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terça-feira, 29 de abril de 2025
domingo, 27 de abril de 2025
O cartaz das Festas
As Festas, se as chamo assim com maiúscula, só podem ser umas: as da Senhora de Antime, que já foram da vila, depois do concelho, agora da cidade, mas isso não interessa para nada, porque elas são é da Senhora de Antime. E cartaz, quando digo cartaz, quero dizer aquele papelão com desenhos ou fotografias, letras e números que anuncia as Festas, só para as situar no tempo, obra de autor, uma marca, um marco, talvez agora se chame qualquer coisa em inglês, mas não faço a mínima ideia. Cartaz, para mim, não é a lista de quem vem cantar a Fafe, quero lá saber. Isso, se calhar, é o programa, mas também me é indiferente - chamem-lhe os nomes que quiserem.
Ora bem. Fafe é uma terra de artistas, ó se Fafe é terra de artistas!, é e não são assim tão poucos, e cada um mais artista que o outro, uma fartura só comparável à ausência de um verdadeiro cartaz para as Festas há não sei quantos anos. Vejo disso em todo o lado, cartazes de categoria, em festas de caracacá e terras assim-assim, às vezes autênticas obras de arte, material de colecção, e eu, fafense e sem nada, fico envergonhado, triste e invejoso.
Custará assim tanto abrir um concurso anual para a criação de um cartaz para as Festas? O bum bum Brasil é importante, contra isso nada, nesse ponto estou plenamente de acordo com o senhor presidente da câmara, eu próprio sou um conceituado apreciador de glúteos quando do sexo certo, é portanto dinheiro muito bem gasto pelo Município, investimento como deve ser, mas, mal que pergunte, não sobrará qualquer coisita no orçamento autárquico para usar também na promoção de outras partes do corpo, vamos admitir que quase tão importantes, como, por exemplo, a cabeça?
P.S. - Publicado no dia 19 de Junho de 2024. Hoje é Dia Mundial do Design Gráfico. Há novidades?
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sábado, 26 de abril de 2025
25 de Abril sempre!
O 25 de Abril devia ser todos os dias. Não é, mas devia ser, aproveitando enquanto há. Em Fafe, do mal o menos, o 25 de Abril, que correu ontem muito bem, é mais dois dias: hoje à noite com Capicua e amanhã à tarde com Sérgio Godinho. Na Praça 25 de Abril. Bem bom. Porque 25 de Abril sempre!, nem que seja só às vezes.
P.S. - O Cortejo dos Cravos, que percorreu as ruas da cidade de Fafe, terá sido, estou em crer, a mais bela homenagem que Portugal fez ontem ao 25 de Abril, à Democracia e à Liberdade.
quinta-feira, 24 de abril de 2025
Em Fafe, resistimos!
Foi ontem inaugurada, no Arquivo Municipal de Fafe, a exposição "Em Fafe, resistimos!", que ficará patente ao público até 30 de Junho. A mostra, adianta o Município, "debruça-se sobre os contextos e lugares do período antecedente ao 25 de Abril de 1974, com o foco «Resistência ao Fascismo em Fafe», e oferece, através de elementos gráficos, peças, fotografias, vídeos e documentos históricos, um olhar profundo sobre a repressão, a luta pela liberdade e os rostos que enfrentaram o regime."
Toda a informação e horários, aqui.
quarta-feira, 23 de abril de 2025
Olraitecamoniésse!
Quando fazia de jogador do pau e estava decentemente avinhado, o meu avô de Basto tinha um grito de guerra que era "Olraitecamoniésse!", e depois partia para a pancada, varrendo feiras e romarias. E tinha também um cão de pele e osso ao qual dera o nome de Tuísta, que queria dizer Twist. O meu querido avô de Basto era anglófilo americanado e não sabia. De americano, o Bô só conhecia o vinho, e talvez o João Massagista, mas desta parte não tenho a certeza.
P.S. - Hoje é Dia da Língua Inglesa.
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Grazie verigude!
A inglesinha abeirou-se-me sorridente e de mapa aberto na mão, meio perdida, pedindo-me que eu lhe dissesse onde é que ela estava, questão assim a modos que existencial. Indiquei-lhe, com todo o gosto: estávamos, ela e eu, em Matosinhos, exactamente no cruzamento da Rua do Godinho com a Avenida de Serpa Pinto, que, por sorte, era mesmo o sítio que ela queria. Estava lá marcado. Alargando o sorriso, bonito, a inglesinha simpática fez "Hã... hã... hã...", à procura da palavra certa, e, no seu melhor português, muito bem aprendido, bem treinado, saiu-se finalmente, toda satisfeita: - Grazie!
Vá lá, podia ter sido pior. Se me tivesse atirado por exemplo "Muchas gracias!", abanando castanholas e rebolando as ancas, eu ficaria realmente fodido...
Vá lá, podia ter sido pior. Se me tivesse atirado por exemplo "Muchas gracias!", abanando castanholas e rebolando as ancas, eu ficaria realmente fodido...
P.S. - Hoje é Dia da Língua Inglesa. E Dia da Língua Espanhola. E também é Dia Mundial do Escutismo. E Dia de São Jorge, que tinha um monte muito jeitoso em Fafe, mas mandaram-no abaixo. Ao monte.
O livro
Chegou à última página com o coração dilacerado entre a euforia e o desalento. Que mundo extraordinário, o livro. Quinhentas e sessenta e três páginas cheias de mistério, de sonho, de imaginação, de fantasia, certamente romance, amores e desamores, aventuras e desventuras, acção, suspense, final previsto e inesperado, feliz. Por outro lado, pensou, acariciando-lhe vagarosamente a lombada macia, num gemido mal disfarçado de suspiro: - Ah, se eu soubesse ler!...
P.S. - Hoje é Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor.
P.S. - Hoje é Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor.
terça-feira, 22 de abril de 2025
António Rebordão quê?...
Uma vez, há catorze ou quinze anos, eu tive a sorte de almoçar com o escritor António Rebordão Navarro. Eu e mais três amigos e velhos camaradas de ofício, dos jornais, num acidental e feliz reencontro à beira-Douro, lá na Ribeira de Gaia. Falámos sobretudo de banalidades risíveis, como convém à mesa, mas era fatal chegarmos aos livros. Meti conversa, como quem não quer a coisa:
- Sabe que fomos praticamente vizinhos durante alguns anos? O senhor doutor ainda mora lá para a nossa Foz?...
O senhor doutor era para mim senhor doutor porque Rebordão Navarro era formado em Direito e chegou a exercer de advogado e de delegado do Ministério Público, antes de se entregar de corpo e alma à escrita, como ficcionista, poeta e editor. Já quanto à resposta, às respostas que eu, molageiro, lhe pedia, disse-me que não e que sim. Que não sabia que fôramos vizinhos, que aliás não me conhecia de lado nenhum nem isso lhe fazia falta, mas que realmente continuava pela Foz, embora já não na Praça de Liège.
Porém era ali que eu queria chegar. Com esta minha notável capacidade para fazer figuras tristes, que já então se manifestava exuberantemente, eu estava mortinho por demonstrar mais uma vez quão sólido é o cuspo com que argamasso os meus pindéricos alicerces culturais. E acrescentei, todo vaidoso:
- Sabe, eu tenho o livro, tenho "A Praça de Liège". Se soubesse que me ia encontrar com o senhor doutor, até o tinha trazido para que me fizesse o favor de uns sarrabiscos, de um autógrafo. Tenho o livro, está lá em casa...
- Ai tem o livro? Mas eu escrevi mais livros, escrevi para aí uns catorze... - cortou Rebordão Navarro, sem disfarçar o sorriso malandro como o arrozinho de feijão e legumes que lhe acompanhava os bolinhos de bacalhau com que se deliciava.
A minha primeira reacção foi largar o meu habitual "Eu sei!" com que tento sair das enrascadas em que por mania me meto, e recitar ali mesmo, de cor e salteado, da trás para a frente e da frente para trás, por ordem alfabética e depois por ordem cronológica, os outros treze títulos do reputado autor que tinha à minha frente de faca em punho, mas a verdade é esta: eu só conhecia "A Praça de Liège". Optei, portanto, por tornar pública a minha segunda reacção, que também me saiu uma boa merda e que foi "Pois faço ideia, mas lamentavelmente não tenho acompanhado a carreira do senhor doutor"...
"A Praça de Liège" foi um sucesso tremendo aquando da sua publicação, em 1988. Era o livro da moda (pois se até eu o comprei!) e ganhou o Prémio Literário Círculo de Leitores. Na altura em que me encontrei com o autor, contou-me o próprio, no Círculo de Leitores já não sabiam quem ele era, quem era o escritor António Rebordão Navarro. Alguém do Círculo contactou a irmã do escritor por uma razão qualquer, a senhora falou do irmão e do famigerado prémio e obteve como resposta um lamentável
- Quem? Rebordão quê? Não conheço...
Pois é: a memória! As empresas enxotam quem sabe da poda, despedem os funcionários pelas mãos dos quais passaram os factos e as pessoas, preferem juniores renováveis e analfabetos, verdes como os recibos, fiam-se no Google e na inteligência artificial mas não vão lá. E depois ninguém sabe nada de nada, por manifesta estupidez natural.
Há anos que está a acontecer o mesmo nas redacções dos jornais portugueses e até se contam algumas saborosas anedotas a esse respeito. São de rir tanto, as anedotas, que às tantas até são verdade.
No que me diz respeito, e como penitência pela minha ignorância àquela data quanto à dimensão da obra literária de António Rebordão Navarro, que afinal era qualquer coisinha mais do que catorze títulos, aqui deixo o registo essencial, com sinceros votos de que faça também bom proveito à rapaziada do Círculo de Leitores: poesia - "Longínquas Romãs e Alguns Animais Humildes", 2005; "A Condição Reflexa", 1989; "27 Poemas", 1988; "Aqui e Agora", 1961; teatro - "Sonho, Paixão, Mistério do Infante D. Henrique", 1995; "O Ser Sepulto", 1972; crónica - "Estados Gerais", 1991; ensaio - "Juro Que Sou Suspeito", 2007; conto "Dante Exilado em Ravena", 1989; romance - "As Ruas Presas às Rodas", 2011; "A Cama do Gato", 2010; "Romance com o Teu Nome", 2004; "Todos os Tons da Penumbra", 2000; "Amêndoas, Doces, Venenos", 1998; "A Parábola do Passeio Alegre", 1995; "As Portas do Cerco", 1992; "Mesopotâmia", 1984; "A Praça de Liège", 1988; "O Parque dos Lagartos", 1981; "O Discurso da Desordem", 1972; "Um Infinito Silêncio", 1970; "Romagem a Creta", 1964.
P.S. - Publicado originalmente no meu blogue Tarrenego! O escritor e editor António Rebordão Navarro morreu no dia 22 de Abril de 2015, aos 82 anos. E Portugal adormecido parece que já não sabe quem é que ele foi, quem é que ele é, o que significa. Actualmente, acho isso mal. Para ignorante, bastava eu.
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segunda-feira, 21 de abril de 2025
Jesus Cristo, procura-se!
A polícia anda à procura de Jesus. O Ministério Público pretende acusá-l'O dos crimes de promoção de ajuntamento em Mt 15, 29-39, incentivo à violência em Jo 8, 7 e subtracção e ocultação de cadáver em Lc 24, 1-3.
domingo, 20 de abril de 2025
A capital do stand up
Fafe é de rir. Sempre foi. Já no meu tempo era de rir, ríamo-nos como perdidos, por tudo e por nada, mas agora ainda é mais. Claro que antigamente éramos uns amadores, caseirinhos, artesanais, riamo-nos uns dos outros, uns com os outros, às vezes uns contra os outros, tínhamos riso que chegasse, não mandávamos vir de fora. Éramos, em questão de riso, auto-suficientes.
Mas lá diz o povo: não há dinheiro, não há palhaço. E então o riso hoje em dia é um negócio, uma indústria, e eu acho muito bem. Chama-se stand up. A catedral do stand up nacional é o Teatro-Cinema de Fafe. Não há mês na programação do Teatro-Cinema de Fafe que não apresente pelo menos dois ou três cómicos, peço desculpa por chamá-los assim em português antigo, nem sei se haverá cómicos que cheguem para o ano inteiro, mas assinalo que alguns dos cómicos são locais, rapazes da terra, e essa é a parte melhor.
Portanto, Fafe é só rir, só rir, só rir. Porreiro, porque rir faz bem à saúde, faz bem ao fígado, faz bem à pele, faz bem ao coração, faz bem à pituitária, faz bem à próstata, faz bem à alma, faz bem na gravidez, rir é o melhor remédio, isso e muitos mais lugares-comuns, se eu os procurasse, mas não estou para aí virado. Ainda bem que Fafe ri.
Agora. O humorista brasileiro Juca Chaves costumava contar mais ou menos assim, pondo as palavras iniciais na boca do guia do jardim zoológico: "E aqui temos a hiena. A hiena, que é um animal que ri muito. Alimenta-se das fezes dos outros animais e tem relações sexuais com a sua fêmea apenas uma vez por ano". "Mas, se come merda e só fode uma vez por ano, ri de quê?", pergunta o visitante.
Mas lá diz o povo: não há dinheiro, não há palhaço. E então o riso hoje em dia é um negócio, uma indústria, e eu acho muito bem. Chama-se stand up. A catedral do stand up nacional é o Teatro-Cinema de Fafe. Não há mês na programação do Teatro-Cinema de Fafe que não apresente pelo menos dois ou três cómicos, peço desculpa por chamá-los assim em português antigo, nem sei se haverá cómicos que cheguem para o ano inteiro, mas assinalo que alguns dos cómicos são locais, rapazes da terra, e essa é a parte melhor.
Portanto, Fafe é só rir, só rir, só rir. Porreiro, porque rir faz bem à saúde, faz bem ao fígado, faz bem à pele, faz bem ao coração, faz bem à pituitária, faz bem à próstata, faz bem à alma, faz bem na gravidez, rir é o melhor remédio, isso e muitos mais lugares-comuns, se eu os procurasse, mas não estou para aí virado. Ainda bem que Fafe ri.
Agora. O humorista brasileiro Juca Chaves costumava contar mais ou menos assim, pondo as palavras iniciais na boca do guia do jardim zoológico: "E aqui temos a hiena. A hiena, que é um animal que ri muito. Alimenta-se das fezes dos outros animais e tem relações sexuais com a sua fêmea apenas uma vez por ano". "Mas, se come merda e só fode uma vez por ano, ri de quê?", pergunta o visitante.
P.S. - Publicado originalmente no meu blogue Tarrenego!
sábado, 19 de abril de 2025
Bombeiros de Fafe, 135 anos
Foto Hernâni Von Doellinger |
Os Bombeiros de Fafe fazem hoje 135 anos. As cerimónias do aniversário estão marcadas para 27 de Abril, domingo, de amanhã a oito dias. Era aquilo a que antigamente se chamava a Festa da Bomba, que eu recordo aqui.
Mistérios de Fafe
Como já aqui anunciei, desde o início do ano que tenho em funcionamento um novo blogue - Mistérios de Fafe, título que pedi emprestado à obra de Camilo Castelo Branco, quando se assinala o bicentenário do nascimento do escritor. É lá que estou a compilar, rever e "passar a limpo", com importantes acrescentos, versões optimizadas dos meus textos sobre Fafe, sobre vidas, pessoas, usos, falares e acontecimentos do meu tempo de Fafe e após, isto é, sobre o modo como o recordo ou quero recordar. Histórias e memórias pessoais, juvenis e profissionais, velhas amizades, cromos e admirações, cenas gagas ou desgraçadas, peripécias, é o que conto. Exclusivamente.
Se Fafe lhe interessa, se é habitual leitor do Fafismos, ou parou aqui por acaso, se gosta do que leu, então dê também uma saltada a Mistérios de Fafe, porque, estou em crer, poderá gostar ainda mais. Os títulos, alguns, parecerão os mesmos, mas os conteúdos apresentam-se substancialmente melhorados, pelo menos é o que eu pretendo. E os originais também já começam a sair.
sexta-feira, 18 de abril de 2025
Sei de sítios
Sou devoto dos prazeres da mesa. Gosto da liturgia de uma boa refeição, em família ou com amigos, gosto de comer, gosto do que é bom, e sei o que é bom. Também sei fazer. Sou um apaixonado pela boa e honesta cozinha portuguesa. Gosto da cozinha portuguesa tal qual ela é, na sua pureza original: tradicional, apurada, robusta, variada, generosa. Um bom prato, uma especialidade daquelas de trás da orelha, é capaz de me fazer andar duzentos ou trezentos quilómetros pelo prazer de o degustar. Sei de sítios como quem sabe de ninhos. Sei de sítios que não conto a ninguém, nem sob tortura, e desde que a tortura não seja a da fome.
Gostamos de dar as nossas voltas. Enquanto posso (e posso cada vez menos, como a maioria dos portugueses), vamos a esses sítios a que nos afeiçoámos e onde já há muito eu e a minha mulher somos tratados como amigos ou família, e com mimos especiais, sítios onde a nossa falta é sentida, porém tenho de admitir que é sobretudo a comida que lá me leva. Vou pelo gosto, é este o meu parâmetro de aferição e escolha fundamental.
Mas respeito quem se deixa seduzir por outras variáveis gastronómicas ou paragastronómicas, como, por exemplo, essa coisa tão vaga ou talvez não como é "o serviço" ou "o atendimento".
Um velho compincha doutras vidas mas também da santa trincadeira - nas imortais palavras de mestre Aquilino Ribeiro, colocadas na boca de um abade, evidentemente - contou-me que estava um destes dias numa bela jantarada, num grupo de gente boa e interessante, quando um dos convivas alvitrou um próximo repasto a realizar em determinado restaurante, que "tem um excelente serviço"...
O meu amigo, que é um brincalhão mas o outro não sabia, perguntou, com matreirice:
- Excelente serviço, pois... Mas o que é que se come? O que é que é lá muito bom? Uns bolinhos de bacalhau..., uns ossinhos da suã?...
- Quer-se dizer, não sei, tem muita coisa, nada assim de especial, mas o atendimento é óptimo... - colocou-se à defesa o homem da ideia.
- Está bem, mas eu não como serviço, o atendimento não me enche a barriga - insistiu o meu amigo e voltou a insistir, perante o cada vez maior embaraço de quem já se tinha arrependido de ter dado apenas uma sugestão e do resto do pessoal à volta da mesa.
Tudo acabou depois na risota, quando todos perceberam que o meu amigo afinal estava na tanga, e até tiveram sorte porque desta vez, tenho a certeza, ele não arrumou a questão com uma expressão que lhe é muito cara e que, neste contexto, seria algo do género:
- O serviço? Dá-me com o serviço nos
tomates aux gésiers de lapin. Eis a minha receita. Livre de gorduras e lave em duas águas as moelas de coelho. Uma da águas pode ser das Pedras. Meta as moelas de coelho numa marinada feita com sumo de pepino nacional, vinagre balsâmico, azeite de trufa, mel de rosmaninho, gengibre, flor de anis, flor de sal, flor-de-lis, flor-de-lótus e flor-de-ferrari. Deixe a repousar esta marinada dentro de uma embalagem para ovos de codorniz enquanto conta de zero a 120 e depois de 120 a zero sempre ao pé-coxinho. Os ovos de codorniz deviam ter sido previamente tirados da embalagem, agora desfaça-se ao menos das cascas. Lave muito bem os tomates, corte um chapeuzinho numa das extremidades e limpe-os de todas as sementes e nervuras internas. Introduza as moelas de coelho nos tomates, misturando-as com uns pozinhos de queijo com o nome mais arrevesado que encontrar no supermercado. Pegue nos tomates e coloque o chapeuzinho, que vai adornar, de lado, com um pequeno cartão a dizer PRESS. Leve os tomates ao forno durante 180 minutos a 15 graus. Excelente. Está pronto. Retire do forno e deite ao lixo. Descongele e aqueça bem a feijoada que sobrou do almoço de domingo, regale-se e seja feliz.
Mas respeito quem se deixa seduzir por outras variáveis gastronómicas ou paragastronómicas, como, por exemplo, essa coisa tão vaga ou talvez não como é "o serviço" ou "o atendimento".
Um velho compincha doutras vidas mas também da santa trincadeira - nas imortais palavras de mestre Aquilino Ribeiro, colocadas na boca de um abade, evidentemente - contou-me que estava um destes dias numa bela jantarada, num grupo de gente boa e interessante, quando um dos convivas alvitrou um próximo repasto a realizar em determinado restaurante, que "tem um excelente serviço"...
O meu amigo, que é um brincalhão mas o outro não sabia, perguntou, com matreirice:
- Excelente serviço, pois... Mas o que é que se come? O que é que é lá muito bom? Uns bolinhos de bacalhau..., uns ossinhos da suã?...
- Quer-se dizer, não sei, tem muita coisa, nada assim de especial, mas o atendimento é óptimo... - colocou-se à defesa o homem da ideia.
- Está bem, mas eu não como serviço, o atendimento não me enche a barriga - insistiu o meu amigo e voltou a insistir, perante o cada vez maior embaraço de quem já se tinha arrependido de ter dado apenas uma sugestão e do resto do pessoal à volta da mesa.
Tudo acabou depois na risota, quando todos perceberam que o meu amigo afinal estava na tanga, e até tiveram sorte porque desta vez, tenho a certeza, ele não arrumou a questão com uma expressão que lhe é muito cara e que, neste contexto, seria algo do género:
- O serviço? Dá-me com o serviço nos
tomates aux gésiers de lapin. Eis a minha receita. Livre de gorduras e lave em duas águas as moelas de coelho. Uma da águas pode ser das Pedras. Meta as moelas de coelho numa marinada feita com sumo de pepino nacional, vinagre balsâmico, azeite de trufa, mel de rosmaninho, gengibre, flor de anis, flor de sal, flor-de-lis, flor-de-lótus e flor-de-ferrari. Deixe a repousar esta marinada dentro de uma embalagem para ovos de codorniz enquanto conta de zero a 120 e depois de 120 a zero sempre ao pé-coxinho. Os ovos de codorniz deviam ter sido previamente tirados da embalagem, agora desfaça-se ao menos das cascas. Lave muito bem os tomates, corte um chapeuzinho numa das extremidades e limpe-os de todas as sementes e nervuras internas. Introduza as moelas de coelho nos tomates, misturando-as com uns pozinhos de queijo com o nome mais arrevesado que encontrar no supermercado. Pegue nos tomates e coloque o chapeuzinho, que vai adornar, de lado, com um pequeno cartão a dizer PRESS. Leve os tomates ao forno durante 180 minutos a 15 graus. Excelente. Está pronto. Retire do forno e deite ao lixo. Descongele e aqueça bem a feijoada que sobrou do almoço de domingo, regale-se e seja feliz.
P.S. - Hoje é Dia Internacional dos Monumentos e Sítios. E a verdade é só uma: eu sei de sítios que são verdadeiros monumentos.
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quarta-feira, 16 de abril de 2025
A esfera armilense
Carlota Joaquina, Teolinda Joaquina de Sousa Lança (aliás, Linda de Suza), Joaquina de Vedruna, Mariana Joaquina Apolónia da Costa Pereira de Vilhena Coutinho, Joaquina Lapinha, Joaquininha, a minha sogra, e a Quininha "Varandas", de Fafe. Sete Quinas, como dizia o outro.
A esfera armilar só pode ter sido inventada em Armil, talvez no tempo dos romanos, que é um tempo do mais antigo que pode haver. Mais antigo do que o tempo dos romanos, só o tempo dos dinossauros, que, no entanto, não eram um povo assim tão evoluído. Mas quanto à invenção da esfera, que não haja dúvidas: em Armil, como o próprio nome indica, armilar, para não dizer armilense, e nem é de admirar, tendo em conta que a História de Portugal e até de outros países mais ou menos estrangeiros passou-se bastante aqui em Fafe, basta ver as batalhas de São Mamede e de Castillon, para não irmos mais longe.
P.S. - Publicado originalmente, assim, no meu blogue Mistérios de Fafe.
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terça-feira, 15 de abril de 2025
Fafe lés-a-lés
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Desenho Nestinho |
Não sei se se lembram. O 15.º Portugal de Lés-a-Lés arrancou em Fafe no dia 8 de Junho de 2013. No road book da famosa maratona motard, a voltinha do prólogo foi assim pormenorizadamente desenhada pelo inimitável traço do Nestinho, isto é, do Ernesto Brochado, um verdadeiro apaixonado por Fafe, provavelmente a figura mais conhecida e respeitada do mototurismo nacional, dirigente do Moto Clube do Porto e da Federação de Motociclismo de Portugal, alma mater e organizador crónico do extraordinário Lés-a-Lés e de dezenas de outras iniciativas do género e de menor dimensão. O Portugal de Lés-a-Lés é o maior evento mototurístico da Europa. A edição daquele ano contou com 1.130 inscritos e 1.000 motos. Somando os elementos da organização, estiveram envolvidas, no total, 1.200 pessoas e 1.060 motos, que percorreram, em três dias, 1.050 quilómetros por estradas, estradinhas, aldeias, vales e montanhas, grutas, monumentos e centros históricos, ao encontro de um país por descobrir.
P.S. - Hoje é Dia Mundial do Desenhador. Ou Dia do Desenhista, se for no Brasil. E também é Dia Mundial da Arte. Em todo o caso, é Dia do Nestinho.
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Yabba dabba doo!!!...
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Desenho Nestinho |
Já não bastavam o ciclismo, o atletismo, o halterofilismo, o futebol, o tiro, a natação, o basquetebol, o basebol, o ténis, o futebol americano, o judo, a canoagem, o bilhar, a luta greco-romana, o voleibol, o remo, a vela, o kickboxing, o chinquilho, a bisca lambida e a ginástica. Agora também a Fórmula 1.
O escândalo vai rebentar um destes dias, mas estamos em condições de adiantar o que lamentavelmente se passa com a especialidade rainha do desporto automóvel: estão a ver o ciclismo, aquela coisa do motorzinho escondido dentro da bicicleta a que os entendidos dão o curioso nome de doping mecânico? Pois na Fórmula 1 é exactamente o mesmo, mas completamente diferente. Tanto quanto conseguimos apurar, os pilotos - os pilotos batoteiros, diga-se em abono da verdade - têm disfarçado por debaixo do tapete um pequeno alçapão que abrem sobretudo em recta, quando vão a mais de 340 km/hora mas não estão suficientemente próximos do carro da frente para poderem usar o DRS, doping legal de ultrapassagem. Abrem o alçapão, dizia, e chispam os pés no alcatrão como se estivessem a correr os 100 metros nos Jogos Olímpicos, chegando com este plus aos quase 390 km/hora, não sei se estão a ver como fazia o Fred dos Flintstones...
A Fórmula 1 anda realmente uma chatice, mas especialistas anónimos chamam a isto doping humano e não concordam. E o senhor Ecclestone, que já não risca mas palpita, está fulo. Diz que, com ele, no que respeita a doping, de viagra para cima, tolerância zero...
A Fórmula 1 anda realmente uma chatice, mas especialistas anónimos chamam a isto doping humano e não concordam. E o senhor Ecclestone, que já não risca mas palpita, está fulo. Diz que, com ele, no que respeita a doping, de viagra para cima, tolerância zero...
P.S. - Hoje é Dia Mundial do Desenhador. Ou Dia do Desenhista, se for no Brasil. E também é Dia Mundial da Arte. Em todo o caso, é Dia do Nestinho.
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- Vai chover... - Vai tu!
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Desenho Nestinho |
Agosto de 2020, em plena pandemia. Os primeiros pingos de chuva daquele Inverno a meio do Verão assustaram-me inusitadamente. Isto é: para além dos pés, molharam-me a máscara, e a verdade é que eu não sabia se as máscaras molhadas também funcionam ou se gripam, e depois ainda é preciso pô-las a secar e esperar que venha o sol e esperar que sequem. Ou não? Húmidas será melhor, como com os incêndios e com o fumo e com o sexo? E não haveria maneira de fazer máscaras à prova de água (ou waterproof, como se diz em português contemporâneo)? E no Carnaval como é que iriam ser as máscaras? Máscaras com máscaras? Estão a ver a minha angústia, o meu medo de morrer de nariz ao léu, e a máscara a pingar?...
Então o que é que eu fiz? Peguei e desatei a correr de volta para casa e nunca mais saí para ir à padaria. Durante mais de quinze dias comemos as sardinhas assadas e o bacalhau frito com bolachas Maria. Torradas. Que tínhamos açambarcado.
Por outro lado, liguei ao meu amigo Ernesto Brochado a pedir-lhe ajuda. O Nestinho costuma acudir-me satisfatoriamente em semelhantes aflições. Expliquei-lhe o meu problema, a minha ânsia, trocámos algumas ideias, e, como se vê ali em cima, saiu esplendorosa a solução que então demos a conhecer ao mundo, num rigoroso exclusivo. Entretanto, registámos a patente, tivemos milhões de encomendas, vendemos triliões de kits, é assim que se diz, enchemos a carteira e estou finalmente rico, para que é que hei-de mentir?
Então o que é que eu fiz? Peguei e desatei a correr de volta para casa e nunca mais saí para ir à padaria. Durante mais de quinze dias comemos as sardinhas assadas e o bacalhau frito com bolachas Maria. Torradas. Que tínhamos açambarcado.
Por outro lado, liguei ao meu amigo Ernesto Brochado a pedir-lhe ajuda. O Nestinho costuma acudir-me satisfatoriamente em semelhantes aflições. Expliquei-lhe o meu problema, a minha ânsia, trocámos algumas ideias, e, como se vê ali em cima, saiu esplendorosa a solução que então demos a conhecer ao mundo, num rigoroso exclusivo. Entretanto, registámos a patente, tivemos milhões de encomendas, vendemos triliões de kits, é assim que se diz, enchemos a carteira e estou finalmente rico, para que é que hei-de mentir?
P.S. - Hoje é Dia Mundial do Desenhador. Ou Dia do Desenhista, se for no Brasil. E também é Dia Mundial da Arte. Em todo o caso, é Dia do Nestinho.
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domingo, 13 de abril de 2025
Num beijo
- Num beijo! Num beijo! - gritava o homem, aflito. E realmente num bia.
P.S. - Hoje é Dia Internacional do Beijo.
O testamento
O notário vacilou. Mas leu. O defunto deixava beijos e abraços. Distribuídos pelos inúmeros herdeiros em fracções de zero a 145, consoante o julgado merecimento de cada qual. Dinheiro não havia. Tinha ido todo em putas e vinho verde. Isto é, em beijos e abraços.
P.S. - Hoje é Dia Internacional do Beijo.
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quinta-feira, 10 de abril de 2025
Em defesa dos nossos bandidos
É como fafense que me queixo. Fafe está muito mal se já são apanhados na nossa terra adeptos casuals, logo cinco de uma vez, ainda por cima do Benfica e com material pirotécnico que de certeza nem foi comprado no Rates.
Proxenetas, batoteiros, burlões, traficantes, ladrões, contrabandistas, candongueiros, pistoleiros, caceteiros, mixordeiros, caloteiros, carteiristas ou falsificadores - isso, sim, são dos nossos, gente de respeito, criminosos que nos orgulham e representam, fazem parte na nossa tradição e da nossa cultura, nunca nos deixaram ficar mal. Agora, casuals? Casuals em Fafe? Bem sei, no melhor pano cai a nódoa. Mas eu, palavra de honra, vi no jornal e fiquei cheio de vergonha...
quarta-feira, 9 de abril de 2025
A munha e o munho
Os colchões eram cheios com palha ou folhelho. E as almofadas enchiam-se com munha. Isso mesmo, munha, restos de palha moída depois de malhado ou debulhado o cereal, a que dicionários e vocabulários mais delicados talvez queiram chamar apenas moinha. Mas era munha que se dizia, pelo menos entre o povo rural naquela corda serrana de Fafe e Cabeceiras de Basto, e dizia-se muito bem. Isso. Dizia-se munha, em vez de moinha. E, tomai nota, dizia-se "munho", em vez de moinho. E essa é que essa!
(Publicado originalmente no meu blogue Mistérios de Fafe)
terça-feira, 8 de abril de 2025
Nostradamus, vostradais, elestradão
O cigano e o sapo
Havia aquele cigano, espírito de contradição, que só entrava em estabelecimentos que tivessem um sapo de louça a servir de porteiro.
Eu sou de Fafe. Com muito gosto! E a sina, em Fafe, era lida por umas senhoras ciganas às quartas-feiras em cima da Arcada, sempre com um olho na mão e outro na polícia. A alternativa mais académica e legal era a balança colocada à porta do "escritório" das camionetas do João Carlos Soares, mesmo em frente ao Café Avenida. Subia-se para a balança, metia-se a moeda e saía um cartãozinho com o peso mais ou menos e o horóscopo resumido. Quem não ficasse satisfeito, era só pesar-se outra vez e o futuro mudava imediatamente. O peso às vezes também...
Fafe era terra aberta aos ciganos. Os ciganos de Fafe eram fafenses sem discussão, fafenses iguais entre todos os fafenses, aprendi isso desde pequeno. Em Fafe, os ciganos eram uns de nós. Em nossa casa, no Santo e depois no Assento, onde vinham amiúde buscar roupa usada ou pedir conselho à minha mãe, os ciganos comiam à nossa mesa, connosco, e eram tratados pelo nome de cada qual, não por ciganos. Quer-se dizer, não eram ciganos, eram, repito, uns de nós - o que sempre me pareceu a coisa mais natural do mundo.
Não sei como é agora em Fafe com os ciganos, mas quero acreditar que está tudo nos conformes. Fafe - que, entre outros não menos honrosos galhardetes, é Zona Livre de Armas Nucleares, recebeu o selo de mérito RACCI, categoria prata, e foi reconhecida pela ONU, ó meu Deus pela ONU, como Cidade Resiliente 2030 - só pode continuar a ser uma terra aberta aos ciganos. Um destes dias, tenho a certeza, o Município ainda vai pedir o diploma.
Nostradamus, nome latino e artístico, padecia de epilepsia psíquica, de gota e de insuficiência cardíaca. Se a isto tudo somarmos a habilidade para a leitura dos astros e das cartas de tarô, facilmente perceberemos que o artista viveu e morreu antes do tempo. O nosso Miguel seria o convidado ideal, diário, bidiário, ou talvez até terciário, para todos os programas das manhãs e das tardes das televisões generalistas portuguesas de hoje em dia.
A mais eficaz profecia de Nostradamus acabou por ser, lamentavelmente, a do seu próprio falecimento. Em 1566, dia 1 de Julho, inesperada véspera do definitivo dia 2 de Julho, estava o profeta cada vez mais à rasca derivado ao dramático agravamento da gota e da artrite, chamou o seu secretário e, entre trovões e relâmpagos e talvez sarças ardentes de febre, disse-lhe o que já lhe dissera mais do que uma vez: de amanhã não passo. E finalmente acertou.
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domingo, 6 de abril de 2025
O fim do futebol
Já disse. Mais dia menos dia, de uma maneira ou de outra, as claques vão conseguir acabar com o futebol. Para mim, já acabaram. Há anos.
P.S. - Hoje é Dia Internacional do Desporto ao Serviço do Desenvolvimento e da Paz. Parabéns à prima...
sexta-feira, 4 de abril de 2025
O Rates vendia ratoeiras
A montanha pariu um rato. Que miséria, realmente. Se ainda ao menos parisse um elefante! Ou dois - que incomodam muito mais...
O Rates vendia ratoeiras para ratos. Também vendia armadilhas para pardais e toupeiras. E chumbos para espingardas de pressão. E fisgas. E vendia foguetes, rabichas, estalinhos, caretas de Carnaval, calçadeiras, fio do Norte, lixa, colchetes, gaiolas para grilos e furões, anzóis e sedielas, chapéus de palha, palha de aço fina e grossa, sandálias de plástico, socos, galochas, velas, DDT, solarine, vassouras, lousas e lápis de ardósia, coadores, funis, navalhas, agulhas para desentupir máquinas a petróleo, peidos-engarrafados, garrafões e pelo menos um exemplar de todas as bugigangas e quinquilharias alguma vez inventadas no mundo inteiro, com ou sem serventia, tudo aparentemente ao monte porém segundo uma ordem que ele lá sabia, mas eu, na minha ideia de miúdo, achava era um piadão àquilo de o Rates vender ratoeiras para ratos. Para além disso, o Rates vendia rolhas. E já sabem: as palavras sempre me interessaram muito, e essa mania tola, que eu tanto estimo, felizmente não me larga - o Rates roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia...
Rates era o proprietário mas também o sítio, lojinha de uma porta só, minúscula, escura, esconsa, tipo vão de escada. O dono servia à pinta, vestia uma bata de sarja cinzenta, barriguda como ele, e usava óculos na testa e manguitos negros. O Rates era uma verdadeira instituição fafense, ali à beira de outras duas não menos notáveis instituições fafenses, o Marinho e o Miranda das famosas pataniscas, memórias infelizmente perdidas, parece que esquecidas de propósito, por vergonha, numa praça nova e consta que muito concorrida derivado à Justiça de Fafe e às vezes aos Correios.
Mas vergonha de quê, ó gente da minha terra? Devíamos era ter orgulho do nosso passado tasqueiro e similar. Fafe daquele tempo era muito avançado, não penseis o contrário. Era até muito à frente, tomara Fafe de agora! Reparai que, com mais de cinquenta anos de avanço em relação à guerra de sexos e de géneros que aí vai e à disfunção gramatical entre masculinos e femininos e assim-assim que nos arrelia as meninges, nós já praticávamos a solução redentora e neutral hoje em dia advogada pelas mentes brilhantes do politicamente correcto. Nem ratos nem ratas. Rates é que era! Rates, e tínhamos pelos menos dois: o das ratoeiras propriamente dito e o da bola, que era outro espectáculo!...
(Versão revista e aumentada, publicada originalmente no meu blogue Mistérios de Fafe. Hoje é Dia Mundial do Rato e Dia Internacional da Ratazana Doméstica.)
quinta-feira, 3 de abril de 2025
Salgueiro Maia, por Sophia
Aquele que na hora da vitória
respeitou o vencido
Aquele que deu tudo e não pediu a paga
Aquele que na hora da ganância
Perdeu o apetite
Aquele que amou os outros e por isso
Não colaborou com a sua ignorância ou vício
Aquele que foi "Fiel à palavra dada à ideia tida"
como antes dele mas também por ele
Pessoa disse
Sophia de Mello Breyner Andresen
P.S. - Salgueiro Maia morreu no dia 3 de Abril de 1992. Aos 47 anos.
respeitou o vencido
Aquele que deu tudo e não pediu a paga
Aquele que na hora da ganância
Perdeu o apetite
Aquele que amou os outros e por isso
Não colaborou com a sua ignorância ou vício
Aquele que foi "Fiel à palavra dada à ideia tida"
como antes dele mas também por ele
Pessoa disse
Sophia de Mello Breyner Andresen
P.S. - Salgueiro Maia morreu no dia 3 de Abril de 1992. Aos 47 anos.
Canção do Salgueiro (Maia)
Esta recebi-a do Jaime Froufe Andrade. Foi num Abril, no tempo dela, e vale a pena lembrá-la hoje. E amanhã. E sempre! No blogue Campainha Eléctrica, li que "o tema "Canção do Salgueiro" tem música e letra de Carlos Tê, que também assegura a produção ao lado de Mário Barreiros e Pedro Vidal. Barreiros é responsável pela mistura e masterização, pela bateria, guitarra eléctrica e teclados, cabendo a Pedro Vidal, director musical de Jorge Palma e parceiro dos Blind Zero e Wraygunn, outra guitarra acústica e eléctrica e também o banjo. Na canção participam ainda Rui David na voz, Patrícia Lestre na voz e violino, Paulo Gravato, saxofonista de Pedro Abrunhosa ou dos Azeitonas, e Rui Pedro Silva no trompete. A voz principal é de Carlos Monteiro." A canção pode ser ouvida aqui. E a letra do Tê diz assim:
Canto agora ao salgueiro
Que um dia abriu os olhos
E viu reinar o vampiro
Sobre a lezíria cansada
De tanto choro e suspiro
E gente tão aviltada
Saiu em fúria da margem
E foi bradar ao terreiro
No seu cavalo de ferro
Pediu contas ao vampiro
E ali lhe fez o enterro
Sem disparar um só tiro
Ai ó meu velho salgueiro
Dá-me a tua sombra amiga
Se há bom tronco lusitano
És da cepa mais antiga
Ai ó meu velho salgueiro
Estás aí tão mudo e quedo
És filho dum ferroviário
Que fez um manguito ao medo
E depois voltou à margem
E ficou a salgueirar
Junto ao Tejo em Santarém
Onde as Tágides vão dançar
Quando a lua harpeja as águas
Certas noites de luar
Canta de peito o pardal
No poleiro da capital
Cantiga logo esquecida
Mas tu estás de pedra e cal
Mesmo em terra batida
Alto é teu pedestal
Ai ó meu velho salgueiro
Dá-me a tua sombra amiga
Se há bom tronco lusitano
És da cepa mais antiga
Ai ó meu velho salgueiro
Estás aí tão mudo e quedo
És filho dum ferroviário
Que fez um manguito ao medo
P.S. - Salgueiro Maia morreu no dia 3 de Abril de 1992. Aos 47 anos.
Poema a Salgueiro Maia, de Manuel Alegre
Ele ia de Santarém
a caminho de Lisboa
não sabia se ganhava
não sabia se perdia.
Ele ia de Santarém
para jogar a sua sorte
a caminho de Lisboa
em marcha de vida ou morte.
E dentro dele uma voz
todo o tempo lhe dizia:
Levar a carta a Garcia.
Ele ia de Santarém
todo de negro vestido
como um cavaleiro antigo
em cima do tanque verde
com o seu elmo e sua lança
ei-lo que avança e avança
ninguém o pode deter.
Ele ia de Santarém
para vencer ou morrer.
E em toda a estrada o ruído
da marcha do Capitão.
Eram lagartas rangendo
e mil cavalos correndo
contra o tempo sem sentido.
E aquela voz que dizia:
Levar a carta a Garcia.
Era um cavaleiro andante
no peito do Capitão.
E o pulsar do coração
de quem já tomou partido.
Ele ia de Santarém
todo de negro vestido.
Manuel Alegre
P.S. - Salgueiro Maia morreu no dia 3 de Abril de 1992. Aos 47 anos.
a caminho de Lisboa
não sabia se ganhava
não sabia se perdia.
Ele ia de Santarém
para jogar a sua sorte
a caminho de Lisboa
em marcha de vida ou morte.
E dentro dele uma voz
todo o tempo lhe dizia:
Levar a carta a Garcia.
Ele ia de Santarém
todo de negro vestido
como um cavaleiro antigo
em cima do tanque verde
com o seu elmo e sua lança
ei-lo que avança e avança
ninguém o pode deter.
Ele ia de Santarém
para vencer ou morrer.
E em toda a estrada o ruído
da marcha do Capitão.
Eram lagartas rangendo
e mil cavalos correndo
contra o tempo sem sentido.
E aquela voz que dizia:
Levar a carta a Garcia.
Era um cavaleiro andante
no peito do Capitão.
E o pulsar do coração
de quem já tomou partido.
Ele ia de Santarém
todo de negro vestido.
Manuel Alegre
P.S. - Salgueiro Maia morreu no dia 3 de Abril de 1992. Aos 47 anos.
Canário e David Carreira nas Feiras Francas
Augusto Canário e David Carreira são os destaques musicais das Feiras Francas de Fafe, que decorrem de 15 a 18 de Maio. Mais informação, aqui.
quarta-feira, 2 de abril de 2025
A Esquiça com direito a efeméride
Efeméride. Quer dizer: acontecimento ou facto importante que ocorreu em determinada data. Ou por outra: celebração de um acontecimento ou de uma data importante. A agência de notícias Lusa, a maior em língua portuguesa, disponibiliza diariamente no seu serviço uma lista dos "principais acontecimentos registados", desde sempre, no dia em questão, em Portugal e no mundo inteiro. Acontecimentos tipo a descoberta da pólvora, a invenção da roda, o início da I Guerra Mundial, a chegada do homem à Lua, o 25 de Abril ou a queda do Muro de Berlim. Os jornais replicam mais ou menos esta lista, consoante o espaço disponível e a respectiva "orientação editorial", há quem lhe chama assim.
Ora bem. Andava eu, ontem, à procura das "Efemérides Lusa" para hoje, 2 de Abril, quando, por engano na busca, coisas da idade, dou de caras, no jornal Sol, com as "Efemérides de 2 de Março" de 2021. E para esse dia, no ano de 2017, o Sol aponta, resplandecente: "A taberna do pai de Jorge Ferreira, árbitro que tinha apitado o Estoril-Benfica, foi vandalizada há 4 anos, durante a noite."
Caramba! Fafe nas "Efemérides"! Eu não fazia ideia da importância para a Humanidade da ocorrência em questão, mas talvez mereça. Merece certamente. Não, de caras, no que diz respeito à façanha pífia da claque antiportista Super Dragões, mas, por outro lado, quanto à Esquiça instituição, a taberna do pai do filho, ela, sim, um acontecimento digno de registo, sobretudo derivado às tripinhas e à vitela, que já lá não vou há que tempos, caseiras, honestas e acessíveis, merecedoras realmente de figurarem nos anais da História. E, até à próxima, daqui vai um abraço para o Armindo!
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terça-feira, 1 de abril de 2025
Sérgio Godinho e Capicua no 25 de Abril
Capicua e Sérgio Godinho marcam presença, este ano, nas comemorações do 25 de Abril em Fafe, com concertos nos dias 26 e 27, respectivamente. O programa completo, que começa a 22, pode ser consultado aqui.
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