sexta-feira, 20 de outubro de 2023
Os penetras
No dia do meu aniversário, mal abre o horário de expediente, o banco, o dentista e o oculista mandam-me pressurosas mensagens de parabéns! Não gosto. Estragam-me logo o dia. Eu não os convidei, não lhes encomendei o sermão, não lhes dei sequer licença, estão a meter o nariz onde não foram chamados. Os meus anos não são segredo de Estado mas também nunca os esparramei na praça pública. São meus e só aceito partilhá-los com a família mais chegada e com os quatro ou cinco amigos que faço questão. Agora: o banco, o dentista e o oculista não são de certeza da família nem lhes tenho amizade, estão portanto a abusar da confiança. Não encontro ponta de simpatia ou bondade no seu gesto automático, que me parece obviamente interesseiro e aproveitador. Oportunista. Sorrateiro. Eles não querem dizer "Lembrámo-nos de si! Está sempre no nosso coração!", não, o que eles dizem é "Não se esqueça de nós! Temo-lo debaixo de olho!", é isso. E eu fico imediatamente com a pulga atrás da orelha. Como se as Finanças ou a agência funerária me ligassem também a dar os parabéns...
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