Mário Wilson era uma jóia de pessoa e foi um treinador sobretudo afectivo. Gostava de falar com os seus jogadores um a um, como em acto de confissão mas passeando, colocando-lhes o braço paternal por cima dos ombros - vi-o assim muitas vezes.
Um dia, numa daquelas quartas ou quintas-feiras, o Senhor Wilson entrou-me no minúsculo gabinete, que era por baixo das bancadas e por cima dos balneários, cumprimentou-me elegantemente como se eu fosse alguém e pediu-me se podia usar o telefone para ligar para Lisboa, para a Federação Portuguesa de Futebol. Eu teria para aí uns 21 ou 22 anos e "dei-lhe" autorização, armado em parvo como só naquela idade. Depois de conseguir resposta do lado de lá da linha, o Velho Capitão pigarreou, cofiou a barbicha, foi ao bolso do casacão de cabedal, rapou de um guardanapo de papel marcado com beiçadas de verde tinto, vamos um supor, estendeu-o em cima da minha secretária, alisou-o o melhor que pôde e começou a ditar para a capital o que lá escrevera eventualmente ao almoço. Eram nomes, uma lista, a convocatória para a Selecção Nacional na campanha de apuramento falhado para o Europeu de 1980, em Itália. Exactamente: a Selecção de Portugal estava no guardanapo de Mário Wilson...
P.S. - Publicado originalmente no meu blogue Tarrenego! e depois aqui, no Fafismos, no dia 25 de Agosto de 2023. Mário Wilson, o "Velho Capitão", morreu no dia 3 de Outubro de 2016.
Mais uma daquelas fantásticas hi(e)stórias que só aconteciam contigo. Algumas tinha ideia, outras nem sonharia. Por essas e outras é que defendo o erguer duma estátua tua no centro de Fafe. Ou na entrada, também daria. Adoro ler-te!
ResponderEliminarÀ saída, Pedro! Grande abraço!
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