segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Aldrabons e aldramaus

Por que razão medram tanto os aldrabões em Portugal? Por que razão vamos a votos e damos a mama aos aldrabões, de variada cor, e há mais de quarenta anos, como se por acaso acreditássemos neles - nos aldrabões? Os aldrabões que antes e/ou depois estão nos bancos, nas edepês, nas caixas, nas renes, nas cepês, nas referes, nas misericórdias, nos metros, nos centímetros, nas construtoras, nas destrutoras, nos superescritórios de advogados, nos supermercados de escravos, nas fundações, nas afundações, nas jotas, nas motas, nas assessorias, nas tias, nas televisões e nos jornais, no parlamento, na moinice enfim, e têm do povo uma vaga ideia. Por que razão?
Andava com esta dúvida fisgada nem sei há que tempos, mas no outro dia tive a inesperada revelação, quase sem querer, ao ouvir um minhoto retinto a falar. Um minhoto de Fafe, evidentemente, dos nossos. O homem antigo falava de não sei quem e chamava-lhe aldrabom. Aldrabom. Os minhotos de cá de baixo agarramo-nos ao pouco que já nos resta do galego purinho e falamos assim (e eu, como sabem, até tenho uma certa vaidade na nossa maneira de falar), trocamos o excêntrico ão pelo ancestral om, daí a confusom, e se calhar acreditamo-nos: ora aí está um aldra que é bom, pensamos na melhor das nossas intenções e caímos na esparrela. Porque aí é que a porca torce o rabo: eles não são aldrabons - são aldramaus.

P.S. - Hoje é Dia Internacional Contra a Corrupção. Acerca da invenção do ditongo ão, imposto à modernidade pelo eixo Lisboa-Coimbra, recomendo a leitura de "Assim Nasceu Uma Língua", de Fernando Venâncio, Capítulo 6 - Ão, uma espécie invasiva.

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