segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Um nobel para o Quinzinho da Farmácia

Hoje é Dia Internacional do Farmacêutico e amanhã é Dia Nacional do Farmacêutico, quer-se dizer, Portugal é um atraso de vida, é oficial, está atrasado um dia em relação ao resto do mundo, mas não é isso que aqui interessa. Importante é: hoje e amanhã são dias do farmacêutico e vem-me à memória, grata, o Quinzinho da Farmácia. O nosso Quinzinho da Farmácia, que, sendo farmacêutico e sobremaneira autodidacta, era o melhor médico do mundo, o médico privativo e gratuito dos pobres de Fafe, o verdadeiro médico de família ainda os médicos de família não tinham sido inventados.
Em caso de fanico arrevesado ou maleita repentina, primeiro ia-se ao Quinzinho, que tratava toda a gente por tu e tinha uma voz arrastada e grossa por baixo de um bigode em forma de bigodinho e lá em cima uns óculos muito cómicos de tirar e pôr que me faziam rir. Era uma espécie de rastreio, uma primeira opinião, que até podia ser definitiva. O Quinzinho, que me apresentou à Pasta Medicinal Couto e mais do que uma vez salvou as minhas desgraçadas amígdalas de irem ao corte, observava cada caso minuciosamente e decidia. Se o assunto fosse da sua competência e não ultrapassasse os seus saberes, a questão ficava ali mesmo remediada sem outras alcavalas senão o preço geralmente módico dos medicamentos logo usados ou aviados para consumo doméstico, e apenas quando tal era necessário. Aos casos mais bicudos, que lhe chegavam frequentemente, às vezes em pressurosos carros de praça que se acotovelavam à porta da Farmácia Moura, impedindo o trânsito na Rua Montenegro, mesmo em frente aos Mercadinhos, o Quinzinho reencaminhava-os na hora para os médicos encartados ali das redondezas, não raramente sugerindo este ou aquele clínico, consoante as sintomatologias averiguadas, ou então despachava-os com urgência directamente para o hospital. E a engrenagem funcionava. Eu estou em crer que o homem merecia um nobel! Da medicina, da química, da física, da economia, da literatura - o Quinzinho ensinava bulas a analfabetos -, da paz, da compaixão, não sei bem, mas um nobel de certeza, isso é que eu sei!
E sabeis que mais? Gosto de pensar que foi a partir do nosso Quinzinho que os ingleses inventaram, muitos anos mais tarde, em 1994, o Protocolo de Manchester. E essa é que é essa.

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