segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

A passagem de ano em Fafe

A passagem de ano em Fafe era bem porreira no meu tempo. As motas andavam sem escape à meia-noite no Largo, bebia-se Magos no Peludo e vomitava-se abundantemente. Uma coisa verdadeiramente constada, uma festa inegavelmente de arromba! Vinha povo de fora, até de Guimarães como se fossem espanhóis, a Arcada enchia-se como um ovo, por baixo e por cima, por dentro e por fora. Era o delírio! Tremens. As motas eram sobretudo Zundapp e Sachs, faziam um basqueiro desgraçado e os tombos sem capacete eram saudados como se fossem golo do Benfica! Às vezes a festa metia também ambulância, num extraordinário espectáculo de som, luz e cor. O Magos era uma merda, mas naquela altura eu não sabia. Fazia também muito frio na rua, que era onde o ano passava, um frio que não se podia andar com ela de fora, e já era a sorte grande chegar a casa com o nariz e as orelhas inteiras, isto para não falar de outros acessórios ordinariamente mais recatados. Na manhã do dia seguinte, que só começava, a bem dizer, à noite, o ano novo metia baixa.
Portanto, ia-se ao Largo ver o fim do ano. O ano passava em Fafe apenas uma vez por ano, como no resto do mundo, embora no resto do mundo o ano não passe sempre à mesma hora, mas, não sei porquê, em Fafe parecia que o ano passava todos os dias, isto é, todas as noites. Os de agora podem não acreditar, mas era assim a vida na nossa terra, e, garanto-lhes, era de categoria.

A passagem de ano em Fafe agora chama-se Réveillon e é um certame, porque em Fafe agora tudo é certame, até a Senhora de Antime, e se não é certame, pelo menos é evento e de certeza é icónica, a passagem de ano, porque em Fafe agora tudo é icónico. De acordo com os anúncios, o Réveillon sucede no quentinho do Multiusos e apresenta Quim Barreiros, área gold, área premium, área vip e área white, que deve ser o antigo peão, todos os utentes com pulseiras como nas urgências dos hospitais. Motas a desbundar e ambulâncias em tinoni é que nada, em princípio, e Magos de certeza que também não. Quer-se dizer, está certo, há-de ser uma festa ajeitada lá à maneira da rapaziada moderna, com muito gelo mas sem geada, mete o carro, tira o carro, o que se pôde arranjar, mas, por favor, não tem comparação com a nossa...

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