Foto Tarrenego! |
sexta-feira, 1 de agosto de 2025
Diplomacia paralela
O calor dilata os copos
quarta-feira, 30 de julho de 2025
Os emigrantes, na Estação Memória
O livro "Monumentos ao Emigrante - Uma Homenagem à História da Emigração Portuguesa", do historiador Daniel Bastos e do fotógrafo Luís Carvalhido, vai ser apresentado em Fafe no próximo dia 5 de Agosto (terça-feira), pelas 18 horas, na Estação Memória. A obra, bilingue, com tradução de Paulo Teixeira, é prefaciada por Onésimo Teotónio Almeida e conta com o posfácio de Maria Beatriz Rocha-Trindade.
terça-feira, 29 de julho de 2025
Fraude em nome do município
Moelas de coelho só no Peixoto!
O requinte e o requente
A diferença entre requintado e requentado passa quase despercebida. No arroz de marisco é que se nota mais. E na sanita, consequentemente.
Embora notoriamente os coelhos não tenham moelas, devo informar que ninguém as cozinhava tão bem como o meu amigo Peixoto, em Fafe. Uma verdadeira especialidade! O Peixoto tinha mãozinha amestrada para a plancha e para a cozinha em geral. Eram famosos os seus pregos, em pão ou aos trambolhões, as suas francesinhas chamavam pessoas de fora, o seu marisco, ou "meterial", estava sempre muito bem trabalhado, uma categoria, mas as moelas de coelho suplantavam tudo o que é possível imaginar. Eram incomparáveis, exclusivas, únicas, um pitéu digno de deuses, indesmentível ambrosia do ramo dos salgados e afins. As moelas de coelho e os ovos cozidos, ovos de galo, às vezes, mas que na semana da Páscoa eram evidentemente ovos de coelha, e lá estavam expostos em cima do balcão, com o cu enfiado em sal grosso como manda a tradição, ao lado da terrina das moelas prontas a aquecer.
Eu ia a Fafe e ia ao Peixoto, como se fosse uma religião. A minha mulher também ia e era muito bem tratada. E o meu filho foi ensinado a ir ao Peixoto desde pequenino. Quando eu ia lá com amigos, tantas e tantas vezes, geralmente a horas escusadas, o Peixoto perguntava-me sempre pela família e mandava-me trazer "cumprimentos para a esposa e para o menino". E eu trazia.
(E é curioso. Porque, pensando bem, o Sr. Peixoto dispensava-nos, a mim e à minha família, um certo tratamento de excepção, uma gentileza indubitavelmente sincera mas que, na verdade, não era lá muito do seu feitio...)
Pois aqui há coisa de três ou quatro anos, talvez mais ou talvez menos, eu e o tempo agora não andamos certos, fui a Fafe e fui ao Peixoto, de fugida, para lhe dar um abraço e duas de letra, mas Peixoto de grilo. Foi um choque muito grande, uma tristeza que ainda me dói. Porque o Peixoto faz-me falta. O malandro passou o negócio, e decerto encheu-se de massa, mas não me avisou. Na verdade, ninguém me avisou. E devia ter saído em edital camarário, com voto de louvor e medalha: afinal, o Peixoto era uma instituição, dizia eu.
Mas lá está, o que eu digo não se escreve, e muito menos em Fafe, a não ser que seja eu próprio a fazê-lo. E portanto cá está.
Por outro lado. A ciência ainda não encontrou uma resposta plausível e, pelo menos, isenta de misoginia acerca de porque é que os ovos de galo são maiores do que os ovos de galinha, mas não é isso que interessa aqui agora. Lembrei-me foi do seguinte: se existe o Dia Internacional do Coelho, que se assinala anualmente no último sábado de Setembro, eu acho que Fafe, pelo menos Fafe, devia festejar o Dia Mundial das Moelas de Coelho, já que as inventámos. E a criação de uma, digamos assim, Confraria Gastronómica das Moelas de Coelho à Moda de Fafe, o seu a seu dono, também não estaria mal vista. A minha terra, diga-se em abono da verdade, é muito dada a isto das confrarias e dos dias internacionais ou mundiais. Lembro-me, por exemplo, que o Dia Internacional do Tigre, que não sei se já tinha sido descoberto para o dia 29 de Julho, era celebrado quando calhava, exactamente no Peixoto, pela madrugada dentro e já com as portas encerradas e vidros tapados. Íamos do Porto, de propósito, eu e a minha equipa, depois do fecho do jornal, e não podia ser de outra forma. O "meterial" era um bom "meterial", mas o molho secreto do Peixoto fazia-o ainda melhor. É claro que estou a falar de camarões, dos enormes, tigres, abertos em dois, grelhados na chapa, e o Peixoto, que me avisava quando os recebia, era realmente um desembaraçado domador. Na hora de pagar, por minha conta e com todo o gosto, lá se ia praticamente a entrada para a compra de uma casa, mas éramos novos e tolos, e o que é que se havia de fazer?...
segunda-feira, 28 de julho de 2025
Natureza de conserva
É preciso ter lata
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Conservação da Natureza.
sábado, 26 de julho de 2025
Sabem a pouco "os saberes" de Fafe
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Foto Município de Fafe |
"Fafe leva os seus saberes tradicionais à 47.ª Feira Nacional de Artesanato de Vila do Conde", informa o nosso Município. E explica: "Fafe estará representado com os seus emblemáticos entrançados de palha de Fafe". Mais nada. Quer-se dizer: "os saberes" de Fafe, afinal, é só um.
Troca-se neto por cão!
sexta-feira, 25 de julho de 2025
O terraplanista
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Desenho Nestinho |
A Terra tem diversos movimentos. Os mais famosos movimentos da Terra são o movimento de rotação, que é a Terra a andar egocentricamente à volta de si mesma - tipo Jorge Jesus ou André Ventura, sem ofensa para o primeiro - , e o movimento de translação, que é a Terra, agora modesta e submissa, hipnotizada, a andar à volta do Sol, qual aborboletinha avoando em torno dos afilamentos das alâmpadas, como diria o outro, o das imitações. Ora bem. O que me espanta é que tanto safanão não desequilibre a Terra nem a faça entornar os oceanos ou despencar por aí abaixo os desgraçados habitantes do hemisfério sul que praticam o pino durante o ano inteiro. Quer-se dizer: não desequilibra mas incomoda. E por estas e por outras é que a Terra anda ligeiramente chateada nos pólos.
P.S. - Desenho do Nestinho, Ernesto Brochado, criado expressamente para o meu blogue Tarrenego!
sábado, 19 de julho de 2025
Folclore internacional em Fafe
De hoje a oito dias, sábado, 26 de Julho, a Arcada acolhe o XXXIX Festival Nacional e Internacional de Folclore, que contará com a participação de oito grupos, de diferentes nacionalidades. Início às 20h30, com entrada livre.
terça-feira, 15 de julho de 2025
Branca e radiante
A Festa Branca volta a Fafe no próximo sábado, dia 19 de Julho, com Rui Veloso como cabeça de cartaz. Espectáculo a partir das 22 horas, na Feira Velha (Praça Mártires do Fascismo). Na Arcada, com início às 18 horas, atuarão os DJ Nino, Miguel Mendes, João Miguel e Lowie, numa proposta do Club Fafense, para seguir noite dentro.
domingo, 13 de julho de 2025
Os dias da Senhora de Antime
Foto blogue Morgado de Fafe
Anjinhos, não!
Deveria querer dizer alguma coisa a nosso respeito, agora que penso nisso, mas não sei se diz. Já reparastes, certamente. Não há procissão no mundo que leve e chame tanto povo como a procissão da Senhora de Antime, em Fafe. Um mar de gente, povo atafulhado, a rebentar pelas costuras, sem espaço sequer para descruzar os braços e coçar repentinas aflições. Isso, povo em barda e de todos os feitios. Nós. O povo da terra, inteiro e simples, ali na procissão como na vida. Povo, povo, povo. Mas anjinhos, não...
Mete-se o mês de Julho, chega o calor, e Fafe vive os seus dias mais extraordinários. É tempo de Senhora de Antime. São as Festas de Fafe, que já foram da Vila, do Concelho e da Cidade. Os senhores da Câmara podem chamar-lhe o que quiserem, e até já lhe chamaram "certame", santa ignorância, mas toda a gente sabe que é a Senhora de Antime e o resto é conversa. Toda a gente, quero eu dizer, os fafenses do rés-do-chão, o povo, que é quem realmente sabe das coisas. Lá em cima, há evidentemente uma "organização", que antigamente era comissão de festas, e a "organização" apresenta um programa com muitos bombos, cabeçudos e gigantones, bandas filarmónicas, ranchos folclóricos, fado de Coimbra, nunca percebi porquê, e um considerável naipe de artistas mais ou menos musicais, à dúzia, de dentro e de fora, do TikTok e da televisão, famosos regra geral, excelentes às vezes, para quase todos os gostos. Três ou quatro desses artistas, a "organização" é que escolhe quais, são anunciados como "cabeças de cartaz".
A Senhora de Antime, no entanto, é a procissão. E isto é tão básico, valha-me Deus! Há séculos que o digo, mas afinal não adianta: a procissão é que é cabeça de cartaz das nossas festas. Domingo, o segundo domingo de Julho é a Senhora de Antime, a Senhora de Antime é esse domingo exacto, o nosso domingo mais fafense, o domingo mais esperado do ano. O dia único de ir "ver a Senhora", que coisa tão linda de dizer! O domingo da procissão que me leva às lágrimas, que quase me sufoca num soluço sacrista, palerma, aperto a mão da Mi, que já sabe do que a casa gasta, despejo a água dos óculos, de sol, para a próxima trago óculos de mergulho, rio-me desajeitadamente para o Kiko, com legendas de cinema mudo, não ligues, filho, é a velhice, não vem mais vinho para esta mesa. O Kiko sorri, faz sinal que percebe, que me compreende, parece que me promete um abraço para melhor altura. Tem razão. A Senhora está mesmo à nossa frente. Foi ao cabeleireiro, penso todos os anos, e aproveito para recompor-me. Não tem nada a ver com fé, religião ou família, é sentimento, fafismo tão-somente, fafismo puro e duro, e fafismo não se explica, vive-se, e nem é preciso ter nascido em Fafe para sentir fafismo, também dou isso de barato.
A procissão é que é. A procissão e a explosão do encontro das duas senhoras, das Dores e da Misericórdia, no Lombo ou na Ponte de São José. A sirene que toca à tradicional paragem dos dois andores no cruzamento do Santo Velho, junto ao Palacete, o nosso sítio combinado, como se os Bombeiros antigos ainda ali estivessem ao pé. E a sirene não toca, é um pranto. As pombas largadas e atordoadas e os salamaleques e foguetes excessivos e emproados à porta dos Paços do Concelho.
A procissão da Senhora de Antime, costumo ensinar a quem não sabe, é provavelmente a melhor procissão do mundo e certamente uma das maiores do mundo. Alguns palavrosos chamam-lhe até "Majestosa Procissão", mas ela é tudo menos majestosa. É popular, é simples, espontânea e incomensurável - a olhos de fora, impreparados, poderá até parecer desorganizada, mas não. É o povo que desce inteiro com as duas senhoras até à vila a que agora chamam cidade, não vejo com que vantagem. O povo de pé-descalço e bico calado, respeitoso, talvez com um flor nos lábios fechados para garantir fidelidade ao silêncio juramentado. Milhares de pagadores de promessas furando em marcha lenta pelo meio de milhares e milhares de devotos de bancada, apreciadores, preguiçosos, retardatários, ressacados, curiosos ou simples mirones, famílias inteiras, reunidas, carteiristas, apalpadores e empernadores que se atravancam nas beiras da estrada e nos passeios das ruas. É uma procissão tremenda e comovente, multitudinária e única, uma procissão a sério - A Procissão -, como tenho a mania de explicar aqui aos meus vizinhos que ficam banzados com a meia dúzia de almas penadas e a dúzia e meia de figurões autárquicos e outras autoridades civis, militares e religiosas, assim catalogadas, que todos os anos acompanham a imagem do Senhor de Matosinhos pelas ruas desta cidade que me acolhe, num deserto que só visto.
A procissão da Senhora de Antime é que é. Por mais dias que metam nas festas, por mais estrelas que chamem ao palco, a procissão será sempre cabeça de cartaz. Em Fafe, ano após ano, a Senhora é que arrasta multidões.
sábado, 12 de julho de 2025
sexta-feira, 11 de julho de 2025
quinta-feira, 10 de julho de 2025
quarta-feira, 9 de julho de 2025
terça-feira, 8 de julho de 2025
sábado, 5 de julho de 2025
sexta-feira, 4 de julho de 2025
Senhora de Antime, já a partir de amanhã
Festas de Fafe, em honra de Nossa Senhora de Antime, de 5 a 13 de Julho. O programa religioso pode ser consultado aqui.
terça-feira, 1 de julho de 2025
Os livros estavam em boas mãos
E apeteceu-me dar-lhe um abraço
O homem caminhava vagarosamente ao lado da mulher. Curvado pelo peso de, fiz as contas, setenta e tantos anos, caminhava ainda assim com uma dignidade evidente. O homem velho, de casaco antigo, asseado, pé ante pé até ao café de praia e ao milagre do sol-pôr, levava as mãos atrás das costas. E nas mãos, reparei, um livrinho da Colecção Vampiro, a antiga: "O Imenso Adeus", de Raymond Chandler. Caramba!, és cá dos meus - pensei. E apeteceu-me dar-lhe um abraço.
A mania dos livros apanhei-a em Fafe, mal aprendi a somar letras, na biblioteca que na altura se chamava da Gulbenkian. Lembro-me muito bem da carrinha Citroën cinzenta em chapa canelada, a biblioteca itinerante, que frequentei uma ou duas vezes, estacionada à beira do Manel do Campo, mas o meu sítio já era edifício, do outro lado do Largo, em frente, creio que um primeiro-andar entre a loja do Damião Monteiro e a sapataria da esquina que dava para o beco da Polícia e em cima ou por baixo da Legião Portuguesa, o que certamente justificaria que fosse ali mesmo a meta de partida e de chegada da corrida de jericos dos 16 de Maio. Comecei pelas figuras, evidentemente. Depois procurei-me nos livros. E ia lá quase todos os dias. Em miúdo, ainda em tempo de escola primária, parece-me que sob a orientação rigorosa mas gentil do Senhor Alves, pai, espero não estar a dizer uma asneira muito grande, e depois já em moço, no meu regresso a casa pós-25 de Abril e pós-seminário, beneficiando da cumplicidade generosa e vanguardista do Professor Alberto Alves, que me abriu os olhos para um mundo inteiro que eu não sabia. Foi a minha sorte. Os livros são armas poderosas. E, em Fafe, estavam em boas mãos.
Há ir e voltar, porra!
Foto Hernâni Von Doellinger |
segunda-feira, 30 de junho de 2025
O deputado André e o seu quiproquó
Cheio de ideias e boas intenções, André Almeida chegou ao Parlamento e ficou encantado com o que encontrou. O encantamento foi de tal ordem que, em Fevereiro de 2008, o promissor político arouquense surpreendeu tudo e todos ao declarar que os deputados da Nação ganhavam demais, anunciando, ainda por cima, que ia dar dez por cento do seu ordenado mensal a uma instituição de solidariedade social do seu círculo eleitoral, Aveiro. "As ajudas de custo chegam perfeitamente para o que um deputado faz, porque temos condições excelentes", explicou André Almeida ao jornal 24horas.
Avisado pelo jornalista que o entrevistava para a perigosidade da matéria em que estava a mexer (matéria altamente inflamável e explosiva, e que ainda lhe poderia rebentar nas mãos), o jovem deputado limitou-se a encher o peito e a declarar-se "preparado para as críticas". Mas não estava. Dois dias depois, o deputado Almeida foi humilhado pelo seu próprio grupo parlamentar e obrigado a fazer um lamentável pedido de desculpas. Os colegas de bancada fizeram dele gato-sapato. E, para a humilhação ser completa, o puxão de orelhas colectivo, que até foi privado, saiu imediatamente para os jornais.
Ficou a saber-se que o jovem André Almeida se defendeu dizendo que as suas declarações tinham sido "irreflectidas" e que pediu formalmente desculpas aos seus indignados companheiros de carteira. Mas nem esta triste figura bastou ao inquisidor-mor Agostinho Branquinho, um dos falcões do velho PSD, que insistiu no enxovalho, argumentando que o pedido de desculpas não era suficiente para fazer desaparecer os danos entretanto causados. Nesse dia André Almeida já não atendeu o telefone do 24horas.
Quanto aos "danos" apontados à reguado por Branquinho, esse inapagável farol da deontologia social-democrata, foram sendo meticulosamente reparados. De oitavo na lista de candidatos do PSD por Aveiro às Legislativas de 2005, André Almeida desceu para décimo em 2009 e para décimo primeiro em 2011. Isto é: nunca mais sentou o cu na Assembleia. André virou-se então para a política local e foi líder da concelhia do PSD de Arouca, lugar a que não se recandidatou, alegando "razões profissionais, familiares e pessoais". Suponho que André Almeida abandonou definitivamente a política por volta de 2015, para se dedicar a coisas sérias e a uma vida útil e honesta: é dentista, se não me engano.
Agora cá entre nós: se pensarmos bem, André Almeida só não vingou como deputado porque fez tudo mal. Enganou-se. Ingénuo, chegou à capital e avisou logo que queria trabalhar, disse até qualquer coisa do género "Acho que posso ser útil no Parlamento". Ora, os deputados não estão lá para trabalhar, muito menos para serem úteis. Os mais velhos decerto que ensinam isso aos mais novos, aos recém-chegados, mas o jovem arouquense deve ter faltado às aulas. Depois foi a desgraça que se viu. André Almeida teve a distinta lata de admitir que não precisava de ganhar tanto e o sarro do PSD caiu-lhe imediatamente em cima, mas, mesmo desterrado para os bancos da cozinha, o fugaz deputado lá ia aparecendo de vez em quando a puxar por Arouca e pela sua região, provavelmente quando não estava mais ninguém no hemiciclo. Como se não bastasse, tinha também a mania de "prestar contas" aos seus eleitores com permanente informação colocada no seu site oficial. A verdade é esta: deputados assim não interessam, dão má fama à Assembleia da República.
domingo, 29 de junho de 2025
O homem e o cão (e vice-versa)
O melhor amigo do cão
Havia um cão que tinha um dono muito bem mandado. Um dono obediente, brincalhão, carinhoso, esperto - só lhe faltava ladrar.
Todas as manhãs o homem e o cão passeiam pela praia, naquela incerta linha de sobe e desce onde o mar enrola na areia e acaba Portugal. Par pândego, havíeis de ver. O homem atira a velha bola de ténis e o cão, dez-réis de cão, rasteirinho e de raça incerta, corre e salta, como uma bala, como uma mola, abocanhando-a, à bola gasta e sebenta, ainda no ar. Cão danado para a brincadeira. E habilidoso. "Bem, muito bem, espectáculo!", diz o homem. E o cão regressa e larga a bola, e corre e salta à volta do homem, e ladra no verdadeiro ladrar que não morde, e abana o rabo, abana, que quer dizer "Obrigado, estou muito contente, mais, quero mais!...", e põe a língua de fora, que quer dizer "Ainda havemos de fazer isto mas ao contrário".
Um quadro enternecedor. Homem e cão, numa simbiose perfeita. O amigo dos animais e o melhor amigo do homem. Fossem eles polícias, o homem e o cão da bola de ténis, matinais frequentadores de oceanos, e estaríamos na presença de um binómio exemplar e definitivo. Decerto já vistes nas notícias: binómio é um polícia e um cão que são colegas de trabalho. Já um carteiro e um cão, se coincidirem, são um perónio. Um perónio partido e o fundilho das calças esgaçado.
(Lembro-me agora. Aquilo de passear o canídeo à beira-mar, eu bem o tentara em Fafe, nos meus vinte anos, com o Buck, o nosso cão na Rua do Assento. A beira-mar que tínhamos mesmo à mão, e por acaso bem jeitosa, se não fossem as silvas e outro restolho jurássico, eram as bordas do rio de Pardelhas, quando levava água, mas o Buck nunca me deu hipótese. O cão era quase do meu tamanho, muito mais forte do que eu e completamente dono do seu nariz. Saímos apenas uma vez. No seu habitat natural, o Buck era manso para as pessoas de dentro e sobretudo para as crianças. Sim, era lerdinho, porém destrambelhado. Gostava muito de brincar com gatos e galinhas, às vezes matava dois ou três frangos, mas era sem querer, diga-se em abono da verdade, fruto da loucura do momento, no descontrolo e afã da brincadeira. Íamos então passear, eu e o cão. Coloquei-lhe a poderosíssima trela, feita por encomenda e medida, própria para bisontes e elefantes, custou uma fortuna, dei-lhe calmamente a primazia, pus o pé fora de porta, todo lampeiro, e, como um raio ou talvez uma enorme marretada, num safanão sem preliminares nem precedentes, fui imediatamente arrastado de cangalhas para o empedrado, levantei-me como e quando pude, sempre de zorra, o Buck galopava a seu bel-prazer, sem parar sequer para cheirar ou alçar a perna, e eu atrás, agarrado à trela como quem se agarra à vida, aos solavancos, aos repelões, aos trambolhões, contra esquinas, árvores de pequeno e médio porte, tabuletas de trânsito e demais mobiliário urbano, o caralho do cão andou a exibir-me e a enxovalhar-me por onde lhe apeteceu, a vila inteira à janela a rir-se de mim, a fazer pouco do moço tolo, o filho da viúva da Bomba, tornei a casa feito num oito, num cristo, quando sua excelência achou que já chegava, e portanto nunca mais.)
Todas as manhãs, dizia, tornando à praia atlântica. Eu também por ali ando comigo pela trela e por isso é que sei o que estava a contar, mas ninguém me atira a bola, e antes assim. Ontem desatei a rir com o raio do cão, que realmente tem jeito, parece do circo o lingrinhas, um autêntico brinca-na-areia. Entre uma acrobacia e outra, o cão tendia a enfiar-se na água, coisa de cão certamente, e o homem dizia "Sai daí, Rex, anda cá, Rex, já vais levar, Rex!...", nem de propósito Rex, eu seja cão se estou a inventar. O cão chamava-se mesmo Rex, como o cão actor, o cão artista da televisão, e, sem terem nada a ver um como o outro, por acaso até vinha a propósito. O homem, que tomara nota do meu riso, decidiu pôr-me ao corrente, quisesse eu ou não: "É todos os dias isto, a mesma merda, ele gosta, o filhadaputa do cão mete-se no mar e eu depois é que me fodo a dar-lhe banho, secar e escovar, olha, lá vai ele outra vez, ó corno!, ó boi!, não adianta, fode-me sempre..."
O cão resolveu apanhar a última, mas sem boca. Estava-se a armar para mim, eu dei fé, creio que lhe percebi até um certo piscar de olho. Dominou a bola com o peito e, sem deixar cair, rematou em grande estilo e foi golo, palavra de honra que foi golo. Depois colocou o açaime ao homem e levou-o para casa.
P.S. - Versão corrigida e (bastante) aumentada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe.
sexta-feira, 27 de junho de 2025
Festas de Fafe, de 5 a 13 de Julho
"De 5 a 13 de julho, Fafe celebra as Festas em honra de Nossa Senhora de Antime.
Integrando como é habitual a componente festiva e religiosa, o programa da edição 2025 terá como cabeças de cartaz os concertos de Ivandro, Bárbara Bandeira, Kiss Kiss Bang Bang e Dj Cozta (11 de julho) e Van Zee, Carolina Deslandes, Baile das Novinhas e Volki Boys (12 de julho).
A freguesia de Antime recebe, no fim de semana anterior (5 de julho), o reconhecido artista português Maninho, o cantor fafense Bruno Fernandes e, ainda, os Djs Filipe Carvalhais e Echosound.
A programação contempla também os números tradicionais habituais - Fado de Coimbra, Mostra de Folclore, Desfile de Moda e o Despique das Bandas Filarmónicas de Revelhe e de Golães -, culminado com Desfile Alegórico "Fafe: alma e tradição com vida", na noite de domingo."
quarta-feira, 25 de junho de 2025
Senhora de Antime 2025 (programa religioso)
Dias 7 a 11, segunda a sexta-feira: Missa com Pregação, na Igreja de Antime, às 20 horas.
Dia 10, quinta-feira: II Peregrinação dos Frágeis, 10h30, na Igreja de Antime.Dias 11 e 12, sexta-feira e sábado: 44.º Encontro de Coros Litúrgicos do Arciprestado de Fafe, na Igreja Nova de S. José, às 21 horas.
Dia 12, sábado: Procissão de Velas, com início na Capela de S. Brás até à Igreja Paroquial de Antime, seguida de Pregação e Bênção do Santíssimo, às 21h30.
Dia 13, domingo:
8h15 – Missa Solene na Igreja de Antime.
9h45 - Saída da Procissão da Igreja Nova de S. José.
10 horas – Saída da Procissão da Igreja de Antime.
10h15 – Encontro das Imagens na Ponte de S. José.
12 horas – Chegada à Igreja Nova de S. José e oração conclusiva (Acto de Consagração)
16h30 – Missa Votiva em Honra de Nossa Senhora, na Igreja Nova de S. José.
18 horas – Saída da Procissão da Igreja Nova de S. José.
18h30 – Cerimónia do "Adeus", no lugar do Lombo.
20 horas – Chegada à Igreja Paroquial de Antime.
Dia 17, quinta-feira: I Peregrinação das Crianças, 9h30, na Igreja de Antime.
segunda-feira, 23 de junho de 2025
Olha a triste viuvinha
P.S. - Publicado no meu blogue Mistérios de Fafe. Hoje é Dia Internacional das Viúvas. Lamento informar.
sábado, 21 de junho de 2025
O boleto e a merenda
Nos grandes concertos sinfónicos, o maestro sai sempre no final de cada peça para ir à casinha mudar a água às azeitonas. Depois volta para as palmas, para as vénias e para as flores, sorridente e aliviado. E os músicos? Os músicos protestam batendo nas estantes e continuam em palco de perninhas apertadas e, quem sabe, a urinarem-se por elas abaixo...
O boleto é uma ordem oficial escrita que requisita alojamento para militares numa casa particular ou o próprio alojamento assim conseguido. É também salvo-conduto, a parte superior do carril sobre o qual rolam comboios e eléctricos, um género de cogumelos comestíveis e a articulação da perna do cavalo acima da ranilha, dizem uns, ou acima da quartela, dizem outros. No Brasil, boleto é ainda papelinho de aposta nas corridas de cavalos, registo de dados de uma operação bolsista, bilhete de acesso a espectáculos e similares ou impresso de factura-recibo.
Posto isto, que não interessa para nada, mudemos de assunto. Falemos de uma coisa completamente diferente. Falemos do boleto.
O boleto, que, pelo menos aqui há uns anos e em Fafe, era praticado pelas bandas de música e consistia numa módica quantia em dinheiro vivo que o contramestre da filarmónica distribuía pelos músicos provavelmente a título de ajuda de custo ou, talvez melhor dizendo, como subsídio de alimentação - o que salvava o dia sobretudo aos jovens aprendizes, que passeavam muito bem a farda e faziam número nas procissões e outras arruadas, mas "ainda não ganhavam". Funcionava, em todo o caso, como um prémio, um extra. Uma espécie de consoada recebida a prestações.
De uma certa maneira, o boleto era também uma das peças do concerto. Enfim, uma bagatela, como lhe chamariam os românticos. Peça curta e despretensiosa mas de sucesso garantido, faço questão de acrescentar, para contar tudo como deve ser contado. Beethoven, por exemplo, muito dado a repentinas modificações de humor, compôs algumas dezenas dessas miniaturas para piano, verdadeiras jóias, autênticas obras-primas, a mais famosa das quais será certamente "Für Elise", que toda a gente conhece. Tornando, porém, ao boleto: se não parecesse um rematado disparate, suponho até que seriam os próprios músicos a pedir bis. O dinheiro saía em notas puídas e renitentes de um gordo envelope cada vez mais magro e era entregue em mão, uma mão atrás da outra, no dia mesmo da "festa", em pleno coreto, com o povo ao redor, durante um intervalo que desse jeito, na vez da outra banda tocar.
Posso ter inventado esta memória, mas cuido que o mais das vezes o bodo era repartido já da parte da tarde do "serviço". E que se segue? Não sei porquê, mas desconfio, a minha cabeça começou então a associar boleto a merenda, como se fossem palavras sinónimas, e até hoje. Boleto igual a merenda. Exactamente. Merenda ao "balcão" de uma barraca beduína, periclitante e malcheirosa, espécie de estendal armado às três pancadas entre varas de choupo e toldos de pano, com bacalhau frito, orelheira salgada, frango abusivamente churrascado, moscas e sardinhas assadas que eram uma desgraça. Uma desgraça bem bebida, afogada em vinho até ao nariz.
Vinho, como quem diz. Bastas ocasiões bebia-se "receita", isto é, juntava-se cerveja e açúcar ao alegado vinho para disfarçar o pique a vinagre. Mas bebia-se. Porque beber fazia parte da arte, tinha o seu próprio solfejo. Como eu costumo dizer, e não me canso de repetir, a diferença entre uma colcheia e uma colmeia está na medida. Isto é: uma colmeia corresponde exactamente a uma semicolcheia. E deve servir-se de preferência numa seminfusa. Bem fresca...
Quarteto de cordas
quarta-feira, 18 de junho de 2025
Quando os Tonys eram de Matos
Foto Hernâni Von Doellinger |
Mas nem todos têm a minha sorte. Os lisboetas, por exemplo. Os lisboetas são uns infelizes, uns desgraçados, não sabem da vida, não sabem da terra, não sabem sequer de que terra são. Aqui atrasado, o Continente, esse, o dos supermercados, fazia de velho mestre-escola e, uma vez por ano, tomava conta dos lisboetas, assim ditos, e levava-os em gaiteira excursão de volta às suas raízes mais profundas. Às berças. Aos campos do Minho, de Trás-os-Montes, das Beiras, do Alentejo ou dos Algarves de onde eles partiram há duas ou três gerações, com a saca da merenda enfiada no cajado ao ombro, os pés descalços e as chancas nas mãos. Quer-se dizer: embora o ignorem, os lisboetas são tão parolos como os outros parolos todos à volta. Lisboa já não diferencia. Faz cada vez mais parte do resto que é paisagem neste país que não existe.
Mas então, o Continente oferecia aos lisboetas uma espécie de circo rural onde não faltavam as vacas e os cavalos, os patos e os gansos, as ovelhas e os porcos, as avestruzes e os burros. E enfartava-os com um megapiquenique a que o analfabetismo vigente não se cansava de chamar "Mega Pic Nic". Um arraial dos antigos para recriar, em plena Avenida da Liberdade e no Parque Eduardo VII, o "espírito do campo", o "ambiente de uma grande quinta", com o patriótico desiderato - acrescentava a propaganda do Continente - de "chamar a atenção dos portugueses para a importância do apoio à produção nacional". Pois se calhar.
domingo, 15 de junho de 2025
As pancadas de Jean-Baptiste Poquelin
Quando elas morriam de pé"Morta por dentro, mas de pé, de pé, como as árvores", dizia a Senhora Dona Palmira Bastos, batendo altaneira com a bengala no tablado, na beleza insubstituível do preto e branco da televisão antiga. A queridíssima Senhora Dona Palmira Bastos tinha quase noventa anos e ainda não sabia das motosserras, do urbanismo autárquico em Portugal e da Amazónia no Brasil.
O francês Jean-Baptiste Poquelin inventou as famosas pancadas de Jean-Baptiste Poquelin, as quais, secas e consecutivas, batidas no piso do palco, anunciavam ao público o início de um espectáculo teatral. Alguém alvitrou, no entanto, que chamar pancadas de Jean-Baptiste Poquelin às pancadas de Jean-Baptiste Poquelin não tinha jeito nenhum, até soava mal ao ouvido, e que chamar-lhes, por exemplo, pancadas de Molière seria muito mais engraçado. Tinha razão. As pancadas mudaram então o nome para Molière e Jean-Baptiste Poquelin também. Assim se passaram as coisas.
A primeira vez que eu as ouvi, às pancadas, foi em Fafe, no nosso Teatro-Cinema, há bem mais de meio século. Teatro amador, mas pancadas profissionais, competentes. Era a récita de "Selo de Chumbo", um dramalhão em três actos de Armando Tavares, levado à cena pela prata da casa, com, entre outros e outras que infelizmente me fugiram da memória, Nélson Fafe e o Sr. Moreira, enormes actores e ensaiadores, o Tónio da Legião, estou em crer, e até o meu padrinho Américo terá tido um pequeno papel, coisa de uma deixa, duas palavras, mais não, entrada por saída, numa interpretação que ficou para a posteridade. O final da peça, se bem me lembro, era de fazer chorar as pedras da calçada...
As pancadas de Molière foram entretanto substituídas por apitos ou campainhas e por uma voz de altifalante que manda desligar os telemóveis.
P.S. - Versão revista e acrescentada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe.
sábado, 14 de junho de 2025
Fafe já tem época balnear
Foto Hernâni Von Doellinger |
Leio no Facebook do Município de Fafe que a "época balnear abriu oficialmente hoje e a Albufeira da Queimadela está pronta para receber a visita de todos", e dou por mim a sorrir. Fafe tem a sua própria época balnear sem precisar de ir para a Póvoa, quem havia de dizer, que coisa tão estranha para um tipo antigo como eu! Sobral de Monte Agraço teve, à altura, o seu parque infantil, que saiu no Tide, e Fafe agora também tem época balnear, como os outros brasis e algarves. Que extraordinário!
A guerra em tempo de paz
A murro
Batata a murro apresentou queixa por violência doméstica.
Eu fui à guerra e comi 21 gafanhotos de uma vez, uns atrás dos outros. Isso. Quando fiz 21 anos, num infeliz dia de Outubro, comi 21 gafanhotos. Vivos. Obrigaram-me. E não me estou a queixar, embora tenha sido uma canseira andar a persegui-los e a apanhá-los um a um no mato, eles aos saltinhos e eu de cócoras, um sol do caraças, a risota do maralhal, os insultos do tenente, o corpo moído, uma sede que eu sei lá, mas antes isso do que passar o dia inteiro a levar pancada. O dia e a noite. Por outro lado, apesar de ter comido 21 gafanhotos vivos no dia exacto e triste em que fiz 21 anos, passei aqueles dias todos a levar pancada. Aqueles dias e aquelas noites. As noites também. O que tinham de bom as noites é que só muito raramente propiciavam "golpes de calor", ou insolações, como se diz quando se quer que se perceba o que se diz.
Mas os gafanhotos. Os gafanhotos eram absolutamente essenciais, alimentavam heróis em construção, forjavam homens de aço, oleavam máquinas de guerra que haveríamos de ser. Eram, repito, absolutamente essenciais, naturalmente curriculares. Os gafanhotos e a pancada.
O meu encontro gastronómico com os gafanhotos teve como cenário os bélicos campos e montes de Santa Margarida durante a chamada "semana maluca" dos Comandos, em que o dia é noite e a noite é dia, com horários e afazeres trocados, incluindo as refeições e a instrução, manobras ainda por cima abrilhantadas pelas famosas prova da sede, prova de choque ou prova de sobrevivência. Famosas e às vezes fatais. Quer-se dizer: pancada, pancada e mais pancada.
Assim eram os Comandos, tropa dita de elite para onde não fui voluntário. "Mais logo afocinharemos!", ameaçava o tenente por tudo e por nada, só porque lhe apetecia. E afocinhávamos. Passávamos a vida a afocinhar. Havia um cuidado muito grande com a nossa alimentação. Por vontade de quem mandava, nós, os desprezíveis instruendos, estaríamos sempre a comer, às mãos desabridas de sargentos e cabos com idade para serem coronéis, com poderes de general, práticas de verdugos descontrolados e tremendas saudades ultramarinas. Consta que, quase cinquenta anos passados, os Comandos ainda são assim. E que, uma vez por outra, "as coisas correm mal". Há mortes, mesmo no intervalo da guerra. O treino não podia ser mais completo.
Em 1978 correu mal uma aula de morteiros. Um instrutor jactante e incompetente, como se exige que sejam os instrutores, apontou para o infinito, despoletou a granada e, sem querer, deixou-a escorregar tubo abaixo. Pum! O morteiro só parou explodindo em cheio num centro comercial da Amadora, por acaso com pessoas dentro. Sei disto porque estava lá, do lado do morteiro e do instrutor desajeitado. E, para evitar problemas com a população, não me deixaram vir a casa nesse fim-de-semana e no seguinte, e eu cheio de saudades de Fafe e da namorada no Porto.
Quanto aos gafanhotos, fritos e de escabeche decerto marchariam melhor. Pelo menos parece ser esse o entendimento da nossa Direção-Geral de Alimentação e Veterinária, que anunciou em Junho de 2021 a autorização para a produção, comercialização e utilização na alimentação em Portugal de sete espécies de insectos - duas de gafanhotos, duas de grilos, duas de larvas e um besouro.
Por aquela altura, no meu breve tempo de Comandos, eu já tinha visto na televisão a preto e branco a série Kung Fu, com o trágico David Carradine, mas ainda não conhecia a anedota "O Mestre e o Gafanhoto", que haveria de ouvir anos mais tarde contada numa cassete pelo menestrel brasileiro Juca Chaves (1938-2023) e que, se bem me lembro, é mais ou menos assim:
Gafanhoto, aprendiz de Shaolin, era pequenininho e perguntou ao seu velho Mestre, que era cego e sabia tudo:
- Mestre, quando é que eu me tornarei um homem?
E o Mestre respondeu-lhe:
- Gafanhoto, quando um dia você passar a mão entre as pernas e sentir duas bolas, então você será um homem. Mas quando um dia você passar a mão entre as pernas e sentir quatro bolas, não pense que é super-homem. É que tem alguém lhe enrabando!...
quinta-feira, 12 de junho de 2025
Brincando com o trabalho infantil
O trabalho infantil é muito bem, um orgulho, principalmente se a criança entrar numa telenovela ou se for modelo de moda ou se for imitador de cantores adultos e der na televisão (esta parte da televisão é importantíssima!), enriquecendo os pais remediados e vaidosos.
Depois há ainda as crianças, estas são do piorio, que, órfãs de tudo e até de tecto, fazem sapatilhas de marca para os pés das entrevistadoras e dos entrevistadores da televisão que entrevistam as crianças que entram nas telenovelas e nas passarelas e nas cantigas e para os babados pais, que no fim pedem recibo de viagem e presença para descontar no IRS.
Parece que a diferença está nisto, segundo percebi uma vez no programa Sociedade Recreativa da RTP: os miúdos das telenovelas e da moda e do cançonetismo têm "agente". Os moncosos do campo, das fábricas, da rua, não.
quarta-feira, 11 de junho de 2025
Chester, para todo o serviço
Lembrais-vos do futebol de salão? O que é que me vinha à cabeça quando se falava de futebol de salão? O salão. Uns cavalheiros vestidos de fraque e com um número nas costas e umas cavalheiras despidas nas costas e no resto, agarrados um ao outro e rodopiando pelo salão nobre do Teatro-Cinema como Fred Astaire e Ginger Rogers e uma bola pequenina no meio, um árbitro e o apito, um júri e tabuletas com pontuações. Para evitar ambiguidades, o futebol de salão passou a chamar-se futsal, joga-se em polidesportivos, como, por exemplo, no pavilhão do Grupo Nun'Álvares, e é o sucesso que se sabe...
Matt Dillon era o xerife de Dodge City, e Chester o seu leal escudeiro. Naquele tempo todos queriam ser Tarzan ou Mandrake, Buck Jones ou Fantasma, Mascarilha ou Cisco Kid. Os "artistas". Mas o Álvaro escolheu modestamente ser Chester, actor secundário, e assim se rebaptizou num involuntário equívoco cheio de ironia: na verdade, Álvaro Moreira Mendes nasceu para ser primeira figura, protagonista. E foi. No seu ofício de indústria, no movimento associativo, na intervenção cívica, na amizade fraterna e íntegra, foi sempre dos melhores, um fafense excelentíssimo, um homem maior do que o próprio nome, maior do que a alcunha sacada dos livrinhos de cobóis, maior do que o lugar que lhe queiram dar os menestréis da história recente de Fafe, tão desperdiçada em umbiguismos, capelinhas e bagatelas, maior do que melhor ou pior pensem dele. Acerca da opinião dos outros a seu respeito, creio, aliás, que o Chester, ajudante do xerife, não se coibiria de dizer, alto e bom som: caguei!!! E diria alto e bom som e assim com três pontos de exclamação porque ele não sabia falar de outra maneira.
Onde o Álvaro chegasse, constava. Ele encarregava-se de avisar logo à entrada, por entre raios e coriscos, avançando como um tornado de grau cinco, a enorme mão calejada e aberta desbravando caminho, oferecendo-se para um abraço, para uma palmada nas costas à moda antiga. Ser imperfeito como todos nós, mas menos imperfeito do que a maioria de nós, e muito menos imperfeito do que eu, por exemplo, o Chester tinha um coração enorme, desmesurado, e uma boca do tamanho do coração. Tinha o raio de um feitio, o homem, fazia inimigos com o dobro da facilidade com que fazia amigos. E também deu alguns pontapés na vida.
O Chester era generoso, impulsivo, excessivo e puro. E amiúde foi a primeira e principal vítima da sua generosidade sem peso nem medida. Era um bom selvagem, uma força da natureza, pau para toda a obra.
Era meu amigo. Forjámos a nossa cumplicidade no tasco, evidentemente. Nas tardadas de Inverno passadas à volta da braseira na cozinha da Dona Isabel, no Toninho Nacor, onde eu, com os bolsos cheios de cotão, ia levado pelo tio Américo. Em 1976, Barcelos acolheu o Campeonato da Europa de Hóquei Patins Sub-21 (juniores, chamavam-se então). O Chester falou do assunto. Comprámos duas assinaturas para o torneiro inteiro, e todas as noites lá íamos de Vauxhall até Barcelos por estrada nacional, que era o que havia, víamos os dois ou três jogos do programa, regressávamos a Fafe e eu chegava a casa já de madrugada. Fomos campeões.
Mais ou menos por essa altura, o Grupo Nun'Álvares estava instalado no edifício que fora posto da GNR, em frente à Igreja Matriz, e que hoje é, creio não estar enganado, casa paroquial. Ali foi construído um rinque em cimento e organizado, em 1977, o primeiro torneiro de futebol de salão em Fafe. Salão ao ar livre, é preciso que se note. Nunca falhei um jogo. Um dia vou à bilheteira comprar o bilhete do costume, está lá o Chester (o Chester tinha o seu quê de Deus, também estava em toda a parte) e entregou-me um livre-trânsito passado em meu nome e que dizia "Convidado da Organização - Prémio Assiduidade". Coisa inventada por ele, que era a alma daquilo tudo. Resultado: deixei de pagar para entrar e guardo religiosamente aquele cartão, como se fosse um santinho, uma relíquia da Terra Santa.
Quando terminei a minha felizmente efémera passagem pela tropa, o Álvaro foi a primeira pessoa a oferecer-me um emprego a sério e até já tinha tratado de tudo para eu tirar a carta de condução. Apareceu-me melhor, o Álvaro incentivou-me a aceitar a outra proposta, e ainda hoje não tenho carta nem sei conduzir.
O Chester alegrava-se quando me via em Fafe. Fazia questão que se soubesse que gostava muito de mim. E a verdade é que eu também gostava muito dele. E no entanto falhei-lhe miseravelmente na altura da vida em que por certo ele mais precisou dos amigos...
O Álvaro era, regra geral, do contra. Era um inquieto espírito de contradição. Tanto que, só para chatear, resolveu deixar-me a falar sozinho, quando tínhamos ainda tanto para conversar.
Felizes os ignorantes: quem não conheceu o Chester, não sabe o que perdeu. Trabalhador incansável, empreendedor contumaz, homem dos sete instrumentos e de mil causas, o Chester é uma história extraordinária e isto aqui é apenas um humilde lembrete, um quase nada. Grande, grande era ele. Álvaro Moreira Mendes. Chester, para todos os efeitos e para todo o serviço. Uma vida que dava um livro, um nome que merece rua. Em Dodge City já teria.
terça-feira, 10 de junho de 2025
E Portugal era em Fafe
- Volta a Portugal! Volta a Portugal em bicicleta! - pediu-lhe insistentemente a mulher, num derradeiro telefonema de aflição. E ele voltou. Mas veio de carro.
Portugal era em Fafe e eu, fafense de rebimba o malho, tinha muito orgulho nisso. Portugal era um larguinho e situava-se na Rua José Ribeiro Vieira de Castro, como quem desce, à esquerda, entre a esquina do Toninho Nacor, o tasco antigo, e o Lombo, por assim dizer e com vossa licença. Morava ali gente de categoria, como, por exemplo, a Senhora Felicidade, que costurava ao domicílio nas melhores casas da vila e era uma cerzideira tão perfeita que até passava despercebida. Portugal era um terreiro e tinha uma "cabine". A "cabine", segundo me explicaram, guardava e distribuída electricidade. Era uma espécie de almazém. A importância de Portugal, o país inteiro, ser em Fafe meteu-se-me em mim, em pequeno, e eu tinha a compenetrada mania de que era mais do que os outros, os que não eram de Fafe. Esta minha inclinação notou-se particularmente no meu tempo de seminário, onde eu sempre achei que era mais fino do que os outros. Os meninos das outras terras, e tantas eram, de Melgaço até bem abaixo de Braga, incluindo Vizela, detestavam estas minhas peneiras e, para mal dos seus pecados, só muito tarde da vida é que compreenderam que realmente eu era mais fino do que eles. Mas eles não tinham culpa, coitados, era apenas azar. Ninguém escolhe onde nasce, e a verdade é só uma: eles não nasceram em Fafe e portanto não tinham Portugal.
Pois Portugal ainda lá está, em Fafe, que é o seu sítio. O Largo de Portugal. Volvidos tantos anos, não sei se mantém os seus poderes intocados, os poderes que eu sei que Portugal tinha. A envolvência - isto é, Picotalho, Cavadas e tudo - foi escangalhada pelo progresso, que passa ali ao lado armado em auto-estrada a mais de mil à hora. Questão de urbanismo. Os portugalenses serão também certamente outros, gentes de maiores posses e novos saberes. Mas a "cabine" continua, firme e hirta, como castelo altaneiro, quero crer que ainda e sempre ligada ao negócio do retalho energético, alta tensão, perigo de morte. Viva Portugal! Viva Fafe! Abençoada terra que tem um país inteiro num largo dentro de si.
domingo, 8 de junho de 2025
Monumentos ao Emigrante, em livro
O livro "Monumentos ao Emigrante - Uma Homenagem à História da Emigração Portuguesa", do historiador Daniel Bastos e do fotógrafo Luís Carvalhido, vai ser apresentado no Porto, no próximo sábado, 14 de Junho, pelas 16 horas, na Livraria Unicepe. A obra, bilingue, com tradução de Paulo Teixeira, é prefaciada por Onésimo Teotónio Almeida e conta com o posfácio de Maria Beatriz Rocha-Trindade. A apresentação estará a cargo do jornalista Mário Augusto.
sexta-feira, 6 de junho de 2025
A feira antiga torna a Fafe
"Na terça-feira, dia 10 de Junho, a Feira Tradicional volta a Fafe. O evento, promovido pelo Rancho Folclórico de Fafe com apoio da autarquia, acontece entre as 9h00 e as 18h00, na Praça 25 de Abril, onde se realizou durante muitos anos a feira semanal do concelho.
Durante todo o dia estarão presentes vários expositores trajados a rigor, à época, com produtos agrícolas, louças, barros, fumeiro, doces tradicionais, artesanato e peças típicas da região, como os xailes, os lenços, as meias de lã, os cestos e os açafates. Estará também presente a padeira da região, o vinho verde, as pataniscas, o chouriço e a broa.
Não faltarão os pregões das vendedeiras ambulantes e os agricultores não deixarão de trazer até à cidade os seus produtos caseiros, como as batatas, os legumes ou os seus animais domésticos, como belos exemplares bovinos, ovinos , caprinos e outros.
Por último, não faltará ao longo do dia a animação com concertinas, jogos tradicionais, cantares e danças folclóricas. Em suma, será criado um ambiente perfeito para o regresso à memória da vida no campo e às vivências individuais e coletivas do mundo rural do século XIX."
quinta-feira, 5 de junho de 2025
Jardins perdidos
Traz uma árvore também
Era uma localidade um bocadinho estranha, naturalmente austera porém exuberantemente moderna e cosmopolita. Nas suas principais entradas, a autarquia colocara frondosas tabuletas que avisavam os forasteiros: "Se quiser sombra, traga a sua própria árvore".
Os jardins era uma coisa que existia antigamente. Como os castelos, as pinturas rupestres, as pirâmides e assim. Era uma coisa muito antiga, do tempo dos romanos, basta ver que Deus, quando criou o mundo, o mundo era um jardim, mais ou menos como a Madeira, mas chamava-se Éden, como o velho cinema de Lisboa, ou Jardim do Éden ou Jardim das Delícias ou Paraíso Terreal ou simplesmente Paraíso, como o novo cinema de Palazzo Adriano. O plural de Éden é édenes, convém não esquecer.
E corria tudo bem no Paraíso. Quer-se dizer: corria tudo na paz do Senhor. Poder-se-ia até afirmar, creio que sem forçar demasiado a nota, que o Paraíso era, naquele tempo, um autêntico paraíso. Estava escrito, porém, que Adão e Eva tinham de asnear. Podiam ter cometido um pecado qualquer, um pecadinho de nada, um pecado repetido, copiado, um que estivesse na moda. Mas não! - quiseram ser originais. E foram. Adão e Eva cometeram o pecado original e deu na merda que deu. Até hoje.
Eu sou desse tempo. Do tempo em que ainda havia jardins. Não se sabe bem se foi por causa dos traques dos dinossauros ou derivado ao impacto de um asteróide gigante, eventualmente do tamanho de uma cidade, a verdade é que coisas antigas como os castelos, as pinturas rupestres, as pirâmides, os jardins e assim foram regra geral varridas da face da Terra, restando hoje em dia apenas algumas amostras assumidamente raras e razoavelmente arqueológicas.
Para que a Humanidade tenha pelo menos uma vaga ideia de como era o mundo em Portugal antes do apocalipse é que Portugal descobriu Vila Nova de Foz Côa, por exemplo, e Fafe mantém às vezes de porta aberta o vetusto Jardim do Calvário, que nos seus tempos mais pré-históricos até teve crocodilos, e bem barulhentos, isso toda a gente sabe.
Os jardins antigos, os jardins entretanto desaparecidos, foram substituídos por urbanismo, é assim que se chama a nova coisa. E como é que isso se fez? Como é que isso se faz?
Desta maneira simples. Pegue-se num bom pedaço de terreno relvado, com árvores e com sombras, e arrase-se tudo. O terreno, a relva, as árvores e as sombras. O urbanismo não quer sombras. Encha-se o espaço de alcatrão, cimento, placas de granito e mármore, pedregulhos aparelhados fazendo de conta de bancos e estacas de alumínio a imitarem árvores ou, quem sabe, a imitarem esculturas muito inteligentes e indecifráveis, de preferência com esguichos mas sem água derivado à seca e à poupança. Isto é urbanismo! Pegue-se no jardim da cidade, arranquem-se as flores e os arbustos, envenene-se o verde, construam-se desertos em forma de praça e mandem-se as pessoas para casa. Isto é urbanismo! Pegue-se num monte, sítio de memórias, de brincadeiras da infância, santuário de locais secretos e míticos, reserva de saúde e natureza, e corte-se-lhe a crista, cape-se, desarborize-se, desfaune-se, terraplene-se, enxote-se a bicharada, cale-se o incómodo do chilreio dos pássaros, ergam-se moradias de preferência com feitio de caixote, altas, pegadas e muitas, fechadas, e muros e portões e alarmes e estradas e carros e escapes e buzinas e estampanços e atropelamentos e antenas parabólicas e fios e postes de alta ou remediada tensão. Isto é urbanismo!
Resumindo e concluindo: roubam-nos os jardins e dão-nos esplanadas desamparadas e escaldantes, arrancam-nos as árvores e impingem-nos guarda-sóis publicitários. E, se nos queixamos, dizem-nos que não percebemos nada do assunto. Mas qual assunto? Viver?...
terça-feira, 3 de junho de 2025
Um hotel no parque da cidade
Fafe vai ter um hotel no Parque da Cidade. Mas que ideia brilhante! E espero que a Câmara não se fique por aqui: quem diz um hotel, diz dois ou três, mais restaurantes, cafés, discotecas, oficinas de reparação automóvel, interface rodoviário e diversos parques de estacionamento, tudo "unidades modernas e perfeitamente integradas na paisagem natural envolvente". Afinal, como diz o senhor presidente, "a imensidão de verde que caracteriza o espaço" já lá está, até era uma peninha não se aproveitar. Estamos todos de parabéns! À prima.
A bisculeta, pelo menos em Fafe
segunda-feira, 2 de junho de 2025
Marques Mendes apresenta comissão de honra
E ela foi lavar-se...
P.S. - Publicado aqui originalmente no dia 2 de Junho de 2023. Hoje é Dia Internacional da Prostituta.
Parágrafos e outras passagens de nível
A singularidade, do resto, nunca me incomodou, antes pelo contrário, simplificava-me a vida, mas esta coisa de Fafe ter só uma passagem de nível na sua história, uminha, e não haver notícia de mais, antes e agora, numa terra tão dada à cultura, às letras e à publicação literária, é que me surpreende. Em Fafe, os livros saem ao ritmo das cerejas, e dos tremoços, uns atrás dos outros, o que é de gabar, e no entanto não se sabe, nunca mais se soube que por aí tivesse aparecido o tal parágrafo perfeito, o trecho extraordinário, a tirada sublime, o fragmento de classe, a amostra de gabarito, quatro linhas de excepção, duas ou três frases lapidares e eternas, dúzia e meia de palavras genialmente concatenadas e dignas de registo, enfim, outra passagem de nível. Não. Nada. Nadinha. E eu, sinceramente, dá-me um certo desgosto...
sábado, 31 de maio de 2025
Biblioteca alarga horário
A Biblioteca Municipal de Fafe alarga o seu horário durante o mês de Junho. De segunda a sexta-feira, estará aberta das 9 às 20 horas. Mantendo-se os sábados, das 9h30 às 13 horas.
quinta-feira, 29 de maio de 2025
Senhora de Antime 2025
Fafe festeja a sua Senhora de Antime, como é tradição, no segundo fim-de-semana de Julho. Ivandro, Bárbara Bandeira e Kiss Kiss Bang Bang actuam no dia 11. Carolina Deslandes, Van Zee e Baile das Novinhas apresentam-se no dia seguinte. Espectáculos no Parque da Cidade, com entrada livre. Já agora, ainda em Fafe, Rui Veloso está marcado para 19 de Julho, na Festa Branca, e Mariza canta no Festival da Vitela Assada, a 4 de Outubro.
quarta-feira, 28 de maio de 2025
Diplomacia paralela
Foto Tarrenego! A diferença entre um embaixador da Unicef e um embaixador da Unicer é da ordem dos 5,2% vol. P.S. - Hoje é Dia Internacional...
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O polvo é um octópode. Duas burras do Reigrilo também. P.S. - Hoje é Dia Mundial do Polvo.
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Todos os meses de Julho de todos os anos, o aviso lá estava bem visível à porta de entrada, para orientação de pessoal, clientes e público e...
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Foto Hernâni Von Doellinger Ora vamos lá recapitular. Os jardins era uma coisa que existia antigamente. Como os castelos, as pinturas rupest...