sábado, 26 de agosto de 2023

Quem me dera ser cão

Três mulheres à mesa na pequena esplanada da confeitaria famosa, gozando uma falsa fresca de fim de tarde neste Verão um bocado tolo. São jovens, alegres, morenas, as mulheres, e têm um cão. Um cão pequeno, rechonchudo, de focinho amarrotado, caricatura de um velho boxista na reforma. Será talvez um pug. Leio na Wikipédia que o pug tem "personalidade", que é "encantador, brincalhão, astuto, sociável, arteiro, dócil, afectuoso, teimoso, amoroso, atento, tranquilo, calmo". Pois. Será. O estupor do cão, o sortudo do cão, passeia-se irrequieto de colo em colo, de mama em mama, esfregando-se ao comprido na brancura sedosa de seis seios quase ao léu, lambendo, lambendo e mais não sei quê, e as mordomas ali na rua sem pudores, crescentemente excitadas, vermelhas, aos gritinhos, aos saltinhos, num fuzuê que só visto.
Ora bem. Foi na parte do mais não sei quê - e digo mais não sei quê porque realmente não faço ideia, o assunto interessou-me sobremaneira, eu estava ali concentradíssimo como o Futre, invejoso, confesso, mas não consegui perceber o que se passava até às últimas consequências -, portanto, foi na parte do mais não sei quê que a mulher menos jovem, com evidente cara de dona, largou os suspiros, ganhou fôlego, esganiçou ainda mais a voz e disse ao cão, imperativa: - Frederico! Não! Não! Não! Mamãe já falou! Isso não, Frederico!
Fiquei fodido! Não tanto por causa da indivídua chamar Frederico ao cão. Também chamo Frederico ao meu filho Kiko e isso nunca me incomodou, antes pelo contrário, até porque é o nome dele. O que me confundiu foi aquilo de ela ser mãe do cão. Estou velho para estas merdas. Fico baralhado com estas modernices sorrateiramente edipianas mas ao contrário. Não consigo acompanhar estes tempos malucos em que a nova ordem parece ser tratar os animais como pessoas, como filhos, e tratar as pessoas como animais. Como animais que não são tratados como pessoas. Estou definitivamente fora de prazo. E fiquei fodido!

Quer-se dizer. Hoje é Dia do Cão e, assinalando a efeméride, o Kiko e a Sara vão de férias e deixaram-nos o Amendoim. O Amendoim é o cão deles, porque eles gostam muito de animais. Já eu e os cães é uma desgraça, estou farto de dizer, e é preciso ser-se um bocado maricas para chamar Amendoim a um cão. Aliás, eu sempre defendi que lhe chamassem Evaristo, mas o Kiko e a Sara ninguém me liga, e ainda por cima o caralho do cão gosta de mim e eu também não desfazendo. Ficámos igualmente com o Lambiscas, o gato deles, como de costume. Portanto estou como quero. E espero que o Kiko e a Sara também.

3 comentários:

  1. como fala muito dos bombeiros...como não sei se viu esta noticia...como não sei o seu e-mail, aqui fica o link:

    https://tvi.iol.pt/doisas10/videos/manuel-e-surpreendido-pelos-bombeiros-para-a-qual-doou-dezenas-de-viaturas-e-equipamento/64dcabe70cf2f892b4948dc5?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=ed-doisas10&fbclid=IwAR2pJTrLWa5bKKC_1s0X7sFEgsiUHaBNEDfUWuJgo1mbuzp5RFNAauZHMhA

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    1. o seu irmão também faz parte.

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    2. Muito obrigado, caro Artur. Tive oportunidade de ver, avisado pelo meu amigo Pedro Dantas.
      O meu mail: hernani.doellinger@hotmail.com

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