quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Halloween adiado


Devido às previsões de mau tempo para sexta-feira, a Câmara de Fafe adiou todas as atividades da iniciativa "A Bicha das 7 Cabeças" para o dia 7 de Novembro. Mais informação, aqui.

terça-feira, 28 de outubro de 2025

Inscrições para o Natal

Foto Município de Fafe

Estão abertas as inscrições para o Mercado de Natal de Fafe, no âmbito do programa Fafe Natal 2025, que o Município promove durante o mês de Dezembro. O período de admissão de candidaturas termina no próximo dia 14 de Novembro. Mais informação, horários, normas de participação e fichas de inscrição, aqui.

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Vou-te cascar!

À Lagardère
Contava fábulas de La Palice e dizia verdades de La Fontaine. Com ele, era tudo à Lagardère...

Cascar, ou por outra, malhar. Cascar significa descascar ou perder a casca, pode também querer dizer desprezar, descompor, censurar, criticar, mas em Fafe, no Minho de antanho, com ecos galegos na língua, cascar era bater, dar pancadas, dar tareia, ir ao focinho, afinfar, espancar, sovar, surrar, fustigar, açoitar, enchousar, zupar. Isso, zupar. "Vou-te cascar!", prometia-se antigamente. Aliás, o cascudo era, e creio que ainda é, entre outros menos interessantes significados, pancada dada na cabeça com os nós dos dedos, carolo, coque ou croque, como muito bem se dizia na nossa terra.
Malhar significa bater com malho, debulhar nas eiras com o mangual ou com a malhadeira, fazer troça, escarnecer, gozar, mangar, zombar, ridicularizar, falar mal de alguém ou de alguma coisa, cair de repente e desamparado, mas, naquele tempo, para nós, também queria dizer, exactamente como em cascar, dar pancadas, bater, contundir, isto é, dar tareia, ir ao focinho, afinfar, espancar, sovar, surrar, fustigar, açoitar, enchousar, zupar. Isso, zupar. Levar uma malha era apanhar uma coça.

(Publicado no meu blogue Mistérios de Fafe)

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Com o Zegolina, ninguém estava livre

Missais terra-ar
Portugal enviou missais para a Ucrânia. Pequenos missais de rito bracarense praticamente novos. As ordens eram para mandar mísseis, mas alguém da intendência fez confusão ao aviar a encomenda.

Armando Zegolina, isto é, o Zegolina, sobrenome conquistado na rua pelo cidadão Armando Sousa, era um fafense excelentíssimo e campeão mundial da maledicência. Campeão invicto e ininterrupto pelo menos enquanto foi vivo, e não sei se também depois, é preciso que se note. O Zegla dizia mal de tudo e de todos. Pelas costas, pela frente e pelos lados. Com razão, sem razão e antes pelo contrário, apenas por uma questão de princípio. Nasceu para aquilo. Dizia mal do futebol. De quem ia ao futebol e de quem não ia ao futebol. Dizia mal da religião. De quem ia à missa e de quem não ia à missa. Dizia mal da política. De quem era dos partidos e de quem não era dos partidos. Dizia mal da televisão. De quem via e de quem não via. "E tu também te podes ir foder!", dizia-me regularmente. Era. Com o Zegolina, ninguém estava livre.
E como é que lhe veio o nome fantástico? Assim. Em pequeno, ali para os lados de Portugal e do Lombo, de onde ele era, o Armando gostava muito de brincar esvaziando os pneus de todos os automóveis que lhe calhassem à mão de semear e longe da vista dos donos. Ele explicava que lhes estava a tirar a... zegolina. E daí o nome e a lenda.
O nosso Zegolina jogou futebol até aos juniores na AD Fafe e, entre 1968 e 1971, foi soldado pára-quedista e tratador-treinador de cães de guerra. Voluntário. Cumpriu oito meses de Guiné, durante os quais realizou 21 saltos, quase sempre em situações de combate. Foi operário têxtil evidentemente na Fábrica do Ferro, emigrante em França no ramo dos elevadores, e quando tornou a casa, em 1979, fez-se electricista por correspondência e montou negócio. Frequentávamos ambos o inevitável Peludo e acompanhámos depois a módica deslocalização do Peixoto, que foi só virar a esquina. Éramos amigos, eu e o Zegolina - mais o estimado Manel Zebras, velha glória da Desportiva, os três à mesa pária em que mais ninguém queria entrar. Éramos amigos. O Zegolina ansiava pelas minhas férias e pelos meus bissextos retornos a Fafe, para pormos a conversa em dia, e tínhamos uma certa pressa nisso. Éramos amigos conversantes, confidentes, cúmplices e leais, como o aço. E o Zegla até nem era nada disso de amizades derivado à língua, embora por detrás da língua desgovernada estivesse um homem generoso, bom rapaz, talvez tímido, mas ele não queria que se soubesse. Ele era ruim só da boca para fora, e essa era a sua magnífica fraqueza.
O Zegolina morreu há anos e praticamente novo, muito antes do prazo, muito antes do que seria decente ou razoável, morreu devagar, quero dizer, foi morrendo a olhos vistos, com o corpo de atleta e militar de elite cobardemente escangalhado pela sorrateira doença dos pezinhos ou paramiloidose, que só não lhe atacou a língua. E isso, estou em crer, foi o seu derradeiro consolo.

P.S. - Versão revista e aumentada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe. De acordo com um estudo hoje revelado, Portugal continua a ser o país do mundo com mais casos de paramiloidose, esmagadoramente no Norte do País, com o distrito do Porto à frente de Braga e Aveiro.

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Encontros Literários de Fafe


Malas literárias, poesia, cinema de autor, música, bailado, exposições e tributos, um verdadeiro encontro entre palavras, arte e cultura. É a primeira edição de Salto - Encontros Literários de Fafe, já sexta e sábado, dias 24 e 25 de Outubro, iniciativa do Núcleo de Artes e Letras de Fafe. Dois dias dedicados à "Memória, Viagem e Resistência", com homenagens a Mário Cláudio e Vicente Alves do Ó. Mais informação, aqui.

terça-feira, 21 de outubro de 2025

Posse da Câmara de Fafe

Foto Hernâni Von Doellinger

Os eleitos locais de Fafe para o mandato 2025-2029 tomam posse no próximo sábado, 25 de Outubro, pelas 15 horas, no Pavilhão Multiusos. A cerimónia é aberta ao público e a entrada é livre. O presidente reeleito, Antero Barbosa, convida a população a "participar neste importante momento da vida democrática do concelho". Parece-me bem.

Figos de seira baixa

Fruta da época
Era Dezembro. Perguntaram-lhe sobre frutas da época, e ela respondeu ferrero rocher e mon chéri.

Consta que existem no mundo mais de 750 tipos de figos, entre os quais os nossos muito apreciados preto de Torres Novas, lampa preta, pingo de mel ou roxo de Valinhos, por exemplo. Há figos verdes, vermelhos, amarelos, roxos ou pretos. Há figos lampos ou temporãos, os que amadurecem mais cedo, habitualmente entre Maio e Julho, e figos vindimos, que se aprontam mais tarde, entre Agosto e o início do Outono. Há figos frescos e figos secos. E havia figos de seira alta e figos de seira baixa. Pelo menos em Fafe.
A seira é um cesto ou saco de esparto, onde se deita a azeitona depois de moída, para a espremer, ou onde se guardam ou levam pregos, ferramentas ou figos. As seiras com figos, geralmente frescos, eram carregadas à cabeça das antigas vendedeiras para mercados e feiras, ou de rua em rua, com velhos pregões a condizer. E também iam de burro, três ou quatro seiras de cada lado do lombo, julgo ainda ter visto esta cena uma ou duas vezes, à porta dos tascos do Zé Manco e do Paredes, e nestes casos seriam seiras com figos secos. Os figos transportados lá no topo das senhoras e em cima dos jericos eram, para nós, "figos de seira alta". Por outro lado, havia os "figos" que os burros iram largando naturalmente pela retaguarda, primeiro frescos, fumegantes, e depois secos, com o tempo, e esses, na nossa terra, naquela época, eram "figos de seira baixa"...

(Publicado no meu blogue Mistérios de Fafe)

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Daniel Bastos em Nova Iorque


Daniel Bastos, historiador e escritor fafense, vai a Nova Iorque apresentar o livro "Monumentos ao Emigrante - Uma Homenagem à História da Emigração Portuguesa", obra concebida em parceria com o fotógrafo Luís Carvalhido. Trata-se de um trabalho bilingue, com tradução para inglês de Paulo Teixeira, prefácio de Onésimo Teotónio Almeida e posfácio de Maria Beatriz Rocha-Trindade.
"Monumentos ao Emigrante - Uma Homenagem à História da Emigração Portuguesa" assenta no levantamento dos monumentos de homenagem ao emigrante existentes em todos os distritos de Portugal continental, Madeira e Açores. O livro será apresentado, primeiro, no dia 25 de Outubro, às 17h30, na Portuguese Heritage Society, em Mineola, e depois, no dia 29 de Outubro, às 18 horas, no centenário Sport Club Português de Newark, Nova Jérsia.

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

O enchousado

Advérbios
- Sobretudo ou principalmente?
- Com este frio, sobretudo!

O indivíduo de triste figura, enfezado, talvez torto, talvez sujo, talvez faminto, acabrunhado, macambúzio, encolhido, atafulhado de roupa desaparelhada, quatro pares de calças, três casacos, dois sobretudos e uma gabardina, como se fosse um guarda-vestidos ambulante, como se tivesse acabado de assaltar uma loja de vestimentas velhas e invernosas - esse, assim nestes preparos, estava enchousado, era enchousado. Enchousar, o verbo, pode também querer dizer espancar, sovar, bater em. E confere. Para isso servem os pobres enchousados, para sacos de pancada.

(Publicado no meu blogue Mistérios de Fafe)

terça-feira, 7 de outubro de 2025

Era uma vez em Fafe

Marcos históricos
Marco Polo, Marco Aurélio, Marco António, Marco de Canaveses, Marco do Big Brother, Marco dos Apeninos aos Andes, Marco Caneira, Marco Chagas, Marco Pantani, marco miliário, marco quilométrico, marco geodésico, marco temporal, Marco do Correio, Marco ni, Marco Bellini e João Simão da Silva, aliás, Marco Paulo.

Se me dão licença, eu creio que não está devidamente estudado o papel de Fafe e dos fafenses ou protofafenses na fundação da nacionalidade. E esta é uma lacuna particularmente repreensível numa terra que exabunda de historiadores e simpatizantes, amiúde galardoados.
Entendamo-nos. A mim nem me passa pela cabeça que Portugal tenha nascido em Guimarães, aqui a menos de três léguas ou, vá lá, digamos a quatrocentos tiros de besta, em qualquer caso perto e bom caminho, e quase sempre a descer depois de Paçô Vieira, nem me passa pela cabeça, dizia, que Portugal tenha nascido em Guimarães, que é do que eles se gabam, e que em Fafe, ao mesmo tempo, não tenha acontecido nada, eles lá em baixo à batatada, à grandessíssima trolha, um vasqueiro desgraçado, e nós aqui como se nada fosse, a vermos a Gabriela na televisão a preto e branco. É impossível. Portugal de certeza que nasceu também em Fafe, nem que tenha sido só um bocadinho, mas os historiadores - são, infelizmente, os historiadores que temos - ainda não deram fé. Esta é a minha ideia.
Eu lembro-me muito bem, e posso testemunhar, em tribunal se for preciso, que, enquanto jovens e antes do futebol e outras vidairadas, os manos Pimenta Machado, ilustres fidalgos vimaranenses, passavam a vida em Fafe. Ora, se os Pimenta Machado, que eram quem eram, uma ínclita geração praticamente, e, para além de outros cabedais, possuíam um considerável estabelecimento em frente às camionetas do João Carlos Soares, cujo escritório ficava praticamente ao lado do Café do Franklin que é o Café Vitória, na parte de fora do mercado de Guimarães, se os Pimenta Machado, enfatizo, não nos desamparavam a loja, o mais certo é que, antes deles, o próprio Afonso Henriques desse também as suas voltas pelos nossos lados, nem que fosse só para desenfastiar ou beber um copo no Nacor, nada mais natural.

Afonso Henriques, esse gabiru de estilo motoqueiro que gostava de vestir saias e há quem diga que batia na mãe, tinha uma espada que pesava toneladas e não cabia no guarda-vestidos e, em rigor, nem sequer existiu. O espadalhão, quero eu dizer. Já o jovem Afonso ficou na história da moda por ter sido o criador da maxissaia. Morava geralmente no austero Castelo de Guimarães e tinha um anexo charmoso chamado Paço dos Duques onde dava as suas festas que eram sobremaneira constadas. No dia 24 de Junho de 1128, tomai nota, depois de uma dessas iglantónicas farras, noitada de São João ainda por cima, Afonsinho do Condado acordou digamos maldisposto, bebeu um copo de água da mina com bicarbonato, mandou chamar o pessoal e os cavalos e derrotou a progenitora, Dona Teresa de Leão, mailo seu amante galego, Fernão Peres de Trava, na Batalha de São Mamede, levada a efeito ali mesmo nos arredores, para evitar deslocações e despesas, que o País ainda estava a começar.

Acontece que a Batalha de São Mamede, aviso já, nunca me convenceu. Custa-me a aceitar que sítios como Creixomil ou Cano (Cáno, como dizem os locais) possam ser mais importantes no que nos é contado como sendo a História de Portugal do que, por exemplo, e não vamos mais longe, Arões ou Cepães, ali mesmo ao pé, mas do lado de Fafe, do nosso lado. Duvido, de resto, que Guimarães tivesse naquele tempo equipamentos, nomeadamente hoteleiros, para acomodar aquela espanholada toda e ainda por cima recinto preparado e certificado para a pancadaria. É que, parecendo que não, um evento desta natureza, uma batalha com cavalos e tudo, implica muita logística. Olhem só a confusão que são hoje em dia as chamadas feiras medievais! Por outro lado, o Multiusos vimaranense funciona apenas desde 2001 e o Estádio, embora chamado D. Afonso Henriques, só ficou uma coisa em condições para o Euro 2004.

Eu cuido que Fafe teria recebido muito mais condignamente a Batalha de São Mamede. Não é por acaso que chamamos a nós próprios, embora sem razão que se perceba, Sala de Visitas do Minho. Olho para a zona de Rilhadas, vamos um supor, e vejo a batalha ali. Vejo claramente vista. Uma zona devidamente infra-estruturada e onde sobejam as condições e comodidades para a organização de uma batalha com todos os matadores e que certamente não envergonharia ninguém.
As pistas estão aí. Há que repor a verdade dos factos. Fafe não pode continuar à porta, nas bordas da História. De uma vez por todas, Fafe deve ocupar o lugar a que tem direito. Se São Mamede foi em Rilhadas, isto é, se a Batalha de São Mamede foi de facto levada a efeito em Rilhadas? Não sei. Esse é o desafio que eu deixo de borla aos historiadores encartados, particularmente aos intrépidos historiadores fafenses, se a tanto os ajudar o engenho e arte. E não me venham dizer que, a esse respeito, a História é omissa. Omissa? Homessa!

(Em nome do rigor histórico, refira-se que, regra geral, os vimaranenses de bom beber e satisfatório comer vinham muito a Fafe e, lá com aquelas manias deles, chamavam Toninho dos Canários ao tasco do Nacor.)

P.S. - Versão revista e aumentada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe. Hoje é Dia Nacional dos Castelos.

Fafe e a Guerra dos Cem Anos

Desarmado em parvo
Era tão pacifista, tão pacifista, tão objector de consciência, tão objector de consciência, tão não-violento, tão não-violento, que havia quem dissesse que ele andava constantemente desarmado em parvo.

A Batalha de Castillon foi levada a efeito no dia 17 de Julho de 1453 e ficou para a História como a derradeira e decisiva batalha da Guerra dos Cem Anos, que decorreu razoavelmente entre franceses e ingleses. A França ganhou, e félicitations à la cousine. A Guerra dos Cem Anos chama-se Guerra dos Cem Anos porque durou cento e dezasseis anos, mas chamar Guerra dos Cento e Dezasseis Anos à Guerra dos Cem Anos não dava jeito nenhum aos historiadores e contabilistas bancários, e assim começaram os arredondamentos, que saem sempre à casa. Por outro lado, a Guerra dos Cem Anos ostenta este curioso e inusitado nome, Guerra dos Cem Anos, para se distinguir da Guerra dos Oitenta Anos, que se verificou não sem alguns sobressaltos entre os futuros holandeses, actuais neerlandeses ou, quiçá, países-baixistas, e Espanha, com a Guerra dos Dez Anos, entre cubanos e espanhóis, com a Guerra dos Treze Anos, entre prussianos e teutónicos, com a Guerra dos Trinta Anos, entre a Alemanha e quem lhe aparecesse à frente, com a Guerra dos Sete Anos, entre França mais aliados e Inglaterra mais aliados (incluindo Portugal), com a Guerra dos Seis Dias, entre árabes e israelitas, com a Guerra das Audiências, entre a SIC e a TVI, e até com a Guerra das Rosas, entre a Rosa Maria e a Rosa Beatriz, que não se dão nem à lei da bala e andam sempre à trolha uma contra a outra derivado ao Anacleto Lingrinhas, que por acaso é pintor de automóveis e aquece a cama a ambas. A História, assim maiusculada, não se compadece realmente com equívocos.

E quereis saber como é que começou a Guerra dos Cem Anos? Então, cá vai.
Era um encontro previsto para ser aprazivelmente diplomático e discutido à melhor de três sets, quando Mister Cheddar, pela Inglaterra, e Monsieur Camembert, pela França, reuniram em Sherwood, sob os auspícios do Robin dos Bosques e a bênção de Frei Tuck, tendo sobre a mesa, já naquele tempo, a delicada questão das quotas leiteiras. Estava tudo a correr bem, estava-se até bastante agradável, entre uísques e champanhes perfeitamente bebidos, mas era um cheiro a chulé que não se podia. Foi então que o inglês, já com um grãozinho na asa e uma mola de roupa no nariz, não aguentou mais e questionou o francês, com a ajuda do José Milhazes, que fazia as traduções: - Porque é que o caro amigo (old chap, no original) não vai mas é lavar os pés no Sena?...
O franciú levou a mal e foi assim que começou a Guerra dos Cem Anos. Até hoje.

Ora bem. Eu cuido que a Batalha de Castillon ocorreu em Fafe, exactamente em Fafe, aqui mesmo nas nossas barbas, numa antiga elevação situada entre a Ponte do Ranha, o Socorro, a Alvorada, a Fábrica do Papelão, a casa da Dona Aurora e o Estádio, com o rio Ferro a passar e os campos e bouças de Cavadas aos pés. Ali se alcandorava, com efeito, o famoso monte de Castelhão, como se diz em português corrente, ou Castilhom, como se diz em fafês correcto - e portanto está fácil de ver onde franceses e ingleses foram buscar local e nome para a refrega. O monte de Castelhão era, na verdade, um sítio aprazível para a realização de todo o tipo de batalhas, como por exemplo brincar aos cobóis, e tinha um belíssimo pionono, de que infelizmente não há muita certeza. Mas isso é outra história.

Em todo o caso, não será certamente despiciendo relembrar que Fafe, o seu centro histórico e arredores consuetudinários, sempre dispôs das melhores e mais vantajosas condições naturais e estruturais para a realização de grandes eventos e mesmo certames de índole nacional e, como se vê, até internacional ou mais, nomeadamente batalhas e guerras de uma forma geral e dos mais diversos feitios. É uma terra que fica à mão e onde medram e farturam equipamentos a esse respeito e subsídios camarários. Não por acaso, suspeito e defendo que a própria Batalha de São Mamede, fundadora da nacionalidade, foi em Fafe que realmente se desenrolou, pelo menos um bocadinho, e ainda ninguém me conseguiu provar o contrário.

P.S. - Versão revista e aumentada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe. Hoje é Dia Nacional dos Castelos.

A esfera armilense

Carlota Joaquina, Teolinda Joaquina de Sousa Lança (aliás, Linda de Suza), Joaquina de Vedruna, Mariana Joaquina Apolónia da Costa Pereira de Vilhena Coutinho, Joaquina Lapinha, Joaquininha, a minha sogra, e a Quininha "Varandas", de Fafe. Sete Quinas, como dizia o outro.

A esfera armilar só pode ter sido inventada em Armil, talvez no tempo dos romanos, que é um tempo do mais antigo que pode haver. Mais antigo do que o tempo dos romanos, só o tempo dos dinossauros, que, no entanto, não eram um povo assim tão evoluído. Mas quanto à invenção da esfera, que não haja dúvidas: em Armil, como o próprio nome indica, armilar, para não dizer armilense, e nem é de admirar, tendo em conta que a História de Portugal e até de outros países mais ou menos estrangeiros passou-se bastante aqui em Fafe, basta ver as batalhas de São Mamede e de Castillon, para não irmos mais longe.

P.S. - Versão revista e aumentada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe. Hoje é Dia Nacional dos Castelos.

domingo, 5 de outubro de 2025

Meninos, à mesa!

Espanto gastrointestional
Ele era vegetariano e cagava postas de pescada. A ciência nunca soube explicar o fenómeno.

Quando a corneta, ou olifante, tocou para o tacho, eram mais de três mil cavaleiros, de faca e garfo em punho como se fossem para uma justa, mas sentados e com um apetite escancarado e lavajão, posto que estávamos na Idade Média, e higiene e boas maneiras não eram com eles naquele tempo. Manifestamente atónito e arreliado assim assim, o rei Artur fez contas à vida, pelos dedos, apaziguou a algazarra da turba colorida e apenachada com meia dúzia de flechas cirurgicamente colocadas e obviamente fatais, invocou o regimento e colocou um ponto de ordem à mesa. O seguinte: "Embora nunca tenhamos realmente existido, está historicamente provado que vocês não podem ser mais de doze, talvez 24, ou, para não me chamarem unhas de fome, temos sala para 150, fora as crianças, que pagam metade. Agora, famílias inteiras, 3.145 adultos e gordos, menos os seis que eu vindimei, já é uma escandalosa moinice. De onde é que me apareceu esta gente toda, que ainda por cima não traz o Magriço, que até nem dá despesa nenhuma, como o próprio nome indica? Por São Jorge, isto é a Távola Redonda, não é a sopa dos pobres"...

Moral da história: Por isso é que os Fins de Semana Gastronómicos e o Festival da Vitela Assada à Moda de Fafe são comidos em mesas corridas, geralmente rectangulares. Para evitar confusões.

P.S. - Versão revista e apurada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe. Hoje é o último dia do Festival Gastronómico da Vitela Assada à Moda de Fafe.

sábado, 4 de outubro de 2025

O melhor dia do anho

É preciso ter lata
O confinamento da pandemia fez dele um verdadeiro especialista em atum, preparando-o para toda a espécie de apagões. Bom Petisco à segunda, Ramirez à terça, Tenório à quarta, Minerva à quinta, Pitéu à sexta e Inês ao sábado. Ao domingo, sardinha em tomate, evidentemente.

Quatro ou cinco dias antes do domingo da Senhora de Antime, que é o segundo domingo de Julho, um pastor mailo seu rebanho davam entrada no largo do Santo Velho, mesmo em frente a nossa casa, e ali se estabeleciam, montando pasto, posto de venda e açougue, até que o último anho fosse despachado, isto é, até ao extermínio total. O pastor tinha cajado de pastor e cão de pastor, mas não era um verdadeiro pastor, era um senhor creio que da Rua de Baixo ou Santo Ovídio com faro para o negócio e habilidade para matar cabritos. Só era pastor, quer dizer, cabriteiro, naquela época do ano. E o rebanho também era um falso rebanho, os animais não se conheciam de lado nenhum, juntavam-se apenas para aquilo, naquela ocasião, mal eles sabiam com que fim, eram recrutados nos lavradores das redondezas e levados ao engano e ao altar do sacrifício, quer-se dizer, ao forno do fogão a lenha, de preferência, com batatinha dourada e arroz seco e solto, tudo muito bem comido e regado, na mesa grande e em família alargada, logo a seguir à procissão mas sem pressas. O fogão era amiúde na vizinha, por favor, bastava ir lá às horas certas para dar as devidas voltas à pingadeira.
Antes que me esqueça, para os de fora: o cabrito, generalizemos assim por bondade, era e suponho que ainda é o prato oficial das Festas de Fafe, isto é, da Senhora de Antime. O que não deixa de ser irónico, na terra da vitela assada. Naquele tempo, o cabrito entrava em nossa casa apenas uma vez por anho, e, é preciso que se note, em anhos bons...
No Santo Velho acontecia tudo, o Santo era um largo multiusos. Portanto também servia de matadouro e talho, escancarado e a céu aberto. O Santo era o centro do mundo. Os clientes vinham de toda a parte, da Feira Velha, da Fábrica do Ferro, do Retiro, da Ponte do Ranha, da Fonte da Cana, de onde calhasse. As pessoas escolhiam o animal que queriam levar para casa, maior ou mais pequeno, vivo ou morto, como os bandidos procurados no Velho Oeste americano. O peso e o preço eram combinados a olho, entre vendedor e comprador, e mais tarde eventualmente ajustados, coisa de nada, após pesagem da carcaça numa balança de mola propriedade do magarefe e viciada com toda a certeza.
Se era para seguir cadáver, o bicho morria logo ali, encostado ao muro do quintal da Senhora Carolina, avó do Naninho. O matador tinha um tenebroso conjunto de facas ou navalhas de diversos tamanhos e feitios, mas todas muito bem afiadas. E tinha também um pequeno tubo de cana que usava para, soprando-lhe do fundo da alma, com a cara a passar perigosamente pelas três cores dos semáforos, amarela, verde e vermelha, por esta ordem, inflar grotescamente a pele do animal, separando-a da carne e dobrando-lhe o tamanho, aquilo tudo quase a rebentar, o homem e o odre, cuidava eu, e era realmente uma coisa extraordinária de se ver, para depois proceder à esfola, facilmente, com uma perna às costas, como quem limpa o cu a meninos. E antes assim.
Era uma mortandade que só vista, caíam uns atrás dos outros. O chão do Santo enchia-se de vísceras e tripas e peles vazias e varejas grandes, feias e verdes. O Santo era uma poça de sangue, uma vala comum, uma estrumeira. O ar do Santo tornava-se irrespirável, cheirava a erva, a merda, a palha, a sebo, a azedo, a peste, e até as tílias se afligiam. O Santo fedia. Mas era por uma boa causa...
Por pobreza ou conveniência, havia quem comprasse o cabritinho a meias, ou até em quartos, mas quanto a isso os clientes é que se entendiam. Quem tivesse um galinheiro de vago ou um bocadinho de quintal, aproveitava para comprar o anho mais cedo, quando a possibilidade de escolha era maior, e levava o anho vivinho da silva para dois ou três dias de engorda. Na sexta-feira e não sei se ainda no sábado, o matador ia a casa e acabava de vez com a conversa.
Cá fora, o refugo aguardava pelos retardatários do costume.
Quem tinha de aparecer, por aqueles dias, era o Landinho, o Nosso Menino. E aparecia, porque o Landinho aparecia sempre. O Landinho andava de porta em porta e navalha na mão oferecendo os seus préstimos como matador de cabritos. Isso. O nosso Landinho, que era, entre outros afazeres delirantemente encartados, fiscal da câmara, polícia de trânsito, passador de multas e até padre, também matava muito bem cabritos, embora nunca o tivesse feito nem chegou a fazer, para sorte dele, dos cabritos e de nós todos.

Portanto, meus amigos fafenses, o segundo domingo de Julho, dia da Senhora de Antime, é agnus day, quer-se dizer, dia do anho. Mas também da vitela. E, se calhar, das tripas, aquele meio tachinho que sobra estrategicamente do almoço de sábado. E atenção: onde escrevi "tripas" e "vitela assada", deve falar-se "tripasss" e "bitela assada", com os ésses muito bem condimentados. Vitela e falar à moda de Fafe, sempre! Isto é, "sémpre"! A vitela assada à moda de Fafe, minhas senhoras e meus senhores, é provavelmente a melhor vitela assada do mundo. E isso nem tem discussão.

P.S. - Versão revista e apurada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe. Arrancou ontem e vai até amanhã a décima edição do Festival Gastronómico da Vitela Assada à Moda de Fafe.

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Adeus, confrade, até outro dia

Foto Expresso de Fafe

A bela foda
Iam receber visitas e ela não sabia o que lhes havia de dar. "E se lhes déssemos uma boa foda?", sugeriu ele. Eram, com efeito, uma família tradicional, monçanenses dos quatro costados.

E agora, o que vai ser das nossas confrarias? Agora, quero dizer, agora que está tão próximo o dia infame da vitória de todos os veganismos e vegetarianismos, o que vai ser, repito, das nossas queridas confrarias. E penso muito especialmente, com o coração pesado e não sem um amargo de boca, na Confraria Gastronómica da Região de Lafões, na Confraria da Carne Barrosã, na Confraria Gastronómica da Raça Arouquesa, na Confraria Gastronómica do Toiro Bravo, na Confraria da Foda de Pias-Monção ou, puxando a brasa à nossa sardinha, na Confraria da Vitela Assada à Moda de Fafe, honradas e orgulhosas confrarias que destaco ao acaso entre as cento e vinte e três mil novecentas e oitenta e sete confrarias gastronómicas de Portugal. E agora as confrarias? Agora que o consumo de carne está à beira de ser crime, o que vai ser daquelas fatiotas todas janotas? E dos pins? E das fitas? E das medalhas? E dos chapéus tão pândegos? E dos sarrafos? E das tainadas quinzenais? E das passeatas? E dos desfiles? E daquele sentimento de casta superior e há uns que são sempre os mesmos? E das viagenzinhas eventualmente de geminação, de preferência ao estrangeiro, sempre que possível ao Brasil, o que vai ser, agora?
Teremos sempre, graças a Deus, a Confraria de Nossa Senhora das Neves e a Confraria da Folha de Alface Repolhuda. Mas terão estes dois oásis, digamos confreiráticos, condições para acolher, pelo menos com o conforto devido a uma galinha pedrês, os milhões de confrades e confreiras assim de repente despejados dos seus deveres e haveres por esse país fora, como se fossem bandidos, refugiados, imigrantes ilegais praticamente?
Estou bastante preocupado.

A respeito do título. A lengalenga dos antigos em Fafe lengalengava-se assim como se segue, fazendo o sinal da cruz, Deus me perdoe: "Pelo sinal, bico real, comi toucinho no teu quintal, se mais me desses, mais eu comia, adeus, compadre, até outro dia."

P.S. - Versão revista e apurada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe. Está aí mais uma edição do Festival Gastronómico da Vitela Assada à Moda de Fafe. Os confrades são muitos, mas os restaurantes aderentes são apenas cinco. Começa hoje e vai até domingo, no Parque da Cidade. E tem workshop, evidentemente...

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

A guardar-se para a vitela

À moda de Fafe
Podem-lhe pôr rodela de laranja. Podem. Podem pôr-lhe, até, rodela de ananás ou rodela de quivi ou fatia de abacate ou, se calhar, morangos com chantili, picles, frutas cristalizadas, farofa, "ketchup" ou mostarda de Dijon, claro que podem. Ponham! Mas, se é vitela assada à moda de Fafe, melhor fariam se não pusessem. Como diziam os antigos: não é dado...

Os domingos tinham esse pequeno problema, e quem for de Fafe e antigo sabe do que falo: tripas ou vitela assada? Era a verdadeira questão, o dilema do almoço dominical. Os fafenses de antanho, gente de bom comer e satisfatório beber, resolveram facilmente o assunto: isto é, em vez de tripas "ou" vitela assada, o almocinho de domingo passou a ser tripas "e" vitela assada. Até hoje. Nem o bíblico Salomão, nos seus melhores tempos, tomaria decisão mais acertada.
vitelinha guiava-se em casa, com vagar e carinho, com as voltinhas todas, se possível em forno ou fogão de lenha, pingadeira de barro, velhinha, bem tarimbada, e as tripas, regra geral, iam-se buscar num tachinho à Esquiça ou à Pacata, consoante a ideia que cada um tinha acerca da sua própria posição social - o que agora até dá para rir, sabendo-se da história completa e vendo-se assim a coisa à distância...
Começava-se, portanto, pelas tripas, e a seguir vinha a vitela. O apetite era gerido ao milímetro, mais ou menos um bocadinho daquelas, mais ou menos um bocadinho desta - porque, como determina o princípio da impenetrabilidade da matéria, dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo, e as vacas é que têm quatro estômagos, melhor para nós. Ora bem: a malta nova, pouco dada à tripalhada, reservava-se para a chicha com batatinha de ouro e arroz seco e solto. Mas, de quando em quando, reservava-se mal. Como daquela vez em que o nosso Zé não tocou no feijão. Perguntaram-lhe se estava doente, se tinha fastio, se queria um caldinho branco, se queria meter o termómetro. Que não, que não, que não e que não, respondeu respectivamente, e explicou todo gaiteiro: - Estou a guardar-me para a vitela!
Naquele domingo não havia vitela. E as tripas já tinham saído da mesa...

Agora, muita atenção: onde escrevi "tripas" e "vitela assada", deve falar-se "tripasss" e "bitela assada". À moda de Fafe. E, repito, mais atenção ainda: a vitela assada à moda de Fafe, quando bem trabalhada, é provavelmente a melhor vitela assada do mundo.

P.S. - Versão revista e apurada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe. Está aí mais uma edição do Festival Gastronómico da Vitela Assada à Moda de Fafe. É já de amanhã a domingo, no Parque da Cidade. E tem workshop, evidentemente...

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Provavelmente a melhor vitela assada mundo

Assim e assado
- Há dias assim.
- E dias assado?
- Assado? Foi tempo... 

Eu às vezes temo pelo futuro da nossa vitela assada. A existência da confraria respectiva não me sossega e por acaso até já me preocupou. Isto é, não sei se a nossa vitela assada à moda de Fafe está realmente em boas mãos. O circo chegou à cozinha. Lembro-me das nossas Feiras Francas de 2013 e de uma programação toda modernaça que até meteu workshoppingshowcasing e showcooking, e esta parte afligiu-me desde logo. Anunciava-se "a tradição e a inovação de mãos dadas", prometia-se a "elaboração de pratos tradicionais recriando com inovação", e eu, à rasca, só pedia aos Céus: - Com a nossa vitela, não! Senhor, fazei com que eles deixem estar tudo como está, que está tão bem, graças a Deus! São Lourenço, padroeiro dos cozinheiros, segundo uns, rogai por nós! São Benedito, padroeiro dos cozinheiros, segundo outros, rogai por nós! Minha rica Senhora de Antime, livrai-nos dos estragadores e salvai a nossa vitela assada, amém!
É. Eu sou muito religioso, embora amiúde não pareça, e levo a comida muito a sério, mas isso já se sabe. A honesta vitela assada à moda de Fafe até poderá ter os dias contados, porque os comedores de rúcula e outros tofus ainda nos vão proibir o consumo de carne, mas, enquanto não é crime, eu faço questão que a deixem em paz. Uma simples rodela de laranja a enfeitar, ainda que com a melhor das intenções, pode deitar tudo a perder.
E por isso digo e redigo: não mexam na nossa vitela assada! A vitela assada à moda de Fafe é o que é. É à moda mas não há modas. É, sem tirar nem pôr. Não tem variações, não admite inovações, dispensa recriações ou até interpretações. É vitela assada à moda de Fafe. Tal e qual como a recebemos dos nossos avós e dos avós dos nossos avós. Assim.

Sei muito bem o que fizeram à lampreia. A lampreia é, para mim, o supra-sumo da melhor gastronomia alto-minhota. Uma gastronomia apurada, robusta, variada, generosa, com personalidade, como eu gosto e como é, no geral, toda a honesta cozinha tradicional portuguesa. Há o arroz de lampreia, há a lampreia à bordalesa. E até admito mais duas ou três bondosas variantes (como a lampreia fumada, a lampreia recheada ou a lampreia assada), mas que, não desmerecendo, já não me são a mesma coisa. Eu fico-me pela arrozada a fugir do prato a todo o vapor e pela bordalesa intensa e substancial - embora, como a maioria dos portugueses, já só coma lampreia praticamente de memória.
No Alto Minho, a lampreia é justamente considerada "um prato de excelência" e de tradição. Sim, de tradição. "Para confeccionar um produto de qualidade com paixão e arte, nada melhor que as mãos de afamadas cozinheiras que receberam os testemunhos e segredos de gerações passadas, com raízes na ancestral tradição culinária do Vale do Minho", lia-se, uma vez, num opúsculo que chamava visitantes e promovia o consumo do apreciado ciclóstomo nos restaurantes da região.
E até aqui tudo bem. Só que, na capa do tal prospecto, a lampreia era apresentada num empratamento aguado e triste, desenxabido, somítico, obra certamente de um daqueles famosos jovens chefs da televisão que não cozinham nada mas têm muito jeito para as artes plásticas. Resultou assim uma coisa de snack-bar cantineiro, algures entre Nova Iorque e Bogotá, sem passar por Bouças, espécie de nouvelle cuisine pretensiosa e escusada, que envergonha a velha lampreia e a tradição gastronómica alto-minhota. Uma desgraça.
Assusta-me que venha a passar-se o mesmo com a nossa vitela. Quer-se dizer: temos provavelmente a melhor vitela assada do mundo, vamos agora inventar o quê?...

P.S. - Versão revista e apurada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe. Está aí mais uma edição do Festival Gastronómico da Vitela Assada à Moda de Fafe. É já de sexta-feira a domingo, no Parque da Cidade. E tem workshop, evidentemente...

Halloween adiado

Devido às previsões de mau tempo para sexta-feira, a Câmara de Fafe adiou todas as atividades da iniciativa "A Bicha das 7 Cabeças...