segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Com os ursos

Mandaram-no jogar ao pau com os ursos e ele foi. Nunca mais se soube dele...

P.S. - Hoje é Dia Internacional do Urso Polar.

Ó pra elas, todas gaiteiras

Foto Hernâni Von Doellinger
Enquanto Maria ia com as outras, bem ia. O pior foi quando foi com o outro, só para provar. Resultou grávida de seis meses e agora as outras já não a deixam ir.

domingo, 26 de fevereiro de 2023

O sexo, essa invenção dos tempos modernos

"Isto agora é só sexo! Que vergonha! Que nojo!", resmungou a velha senhora, sem mais nem menos, ou como quem dá os bons-dias. Era realmente uma senhora vetusta, recatadamente vestida e calçada, mas com aprumo, assim a modos de irmã da caridade à paisana. O cabelo curto, antigo, pretíssimo como só ao alcance do Restaurador Olex, as mãos cansadas e a voz decidida. "Isto agora é só sexo! Que vergonha! Que nojo!", foi o que ela disse e redisse, num veemente protesto saído do nada, acrescentando em tom menor, enquanto tentava abrir o porta-moedas: - Quanto é?...
Estávamos na padaria, com efeito. Ao balcão. Para além do desabafo, bem ensaiado, a velha senhora também queria pagar os dois bijus que já guardara na saca de pano. Atrás, na fila para a máquina registadora, uma senhora um bocado menos idosa e aparentemente mais arejada deu ideia de não ter gostado muito daquilo do "Isto agora" e retrucou, numa censura mansa:
- É por isso que no tempo da senhora as raparigas solteiras não apareciam grávidas sem se saber de quem...
- Mas eu nunca! Sabe quantos anos tenho? No-ven-ta! Noventa anos, e eu nunca!... - explodiu teatralmente a velha senhora, que encontrara enfim o que de facto viera buscar: uma discussão. Para isso saíra de casa.
- A senhora não, mas outras sim... - devolveu-lhe a senhora um bocado menos idosa.
- Não se compara! - atirou a velha senhora. - Agora não querem outra coisa, ainda ontem, ali na paragem do autocarro, um rapaz e uma rapariga naquilo, sempre naquilo, a fazerem sexo, pareciam cães, e a televisão é só sexo, sexo, sexo, de manhã à noite e pela noite dentro, sexo, sexo, sexo, que eu bem vejo... - e de repente ia-lhe faltando o ar, coitadinha, ou então o chilique também fazia parte.
Acudiu-lhe a senhora um bocado menos idosa:
- Olhe, minha senhora, faça como eu, não veja televisão. Na verdade, algumas notícias metem mesmo nojo. E com isto da pedofilia, dos abusos dos padres, dos bispos que esconderam tudo, até já nem sei se meta a minha netinha na catequese...
- Meta, meta! - mandou a velha senhora, voz da vida e da experiência. - Isso não faz mal nenhum... - explicou. -  Isso dos padres é uma coisa muito antiga. Veja bem que era eu pequena, ao tempo que isso vai, e o nosso padre já andava metido com a minha catequista. Com ela e com outras...

Têm, têm...

Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 25 de fevereiro de 2023

Lourenço da Arrábida

O problema do Lourenço da Arrábida era o equívoco. Ou o gozo. O inocente equívoco ou o gozo premeditado, ele ainda não chegara à conclusão. O certo é que as pessoas estavam sempre a perguntar-lhe pelo Omar Sharif, pelo Anthony Quinn, pelo Alec Guinness, ou se realmente ele viu Judas a cagar no deserto, como se dizia em Fafe no tempo do Cinema. Chamavam-no à televisão para comentar a situação no Médio Oriente, mas admiravam-se por ele aparecer em pessoa e consequentemente ainda estar vivo, uma vez que para os devidos efeitos morrera num acidente de mota. Perguntavam-lhe também, se, por falar nisso, a Guinness deve ser bebida fresca ou à temperatura ambiente como alguns e determinados têm a mania. Enfim, já se sabe como são as pessoas.
O bom do Lourenço primeiro ia aos arames, afinava. Cego pelos nervos, num repente rapava da adaga e desatava a gritar "mouros!" e a matar a torto e a direito felizmente só da boca para fora. Quantas tragédias foram assim prometidas e adiadas, para enorme desconsolo da CMTV e assinalável prejuízo da indústria funerária da região. Mas com o tempo o nosso herói assentou, ganhou calo no cu, como se diz psicologicamente falando. Agora se o azucrinam com as tretas do costume, ele encolhe os ombros largos de desdém, pigarreia uma e outra vez, sacode duas valentes chibatadas no camelo de estimação e desaparece dali a galope, ondulando o manto branco por entre hordas descontroladas de turistas japoneses e outros infiéis que descem e sobem aos encontrões a completamente escangalhada Baixa portuense.

Quando apontar é lindo

Foto Hernâni Von Doellinger

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Daniel Bastos apresenta livro no Luxemburgo


Daniel Bastos vai ao Luxemburgo apresentar o seu mais recente livro, "Crónicas - Comunidades, Emigração e Lusofonia". Será no próximo sábado, dia 25 de Fevereiro, pelas 13 horas, na Sala 2B da LuxExpo, em Kirchberg, no âmbito do Festival das Migrações.
A apresentação do livro integra o programa da conferência-debate sobre a emigração lusófona promovida pelo Centro de Documentação sobre Migrações Humanas (CDMH), uma iniciativa que contará com a presença de Maria Beatriz Rocha-Trindade, especialistas do fenómeno das migrações, e que será moderada pela socióloga Heidi Martins, investigadora do CDMH.
A obra, agora em segunda edição, revista e aumentada, reúne os textos que o autor tem publicado nos últimos tempos em meios de comunicação dirigidos às comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Sete vidas

Cada vez que morria, o gato sabia que era a brincar. Chegou à sétima e fodeu-se!

E as gatas?

Hoje é Dia do Gato. Mas Dia do Gato é todos os dias, é quando o gato quiser. Parabéns, Pantufa! Parabéns, Félix! Parabéns, Tareco! Parabéns, Zé Albino! Quanto às gatas, aguardam uma vigorosa tomada de posição por parte do Bloco de Esquerda, do PAN e das Capazes.

Pardos mas nem tanto

De noite todos os gatos são pardos. Até que alguém acende a luz.

Gato-sapato

Faziam dele gato-sapato. Quarenta e dois, biqueira larga.

Aqui há gato

"Aqui há gato", avisava o papel colado na janela escangalhada da velha casa de pasto. Isto às segundas. Às quartas eram iscas e às sextas são caracóis.

Serviço de esplanada

Foto Hernâni Von Doellinger

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Um santo Carnaval

Enviou comovida mensagem à sua lista completa de contactos. "Um santo Carnaval, para si e toda a família, associados e simpatizantes", fez votos. E, recolhendo-se, agradeceu a Deus por Deus o ter feito tão boa pessoa.

Quem vê caretas...

Foto Hernâni Von Doellinger

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Quem não sabe é como quem não lê

Fui tratar da renovação do cartão do cidadão e, é preciso ter azar, correu tudo muito bem. Despacharam-me em menos de um quarto de hora. Eu contava passar a tarde inteira refastelado numa das cadeiras partidas das instalações de Alferes Malheiro, embora tivesse marcado para as catorze um encontro com o Lopes e com as bifanas da Conga, mas ainda não era meio-dia e já me despejava no meio da rua sem saber o que fazer com os seguintes cento e vinte e tal minutos da minha vida. É isto, desabituei-me de ir à Baixa do Porto...
Ameaçava ameaçar chover. Vi uma daquelas livrarias de campanha montada mesmo à frente do meu nariz, no largo da estação de metro da Trindade, e entrei. A mania dos livros apanhei-a em Fafe, mal aprendi a ler, na biblioteca que na altura se chamava da Gulbenkian e lembro-me muito bem da carrinha cinzenta em chapa canelada, a biblioteca itinerante, que frequentei uma ou duas vezes, mas o meu sítio já era edifício, creio que um primeiro-andar entre a loja do Damião Monteiro e a esquina que dava para a Polícia e em cima ou por baixo da Legião Portuguesa, o que certamente justificaria que fosse ali mesmo em frente a meta de partida e de chegada da corrida de jericos dos 16 de Maio. Entrei, dizia, tornando ao Porto e à livraria bimby. Lá dentro, o refugo do costume ao habitual preço da uva mijona, nada de razoavelmente interessante, mas às vezes nunca se sabe...
Uma simpática funcionária, diria entre os trinta e muitos e os quarenta e poucos, abeirou-se-me e perguntou, de sorriso engatilhado:

- Posso ajudá-lo?
- Ando só a ver, muito obrigado. Mas, já agora, diga-me, por favor: tem alguma coisa do Montalbán?
- De quem?
- Do Vázquez Montalbán, histórias do Pepe Carvalho...
- Quem?
- Pepe Carvalho.
- Saiu este ano?
- Não. No geral, são livros já com uns anitos...
- E o género?
- Policial, talvez. Mas dizer policial é dizer muito pouco. Policial literário e gastronómico, se for possível, e de repente não sei dizer melhor...
- Pepe Carvalho? Esse autor acho que não temos.
- Desculpe. O autor é Manuel Vázquez Montalbán. O herói dos livros é que se chama Pepe Carvalho, detective privado de origem galega e estabelecido em Barcelona, uma espécie de Sherlock Holmes espanhol, mas mais verosímil e versão séculos vinte-vinte e um.
- Então é conhecido em Espanha...
- Quem? Eu?
- Não. Esse tal Pepe....
- Acredito que sim, e em Portugal também. E no resto do mundo, se calhar. Não é que seja abonatório por aí além, mas até já fizeram filmes de um ou dois livros do Montalbán, quer ver?

Resolvi ser eu a ajudar a solícita porém desinformada funcionária. Ando exactamente a reler a Série Pepe Carvalho que as Edições ASA em boa hora começaram e em má hora interromperam, após a eucaliptal intervenção da Leya. Fui à mochila e saquei o "Assassinato no Comité Central", que por acaso acabei ainda na espera desse princípio de tarde. Expliquei à senhora:

- Vê?
- Ah! Montalbán é que é o autor. Eu estava a perceber que Pepe Carvalho é que...
- Esta era uma belíssima colecção da ASA que infelizmente...
- Ah! Livros da ASA não tenho.
- Mas Montalbán já foi publicado em português por outras editoras, pelo menos pela falecida Regra do Jogo e pela Caminho, se não me engano, há até uns livrinhos de bolso, tenho um, "As Termas"...
- "Assassinato no Comité Central", esse aí...
- Olhe, foi um dos que deram filme. Neste, quem faz de Pepe Carvalho no cinema é, veja lá, o Patxi Andión...
- Quem?
- O Patxi Andión, o famoso cantor espanhol, o cantautor, o poeta, o escritor...
- Não estou a ver...
- Então, o Patxi Andión, ainda outro dia esteve aqui na Casa da Música...
- Não, não conheço. E até gosto de música espanhola, mas não da música pimba...
- Minha senhora, o Patxi Andión...

Ia gastar mais um pouco do meu atamancado latim para explicar à gentil funcionária quem é Patxi Andión, que vem a Portugal desde o tempo do Zip Zip, contar-lhe da amizade antiga com Ary dos Santos e com Zeca Afonso, mas desisti. Preferi ser agradável e mentir com quantos dentes tenho, e são todos menos os sisos inferiores. Disse:
- ... Pois, evidentemente a menina é nova demais para conhecer o Patxi, o Pepe e o Montalbán. A menina é de uma geração tipo mais... tipo.
- Ai não se deixe enganar pela aparência. Estou é muito bem conservada... - devolveu-me a amável funcionária, enfim sorrindo, e corando de satisfação e vaidade.

Ficou cientificamente provado: a ignorância é óptima para a pele, muito melhor do que baba de caracol. A ignorância é o verdadeiro elixir da juventude e quem não sabe é como quem não lê. Por outro lado, as bifanas estavam di-vi-nais, como, em apenas três palavras, diria o meu irmão Nelo. E o Lopes, que me dá livros e parece que é bruxo, trouxe-me "O Seminarista", de Rubem Fonseca. "O Seminarista"! Só tenho quem me goze...

P.S. - Publicado originalmente no dia 10 de Abril de 2015 no Tarrenego!, o meu blogue generalista. Entretanto Patxi Andión morreu no dia 18 de Dezembro de 2019.

Os livros, nossos amigos

Gosto de afagar os livros que leio. Aliso-os. Cheiro-os. Protejo-os. Guardo-os com mil cuidados. E deixei de emprestá-los!

P.S. - Hoje também é Dia Internacional da Doação de Livros.

Valentine's day

Foto Tarrenego!
Os meus dias de Valentim eram porreiros. Sempre. Recebesse ele quem recebesse, Presidente da República, primeiro-ministro, ministros disto ou daquilo, fossem quiçá o Papa, Cicciolina ou até a rainha de Inglaterra, ele, Valentim Loureiro, em funções de presidente da Câmara de Gondomar ou da Metro do Porto, ultrapassava tudo e todos, tomava conta do protocolo e das operações, comandava as tropas e... armava barraca. Sempre. Era um regalo para mim e para o meu jornal de então, o 24horas, que me mandava atrás do Major à procura das partes gagas. Eu era o enviado-especial, o especialista em Valentim Loureiro, e o homem nunca me deixou ficar mal. Ele era, como eu então lhe chamava, o meu cromo da sorte. Trabalhávamos a meias. O meu papel consistia em transformar depois a notícia em anedota, e creio que também não me saía nada mal.
Desconfio que isto não me elogia, mas Valentim Loureiro gostava de mim. E ria-se do que eu escrevia. Isto é, ria-se dele próprio, o que só lhe enaltece a inteligência. Não éramos amigos, mas desaguisámo-nos apenas uma vez, se bem me lembro, em privado, e por causa da Fábrica do Ferro...
Quando os putos de Lisboa que rebentaram com o 24horas resolveram primeiro fechar a redacção do Porto, a ver se salvavam as suas próprias pessoas, Valentim Loureiro disse-me que fosse ter com ele, que me arranjava emprego. Agradeci, naturalmente, mas nunca mais lhe apareci. Prezo inegociavelmente a minha liberdade e a minha independência pessoal e profissional, ou vice-versa, mas registei. E continuo grato. Foi um dos poucos.
Valentim Loureiro, o nosso Valentim, não era santo nenhum, antes pelo contrário. Tinha um feitio filho da puta, e espero que ainda tenha, que é bom sinal. Teimoso, virulento, desbocado, vendedor de banha de cobra e de retroescavadoras com luzinhas, de pares de sapatos só direitos ou só esquerdos, oferecedor de varinhas mágicas e outros electrodomésticos, desinformado, voluntarista e amiúde irresponsável e talvez trafulha, o Major trocava sistematicamente as voltas aos seus desgraçados e bem pagos assessores, que não conseguiam ter mão nele e escondiam-se pelos cantos (já que não conseguiam esconder o patrão), chorando baba e ranho e arrepelando os cabelos de incompetência. Estes, sim, é que tinham paciência de santo, mais ordenado chorudo e garantido no fim do mês, fora as mordomias e as abébias, mais reforma de político instantânea e garantida. Coitados. 
Dirigente desportivo carismático e afável trampolineiro, visionário construtor do Boavista moderno, Valentim presidiu aos destinos do clube do Bessa durante 19 anos. Oficialmente. Não oficialmente, foram, são, muitos mais. O treinador Manuel José, que orientou os axadrezados durante a primeira metade da década de noventa do século passado, teve talvez a melhor tirada acerca de Valentim Loureiro. Disse um dia o míster, na televisão, resumindo tudo: - Às vezes, aturar o Major é pior do que ir a pé a Fátima...
E decerto era, mas eu nunca fui a Fátima a pé, e na única vez que tentei ir a São Bentinho, sem promessa ou compromisso, desisti parece-me que por alturas das Cerdeirinhas, para grande desgosto do saudoso Agostinho Cachada, que era o nosso guia. Mas Valentim Loureiro, o cromo, faz falta. Faz-me falta. Que isto Portugal está uma tristeza, um desconsolo. Uma perigosa pasmaceira...

E é a força sem fim de duas bocas

Foto Hernâni Von Doellinger

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

O destino está no nome

Lúcia de Jesus dos Santos morreu no dia 13 de Fevereiro de 2005. Tinha 97 anos. Nascida com um nome assim, tão predestinado, a Irmã Lúcia viu Nossa Senhora em cima de uma azinheira, guardou o segredo de Fátima, entalou Salazar e a Igreja, escreveu livros de memórias, encontrou-se com papas e foi beatificada. É praticamente santa. Eu nasci Américo Hernâni Von Doellinger e, espero que me perdoem, com um nome assim escaganifobético, não tive, não tenho hipótese...

Efemérides

No dia 29 de Dezembro de 1891 o empresário americano Thomas Edison patenteou o rádio. No dia 17 de Março de 1987 o tractorista português Anacleto Felgueiras fracturou o cúbito.

Namore e, olhe, mate-se!...

Antena 1, a nossa rádio pública, pouco depois das 21h15 de um Dia de São Valentim, que será outra vez amanhã. O locutor, voz excelentíssima, põe ao lume os chouriços do costume, prepara a entrada de Sérgio Godinho mas escorrega na burilada bucha de ligação. "Se vai na estrada, conduza com cuidado. Olhe, aproveite para namorar!..." - diz ele. E realmente. Há lá melhor maneira de morrer num acidente de viação...

O rádio

O rádio, diz a Wikipédia, é um elemento químico de símbolo Ra, número atómico 88 e massa atómica 226, pertencendo à família dos metais alcalino-terrosos, grupo 2 ou IIA da classificação periódica dos elementos. À temperatura ambiente, o rádio encontra-se no estado sólido. É um metal altamente radioactivo encontrado em minerais de urânio como na pechblenda. As suas aplicações são derivadas do seu carácter radioactivo. Foi usado em medicina e depois substituído por radioisótopos mais eficientes. Foi descoberto por Marie Curie e seu marido Pierre, em 1898, na pechblenda/uranita. O rádio era um sucesso absoluto, até que apareceu a televisão, isto ainda antes da internet e das chamadas redes sociais. Mas cá se vai safando....

Para que os americanos saibam

Foto Hernâni Von Doellinger
Eis a prova. E está cá em casa, guardada no meu arquivo de memórias imperdíveis. Nunca a conheci com vinho, graças a Deus, mas já esteve cheia de aguardente. Aguardente explosiva, que uso apenas em cozinhados e está mesmo no finzinho. Foram-me dadas, a garrafa e a aguardente, pelo meu querido tio Zé de Basto, o meu tio Al Pacino que já aqui contei. O meu tio, para além de outros mais ou menos incontáveis predicados, tinha um extraordinário alambique clandestino que era a alegria daquelas terras ali à volta e foi mais do que uma vez fechado pelas autoridades. Acho que vale a pena revisitá-lo.

domingo, 12 de fevereiro de 2023

O casal Carter e o Casal Garcia

O simpático casal Carter, Jimmy e Rosalynn, vai a caminho de comemorar 77 anos de casamento, tantos quantos brevemente contarão de vida o pândego Donald Trump e George W. Bush, o inventor das armas químicas do Iraque. E é notícia. Jimmy Carter e Rosalynn Smith Carter têm o matrimónio mais duradouro de toda a história presidencial dos Estados Unidos. E os americanos estão todos contentes, porque acham sempre que são os maiores. Os americanos nunca foram a Fafe, ao Peludo, no tempo do Sr. Avelino "Hoss". Eles não sabem que, em Portugal, o Casal Garcia, since 1939, é só fazer as contas, já está nos 84 anos...

P.S. - Hoje é Dia Mundial do Casamento.

Engana-me que eu (também) gosto

Ele dizia que ia ao café, mas a mulher sabia que era mentira. Há muito que o marido a enganava, e ela sabia. O café era apenas uma desculpa, um pretexto. Para o bagaço.

Bodas de bicarbonato

Aprendi aqui atrasado, sem querer, que o carbonato celebra os 44 anos de um casamento. Bodas de carbonato. Posso portanto admitir que o bicarbonato assinala os 88 anos de um casamento. Bodas de bicarbonato.

O segredo da felicidade

O segredo para um casamento duradouro, harmonioso, pacífico e feliz não é segredo nenhum. É simples. As decisões, grandes e pequenas, devem ser tomadas em casal, por mútuo acordo. E, em caso de unilateralidade, fazer sempre o que ela manda.

O melhor amigo

Os Sousas do sexto-direito têm um cão. O cão é o melhor amigo do homem. O melhor amigo da mulher é o Gustavo da Tabacaria.

Até que a morte

O casamento, para ele, era tudo. Aliás, já ia no sexto..

Um homem de famílias

O casamento, para ele, era tudo. Aliás, tinha dois. Ao mesmo tempo.

Nunca por amor

Já ia no oitavo matrimónio e garantia que nunca casara por amor. Por dinheiro então?, perguntavam-lhe. Que não. Por conveniência ou solidão? Também não. Explicava que casou sempre por... acaso.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Os melros já nascem ensinados

Foto Hernâni Von Doellinger
A minha rua adoptiva, em Matosinhos-sur-Mer, é território de gatos e gaivotas. De umas pombas, vá lá, de uns pardejos lingrinhas e de uns cães abundantemente cagões e felizmente sem asas. Mas sobretudo, e historicamente, a minha rua é território de gatos e gaivotas, que vêm ao cheiro da comida que a minha vizinha lhes manda da varanda, besuntando de espinhas, patas de frango, gorduras várias e nojo extremo a estrada e o passeio mesmo por baixo do meu nariz. A minha vizinha foi quem chamou as gaivotas, mas entretanto enxota-as a baldes de água fria, porque, não sei se mudou de religião, agora só quer conversa com os gatos.
Ora bem: há mais de trinta anos que moro na minha rua e foram precisos mais de trinta anos para que me aparecesse na rua um melro. Sim, um melro efectivamente, e apresentava-se todas as manhãs. Melro cantor que dava gosto, e lambão benza-o Deus, também ia à marmita dos gatos da vizinha, até que um dia.
Na minha rua passa bissextamente a procissão do Senhor de Matosinhos e naquela altura, isto é, no tempo do melro, estava aqui estabelecido, mesmo na porta ao lado, o Núcleo do Sporting, assiduamente visitado pelo então presidente Bruno de Carvalho, que também é um senhor, não desfazendo, e teve igualmente a sua cruz, ninguém pode dizer o contrário. Exigia-se portanto outro asseio.
Não sei se era para meter raiva aos sportinguistas locais ou se derivado a outro insondável motivo, a verdade é que o melro da minha rua, o meu melro, cantava sem parar o hino do FC Porto. E juro que não fui eu a ensiná-lo. Os melros, é o que têm, já nascem ensinados.

E eu, perante isto? Eu, que vim de Fafe habituado a melros com fartura, gostei muito que o estupor do melro tivesse dado com a minha rua adoptiva e com a frente da minha casa. Grande melro! Foi porreiro, porque assim já éramos dois. Mas quê? De repente o melro foi-se embora e Bruno de Carvalho também. Ao Bruno ainda o vejo de vez em quando a fazer figuras na televisão e leio-lhe os amores e os humores na imprensa cor-de-rosa, que é hoje em dia toda a comunicação social portuguesa. Ao outro melro é que nunca mais. Agora sou só eu.

P.S. - Bruno Miguel Azevedo Gaspar de Carvalho, gestor, comentador desportivo, dizem que DJ e ex-presidente do Sporting, faz hoje anos. Então, parabéns!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Fafe já não tem piononos

No monte de São Jorge havia um pionono. E constava que havia outro no monte de Castelhão. Fui testemunha de ambos, embora o segundo possa jamais ter existido. O pionono, para mim, era uma espécie de meco que ajudava montes de pouca monta a porem-se em bicos de pés, a chegarem-se a uma certa altura, a uma altura certa, a um número redondo que desse jeito falar. Quero dizer: era uma espécie de sapato de salto alto para caga-tacos complexados, porém ao contrário, com o tacão virado para cima e usado na cabeça. Depois tomei conhecimento do Pio IX, mas nunca percebi a relação, e acho um insulto chamar-lhe marco geodésico. Ao papa.
Assim com maiúscula, o Pionono era exactamente em São Jorge, é justo que se diga. Pionono era nome próprio, sítio, geografia. "Vou ao Pionono". Ia-se ao Pionono. Ia-se aos pinheiros pelo Natal, ia-se esgaçar umas pernadas de carvalho para o trono da cascata do Santo António, ia-se aos fentos ou ao mato para o eido ou às giestas secas para espertar a lareira do chão da cozinha, ia-se brincar aos cobóis, ia-se cagar ao monte e ia-se dar umas trancadas, e o que eu gostava da palavra trancadas, mesmo sem ainda conseguir alcançar o que ela quereria dizer.
(As giestas também davam umas vassouras de categoria e o Trancadas era um barbeiro mesmo ao lado do tasco do Neca do Hotel, proximidade que se revelava de uma comodidade extrema. Por falar nisso, lembro-me de descer um degrauzinho, mais cá para o centro da vila, ali entre a sombria loja da Rosindinha Catequista e a Cafelândia, mas esse era o Sr. António Grande, o segundo barbeiro do meu padrinho Américo. Eu ia lá com o meu padrinho mais o meu tio Zé da Bomba, aos sábados de manhã, que naquele tempo eram sempre de sol. Na espera lia-se "O Primeiro de Janeiro", mal eu sabia que ainda o haveria de fazer. O meu padrinho Américo e o meu tio Zé da Bomba eram irmãos do meu pai, o grande Lando Bomba, e depois foram meus pais, à falta do propriamente dito, por razão de força maior.)
Hoje os montes de São Jorge e de Castelhão são casas e é o progresso. Os montes foram capados, terraplenados, desarborizados, alcatroados, liquidados. Os montes morreram de morte matada e a culpa morreu solteira. Fafe já não tem piononos. Mas, dizem-me, tem ainda a "Garrafinha" e historiadores até dar com um pau. Um deles, quem dera que não chova, ainda há-de contar esta como deve ser.

Só para que conste: pio-nono será a forma "correcta" de escrever, se nos referirmos ao meco. Mas pionono pode ser também nome de doce muito popular em Espanha, na América Latina e nas Filipinas. Por outro lado, Pio IX, que se chamava Giovanni Maria Mastai-Ferretti, morreu no dia 7 de Fevereiro de 1878, tendo cumprido o segundo maior pontificado da história da Igreja, logo a seguir a São Pedro. E foi o primeiro papa a ser fotografado. A efeméride creio que justifica a repetição do textinho, portanto façam o favor de desculpar...

P.S. - A quem possa interessar, há mais para ler sobre os desaparecidos piononos de Fafe aqui e aqui.

Como se fosse ontem

Foto Hernâni Von Doellinger

domingo, 5 de fevereiro de 2023

De abraço, praticamente

Foto Tarrenego!
Há anos que sou perseguido por esta dúvida, creio que evidentemente razoável. Era para ser um cumprimento a sério, mãozada entre dois homens e uma testemunha, ou apenas um adeus ó vai-te embora?...

sábado, 4 de fevereiro de 2023

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Os influentes (ou O mar começa em Fafe)

O rio Vizela nasce em Fafe, exactamente no Alto de Morgair, antiga freguesia de Gontim. Depois de banhar Fafe, sobretudo na barragem de Queimadela, o rio Vizela passa também, por esta ordem, pelos concelhos de Felgueiras, Guimarães, Vizela e Santo Tirso. Neste seu interessante percurso, o rio Vizela acolhe diversos e variados influentes. O influente mais importante é o rio Ferro, mas não podemos esquecer o rio Bugio e, se não me engano, as ribeiras de Docim, de Moreira e de Ribeiros e o ribeiro de Costas Antas. São influentes porque eles é que abastecem de água o rio Vizela, que, por sua vez, é influente do rio Ave, que desagua no oceano Atlântico. Creio portanto não ser exagero nenhum dizer que o mar começa em Fafe, pelo menos um bocadinho.

P.S. - Hoje é Dia Nacional do Vigilante da Natureza e Dia Mundial das Zonas Húmidas. E impunha-se.

Amor e duas cadeiras

Foto Hernâni Von Doellinger

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Ezequiel, médium e depois médio

Ezequiel era um bem sucedido sacerdote e profeta na Babilónia, algures pelo século VI antes de Cristo. Apresentava o telejornal e escreveu um dos 73 ou 66 livros da Bíblia, consoante a cisma, constando o livro de quarenta e oito capítulos, o primeiro dos quais começava prometedoramente assim: "E aconteceu aos trinta anos, no quarto mês, a cinco dias do mesmo, que, estando eu no meio dos cativos, junto ao rio Cobar, se abriram os céus, e tive visões de Deus."
O livro vendeu razoavelmente. Arquivistas, bibliotecários e documentalistas catalogaram-no com o assertivo nome de Livro de Ezequiel, para que não houvesse enganos futuros. Respeitado tanto pelo cristianismo como pelo judaísmo, e talvez até pelo islamismo, Ezequiel era porém um infeliz feliz, sentia que lhe faltava algo. Por não ser época de Ferrero Rocher, resolveu então mudar de vida: deixou o negócio das visões, inscreveu-se numa escolinha de futebol e fez-se jogador. Vi-o algumas vezes em campo, pelado, mas sobretudo com a camisola do Lusitânia de Lourosa, corria para o fim o século XX depois de Cristo.

Está bem, abelha!...

Foto Hernâni Von Doellinger

Tocavam sempre duas vezes

Os carteiros de Fafe eram homens poderosos. Traziam dinheiro, levavam notícias e, sobretudo, sabiam tudo de toda a gente. A vida toda. A sit...