Embora notoriamente os coelhos não tenham moelas, devo informar que ninguém as cozinhava tão bem como o meu amigo Peixoto, em Fafe. Uma verdadeira especialidade! O Peixoto tinha mãozinha amestrada para a plancha e para a cozinha em geral. Eram famosos os seus pregos, em pão ou aos trambolhões, as suas francesinhas chamavam pessoas de fora, o seu marisco, ou "meterial", estava sempre muito bem trabalhado, uma categoria, mas as moelas de coelho suplantavam tudo o que é possível imaginar. Eram incomparáveis, exclusivas, únicas, um pitéu digno de deuses, indesmentível ambrosia do ramo dos salgados e afins. As moelas de coelho e os ovos cozidos, ovos de galo, às vezes, mas que na semana da Páscoa eram evidentemente ovos de coelha, e lá estavam expostos em cima do balcão, ao lado da terrina das moelas prontas a aquecer, com o cu enfiado em sal grosso como manda a tradição.
Eu ia a Fafe e ia ao Peixoto, como se fosse uma religião. A minha mulher também ia e era muito bem tratada. E o meu filho foi ensinado a ir ao Peixoto desde pequenino. Quando eu ia lá com amigos, tantas e tantas vezes, geralmente a horas escusadas, o Peixoto perguntava-me sempre pela família e mandava-me trazer "cumprimentos para a esposa e para o menino". E eu trazia.
(E é curioso. Porque, pensando bem, o Sr. Peixoto dispensava-nos, a mim e à minha família, um certo tratamento de excepção, uma gentileza indubitavelmente sincera mas que, na verdade, não era lá muito do seu feitio...)
Pois aqui há coisa de três ou quatro anos, talvez mais ou talvez menos, eu e o tempo agora não andamos certos, fui a Fafe e fui ao Peixoto, de fugida, para lhe dar um abraço e duas de letra, mas Peixoto de grilo. Foi um choque muito grande, uma tristeza que ainda não me passou. Porque o Peixoto faz-me falta. O malandro passou o negócio, e decerto encheu-se de massa, mas não me avisou. Na verdade, ninguém me avisou. E devia ter saído em edital camarário, com voto de louvor e medalha: afinal, o Peixoto era uma instituição, dizia eu.
Mas lá está, o que eu digo não se escreve, e muito menos em Fafe, a não ser que seja eu próprio a fazê-lo. E portanto cá está.
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Ranzinza como ele só, mas de um coração enorme.
ResponderEliminarHoje contaram-me a seguinte "estória" de um fafense que foi a Lisboa e que, por óbvias razões, não vou citar o nome.
ResponderEliminarFazia imenso tempo que o tal fafense não dava uma queca e então, aproveitando a ida a Lisboa, decidiu ir lá para os lados de Campolide ver as "meninas".
Encontrou uma de quem gostou e perguntou:
-Quanto?
-€30.
-Ui, muito caro.
-Tá, faço por €20.
-Não dá, so tenho €7.50.
-Ah, por isso, nem abraço...ahahah.
-Ok linda, dou-te €5 e o meu telemóvel.
Parece, segundo me confidenciaram, que a moça pensou, avaliou a conjectura económica do país e decidiu:
-Ok, aceito e o quarto é por minha conta.
E lá foram para o quarto onde rolou de tudo, foi por cima, por baixo, por trás, pela frente, de costas, diabo a 4, santo a 69, enfim, como mandam as escrituras.
Então, satisfeito, o fafense vestiu-se e lá deu os €5 à rapariga.
Já ia embora quando ela perguntou:
-Então e o teu telemóvel?
-Ah, desculpa...951 336 691.
Do melhor!...
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