Foto Hernâni Von Doellinger |
Chancas é calçado de pau, valha-me Deus! E no entanto chancas era bom. Porque abaixo de chancas eram socos, ainda mais miseráveis e lavradorescos, e abaixo de socos era descalço. Sim, descalço. Andava-se descalço no Portugal pré-25 de Abril, tal qual como agora nos querem outra vez. Andava-se descalço por necessidade e quem andasse descalço era multado pela polícia, ia para o posto e até podia acabar na Pide e na cadeia. Não é altamente suspeito que nos tenham deitado ao lixo a memória daqueles anos?
Mas, perdi-me, era apenas para dizer mais isto: as chancas, exactamente como as galochas, estão na moda e caras. Suponho que os netos, as netas, os bisnetos e as bisnetas dos ricos da minha terra correm todos a comprar chancas. Anacrónicos por maldição, os pobres da minha terra calçarão modernamente sapatinho dirópito - e choram por andarem toda a vida ao contrário. Choram. E eu só me dá para rir.
Mas, perdi-me, era apenas para dizer mais isto: as chancas, exactamente como as galochas, estão na moda e caras. Suponho que os netos, as netas, os bisnetos e as bisnetas dos ricos da minha terra correm todos a comprar chancas. Anacrónicos por maldição, os pobres da minha terra calçarão modernamente sapatinho dirópito - e choram por andarem toda a vida ao contrário. Choram. E eu só me dá para rir.
À conclusão: ao andar, as chancas e os socos, batendo em cheio no chão, faziam um basqueiro desgraçado. Dentro de casa, naqueles velhos soalhos gastos, carunchosos e periclitantes, então era um autêntico terramoto, aliás muito bem aproveitado como fundo musical pelos ranchos folclóricos. Mas no dia-a-dia antigo, doméstico, as chancas e os socos ficavam à porta, do lado de fora. Por causa do banzé, da lama e da terra que traziam agarradas dos campos e do quintal, e evidentemente derivado ao insuportável chulé. Insuportável mas honrado.
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