segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Relações públicas, vícios privados

Uma vez há muitos anos, começava eu no ofício dos jornais, mandaram-me a uma conferência de imprensa no palacete da secção do Porto da Ordem dos Médicos. A Ordem dos Médicos do Porto tinha então um assessor de imprensa, relações públicas ou director de comunicação, como parece que agora se diz, que era jornalista no activo, certamente com carteira profissional validada, com cargo de chefia em agência noticiosa pública e que, se a memória não me atraiçoa, também era treinador de futebol. Era portanto o verdadeiro enciclopedista do século vinte. Ou o sebastião come tudo, tudo, tudo. O homem sorria à porta da salinha, com uns bilhetinhos na mão e eu logo a pensar "só entro se pagar ou serão rifas? passo-me já ao caralho, e quero lá saber das maiúsculas..."
Os bilhetinhos. Eram perguntinhas dactilografadas como quadras para concurso de São João no JN. As perguntinhas que os da Ordem dos Médicos do Porto ou pelo menos o meu obtuso camarada queriam que os jornalistas fizessem na tal conferência de imprensa, posto que eles por acaso já tinham a resposta na ponta da língua. Mandei o assessor lamber sabão, como aprendi na minha terra, vim-me embora imediatamente e nem sequer quis saber se alguém de corpo presente aceitou a encomenda.
Mas sei.

P.S. - Hoje é Dia Internacional das Relações Públicas. Como se sabe, as relações públicas são crime e até podem dar cadeia. Quanto mais não seja, por exibicionismo e ultraje ao pudor.

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