Sou dos filmes de cobóis desde pequenino e particular consumidor dos
spaghetti de Sergio Leone com molho de Ennio Morricone. Comecei a vê-los no
Cinema de Fafe há mais de cinquenta anos e tenho-os agora na despensa, a colecção completa e indispensável, que me foi oferecida pelo meu irmão
Lando. Gosto. Gosto e assobio. Vejo-os sempre que me apetece, e se dão na televisão (como dão de vez em quando na RTP 2, cada vez menos, ou agora nestes canais que nos saem do bolso, como, por exemplo, outro dia, no Fox Movies), não mando ninguém ver por mim. Vejo. Vejo e assobio. Porém, ao fim destes anos todos e após milhões de sessões, devo confessar o seguinte: continuo sem perceber a morte dos bandidos. Há ali qualquer coisa que não bate certo. Quer-se dizer - os bandidos é como tordos, morrem uns atrás dos outros, do mais fraquinho até chegar ao chefe, e assim é que está bem, ordem acima de tudo, mas já repararam à custa e ao fim de quantos balázios? Já contaram quantas balas são precisas para matar um bandido, um só, nem que seja um simples soldado raso, um bandido tão bandido que nunca abriu a boca durante o filme, um figurante praticamente? Mais de dezasseis e todas na muche, até que o estafermo do bandido, um só, aceite esticar de vez o pernil, deixando o filme avançar. É muita despesa e má propaganda à inquestionável pontaria, por exemplo, de um atirador do calibre de um Clint Eastwood. Em contrapartida, quando a coisa é resolvida à facada, o mau da fita morre logo à primeira. Tiro e queda, já viram?
Acho mal. E no entanto assobio. Ennio Morricone é que sabia...
Eli Wallach, o Tuco, ou o Vilão, de "O Bom, o Mau e o Vilão", morreu no dia 24 de Junho de 2014. A propósito de Wallach, lembro-me de andarilhos, numa outra fita que é de Natal mas passa na televisão todo o ano. E penso. Os andarilhos estão na moda. E as bicicletas, para outro tipo de clientela. Os andarilhos, as bicicletas e as trotinetas. As cenas de pancadaria, facadas, tiros e mortes entre jovens bandidos, por nada ou por quase nada, também. Sobretudos facadas. A malta nova anda agora toda por aí com facas, como quem usa boné ou sapatilhas de marca. É. A moda tem muito que se lhe diga. E pode ser fatal.
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