Foto Tarrenego! |
E como é que lhe veio o nome fantástico? Em pequeno, ali para os lados de Portugal e do Lombo, o Armando gostava muito de brincar esvaziando os pneus de todos os automóveis que lhe calhassem à mão de semear e longe da vista dos donos. Ele explicava que lhes estava a tirar a... zegolina. E daí o nome e a lenda. O nosso Zegolina jogou futebol até aos juniores na AD Fafe e, entre 1968 e 1971, foi soldado pára-quedista e tratador-treinador de cães de guerra. Voluntário. Cumpriu oito meses de Guiné, durante os quais realizou 21 saltos, quase sempre em situações de combate. Foi operário têxtil evidentemente na Fábrica do Ferro, emigrante em França no ramo dos elevadores, e quando tornou a casa, em 1979, fez-se electricista por correspondência e montou negócio. Frequentávamos ambos o inevitável Peludo e acompanhámos depois a módica deslocalização do Peixoto, que foi só virar a esquina. Éramos amigos, eu e o Zegolina - mais o estimado Manel Zebras, os três à mesa pária em que mais ninguém queria entrar. Éramos amigos. O Zegolina ansiava pelas minhas férias e pelos meus bissextos retornos a Fafe, para pormos a conversa em dia, e tínhamos uma certa pressa nisso. Éramos amigos conversantes, confidentes, cúmplices e leais, como o aço. E o Zegla até nem era nada disso de amizades derivado à língua, embora por detrás da língua desgovernada estivesse um homem generoso, bom rapaz, um pouco tímido até, como o da cantiga da Madalena Iglésias, mas ele não queria que se soubesse. Ele era ruim só da boca para fora, e essa era a sua magnífica fraqueza.
O Zegolina morreu há anos, mas muito antes do prazo, muito antes do que seria decente ou razoável, morreu devagar, quero dizer, foi morrendo a olhos vistos, com o corpo de atleta e militar de elite cobardemente escangalhado pela sorrateira doença dos pezinhos ou paramiloidose. E isso, convenhamos, não se faz.
O Zegolina morreu há anos, mas muito antes do prazo, muito antes do que seria decente ou razoável, morreu devagar, quero dizer, foi morrendo a olhos vistos, com o corpo de atleta e militar de elite cobardemente escangalhado pela sorrateira doença dos pezinhos ou paramiloidose. E isso, convenhamos, não se faz.
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