segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

A passagem de ano em Fafe

A passagem de ano em Fafe era bem porreira no meu tempo. As motas andavam sem escape à meia-noite no Largo e bebia-se Magos no Peludo. Uma coisa verdadeiramente constada, uma festa inegavelmente de arromba! Vinha povo de fora, a Arcada enchia-se como um ovo, por baixo e por cima. Era o delírio! Tremens. As motas eram sobretudo Zundapp e Sachs, faziam um basqueiro desgraçado e os tombos sem capacete eram saudados como se fossem golo! Às vezes a festa metia também ambulância, num extraordinário espectáculo de som, luz e cor. O Magos era uma merda, mas naquela altura eu não sabia. Fazia também muito frio na rua, que era onde o ano passava, um frio que não se podia andar com ela de fora, e já era a sorte grande chegar a casa com o nariz e as orelhas inteiras, isto para não falar de outros acessórios ordinariamente mais recatados. Na manhã do dia seguinte, que só começava, a bem dizer, à noite, o ano novo metia baixa.
O ano passava em Fafe apenas uma vez por ano, como no resto do mundo, embora no resto do mundo o ano não passe sempre à mesma hora, mas, não sei porquê, em Fafe parecia que o ano passava todos os dias, isto é, todas as noites. Os de agora podem não acreditar, mas era assim a vida na nossa terra, e era de categoria...

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