von Doellinger |
Alegria, alegria a sério era aquilo: chegar à escola e a "empregada" mandar-me embora. Ordenava, porque naquele tempo as "empregadas" é que mandavam nas escolas primárias, repito, ordenava: - Vai já para casa, diz à tua mãe que a senhora professora está doente. E ordenava com o braço estendido e no fim do braço estendido tinha uma mão estendida com um dedo estendido que não admitia discussão e queria dizer "rua!"...
(Também poderia querer dizer "Salazar! Salazar! Salazar!", mas sem dedo. Naquele tempo, insisto, as "empregadas" é que mandavam nas escolas. Mandavam nos alunos, mandavam nos pais e mandavam nos professores. Mas mandavam tanto na escola como na rua - o melhor era fugir-lhes. Lembro-me especialmente de uma "empregada", a Dorzinhas, se não estou em erro, que vim a conhecer na Escola da Feira Velha e que era a verdadeira delegada escolar de Fafe. A seguir ao presidente da Câmara, ao comandante da Legião Portuguesa, ao regedor de pistolete à cinta e eventualmente ao Miguel Cantoneiro, a Dorzinhas era a autoridade local. Parece que a estou a ver, estatura meã, seca de carnes, morena, cabelo curto, despachada de pernas e de boca, severa, especialista em orelhas e cachaços, com todo o ar de solteirona, e se calhar não, e às tantas nem se chamaria Dorzinhas e era uma excelente pessoa.)
Mas então, rua! O coração rebentava-me pela boca mal saía o portão, aos gritos e aos saltos - Não há escola!, não há escola!, não há escola!, Rua Montenegro fora, enervando desnecessariamente o pobre Baptista do Asilo, que desatava às cabeçadas contra o gradeamento carcerário, e eu festejando efusivamente a dor de barriga da professorinha, dando a boa nova aos colegas retardatários, que vinham ao contrário e faziam logo ali meia-volta-volver e também saltavam e gritavam - Não há escola!, não há escola!, não há escola!...
(Alegria ingénua, pura, intensa, física. Era evidentemente uma manifestação de profunda catarse, embora eu na ocasião não o soubesse, porque ainda não tínhamos chegado a essa palavra, catarse. "Não há escola!, não há escola!, não há escola!..." era de certeza a antítese do "Pardentro, pardentro! Já tocou!" que gritávamos, em dias menos afortunados, desgostosos mas sempre aos saltos, em anticlímax, mal a sineta anunciava o fim do recreio e a hora de voltar à sala, antítese, estou em crer, mas eu também não fazia ideia, também ainda não tínhamos chegado a essoutra palavra, nem tão-pouco a anticlímax, que me lembre, mas foi para aqui que me deu hoje...)
Aqui que a criançada não nos ouve, a verdade é esta: melhor do que ter escola (porque, agora a sério, escola é bom!), só mesmo não ter escola. Ao longo da minha vida aconteceram-me outros momentos extraordinários, episódios marcantes, memoráveis, como, por exemplo, o nascimento do meu primeiro pentelho ou a descoberta do tesão, mas, palavra de honra: nada se compara com aqueles dias gloriosos em que chegava à Escola Conde Ferreira e me mandavam para trás. Nada. E quem mos dera outra vez, esses dias de antigamente, embora Fafe já lá não esteja...
(Também poderia querer dizer "Salazar! Salazar! Salazar!", mas sem dedo. Naquele tempo, insisto, as "empregadas" é que mandavam nas escolas. Mandavam nos alunos, mandavam nos pais e mandavam nos professores. Mas mandavam tanto na escola como na rua - o melhor era fugir-lhes. Lembro-me especialmente de uma "empregada", a Dorzinhas, se não estou em erro, que vim a conhecer na Escola da Feira Velha e que era a verdadeira delegada escolar de Fafe. A seguir ao presidente da Câmara, ao comandante da Legião Portuguesa, ao regedor de pistolete à cinta e eventualmente ao Miguel Cantoneiro, a Dorzinhas era a autoridade local. Parece que a estou a ver, estatura meã, seca de carnes, morena, cabelo curto, despachada de pernas e de boca, severa, especialista em orelhas e cachaços, com todo o ar de solteirona, e se calhar não, e às tantas nem se chamaria Dorzinhas e era uma excelente pessoa.)
Mas então, rua! O coração rebentava-me pela boca mal saía o portão, aos gritos e aos saltos - Não há escola!, não há escola!, não há escola!, Rua Montenegro fora, enervando desnecessariamente o pobre Baptista do Asilo, que desatava às cabeçadas contra o gradeamento carcerário, e eu festejando efusivamente a dor de barriga da professorinha, dando a boa nova aos colegas retardatários, que vinham ao contrário e faziam logo ali meia-volta-volver e também saltavam e gritavam - Não há escola!, não há escola!, não há escola!...
(Alegria ingénua, pura, intensa, física. Era evidentemente uma manifestação de profunda catarse, embora eu na ocasião não o soubesse, porque ainda não tínhamos chegado a essa palavra, catarse. "Não há escola!, não há escola!, não há escola!..." era de certeza a antítese do "Pardentro, pardentro! Já tocou!" que gritávamos, em dias menos afortunados, desgostosos mas sempre aos saltos, em anticlímax, mal a sineta anunciava o fim do recreio e a hora de voltar à sala, antítese, estou em crer, mas eu também não fazia ideia, também ainda não tínhamos chegado a essoutra palavra, nem tão-pouco a anticlímax, que me lembre, mas foi para aqui que me deu hoje...)
Não há escola! Para trás, que se faz tarde! Virávamos costas ao casarão da sopa, passávamos a Casa de Santa Zita, que caducou, a Cafelândia, que é um banco, a Rosindinha Catequista, que desapareceu, o Largo, que estreitou, a Loja Nova, que morreu de velha, o Peludo, que acabou, o Cinema, que é outra coisa, a Aurorinha Maia, que era um vulcão e mudou de ares, a Padaria, que se foi, a Quiterinha, que é só memória, as Grilas, que Deus tem, o Funileiro, que já não há, quer-se dizer, alarmávamos a vila inteira - Não há escola!, não há escola!, não há escola!, eu chegava a casa, no Santo Velho, esbaforido e feliz, e a minha mãe, por tradição, enfiava-me logo à entrada duas ou três galhetas derivado àquele "espectáculo todo" e "para aprender". A nossa mãe era, como agora se diz, uma mãe muito táctil.
Aqui que a criançada não nos ouve, a verdade é esta: melhor do que ter escola (porque, agora a sério, escola é bom!), só mesmo não ter escola. Ao longo da minha vida aconteceram-me outros momentos extraordinários, episódios marcantes, memoráveis, como, por exemplo, o nascimento do meu primeiro pentelho ou a descoberta do tesão, mas, palavra de honra: nada se compara com aqueles dias gloriosos em que chegava à Escola Conde Ferreira e me mandavam para trás. Nada. E quem mos dera outra vez, esses dias de antigamente, embora Fafe já lá não esteja...
P.S. - Hoje é Dia Internacional da Educação.
quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
Povo que lavas no rio (ou talvez na poça do Santo)
Vamos supor que era a Grand Central Terminal de Nova Iorque e estávamos no quentinho do cinema. Mas na verdade estávamos em Vila do Conde à chuva e era um tanque público no quarteirão da Santa Casa da Misericórdia. Eu passando. Um carrinho de bebé sem condutor sai lentamente do lavadouro, primeiro em câmara lenta como nos filmes e depois, rapidamente embalado pela força da realidade, adeus passeio, vou para a estrada da morte que se faz tarde. Ia. Ia...
(Consegui captar a sua atenção? Pronto, vamos então falar de tanques. Dos tanques públicos e lavadouros oficiosos de Fafe, pelo menos daqueles que eu conheci e de que ainda me lembro. Havia os muito concorridos tanques da Rua de Baixo, servindo também a Granja, ali nas imediações da Esquiça e da Sacor. Para roupas de maior porte, havia os tanques do Matadouro, nos limites da Rua do Maia com a Ponte do Ranha, aproveitando a água e mesmo ao lado do "rio" onde eram lavadas as vísceras e espancadas as tripas e a sola dos animais abatidos, e era um cheiro a sangue e merda que só visto. Um pouco acima, nem meio quilómetro, creio que na mesma ribeira, havia a poça-tanque da Ponte de Pardelhas. No outro extremo da vila antiga, havia os tanquinhos do Bairro da Fábrica de Ferro, que na verdade tinha tudo. Havia o tanque de Santo Ovídio, de que eu soube apenas de passagem. Tornando ao centro, havia a poça do Santo, do Santo Velho, logo a seguir ao casarão brasonado e à capela e antes dos campos de milho onde hoje medram as traseiras da Escola Secundária. E não quero acreditar que zonas tão povoadas como o Retiro, a Cumieira ou a Recta não dispusessem também dos seus tanques ou lavadouros, mas não os sei. Não me lembro deles, pelo menos neste momento, e isto não é uma investigação, levantamento ou trabalho etnoarqueológico, antes pelo contrário.
P.S. - O cineasta Sergei Eisenstein nasceu em Riga, Letónia, no dia 23 de Janeiro de 1898.
(Consegui captar a sua atenção? Pronto, vamos então falar de tanques. Dos tanques públicos e lavadouros oficiosos de Fafe, pelo menos daqueles que eu conheci e de que ainda me lembro. Havia os muito concorridos tanques da Rua de Baixo, servindo também a Granja, ali nas imediações da Esquiça e da Sacor. Para roupas de maior porte, havia os tanques do Matadouro, nos limites da Rua do Maia com a Ponte do Ranha, aproveitando a água e mesmo ao lado do "rio" onde eram lavadas as vísceras e espancadas as tripas e a sola dos animais abatidos, e era um cheiro a sangue e merda que só visto. Um pouco acima, nem meio quilómetro, creio que na mesma ribeira, havia a poça-tanque da Ponte de Pardelhas. No outro extremo da vila antiga, havia os tanquinhos do Bairro da Fábrica de Ferro, que na verdade tinha tudo. Havia o tanque de Santo Ovídio, de que eu soube apenas de passagem. Tornando ao centro, havia a poça do Santo, do Santo Velho, logo a seguir ao casarão brasonado e à capela e antes dos campos de milho onde hoje medram as traseiras da Escola Secundária. E não quero acreditar que zonas tão povoadas como o Retiro, a Cumieira ou a Recta não dispusessem também dos seus tanques ou lavadouros, mas não os sei. Não me lembro deles, pelo menos neste momento, e isto não é uma investigação, levantamento ou trabalho etnoarqueológico, antes pelo contrário.
A minha mãe frequentava diariamente a poça do Santo, ali à mão de semear, e deslocava-se amiúde ao Matadouro, "ao rio", carregada da cabeça aos pés, para as grandes barrelas sazonais. Éramos pelo menos cinco em casa, mãe e quatro filhos, às vezes também a Mila, às vezes também os meus avós, tios e primos e outros parentes de Basto, só a roupa de nós todos já era uma sacada, um fardo. Ainda por cima, a minha mãe tinha a mania de oferecer-se para lavar "umas pecinhas" de alguma vizinha mais velhinha, adoentada ou recém-regressada da maternidade. E houve mesmo uma altura em que, por necessidade, a minha mãe lavou oficialmente para fora, para uma ou duas famílias "ricas", mas nem por isso largou de mão a vizinhança mais aflita.
Era duro. Eu ia com a minha mãe e bem via. Era mesmo muito duro! Tão duro que eu, preguiçoso por idade e por feitio, fazia tudo para "ajudar". Mas não me deixavam. Nem a minha mãe nem as outras lavadeiras, sobretudo estas. Diziam-me, entre cantigas e caralhadas, que os meninos do sexo masculino não podiam lavar roupa. Se os meninos do sexo masculino lavassem roupa - dizia o mulherio -, quando fossem homens não lhes crescia a barba, ó terrível maldição!...
A mim, confesso, nem me aquecia nem me arrefecia, aquilo da barba. Eu já estava por tudo. Tinha 11 anos, faltavam-me duas ou três semanas entrar no seminário, e logo que lá chegasse - também me diziam - iriam capar-me sem dó nem piedade! Então olha, perdido por um, perdido por mil...
E pronto. Está a tocar o sinal para o fim do intervalo.)
A mim, confesso, nem me aquecia nem me arrefecia, aquilo da barba. Eu já estava por tudo. Tinha 11 anos, faltavam-me duas ou três semanas entrar no seminário, e logo que lá chegasse - também me diziam - iriam capar-me sem dó nem piedade! Então olha, perdido por um, perdido por mil...
E pronto. Está a tocar o sinal para o fim do intervalo.)
Então onde é que eu ia? Quer saber o resto? Já sei: ia no ia. Vila do Conde, carrinho de bebé e tudo. Isso mesmo. Ia...
Naquele momento exacto sinto o primeiro e único impulso de heroísmo de toda a minha vida, voo para o carrinho a pensar na CMTV, na TVI, na CNN, no YouTube, em Marcelo Rebelo de Sousa, na medalha do 10 de Junho, na reforma vitalícia (pensa-se em muita merda numa fracção de segundos), rezo a Nosso Senhor e a Nossa Senhora e a Santiago de Compostela, meu padrinho e protector, falta-me o ar de repente, é o coração que me entope cobardemente a garganta, as pernas tremem-me como varas verdes mas desta vez não falham, voo para o carrinho e agarro-o já no milagroso resvés com um Toyota Yaris que passa nas horas e me enche de nomes, mas é o menos. Graças a Deus. Respiro. A mãe grita, de mãos espetadas na cabeça desgrenhada, Ai o carrinho!, e o pai berra Olha o carrinho!, e dá mais uma puxa no paivante.
O carrinho?, interpelo eu e repito, mais fodido do que outra coisa, O carrinho? E a criança, caralho?, A criança?, as palavras saem-me aos soluços e eu preciso de uma cadeira para morrer ali sentado. Mas qual criança?, dizem-me os dois, com caras combinadas de quem me manda à merda com a senha número um e portanto sem direito a cadeira, Qual criança?, e riem-se afinadíssimos da minha agonia. Tinham praticamente razão: olhei para o carrinho que mantinha nas minhas mãos cerradas e aflitas, o bebé eram quatro passadeiras lavadas, enroladas e ainda pingantes - as quatro filhas da puta pelas quais eu só não faleci prematuramente porque sou um gajo cheio de sorte.
Nota final. A famosa cena do carrinho de bebé descendo a escadaria, com a criança dentro, no meio do tiroteio, em "Os Intocáveis", de 1987, já tinha sido vista em "O Couraçado Potemkine", de 1925, obra maior de Sergei Eisenstein.
O carrinho?, interpelo eu e repito, mais fodido do que outra coisa, O carrinho? E a criança, caralho?, A criança?, as palavras saem-me aos soluços e eu preciso de uma cadeira para morrer ali sentado. Mas qual criança?, dizem-me os dois, com caras combinadas de quem me manda à merda com a senha número um e portanto sem direito a cadeira, Qual criança?, e riem-se afinadíssimos da minha agonia. Tinham praticamente razão: olhei para o carrinho que mantinha nas minhas mãos cerradas e aflitas, o bebé eram quatro passadeiras lavadas, enroladas e ainda pingantes - as quatro filhas da puta pelas quais eu só não faleci prematuramente porque sou um gajo cheio de sorte.
Nota final. A famosa cena do carrinho de bebé descendo a escadaria, com a criança dentro, no meio do tiroteio, em "Os Intocáveis", de 1987, já tinha sido vista em "O Couraçado Potemkine", de 1925, obra maior de Sergei Eisenstein.
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quarta-feira, 22 de janeiro de 2025
Cadê a rua João Ubaldo Ribeiro?
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Foto Mônica Imbuzeiro / Agência O Globo |
João Ubaldo Ribeiro nasceu na Baía, mas optou-se carioca. Autor de "Sargento Getúlio", "Viva o Povo Brasileiro", "O Sorriso do Lagarto" e "A Casa dos Budas Ditosos", entre outros tantos títulos igualmente notáveis, venceu o Prémio Camões 2008. O seu avô paterno era natural de Fafe, e Ubaldo considerava-se dos nossos. É, para todos os efeitos, um fafense excelentíssimo. "[Fafe] é efectivamente minha terra, pois terra dos meus ancestrais paternos, [uma terra] da qual, de certa forma, nunca saí", afirmou um dia o famoso escritor brasileiro. E eu, à pala, enchi-me de orgulho, esbordei de vaidade.
A esse respeito. Em 2008, no foguetório pós-Prémio Camões, a Câmara de Fafe, então presidida por José Ribeiro, prometeu "futuramente" uma rua ao nome de João Ubaldo Ribeiro e ao próprio, que teve a amabilidade de agradecer antecipadamente o rapapé a haver. Sinceramente, não sei se a autarquia fafense já cumpriu a promessa, passados estes anos todos. Isto é, eu procurei a rua e não a encontrei. Procurei rua, avenida, praça, praceta, alameda, travessa, viela, bairro, urbanização, rotunda, campo, jardim e até sala e auditório, mas nada! Melhor dizendo, encontrei realmente a Rua João Ubaldo Ribeiro, mas em Aracaju, no Brasil, que não me dá jeito nenhum. Estarei a procurar mal? Alguém me pode ajudar? A rua estará mesmo à minha frente e eu não a vejo?
João Ubaldo Ribeiro nasceu no dia 23 de Janeiro de 1941. Faria amanhã anos. Morreu no dia 18 de Julho de 2014. E, entretanto, o "futuramente" ainda não chegou...
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terça-feira, 21 de janeiro de 2025
Igreja nova, pecados velhos
Foto Hernâni Von Doellinger |
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Religião.
segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
Quanto mais alto, melhor
Ouço a poderosa Abertura 1812, de Tchaikovsky, e é como se fosse o Minho, o meu Minho. Isto é: quanto mais alto, melhor.
P.S. - Viana do Castelo passou a cidade no dia 20 de Janeiro de 1848.
domingo, 19 de janeiro de 2025
Armado em Bond
Ele tinha realmente a mania. Fosse aonde fosse, entrasse aonde entrasse, chegava ao balcão e pedia um "martini seco, agitado, não mexido". Nem que estivesse na repartição de Finanças. E acrescentava, cheio de classe e charme: - O meu nome é Quim, Joa Quim.
P.S. - O escritor americano Edgar Allan Poe, presumível criador do modelo moderno de romance policial, nasceu no dia 19 de Janeiro de 1809. No mesmo dia, mas no ano de 1921, nasceu a também americana Patricia Highsmith, outra da corda.
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E apeteceu-me dar-lhe um abraço
O homem caminhava vagarosamente ao lado da mulher. Curvado pelo peso de, fiz as contas, setenta e tantos anos bem medidos, caminhava ainda assim com uma dignidade evidente. O homem velho, de casaco antigo, asseado, pé ante pé até ao café de praia e ao milagre do sol-pôr, levava as mãos atrás das costas. E nas mãos, reparei, um livrinho da Colecção Vampiro, a antiga: "O Imenso Adeus", de Raymond Chandler.
Caramba!, és cá dos meus - pensei assim de repente. E apeteceu-me dar-lhe um abraço.
Caramba!, és cá dos meus - pensei assim de repente. E apeteceu-me dar-lhe um abraço.
P.S. - O escritor americano Edgar Allan Poe, presumível criador do modelo moderno de romance policial, nasceu no dia 19 de Janeiro de 1809. No mesmo dia, mas no ano de 1921, nasceu a também americana Patricia Highsmith, outra da corda.
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sábado, 18 de janeiro de 2025
Vai-te rir pra quem te monta!
Lembram-se? Sérgio Conceição, então treinador da principal equipa de futebol do FC Porto, foi castigado com 30 dias de suspensão e mais de dez mil euros de multa por causa do seu "sorriso jocoso". O Senhor Conceição, é preciso que se note, é, a este respeito, um perigoso cadastrado. Tempos antes fora expulso de um jogo derivado ao seu "olhar fulminante". Está tudo nos relatórios, e o Conselho de Disciplina da FPF não podia fechar os olhos. Ademais, 30 dias e dez mil euros é o que manda a lei, está na tabela, que contempla a existência de 19 tipos de sorriso, mas apenas seis considerados como sinal de felicidade e somente um avaliado como genuíno ou verdadeiro - o famoso sorriso de Duchenne, utilizado sobretudo no campeonato francês.
A nível de moldura penal, o uso do sorriso jocoso no futebol, com ou sem licença de porte, é, com efeito, o mais penalizado pelo nosso conspícuo Conselho de Disciplina, seguindo-se, em moderado decrescendo de punição, o sorriso de desprezo, o sorriso malicioso, o sorriso falso, o sorriso forçado, o sorriso mais ou menos, o sorriso triste, o sorriso de medo e assim sucessivamente, para terminar no sorriso coquete, que certos árbitros também não apreciam, vá-se lá saber porquê. A legislação é omissa quanto ao sorriso Pepsodent e ao sorriso da Mona Lisa. Mas dois sorrisos amarelos dão vermelho.
Agora. Vamos supor o Estantio. Sim, o nosso Zé Carlos Estantio. Em Fafe, perguntem por ele aos mais velhos e descobrirão uma figura estimável e singular. Mas tinha uma cara. Admitamos que a cara do Estantio - e não era por acaso que o Estantio se chamava Estantio -, admitamos que a cara do Estantio, dizia eu, com todo o respeito, era considerada uma cara de riso. Ou de sorriso, vá lá. Estava fodido o Estantio, se fosse vivo e jogasse futebol em Portugal hoje em dia. Porque a cara do Estantio era sempre a mesma, e era daí que lhe vinha o nome. Não ganhava para multas e as suspensões seriam umas atrás das outras. Realmente, se o bom do Estantio, cansado de tanto alombar, resolvesse mudar de vida e enveredasse pela carreira de futebolista ou até de míster, às tantas teria também de emigrar para um país de amplas liberdades tipo Arábia Saudita, como fez o outro, porque o futebol na "Europa perdeu muita qualidade" e em Portugal o riso - ou o sorriso, vá lá - é violentamente reprimido.
No fafês antigo havia, se não estou em erro, expressões idiomáticas, ou idiotismos, como também se diz, que sabiamente pressagiavam os sisudos tempos que hoje infelizmente vivemos. Lembro-me daquela, muito batida - E se te fosses rir prò caralho? Ou da outra, não menos usada e igualmente assertiva - Vai-te rir pra quem te monta!
Era. Os antigos sabiam muito! E havia educação.
P.S. - Publicado há exactamente uma ano. Hoje é Dia Internacional do Riso. Por isso...
A nível de moldura penal, o uso do sorriso jocoso no futebol, com ou sem licença de porte, é, com efeito, o mais penalizado pelo nosso conspícuo Conselho de Disciplina, seguindo-se, em moderado decrescendo de punição, o sorriso de desprezo, o sorriso malicioso, o sorriso falso, o sorriso forçado, o sorriso mais ou menos, o sorriso triste, o sorriso de medo e assim sucessivamente, para terminar no sorriso coquete, que certos árbitros também não apreciam, vá-se lá saber porquê. A legislação é omissa quanto ao sorriso Pepsodent e ao sorriso da Mona Lisa. Mas dois sorrisos amarelos dão vermelho.
Agora. Vamos supor o Estantio. Sim, o nosso Zé Carlos Estantio. Em Fafe, perguntem por ele aos mais velhos e descobrirão uma figura estimável e singular. Mas tinha uma cara. Admitamos que a cara do Estantio - e não era por acaso que o Estantio se chamava Estantio -, admitamos que a cara do Estantio, dizia eu, com todo o respeito, era considerada uma cara de riso. Ou de sorriso, vá lá. Estava fodido o Estantio, se fosse vivo e jogasse futebol em Portugal hoje em dia. Porque a cara do Estantio era sempre a mesma, e era daí que lhe vinha o nome. Não ganhava para multas e as suspensões seriam umas atrás das outras. Realmente, se o bom do Estantio, cansado de tanto alombar, resolvesse mudar de vida e enveredasse pela carreira de futebolista ou até de míster, às tantas teria também de emigrar para um país de amplas liberdades tipo Arábia Saudita, como fez o outro, porque o futebol na "Europa perdeu muita qualidade" e em Portugal o riso - ou o sorriso, vá lá - é violentamente reprimido.
No fafês antigo havia, se não estou em erro, expressões idiomáticas, ou idiotismos, como também se diz, que sabiamente pressagiavam os sisudos tempos que hoje infelizmente vivemos. Lembro-me daquela, muito batida - E se te fosses rir prò caralho? Ou da outra, não menos usada e igualmente assertiva - Vai-te rir pra quem te monta!
Era. Os antigos sabiam muito! E havia educação.
P.S. - Publicado há exactamente uma ano. Hoje é Dia Internacional do Riso. Por isso...
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quinta-feira, 16 de janeiro de 2025
Deus nos livre dos afrontamentos
Um dominguinho como de costume e Deus manda. Missinha das onze, homiliazinha com palavrinhas a abater e um que outro puxãozinho de orelhas para temperar, uns acenozinhos ao rebanho, umas lambidelas recebidas na mão santa, a do cachucho, e depois... o almocinho. O almocinho de dominguinho: três pratos, tal qual a Santíssima Trindade e o outro assunto que não vem ao caso. Duas horas à mesa e sempre a dar-lhe, como se fosse castigo, penitência. "Ui! Comi que nem um abade" - desabafou, num arroto final. "Nada de modéstias, Vossa Excelência Reverendíssima Senhor Dom, afinal de contas sois Bispo, sois Bispo" - acudiu o solícito secretário, jovem presbítero, com as maiúsculas bajuladoras numa mão e o bicarbonato de sódio na outra.
P.S. - Hoje é Dia Internacional da Comida Picante.
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quarta-feira, 15 de janeiro de 2025
Diz que binho, mas num biero
Que bonito que era o falar em Fafe! A criança, sentadinha à mesa, ou à roda da merenda, já julgava que era home e pedia: - Binho! O adulto, responsável, geralmente a mãe, respondia-lhe por desfastio, sem fazer caso: - Diz que binho, mas num biero. Isto é, "constou/disseram/dizem/diz-se que vinham, mas não vieram", e assunto resolvido. Mas dito assim, gramatical, higiénico, a seco, tão aos dias de hoje, lá se foi a graça toda. É preciso molhar a palavra...
P.S. - Copiado do meu novo blogue, Mistérios de Fafe.
terça-feira, 14 de janeiro de 2025
Cada um tinha a sua cruz
Levava um banquinho de madeira e sentava-se em Cima da Arcada, de guarda-sol aberto, em dias assim-assim, e um caderninho de folhas quadriculadas, todos os dias. Se por acaso invernasse, o guarda-sol chamava-se guarda-chuva. Mas ele. Ele espertava os olhos cansados, via sair, e tomava nota. Saíam do Mário da Louça, do Damião Monteiro, do Império, do Fernando da Sede, do Foto Jóia, do Talho Novo, do Romeu, da Caixa, do Martins da Avenida, do Rabeca, da Câmara, do Café Avenida, da Peninsular, do Moniz Rebelo, das camionetas do João Carlos Soares, da Juditinha, do Sanica, do Casinhas, da Senhora Eufémia, do Américo das Bicicletas, do Alfredo Sapateiro, das Lobas, do Club, da Pacata, da Loja Nova, da Casa da Cera, dos Armazéns Cunha, do Banco, do Martins Relojoeiro, da Electra, do Manel do Campo, até saíam do Escondidinho. Saíam, e ele registava a lápis lambido, mão trémula porém infalível. Analfabeto de nascença, utilizava a técnica do Miguel Cantoneiro, ecumenicamente adaptada: uma cruzinha para os pobres e desiludidos como ele, uma cruz para os menos mal da vida e um cruzeiro para a dúzia e meia de cagões locais. À noite, em casa, depois da sopa e antes do terço, fazia a soma das cruzes, por escalões, comparava com os dias anteriores, as contas todas certinhas, noves fora nada, anotava as variáveis e arquivava tudo no saco de serapilheira debaixo da cama. Aos domingos de manhã, em vez de ir à missa, fazia uma pequena fogueira e queimava a papelada enquanto assobiava vigorosamente o hino de Fafe, "Fafe querido", mas de trás para a frente. Chamavam-lhe o Toma-Conta, o Vigilante. Talvez vigilante da natureza. Da natureza humana. Chamavam-lhe também outros nomes. Diziam que ele tinha um parafuso a menos, que era doudo, para o que lhe havia de dar, ser contador de pessoas. Ele dizia, porém, que era contador de anedotas...
P.S. - O primeiro Código Comercial Português entrou em vigor no dia 14 de Janeiro de 1834.
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domingo, 12 de janeiro de 2025
De tudo, como... no Teatro-Cinema
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Foto Município de Fafe |
Música, canto, dança, cinema, teatro, humor, conferências, exposições e o que mais se verá. O programa cultural do Teatro-Cinema de Fafe para 2025 foi anunciado, e promete. Toda a informação, com eventos, artistas e datas, aqui.
sábado, 11 de janeiro de 2025
sexta-feira, 10 de janeiro de 2025
Só à bolachada
A bolacha maria, torrada ou não, apareceu tarde na minha vida. Bolacha era luxo que não entrava lá em casa, e o mais parecido que a nossa mãe nos dava em pequenos era broa ou biju, e o biju já era um mimo. O caso só mudou de figura quando nasceu o nosso Lando. O Lando é o mais novo de quatro irmãos, decerto por isso teve direito a mordomias que os três anteriores nem sequer suspeitávamos, e as bolachas vieram com ele.
Entre outras alcavalas, o Landinho até fazia anos, coisa extraordinária, enquanto a nós só nos era permitido ficarmos mais velhos, somarmos dias, que remédio e a seco. Ao menino, a nossa mãe organizava-lhe uma festinha de aniversário, havia convidadozinhos, e do pequeno lanche constavam, só me lembro disso, umas curiosas sandes de bolacha maria com marmelada dentro, tipo oreos mas melhores e de fabrico caseiro. Eu, já espigadote, metia a mão sorrateira e rápida à passagem pela mesa, e foi assim que ficámos a conhecer-nos pessoalmente, eu e elas. As bolachas. Que estavam contadas, para mal dos meus pecados...
Mas não era de bolachas que eu queria aqui falar. É de bolachos. E o bolacho, faço deste já notar, é pitéu absolutamente indispensável, muito mais do que mero ornamento, nuns rojões à moda do Minho que se pretendam com todos os matadores. O bolacho é, versão curta e grossa, uma espécie de pão cilíndrico feito com farinhas de trigo, milho e centeio, a que se junta sangue de porco, fermento, caldo de carne, pimenta e cominhos. Depois de levedada, a massa é cozida em água temperada com sal, salsa, folha de laranjeira e louro. Cumprida a cozedura, o bolacho é cortado em rodelas e frito em pingue. O bolacho pode também chamar-se farinhato, pilouco, bica e, principalmente, beloura.
Mas também não era deste bolacho que eu queria aqui falar. É do bolacho de trigo. Do pão de cantos. Do pão de quatro cantos. Do trigo de ovelhinha. Do pão de padronelo. Desse. Esse fantástico pão, duro como cornos, que era vendido porta a porta em Fafe por umas senhoras que, dizia-se, vinham de Amarante. As abençoadas senhoras traziam enormes cestas à cabeça e dentro das cestas, carinhosamente envolto em toalhas de linho, o precioso pão. No dia da feira, às quartas, por Cima da Arcada, diversos tipos de pão regional, incluindo o infalível bolacho, eram vendidos também por um senhor que vestia um avental de peito, comprido até aos pés, impecável de branco e de limpeza. O bolacho, um pão de longa duração que a minha querida avó de Basto guardava com todos os cuidados e também toalhas de linho na caixa de madeira que era o cofre e o frigorífico das coisas valiosas e boas numa terra por onde Jesus Cristo ainda não tinha passado e portanto não havia electricidade. Assim acondicionado, o pão aguentava-se bem uma semana ou mais e só era comido com o matinal café, que era cevada, aos domingos, feriados e dias santos. De resto, broa, que era o pãozinho do Senhor.
Entre outras alcavalas, o Landinho até fazia anos, coisa extraordinária, enquanto a nós só nos era permitido ficarmos mais velhos, somarmos dias, que remédio e a seco. Ao menino, a nossa mãe organizava-lhe uma festinha de aniversário, havia convidadozinhos, e do pequeno lanche constavam, só me lembro disso, umas curiosas sandes de bolacha maria com marmelada dentro, tipo oreos mas melhores e de fabrico caseiro. Eu, já espigadote, metia a mão sorrateira e rápida à passagem pela mesa, e foi assim que ficámos a conhecer-nos pessoalmente, eu e elas. As bolachas. Que estavam contadas, para mal dos meus pecados...
Mas não era de bolachas que eu queria aqui falar. É de bolachos. E o bolacho, faço deste já notar, é pitéu absolutamente indispensável, muito mais do que mero ornamento, nuns rojões à moda do Minho que se pretendam com todos os matadores. O bolacho é, versão curta e grossa, uma espécie de pão cilíndrico feito com farinhas de trigo, milho e centeio, a que se junta sangue de porco, fermento, caldo de carne, pimenta e cominhos. Depois de levedada, a massa é cozida em água temperada com sal, salsa, folha de laranjeira e louro. Cumprida a cozedura, o bolacho é cortado em rodelas e frito em pingue. O bolacho pode também chamar-se farinhato, pilouco, bica e, principalmente, beloura.
Mas também não era deste bolacho que eu queria aqui falar. É do bolacho de trigo. Do pão de cantos. Do pão de quatro cantos. Do trigo de ovelhinha. Do pão de padronelo. Desse. Esse fantástico pão, duro como cornos, que era vendido porta a porta em Fafe por umas senhoras que, dizia-se, vinham de Amarante. As abençoadas senhoras traziam enormes cestas à cabeça e dentro das cestas, carinhosamente envolto em toalhas de linho, o precioso pão. No dia da feira, às quartas, por Cima da Arcada, diversos tipos de pão regional, incluindo o infalível bolacho, eram vendidos também por um senhor que vestia um avental de peito, comprido até aos pés, impecável de branco e de limpeza. O bolacho, um pão de longa duração que a minha querida avó de Basto guardava com todos os cuidados e também toalhas de linho na caixa de madeira que era o cofre e o frigorífico das coisas valiosas e boas numa terra por onde Jesus Cristo ainda não tinha passado e portanto não havia electricidade. Assim acondicionado, o pão aguentava-se bem uma semana ou mais e só era comido com o matinal café, que era cevada, aos domingos, feriados e dias santos. De resto, broa, que era o pãozinho do Senhor.
Leio agora que o bolacho é de ovelhinha porque teve a sua origem no lugar com aquele nome, Ovelhinha, na freguesia de Gondar, Amarante. E de padronelo porque decerto será sobretudo nesta outra freguesia amarantina, Padronelo, que hoje em dia ele é produzido e comercializado. Quanto a bolacho, é-o não sei porquê.
P.S. - Hoje é Dia de São Gonçalo de Amarante, que se festeja também no primeiro fim-de-semana de Junho.
P.S. - Hoje é Dia de São Gonçalo de Amarante, que se festeja também no primeiro fim-de-semana de Junho.
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quinta-feira, 9 de janeiro de 2025
O Amigo Bastos
Foto Tarrenego! |
Descíamos no nosso vagar a Rua Direita rumo ao Porto das Pipas, na velha Angra do Heroísmo. Era aquela caloraça das ilhas, aquele esplêndido exagero de luz, o ar quase sólido que sufoca a respiração dos menos habituados, o bom odor de salsugem, que peço emprestado ao mestre. Eu de barrete branco enfiado na cabeça e lenço tabaqueiro atado ao pescoço, as barbas suando em bica, ele no seu fato impecável, o laço "de fazer" milimetricamente composto, dizia-me "Oiça lá, você parece o Hemingway!...", e soltava uma enorme gargalhada, exabundante, para ser ouvida pelos passantes e sobretudo pelas passantes, porque, estivesse onde estivesse, sempre fez questão de que se soubesse, sobretudo elas, que por ali andava o famoso Baptista-Bastos.
Andávamos ambos, mas evidentemente eu era invisível. Tínhamo-nos conhecido alguns anos antes, numa viagem à Irlanda. Eu iniciante no ofício e ele O Grande BB, nesse tempo ainda intrépido "praticante do desporto líquido", como gostava de dizer, e contador ininterrupto de extraordinárias histórias que outros jornalistas da capital desmereciam por inveja. Diziam-lhe nas costas que ele inventava reportagens e entrevistas. Não sei se inventava ou não inventava - isto é, caguei! Eu queria era ouvir o Senhor Baptista-Bastos. Aprender. Ouvia-o embatocado, reverente, assombrado, deliciado. Ouvia-o enquanto ele me apresentava abundantemente à Guinness e ao Jameson, e os invejosos também à roda, flatulando améns, onzeneiros e hipócritas. Ia eu apenas no segundo pint, ao balcão do Kitty O'Sheas's Bar, em Dublin, e já lhe pedia repetições: "E daquela vez?..."
Baptista-Bastos gostava, inchava. Dizia, como se estivesse a dar-me corda, "O puto vai longe". Enganou-se redondamente. O mais longe que fui foi aos Açores, e ali estávamos os dois, dizia, eu e o mestre, descendo no nosso vagar a Rua Direita rumo ao Porto das Pipas, na velha Angra do Heroísmo, ilha Terceira, invadida por poderosas pick-ups de matrícula americana e nas narinas o aroma intenso, miscigenado, a especiarias e a mundos libertados pelas portas provocantemente escancaradas do loja antiga e encantatória.
Eu num sino, se fosse visível, o coração aos saltos e a cabeça num turbilhão. "O Baptista não faz ideia da vaidade que tenho por ir aqui à sua beira", confessei-lhe de repente, atrapalhando palavras. "Baptista, não", corrigiu-me, "sou Armando para a família e amigos do peito ou Baptista-Bastos para o geral, mas você, que já é da minha equipa, chame-me Amigo Bastos, que é como eu prefiro". Percebi o generoso raspanete como se, para o BB, Amigo fosse nome próprio e Bastos o apelido. (Quer-se dizer: afinal, AB.) E creio que percebi bem.
- Mas oiça lá: "à sua beira", foi o que disse? Que expressão tão bonita! "À sua beira"...
- É assim que se fala na minha terra. Sou de Fafe...
- Fafe? Justiça de Fafe, não é? Grande terra, terra de gente vertical!
Por aqueles dias mantivemos longas conversas em que eu só ouvia. Baptista-Bastos contou-me de Soares, de Cunhal, de Salazar, de Caetano, do PCP, do PS, do pai, de tipografia, de Lisboa, do Bairro Alto, de jornais, de jornalistas e simpatizantes, de tertúlias, da boémia, da noite, de sábios, de analfabetos diplomados, de livros, de Aquilino, de Branquinho da Fonseca, de Carlos de Oliveira, de Manuel Mendes, de Eugénio de Andrade, do amigo Manuel da Fonseca. Da beleza da sua mulher, do orgulho nos filhos. E de freiras pentelhudas, e de mulheres, e de mulheres, e de mulheres...
Insistia nas suas basezinhas, que já então eram um clássico: que os jornalistas se tratam mutuamente por tu e são camaradas, porque colegas são as putas, e tratava-me por você. E não me lembro se me perguntou se eu sabia onde estava no 25 de Abril, e eu por acaso sabia.
Já no aeroporto de Lisboa, no regresso a casa, Baptista-Bastos fez questão de apresentar-me à mulher, que era realmente uma senhora muito bela, e a um dos filhos. Quando nos despedimos ofereceu-me o seu excelentíssimo livro de reportagens "As Palavras dos Outros", com um recadinho escrito ali na hora na terceira página, e, como se estivesse a chamar passageiros para o voo do Porto, repetiu tonitruante o essencial de tudo o que copiosamente me ensinara na ilha: - Doellinger, não se esqueça, ler e escrever todos os dias! Todos os dias!...
E eu não esqueço, Amigo Bastos.
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