sábado, 18 de novembro de 2023

E agora as mamoas de São Jorge

Palavra de honra, eu não fazia ideia de que São Jorge também tinha mamoas. Sabia do pionono, mas a minha ignorância era completa a respeito das mamoas. Portanto, mamoas e pionono, São Jorge era realmente um monte muito bem apetrechado, hoje em dia faria um figuraço nos jornais e na televisão, e no entanto conseguiram dar cabo dele, desfazendo-o quase até às profundezas do terrapleno, ao nível da insignificância horizontal, com toda a propriedade. Que desplante!
O assunto das mamoas foi agora levantado pelo PCP fafense, que, segundo leio no Expresso de Fafe, pretende saber o que é que a Câmara está ou vai fazer com aquele património arqueológico há quem diga que com mais de quatro mil anos e descoberto em 2014 no lugar da Regedoura, limites administrativos das freguesias de Armil, Cepães e Fareja.
Eu também fico a aguardar pela resposta, que foi solicitada no início de Outubro por Maria do Carmo Cunha, eleita comunista na Assembleia Municipal, e até ontem ainda nada.
Espero que não se passe com as mamoas o que infelizmente aconteceu ao pionono. Isto é, o desaparecimento puro e simples, como já aqui lamentei no meu texto "Fafe já não tem piononos" e que era assim:

No monte de São Jorge havia um pionono. E constava que havia outro no monte de Castelhão. Fui testemunha de ambos, embora o segundo possa jamais ter existido. O pionono, para mim, era uma espécie de meco que ajudava montes de pouca monta a porem-se em bicos de pés, a chegarem-se a uma certa altura, a uma altura certa, a um número redondo que desse jeito falar. Quero dizer: era uma espécie de sapato de salto alto para caga-tacos complexados, porém ao contrário, com o tacão virado para cima e usado na cabeça. Depois tomei conhecimento do Pio IX, mas nunca percebi a relação, e acho um insulto chamar-lhe marco geodésico. Ao papa.
Assim com maiúscula, o Pionono era exactamente em São Jorge, é justo que se diga. Pionono era nome próprio, sítio, geografia. "Vou ao Pionono". Ia-se ao Pionono. Ia-se aos pinheiros pelo Natal, ia-se esgaçar umas pernadas de carvalho para o trono da cascata do Santo António, ia-se aos fentos ou ao mato para o eido ou às giestas secas para espertar a lareira do chão da cozinha, ia-se brincar aos cobóis, ia-se cagar ao monte e ia-se dar umas trancadas, e o que eu gostava da palavra trancadas, mesmo sem ainda conseguir alcançar o que ela quereria dizer.
(As giestas também davam umas vassouras de categoria e o Trancadas era um barbeiro mesmo ao lado do tasco do Neca do Hotel, proximidade que se revelava de uma comodidade extrema. Por falar nisso, lembro-me de descer um degrauzinho, mais cá para o centro da vila, ali entre a sombria loja da Rosindinha Catequista e a Cafelândia, mas esse era o Sr. António Grande, o segundo barbeiro do meu padrinho Américo. Eu ia lá com o meu padrinho mais o meu tio Zé da Bomba, aos sábados de manhã, que naquele tempo eram sempre de sol. Na espera lia-se "O Primeiro de Janeiro", mal eu sabia que ainda o haveria de fazer. O meu padrinho Américo e o meu tio Zé da Bomba eram irmãos do meu pai, o grande Lando Bomba, e depois foram meus pais, à falta do propriamente dito, por razão de força maior.)
Hoje os montes de São Jorge e de Castelhão são casas e é o progresso. Os montes foram capados, terraplenados, desarborizados, alcatroados, liquidados. Os montes morreram de morte matada e a culpa morreu solteira. Fafe já não tem piononos. Mas, dizem-me, tem ainda a "Garrafinha" e historiadores até dar com um pau. Um deles, quem dera que não chova, ainda há-de contar esta como deve ser.

Só para que conste: pio-nono será a forma "correcta" de escrever, se nos referirmos ao meco. Mas pionono pode ser também nome de doce muito popular em Espanha, na América Latina e nas Filipinas. Por outro lado, Pio IX, que se chamava Giovanni Maria Mastai-Ferretti, teve o segundo maior pontificado da história da Igreja, logo a seguir a São Pedro. E foi o primeiro papa a ser fotografado.

P.S. - Para quem se interesse por estas coisas, há mais para ler sobre os desaparecidos piononos de Fafe aqui e aqui.

A este respeito, o Pedro Dantas mandou a seguinte informação, que também nos interessa:

Fafe foi notícia esta semana no tablóide inglês The Sun, a propósito de uma não sei o quê feita por um tal de "Porto travel guide", onde Fafe aparece como a cidade mais barata de Portugal para se visitar. Ora, tirando umas aldrabices lá estampadas e uma foto do palacete que foi dos meus avós com a legenda "Igreja românica de Arões", até que ficou bonita... Aqui está.
https://www.thesun.co.uk/travel/24722483/fafe-portugal-cheapest-city-break/?utm_campaign=native_share&utm_source=sharebar_native&utm_medium=sharebar_native

3 comentários:

  1. Fafe foi notícia esta semana no tablóide inglês The Sun, a propósito de uma não sei o quê feita por im tal de "Porto travel guide", onde Fafe aparece como a cidade mais barata de Portugal para se visitar. Ora, tirando umas aldrabices lá estampadas e uma foto do palacete que foi dos meus avós com a legenda, "Igreja românica de Arôes", até que ficou bonita...
    Aqui está.
    https://www.thesun.co.uk/travel/24722483/fafe-portugal-cheapest-city-break/?utm_campaign=native_share&utm_source=sharebar_native&utm_medium=sharebar_native

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    1. Obrigado pela informação, Pedro. É de toda a justiça! Por outro lado, tu sabes como é que são feitas estas "classificações", não sabes?...

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