terça-feira, 13 de agosto de 2024

Nostradamus, vostradais, elestradão

Nostradamus, estão a ver? Se não estão a ver, pensem em Orson Welles e chegam lá. Ah!, também não estão a ver Orson Welles. O grande realizador e actor americano, a voz potente, a presença imensa, o "Citizen Kane", o pregador de partidas que, em Outubro de 1938, transmitiu a versão radiofónica da "A Guerra dos Mundos", de H. G. Welles, simulando uma reportagem em directo sobre a invasão da Terra por marcianos, e os americanos, que acreditam em tudo, até no Trump, caíram que nem patos e o medo paralisou pelo menos três cidades e o pânico tomou conta de várias localidades próximas de Nova Jersey, onde o programa era feito e onde, faz de conta, o ataque começara. Ainda nada? Também não interessa, eles são realmente muito antigos. Michel de Nostredame, aliás, foi um boticário e médico francês da Renascença que praticava muito bem a alquimia e rondava satisfatoriamente o ocultismo e a astrologia. Escreveu um famoso livro em versos intitulado "As Profecias", o qual, como o próprio nome indica, conteria previsões codificadas acerca do futuro, e tão codificadas seriam que só alguns muito poucos é que continuam a acreditar naquelas cousas sem sentido. Ou, a posteriori, com o sentido que se lhes quiser encaixar.
Eu sou de Fafe. Com muito gosto! E a sina, em Fafe, era lida por umas senhoras ciganas às quartas-feiras em cima da Arcada, sempre com um olho na mão e outro na polícia. A alternativa mais académica e legal era a balança colocada à porta do "escritório" das camionetas do João Carlos Soares, mesmo em frente ao Café Avenida. Subia-se para a balança, metia-se a moeda e saía um cartãozinho com o peso mais ou menos e o horóscopo resumido. Quem não ficasse satisfeito, era só pesar-se outra vez e o futuro mudava imediatamente. O peso às vezes também...
Nostradamus, nome latino e artístico, padecia de epilepsia psíquica, de gota e de insuficiência cardíaca. Se a isto tudo somarmos a habilidade para a leitura dos astros e das cartas de tarô, facilmente perceberemos que o artista viveu e morreu antes do tempo. O nosso Miguel seria o convidado ideal, diário, bidiário, ou talvez até terciário, para todos os programas das manhãs e das tardes das televisões generalistas portuguesas de hoje em dia.
A mais eficaz profecia de Nostradamus acabou por ser, lamentavelmente, a do seu próprio falecimento. Em 1566, dia 1 de Julho, inesperada véspera do definitivo dia 2 de Julho, estava o profeta cada vez mais à rasca derivado ao dramático agravamento da gota e da artrite, chamou o seu secretário e, entre trovões e relâmpagos e talvez sarças ardentes de febre, disse-lhe o que já lhe dissera mais do que uma vez: de amanhã não passo. E finalmente acertou.

(Agora. Aqui que ninguém nos ouve: Renascença não quer dizer Rádio Renascença, é outra coisa. Registe-se, por outro lado, que o escritor britânico H. G. Welles, autor de "A Guerra dos Mundos" e a quem chamaram "pai da ficção científica", morreu no dia 13 de Agosto de 1946, faz hoje anos. E pronto, tanto relambório para chegar a isto, a este claustrofóbico entre parênteses. Se fosse eu, também não lia!)

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