A apresentar mensagens correspondentes à consulta chega de bois ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens
A apresentar mensagens correspondentes à consulta chega de bois ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 16 de maio de 2024

Quando Fafe foi aos toiros

E quem cuidava que não, pois que se desengane: Fafe também foi aos toiros, também teve a sua tourada. E muito antes da lamentável chega de bois, essa tradição tão fafense inventado à pressão há meia dúzia de anos. Foi no Campo da Granja, em 1963, provavelmente por ocasião das Festas da Senhora de Antime, que é o mais certo, mas também poderá ter sido por alturas das Feiras Francas, lembro-me é que era um belo dia de sol e, agora que penso nisso com mais vagar, não faço a mínima ideia de como é possível lembrar-me. Uma tourada que terá sido a primeira realizada em terras de Fafe e que, se não me engano, foi igualmente a única, até hoje, com touros propriamente ditos.
O redondel não era assim tão redondo como o nome poderia indicar à partida: digamos que foi construída, com robustos troncos de madeira, uma espécie de lua cheia fanada, cortada em linha recta na zona da bancada, que era para o excelentíssimo público poder estar em cima do acontecimento. As digníssimas autoridades locais e a nossa mais distinta burguesia, orgulhosamente alapadas na bancada de cimento com tecto de zinco, quero crer que com umas discretas almofadinhas aliviando os respectivos traseiros, e o povo a pé, no meio do campo da bola, encostado às tábuas, mas seria muito pouco, meio dúzia de gatos-pingados, se tanto, e eventualmente já razoavelmente decilitrados, porque os bilhetes, mesmo os bilhetes mais baratos, eram caros como o caralho. Foram certamente ao engano e, diga-se em sua defesa, o calor era realmente muito e a situação deveras incómoda e eventualmente perigosa. Se naquele tempo já havia praças de toiros desmontáveis e alugáveis, não foi daquela vez que uma delas chegou a Fafe.
A tourada, segundo me lembro, e confesso que continuo sem perceber como é que me lembro, foi uma merda. Compreendo portanto que a autarquia fafense vire as suas modernas prioridades para outras lides. Recapitulando. Para as chegas de bois, para as largadas de perdizes, para as montarias ao javali, para as exposições e concursos de beleza canina ou columbófila, para as corridas de cavalo a passo travado e de salto alto, para as batidas à raposa, que é o que nos faz falta. Um destes dias ainda tornaremos, se Deus quiser, à nossa ancestral porém nunca desmentida caça aos gambozinos, com organização camarária, estacionamento gratuito, pequeno-almoço, almoço, merenda, jantar e tudo. Tenho uma fé muito grande nos nossos conspícuos guiadores e guiadoras, quem dera que não chova, e olé!

Por outro lado. A malta mais nova se calhar não faz ideia da revolução que é ter espectáculos à borla, como acontece hoje em dia, nomeadamente nas Festas da Cidade e nos 16 de Maio, e só tenho a elogiar a autarquia por isso. Antigamente, e naquele tempo a pobreza era modo de vida, regra geral, em Fafe pagava-se por tudo e por nada. Só faltava andarem os fiscais da Câmara a passar bilhete, no Largo e em Cima da Arcada, a quem fosse apanhado a olhar para o fogo-preso do Jardim do Calvário...

P.S. - Publicado aqui originalmente no dia 7 de Julho de 2023. Como combinado, estamos a recordar alguns dos meus textos alusivos ou de certa forma ligados aos nossos 16 de Maio, isto é, às Feiras Francas de Fafe, à nossa ruralidade antiga e irrevogável.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Touros e gambozinos à moda de Fafe

A caça ao gambozino é uma excelente e pacífica alternativa por exemplo à caça ao elefante ou à montaria ao javali. Mantém-se o lado lúdico e ecuménico, o são convívio, o almocinho e a merenda, a sacramental troca de mentirolas, mas poupa-se em perigo e em munições, dando-se uma mãozinha, por outro lado, à indústria nacional da serapilheira. Como se sabe, na caça ao gambozino os caçadores não usam armas de fogo, mas sacos e chibatas, e gritam: - Piopardo ao saco!...

É verdade, a caça ao gambozino, essa espécie amiúde cinegética também conhecida como piopardo ou vai ver se estou lá fora. Eu sei bastante de caça ao gambozino porque sou de Fafe e em Fafe, no meu tempo, nem se era fafense nem se era nada se não se caçasse o gambozino. Fui, aliás, um exímio caçador, não é para me gabar. Em Fafe, depois de se caçar muito o gambozino, assim com uma certa carreira feita, já se podia mandar caçar os outros. E foi o que eu fiz. E é o que eu faço.

É preciso que se note que o gambozino, ou piopardo, depois de caçado, medido, pesado, lavado, dentes incluídos, vacinado, fotografado, etiquetado e registado, era devolvido à liberdade, com dinheiro para o táxi e direito a levar o respectivo saco de serapilheira cheio com um rico merendeiro até à próxima. Fafe era assim. Fafe é assim. Um povo compassivo e magnificente.
Discotecas à parte, onde às vezes realmente há uns tiros e coisa e tal, nada de mais natural, Fafe é uma terra livre de armas nucleares e muito amiguinha dos animais, coitadinhos. Tem concurso de beleza canina, tem chega de bois, tem corrida de cavalos a passo travado, tem largada de perdizes, tem batida à raposa, tem exposição de columbofilia, tem grilos em gaiolas, tem gaiolas propriamente ditas e impropriamente feitas, porque é pecado, e até tem montaria ao javali.
O programa da montaria é uma coisa muito bem organizada, com particular destaque para o estacionamento gratuito, olha o luxo, e para o pequeno-almoço servido na cantina da Câmara Municipal, às nove da manhã em ponto, por causa do fotógrafo, que tem um baptizado às dez menos um quarto, e o senhor presidente tem mais que fazer e mais retratos para tirar.
Como toda a gente sabe, javalis em Fafe são mato, tais como, para não irmos mais longe, ursos tintos e morsas desdentadas nos aprazíveis glaciares da Lameira, tubarões-berbequins nos mares da barragem de Queimadela, camarões-tigres na bacia do rio de Pardelhas e crocodilos insones no lago do Jardim do Calvário. Importante: determinado por edital camarário, todos os javalis devem apresentar-se à montaria obrigatoriamente vestindo colete reflector, não vá passarem desapercebidos aos caçadores de carregar pela boca. No caso das largadas de perdizes previamente tontas, só são admitidas à matança as perdizes que usem capacete e após teste do balão. 

E quem cuidava que não, pois que se desengane: Fafe também foi aos touros. No Campo da Granja, em 1963, provavelmente por ocasião das Festas da Senhora de Antime, que é o mais certo, mas também poderá ter sido por alturas das Feiras Francas, lembro-me é que era um belo dia de sol e, agora que penso nisso com mais vagar, não faço a mínima ideia de como é possível lembrar-me. Uma tourada que terá sido a primeira realizada em terras de Fafe e que, se não me engano, foi igualmente a única, até hoje, com touros propriamente ditos. O redondel não era assim tão redondo como o nome poderia indicar à partida: digamos que foi construída, com robustos troncos de madeira, uma espécie de lua cheia fanada, cortada em linha recta na zona da bancada, que era para o excelentíssimo público poder estar em cima do acontecimento. As digníssimas autoridades locais e a nossa mais distinta burguesia, orgulhosamente alapadas na bancada de cimento com tecto de zinco, quero crer que com umas discretas almofadinhas aliviando os respectivos traseiros, e o povo a pé, no meio do campo da bola, encostado às tábuas, mas seria muito pouco, meio dúzia de gatos-pingados, se tanto, e eventualmente já razoavelmente decilitrados, porque os bilhetes, mesmo os bilhetes mais baratos, eram caros como o caralho. Foram certamente ao engano e, diga-se em sua defesa, o calor era realmente muito e a situação deveras incómoda e eventualmente perigosa. Se naquele tempo já havia praças de toiros desmontáveis e alugáveis, não foi daquela vez que uma delas chegou a Fafe.
A tourada, segundo me lembro, e confesso que continuo sem perceber como é que me lembro, foi uma merda. Compreendo portanto que a autarquia fafense vire as suas modernas prioridades para outras lides. Recapitulando. Para as chegas de bois, para as largadas de perdizes, para as montarias ao javali, para as exposições e concursos de beleza canina ou columbófila, para as corridas de cavalo a passo travado e de salto alto, para as batidas à raposa, que é o que nos faz falta. Um destes dias ainda tornaremos, se Deus quiser, à nossa ancestral porém nunca desmentida caça aos gambozinos, com organização camarária, estacionamento gratuito, pequeno-almoço, almoço, merenda, jantar e tudo. Tenho uma fé muito grande nos nossos conspícuos guiadores e guiadoras, quem dera que não chova, e olé!

Por outro lado. A malta mais nova se calhar não faz ideia da revolução que é ter espectáculos à borla, como acontece hoje em dia, nomeadamente nas Festas da Cidade, e só tenho a elogiar a autarquia por isso. Antigamente, e naquele tempo a pobreza era modo de vida, regra geral, em Fafe pagava-se por tudo e por nada. Só faltava andarem os fiscais da Câmara a passar bilhete, no Largo e em Cima da Arcada, a quem fosse apanhado a olhar para o fogo-preso do Jardim do Calvário...

P.S. - Desenterro mais uma vez este textinho, hoje em sentida homenagem à faraónica vacuidade política do homem a quem chamam Luís Montenegro, líder do PSD, rei do stand-up nacional e irrefutável especialista em gambozinos e pipis.

quarta-feira, 12 de junho de 2024

E o manguito do Bordalo?

A moda é nova, mas, em Portugal, o fado, a dieta mediterrânica, o cante alentejano, os chocalhos e a olaria preta de Bisalhães já tinham sido elevados aos píncaros do Património Cultural Imaterial da Humanidade. Seguiram-se a falcoaria, a louça de Estremoz, os Caretos de Podence e as Festas do Povo de Campo Maior, até ver. Fixemo-nos, porém, na falcoaria. A falcoaria, numa das suas definições mais acessíveis, é a arte de treinar e cuidar de falcões e outras aves de rapina para a caça. Os falcões e colaterais contrafacções caçam, matam e comem, em geral, outras aves e pequenos quadrúpedes que não têm lóbi na Unesco. Está certo: a Unesco é uma organização das Nações Unidas que visa contribuir para a paz e segurança no mundo mediante a educação, a ciência, a cultura e as comunicações. Com a falcoaria ficámos irremediavelmente lançados. Eu, por mim, penso agora nos sapateiros, nas mulheres-a-dias, nos falsos licenciados, nos periquitos, nos tocadores de punhetas, nos perdigueiros e, andava com esta ferrada há que tempos, nos furões.

E antes que me esqueça: por exemplo, o jogo do pau. Porque não? Ou o berlinde, a carica, o pião, o espeto, a macaca, o moche, o tene, a cabra-cega, o arranca-cebolas, o mamã-dá-licença, o esconde-esconde. Ou o jogo da malha. Ou o jogo da bisca. Ou o jogo Benfica-CUF de 22 de Março de 1959. Porque não?
Por exemplo, as Janeiras, os Reis, as novenas, o terço e a bênção do Santíssimo. Porque não? As marchas de Lisboa e as rusgas do Porto e o Pai das Orelheiras e o carnaval de Ovar e a bicha das sete cabeças e a chega de bois e as "Velhas" da Terceira e as adufeiras de Monsanto e a Justiça de Fafe e os zés-pereiras e os cabeçudos e os gigantones. Ou a cantiga no duche, ou a lengalenga do avô, ou a arenga de bêbado, ou o apita-o-comboio, ou o atirei-o-pau-ao-gato, ou o areias-era-um-camelo. Ou o canto pimba, ou o canto neiro. Porque não?
Por exemplo, os ranchos folclóricos, os conjuntos típicos, a Maria Albertina e o António Mafra, os grupos excursionistas, os motoclubes e as motosserras. Ou as bandas de música, filarmónicas e copofónicas. Porque não? Ou os bandos de malfeitores, banqueiros ou governantes, os salgados e os doces, da alheira de Mirandela ao pastel de Belém. Porque não?
Por exemplo, o manguito do Bordalo. Ou o caralho das Caldas. Porque não?
Por exemplo, o assobio. Porque não?

É património até dar com um pau. É património sem mãos a medir. Somos um país para o Guinness. Com assinalável pertinácia, Portugal mete os dedos à boca e vomita património imaterial da humanidade por todos os lados. Um destes dias, sem darmos fé, estamos todos condecorados. Da cabeça aos pés.

(Publicado originalmente no meu blogue Tarrenego! O Zé Povinho de Rafael Bordalo Pinheiro apareceu pela primeira vez no jornal satírico "Lanterna Mágica" no dia 12 de Junho de 1875.)

quarta-feira, 8 de maio de 2024

Quim Barreiros nas Feiras Francas


Feiras Francas de Fafe, de 15 a 19 de Maio, quarta-feira a domingo da próxima semana, com tenda montada no Parque da Cidade. Expo Rural, Praça dos Petiscos, cantares ao desafio, festival de folclore, fado, tunas, animação de rua, rusgas de concertinas, cenas da vida rural, concurso pecuário, chega de bois e corrida de cavalos, as duas bandas de música da terra, Golães e Revelhe, na Arcada, e bombos, muitos bombos. Para além disso, os cantores Quim Barreiros, Ana Malhoa e Dino D'Santiago. Programa completo e mais informação, aqui.

A uma semana do arranque do certame, como agora se diz, inicio eu aqui a republicação de alguns dos meus textinhos ligados aos nossos 16 de Maio, às nossas feiras, às nossas festas e romarias e, de um modo geral, ao nosso viver antigo.

sexta-feira, 28 de abril de 2023

Feiras Francas de Fafe, de 13 a 17 de Maio

Foto Hernâni Von Doellinger
Feiras Francas de Fafe, de 13 a 17 de Maio, com tenda principal montada no Parque da Cidade. Feira Rural, Feira das Coisas, Mercado Bio, vinhos e petiscos, noitadas, fado vadio, festival de folclore, animação de rua, cenas da vida do campo, jogos tradicionais, concurso pecuário, chega de bois, corrida de cavalos, as duas bandas de música da terra, Golães e Revelhe, e bombos, muitos bombos. Para além disso, os cantores Toy, Jorge Guerreiro, Rosinha e Cláudia Pascoal. Programa completo e mais informação, aqui.

quinta-feira, 16 de maio de 2024

Hoje, nas Feiras Francas de Fafe

Hoje, quinta-feira, dia 16 de Maio, feriado municipal em Fafe:
9 horas - Feira de Gado Cavalar, no Parque da Cidade
10 horas - Abertura da Expo Rural
10h30 - Animação de bombos, da Expo Rural ao centro da cidade
14 horas - Desfile de folclore, a partida da Câmara Municipal
14h30 - Festival de Folclore, no palco principal
16h30 - Chega de bois, no Parque da Cidade, em frente aos campos de ténis
17h30 - Animação de bombos, da Praça 25 de Abril à Expo Rural
18 horas - Ribeiro e as Concertinas, no palco principal
21h30 - Quim Barreiros, no palco principal
23 horas - Fogo-de-artifício (Torre do Relógio)
24 horas - Encerramento da Expor Rural

Bruxedos e outros medos

Durante uma semana, um alguidar contendo um enorme galo sem cabeça e outras miudezas feiticeiras esteve em exposição no passeio junto ao por...