sábado, 8 de março de 2025
Dona de casa, dona de quê?
Vieram as calças, e ela nada. Os movimentos libertários, o divórcio, o voto, a canasta, os empregos, os carros, os cigarros, as gravatas, os sapatos de salto baixo e os sapatões também vieram, e ela nada. Em casa, sempre em casa, de uma virgindade absoluta em relação ao amantíssimo esposo e demais, bordava, falava francês e tocava piano. Ouvia os discos pedidos e lia Corín Tellado. E dava alpista ao canário. E regava os vasinhos, ela própria uma flor de estufa, no larguinho da vila antiga. E compunha almofadinhas e peluches e corações por sobre o delicado leito conjugal. Muito cor-de-rosa, muita renda na roupa interior que só ela sabia, muito tafetá, muitos lacinhos e sabonetinhos. Tanto pó de talco e perfume! Queimou uma vez um sutiã, é verdade, mas foi sem querer, passando a ferro, quando a serviçal lhe faltou. Tirando isso, nada. Parecia doença. Crónica. As vizinhas, que nem lhe conheciam o nome, chamavam-lhe, por graça, Crónica Feminina.
P.S. - Hoje é Dia da Mulher.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Em defesa dos nossos bandidos
É como fafense que me queixo. Fafe está muito mal se já são apanhados na nossa terra adeptos casuals , logo cinco de uma vez, ainda por cima...
-
Foto Hernâni Von Doellinger Durante muito tempo cuidei que se chamavam assim por causa das vacas que ficavam cá fora presas pela soga às arg...
-
Foto Hernâni Von Doellinger O Canivete que vendia jornais, o Palhaço que fazia autópsias, o Cesteiro que esteve nas trincheiras da Primeira ...
-
Foto Hernâni Von Doellinger A minha rua era um largo. Santo Velho, como lhe chamavam os antigos, ou apenas Santo, como lhe chamávamos nós os...
Sem comentários:
Enviar um comentário