domingo, 13 de agosto de 2023

Nem tanto ao mar nem tanto à terra

Foto Hernâni Von Doellinger
Américo Tomás, o Culto, costumava dizer de improviso, mal iniciava uma das suas benfazejas visitas às sucessivas terras de Portugal: - Esta é a primeira vez que estou cá, desde a última vez que cá estive...
Pois bem. Creio que este também é o primeiro fim-de-semana, depois dos dois últimos fins-de semana, em que eu não escrevo sobre bacalhau. Isso, bacalhau. E não escrevo sobre bacalhau, embora ontem tenhamos ido comer mais uma vez o melhor bacalhau assado na brasa do mundo aí a um sítio, mas não escrevo sobre bacalhau, dizia eu, porque recebi certas e determinadas críticas alegando que estou sempre a falar de bacalhau e que tanto bacalhau até enjoa e que há mais vida para além do bacalhau e não sei que mais...
A crítica é livre e serve geralmente para limpar o cu, mas devo dizer que o meu sogro tinha uma máxima a respeito de bacalhau que talvez não seja de deitar fora. O meu sogro, que faria 93 anos na passada sexta-feira se não me tivesse morrido nos braços num fim de tarde do fim de Novembro de 2015, declarava, na sua infinita simplicidade: - Se me derem bacalhau todos os dias, para mim está muito bem e até agradeço.
E o meu sogro só sabia de meia dúzia das mil e uma maneiras de cozinhar bacalhau. Mas não era esquisito, estava servido. E ontem fez-nos falta à mesa.
Já a minha sogra, que vai a caminho dos 92 e continua sem razões de queixa do apetite, tem um visão mais ampla do universo, outra sabedoria. E defende que a vida é composta por três qualidades. Costuma filosofar, aliás, a esse propósito: - Nem sempre carne e nem sempre peixe. De vez em quando também é preciso comer um bocadinho de bacalhau.
Exactamente. Carne, peixe e bacalhau, as três espécies sobreviventes após a liquidação dos dinossauros. A minha sogra, que nunca na vida deixou o meu sogro ter razão, é que está certa. Este mundo não é só bacalhau. Ainda por cima ao preço a que ele está.

Seja como for, já disse, sobre bacalhau, hoje, da minha boca, nada!

5 comentários:

  1. Porra, vai ser a terceira vez em, sei lá, 2 semanas, vou cozinhar bacalhau...com poucas batatas, pois são desaconselhadas a diabéticos, algo que tenho o desprazer de ser, mas com suficientes cenouras. Fazia tempo que não comia bacalhau, pois se por aí está caro, imagina em terras de Sua Magestade, o Carlitos, mas desde que li as tuas primeiras narrativas sobre o cod, sinto uma quase incontrolável vontade de comer bacalhau. Principalmente em forma de punheta. Ou na brasa, claro.

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    1. Havia um tasco em Revelhe, se não estou em erro, que fazia uma punheta realmente do outro mundo, perfeita. E creio que a oferecia, sem levar um tostão, se por acaso o cliente encontrasse uma espinha que fosse. Conta a lenda que tal nunca aconteceu.
      Por outro lado, não me lembro se a clientela era revistada à entrada. Levar uma espinha de casa era capaz de ser boa ideia...

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    2. Também tinha conhecimento de tal, mas a verdade é que em Fafe, no que a bacalhau diz respeito, não tinha nada como os bolinhos da Albertininha da Lameira, sejamos justos...

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    3. Quanto aos bolinhos da Albertininha da Lameira, estamos conversados. Mas. Sem menosprezo por outros notáveis bacalhaus fafenses que desconheço ou esqueci, a Juditinha, no centro da vila, fazia um bacalhau em posta robusta que também era uma categoria. Comi somente uma vez, no casamento de uma prima, há coisa de 40 anos, e vê lá a impressão que me deixou....

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    4. Verdade e eu sou testemunha, pois quando trabalhava no hospital almocei na Juditinha, diariamente, durante mais de um ano. Senhora culináriamente super prendada, mas acima de tudo uma Mulher com um coração inigualável.

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