sábado, 12 de novembro de 2022

Faltava-lhe a cedilha

Aqui atrasado fui a um supermercado e comprei uma alheira. Como acontece tantas vezes a muito boa gente, trouxe para casa um dois-em-um: a alheira e um grandessíssimo barrete. E reclamei. Reclamei para o fabricante, reclamei para a cadeia de supermercados, reclamei até para o provedor do cliente do grupo económico dono da cadeia de supermercados. Todos me responderam, com mais ou menos demora e as tretas do costume.
O primeiro a bater com a mão no peito até foi o fabricante. Para além de um simpático pedido de desculpas, oferecia-se para me enviar uma nova alheira: imaginei que me mandaria pelo menos meia dúzia, todas elas de qualidade cinco estrelas, mas não aceitei. Eu só queria reclamar, porque reclamar é bom, alivia a azia, desopila. E eu já estava satisfeito.
A quem puder interessar, para futuras demandas, ou, quem sabe, até para fazer jurisprudência, aqui deixo, humildemente, o teor da minha bem sucedida reclamação:

Exm.ºs Senhores,
Comprei ontem na loja do [...], em [...], uma alegada "Alheira de Caça" produzida por V. Ex.ªs e pomposamente apresentada como "produto seleccionado da Terra Fria Transmontana".
A etiqueta prometia uma alheira com, nomeadamente, 40% de carne de caça (pato, perdiz e coelho), 30% de carne de porco e 20% de pão trigo.
Cozinhada e aberta, verifiquei logo, sem precisar de ir ao microscópio, que fora enganado. Carne... de grilo! Assim a olho - e comprovado na boca! - , a alheira era afinal composta por 90% de pão e 10% de gorduras diversas.
Dito de outra forma: a alheira de caça de V. Ex.ªs não trazia cedilha.
Melhores cumprimentos,
h.


Já agora. Hoje é Dia dos Supermercados. No Brasil. E devo dizer que, regra geral, dou-me bem com os supermercados. Pela manhãzinha, logo após a abertura. Para quem não sabe ou não se lembra, informo que os Mercadinhos Montenegro foram o primeiro "supermercado" de Fafe. Foram uma autêntica novidade. Havia lá de tudo como na farmácia - a Farmácia Moura, que lhe ficava em frente - e ainda por cima os seus donos faziam o favor de pagar os vales postais das pensões e reformas dos seus clientes mais pobres e amiúde analfabetos, livrando-os do incómodo e até da humilhação burocrática de uma ida ao banco ou aos Correios. Gente com olho para o negócio, certamente, mas sobretudo gente boa!

2 comentários:

  1. Mercadinhos Montenegro! Que saudades daqueles tempos! Um dos meus passatempos favoritos era estar lá com o meu pai. Obrigado uma vez mais.

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  2. Bem te vi. Eu ia lá buscar uns rabinhos de pescada congelada com os quais a minha mãe fazia maravilhas. Gente boa, gente boa!

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