sábado, 20 de julho de 2024

A Lua era em câmara lenta

Não sei se se lembram: Eurico da Fonseca (1921-2000) foi o principal especialista português em astronáutica, e creio que ainda é, embora já não exerça por razão de força maior. Praticamente autodidacta, nomeado investigador por decreto-lei e oficialmente equiparado a professor catedrático, colaborou com a NASA e conheceu os principais responsáveis pelo Programa Apollo. Notabilizou-se entre nós como divulgador de assuntos científicos. Na rádio, acompanhou em directo, na então Emissora Nacional, a chegada do homem à Lua, faz hoje exactamente 55 anos, e comentou os voos espaciais norte-americanos e soviéticos. Mas era na RTP que eu gostava de o ouver. Ouver, escrevi bem. A Lua também deu na televisão e, eu bem vi, era em câmara lenta.
Pois foi com Eurico da Fonseca na televisão - na televisão evidentemente a preto e branco do café Peludo - que eu aprendi que, quando se fala de um lançador espacial, deve dizer-se foguete e não foguetão. Foguete. Tal como na meia de vidro com fio puxado. Foguete. Tal como o velho comboio Porto-Lisboa que era praticamente um luxo e chegava aos cem à hora. Foguete. Tal como no Santo António da minha rua em Fafe, com girândolas, diabos-encaixados, bombinhas, estalinhos e bichas-de-rabear, ou rabichas, como por lá se chamavam. Foguete. E outro especialista em foguetes e apetrechos correlativos era o nosso Rates, raríssimo cromo de almanaque. Foguete. Eurico da Fonseca explicava, apenas insinuando, que foguetão é outra coisa: por exemplo, coisa gasosa, eventualmente sonora e, por norma, fedorenta. Quer-se dizer: um peido, uma bufa, um traque, um flato, uma farpa, um pum, com vossa repetida licença, e isso já seria matéria da alçada do nosso Moisés...

P.S. - Hoje é Dia Internacional da Lua.

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