Mas a tal meia-final da Taça, e já era a segunda em apenas três anos. Nós na segunda divisão, que era o nosso sítio, e o Sporting que era o Sporting. Foi na época de 1978/79, no nosso campo, e roubaram-nos a glória da final no Jamor, ou pelo menos a hipótese de um segundo jogo em Alvalade, roubaram-nos, dizia, com um penálti produzido pelo árbitro e convertido por Jordão aos 94 minutos, isto é, já no prolongamento. A peregrina falta que deu origem ao castigo que teve tanto de máximo como de injusto foi assinalada, imaginem, ao nosso Costeado.
O João era uma riqueza de moço. E o Costeado, que depois até jogou quatro vezes pela Selecção, à pala de Saltillo, era um defesa direito velocista porém tecnicamente equilibrado, raçudo e amiúde sarrafeiro. Mas estava inocente naquele dia, diga-se em abono da verdade. A Bola, o insuspeito jornal do Benfica, fazia até notar que o árbitro "julgou mal o famigerado lance de Costeado, conferindo-lhe, primeiro, uma natureza e uma intencionalidade, depois, que a nosso ver não teve", e parece que estou a ouvir o Joaquim Rita, com vírgulas e tudo.
Ora bem. Acontece que naquele tempo não havia VAR, o que não era mau de todo, porque assim também não avariava, mas não havia VAR. O VAR daquele tempo eram o Carlos Manuel ou o André a andarem sempre à volta do árbitro a dizerem o que devia ou não devia ser marcado, e nunca falhava. À falta do Carlos Manuel e do André (e, já agora, do Bruno Fernandes, que é actualmente VAR em Inglaterra), o próprio Costeado deu conta do recado, colando-se ao juiz da partida, Santos Luís, agarrando-o respeitosamente pelo avental, pedindo-lhe, rogando-lhe, rezando-lhe, implorando-lhe, jurando-lhe, repetindo-lhe quase em lágrimas, estou em dizer que mesmo em lágrimas - Eu nem lhe teni, senhor árbitro! Nem lhe teni, senhor árbitro! Nem lhe teni!...
O árbitro, o senhor árbitro, não reverteu a decisão. Chamaram-lhe "o roubo do século". Conta A Bola que "Santos Luís saiu fardado de polícia". E Costeado, baptizado pelo Valença, ficou o "Teni"...
P.S. - Publicado originalmente no dia 7 de Setembro, este foi o texto mais lido no Fafismos durante o ano de 2023.
Feliz Ano Novo, meu amigo.
ResponderEliminarGrande abraço, Pedro. Tudo de bom!
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