Foto Tarrenego! |
Ainda assim, alguns médicos começam a enviar os seus doentes àqueles serviços especializados. Ali, principia-se por uma consulta, espécie de acto de confissão durante o qual, pela primeira vez ao fim de muitos anos, o ex-combatente consegue verbalizar e encarar o som das suas experiências; depois, uma entrevista, sob a forma de questionário de personalidade, por forma a avaliar a gravidade dos sintomas; segue-se o diagnóstico, dizendo-se então à pessoa o que se passa com ela e propondo-lhe o tratamento: a terapia de grupo e, em casos extremos, o complemento de medicamentos antidepressivos e ansiolíticos.
Os grupos de dez ou doze indivíduos reúnem uma vez por semana, durante quatro meses. Os doentes são encorajados a contarem as suas histórias de guerra ou consequentes desajustes sociais, familiares ou profissionais. Entre combatentes, camaradas, gente que viveu os mesmos pesadelos e tenta exorcizar os mesmos fantasmas, aprendem a ganhar à-vontade para o fazer.
Paula Frazão recorda homens que chegam ao primeiro encontro e não alcançam dizer coisa com coisa, homens que ouvem a palavra "guerra" e logo geram ansiedade, homens que, em fez de falar, choram. E se cada caso é um caso - dependendo da natureza do trauma, das características do indivíduo e do contextos dos eventos, do desenvolvimento ou não do DPTS -, todos vêm marcados pelo silêncio em que tentaram esquecer durante anos os seus medos, o que resulta no aumento do distúrbio, e a maioria está condenada a viver de terapias de grupo, tentando, até aos últimos dias, o equilíbrio possível.
(Continua)
P.S. - Escrevi em 1992 este exclusivo para a revista Grande Reportagem, então dirigida por Miguel Sousa Tavares. Foi, se não me engano, o primeiro trabalho jornalístico publicado em Portugal sobre o nosso stress de guerra. Os nomes dos ex-combatentes são, aqui, fictícios. O Dr. Afonso de Albuquerque faleceu no dia 5 de Abril de 2022. Segundo dados que considero credíveis, 40 militares fafenses morreram na Guerra do Ultramar.
Os grupos de dez ou doze indivíduos reúnem uma vez por semana, durante quatro meses. Os doentes são encorajados a contarem as suas histórias de guerra ou consequentes desajustes sociais, familiares ou profissionais. Entre combatentes, camaradas, gente que viveu os mesmos pesadelos e tenta exorcizar os mesmos fantasmas, aprendem a ganhar à-vontade para o fazer.
Paula Frazão recorda homens que chegam ao primeiro encontro e não alcançam dizer coisa com coisa, homens que ouvem a palavra "guerra" e logo geram ansiedade, homens que, em fez de falar, choram. E se cada caso é um caso - dependendo da natureza do trauma, das características do indivíduo e do contextos dos eventos, do desenvolvimento ou não do DPTS -, todos vêm marcados pelo silêncio em que tentaram esquecer durante anos os seus medos, o que resulta no aumento do distúrbio, e a maioria está condenada a viver de terapias de grupo, tentando, até aos últimos dias, o equilíbrio possível.
(Continua)
P.S. - Escrevi em 1992 este exclusivo para a revista Grande Reportagem, então dirigida por Miguel Sousa Tavares. Foi, se não me engano, o primeiro trabalho jornalístico publicado em Portugal sobre o nosso stress de guerra. Os nomes dos ex-combatentes são, aqui, fictícios. O Dr. Afonso de Albuquerque faleceu no dia 5 de Abril de 2022. Segundo dados que considero credíveis, 40 militares fafenses morreram na Guerra do Ultramar.
Sem comentários:
Enviar um comentário