domingo, 7 de janeiro de 2024

Conheço-o, mas não sei donde...


O Zé do Boné andou mais de meio século pelas páginas de O Primeiro de Janeiro e hoje seria um herói impossível, cancelado. Porque politicamente incorrecto. Criado pelo cartunista britânico Reg Smithe, o malandro Andy Capp, assim se chamava de origem, foi visto pela primeira vez no dia 5 de Agosto de 1957 no jornal Daily Mirror. Internacionalizou-se em 1963, quando passou a ser editado nos Estados Unidos, e chegou a ser publicado em mais de mil jornais, cinquenta países e treze línguas.
Por cá, O Primeiro de Janeiro tomou conta de Andy Capp, pô-lo à beira das palavras cruzadas e rebaptizou-o, numa adaptação feliz, como Zé do Boné. E é com esse nome que o conhecemos até hoje. Zé, para ser "português" e porque sim. Do boné, como a própria imagem indica. Zé do Boné. Eu conheci-o em Fafe, na barbearia do Sr. António Grande, e mais tarde, já no Porto, viria a conviver com ele todos os dias, digamos, profissionalmente.
O Zé era o típico elemento da classe trabalhadora que na verdade nunca trabalhou. Cidadão imprestável, machista, engatatão sem sucesso, copofónico de gabarito, mentiroso, preguiçoso, implicativo, conflituoso e, numa só palavra, arruaceiro, passava a vida entre o sofá de casa e o balcão do bar da esquina, reservando algumas horas para andar à pancada nos jogos de futebol. Apostador inveterado, as suas modalidades desportivas favoritas eram, para além do pontapé na bola, a columbofilia, o bilhar e as corridas de cavalos. Para além disso, batia na mulher, Flo, trabalhadora esforçada que também gostava do seu copinho e que, quando não, lhe devolvia alguns sopapos.
Enfim, todo um compêndio de indecência e má figura, e podia ser em Fafe. Ou por outra: acho que conheço este tipo de algum lado...

E que mais? Zé do Boné foi também o nome por que ficou conhecido mestre José Maria Pedroto, filósofo e treinador de futebol que morreu faz hoje 39 anos. Por ser Zé e por usar boné. E eventualmente também por causa do Zé do Boné propriamente dito.

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